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terça-feira, 23 de abril de 2013

UMA HISTÓRIA DE PALHAÇOS

Gravura publicada no Jornal "Riso Mundial" de 3 de Julho de 1947
Adaptação livre do sentido histriónico dado pelo caricaturista Bordalo Pinheiro à gravura que se reproduz em homenagem à memória do grande artista. 
Como sempre acontece em histórias de palhaços, um é rico e o outro é pobre.
Na história - que se vai explanar - o rico representa a Alemanha e o pobre um dos quaisquer Países do Sul, apelidados de madraços por alguns "bem pensantes" daquele País.
Pela postura que podemos ler na gravura o palhaço pobre fala para o palhaço rico que leva bem segura debaixo do braço a pasta das suas economias e pede-lhe um empréstimo, ou melhor dizendo, um resgate para solver as dívidas em que se afundou.
O palhaço rico de monco caído e boca franzida, responde-lhe, arrogantemente:
- Não. Vai trabalhar seu madraço... és tal qual a cigarra que não sabe prover o Inverno da sua fome...
O palhaço pobre, após uma pausa - algo envergonhado -  recompõe o gesto e faz-lhe lembrar um acontecimento real recente:
- Mas, então, já te esqueceste que em 1946 foi só com o programa de luta contra "a fome, a pobreza, o desespero e o caos" que tu - então acantonado na  parte Ocidental recebeste o impulso decisivo para iniciar a tua reconstrução? - Esqueceste que eu, hoje pobre, ajudei a erguer-te?
E continuou, com outra pergunta:
- Esqueceste, também, que foi o chamado Plano Marshall que disponibilizou 1,4 bilhão de dólares de 1948 a 1952 para saíres da miséria?
Acaba aqui a história ficcional na efabulação mas real nas palavras que vão correndo no tempo que passa, recordando um acontecimento histórico ocorrido no pós segunda Guerra Mundial, mas a história - com outro cariz mais respeitável e perfeitamente real em todos os seus cambiantes - continua a desenvolver-se na realidade dura dos dias e, nela,  já não existem figuras vestidas de palhaços.
Andam todos compostos e  bem vestidos.
Cumprimentam-se amistosamente sem suspeitarem que, bem no íntimo, a comunidade europeia a que dizem pertencer nunca existiu verdadeiramente e os "palhaços" ricos e pobres vão continuar a existir, embora ricamente aperaltados.
E, como sempre, o mais rico, impante, continua a impor a sua vontade.
É a lei natural, diz-se... mas quanto a mim é a lei da selva onde falta o respeito hodierno que o egoísmo espalha como lepra numa Europa perdida dos valores que deviam merecer a dignidade de todos os povos falaciosamente integrados numa falsa união!


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