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sábado, 30 de novembro de 2013

A Justiça desequilibrada



Gravura do Jornal "O Xuão" de Fevereiro de 1908


Na época, precisamente, em inícios do mês de Fevereiro de 1908 o novo Poder revogou decretos de João Franco e, bem assim a lei de imprensa, fazendo reaparecer no dia 6 os jornais que estavam suspensos: Diário Popular, Liberal, O Dia, O País, Correio da Noite, ao mesmo tempo que libertava os politicos, António José de Almeida, Afonso Costa, Egas Moniz, João Chagas e França Borges, amnistiando no dia 12 os marinheiros implicados nas revoltas de 8 e 13 de Abril de 1906, tendo realizado os funerais do rei D. Carlos e do príncipe D. Luís Filipe em 8 de Fevereiro e a dissolução do Parlamento (então chamada Câmara dos Deputados) no dia 29 de Fevereiro e a consequente aclamação de D. Manuel II em 6 de Maio. 
Na gravura o Poder está caído sob o jugo da Justiça e vinda das trevas a que esteve sujeita durante séculos aparece na alvura da sua veste branca - sinal de pureza - a Liberdade, sem reparar num pormenor que haveria de ter feito toda a diferença. 
Na mão direita da Justiça os pratos da balança que deviam estar equilibrados, depois de esmagar o Poder despótico, surgem em desequilíbrio, dando desse modo, uma falsa autoridade à espada cravada na Ditadura, necessariamente enrolada, como se fosse para sempre... e não foi!


O problema dos pratos da balança da Justiça terem entrado desequilibrados em 1908, como a gravura sugere - e muito bem - continua, hoje, a ser o mesmo.
Portugal continua a ser um País com falta de equilíbrio, onde a Justiça precisa, efectivamente, de ser igual para todos os cidadãos e, segundo, o senso comum, não o é, o que justifica a reforma urgente que é preciso fazer, já apregoada - é verdade - mas não levada a cabo com a coragem que se impõe.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O capitalismo selvagem e os governantes que o servem.


Gravura publicada no Jornal "O António Maria" de 5 de Março de 1891

Ontem, como hoje, o capital não tem rosto de se ver. É um selvagem.
Na época, a pena genial de Rafael Bordalo Pinheiro, fez saltar sobre um amontoado de moedas os banqueiros que desde Paris - por culpa nossa - nos iam arruinando, fazendo-o com ar displiscente do capitalista feliz que ao saltar por cima do seu dinheiro, saltava sem dó nem piedade sobre Portugal ajoelhado perante o poder pecuniário.
Hoje, são outros.
São aqueles que o Papa Francisco na sua primeira exortação apostólica "Evangelli Gaudium" (A alegria do Evangelho) ataca, chamando ao capitalismo selvagem que eles levam a efeito contra a moral e a dignidade dos povos,  "uma nova tirania", advertindo que a desigualdade e exclusão social, não só "geram violência" como pode provocar "uma explosão", expressando neste livro de 84 páginas o sentir dos seus sermões e discursos desde o mês de Março de 2013, que assinala o início do seu magistério.
Portugal, infelizmente, por obra e graça - ou melhor por desgraça nossa - de uns certos senhores que nos governaram deixou-se cair na ratoeira destes agiotas internacionais, quando o que se impunha, num País como o nosso, era para cada despesa um saldo que a cobrisse e não, como se fez, para cada despesa, outra despesa em cima, de tal sorte, que bem se pode chamar à colação um trecho de Eça de Queirós, publicado no "Distrito de Évora" que termina assim: Sabemos que um deficit arreigado, inoculado, que é um vício nacional, que foi criado em muitos anos, só em muitos anos será destruído.
Eça de Queirós não foi um profeta.
Foi, apenas - e foi muito - um grande escritor e crítico do seu tempo.
Mas o que ele disse, está hoje, mais uma vez a acontecer com o atordoado povo português que continua agarrado ao vício da dívida que faz engordar o capitalismo selvagem, a menos que as palavras do Papa Francisco que não se cansa de o denunciar encontrem eco e façam recuar os que, sem qualquer pejo ou vergonha fazem do povo, especialmente, dos jovens e dos mais velhos, pessoas para descartar, saltando sobre eles, como o faz na gravura, o banqueiro agiota que se serve do seu próprio capital para amesquinhar os pedintes.
Que a voz do Papa Francisco não se cale e seja em cada dia que passa a voz dos que, não tendo voz, possam encontrar neste homem providencial a razão que leve, por fim, o mundo do capital a ter mais respeito pela dignidade que tem de merecer todo o homem e, também, que os homens chamados a conduzir os povos tenham mais contenção nos gastos nacionais, como aconteceu connosco nos desvario de gastos sem cobertura.
O que foi um acção que jamais deve voltara a acontecer, porque hão-se ser os os netos da actual geração a pagar o desnorte de tantos, que agora, perdido o poder pela força do voto se sentem julgados, o que é, apenas, uma parte - e menor - do castigo a que deviam estar sujeitos.

I Domingo do Advento - Ano A - 1 de Dezembro de 2013


 Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Como aconteceu nos dias de Noé, assim sucederá na vinda do Filho do homem. Nos dias que precederam o dilúvio, comiam e bebiam, casavam e davam em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca; e não deram por nada, até que veio o dilúvio, que a todos levou. Assim será também na vinda do Filho do homem. Então, de dois que estiverem no campo, um será tomado e outro deixado; de duas mulheres que estiverem a moer com a mó, uma será toma-da e outra deixada. Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor. Compreendei isto: se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a sua casa. Por isso, estai vós também preparados, porque na hora em que menos pensais, virá o Filho do homem. (Mt 24, 37-44)

Meu bom Jesus,
se foi aos Teus próprios amigos,
àqueles homens bons que conheciam 
toda a Verdade das Palavras
que dizias e todos os passos que davas,
e, ainda assim lhes deixaste o aviso:
na hora em que menos pensais,
virá o Filho do homem
desde então, aos que Te seguem
deixaste-lhes como um recado
 às faltas de atenção à Tua Pessoa 
o dever e a inquietação
de estarem conscientes da hora anunciada.

Desperta-os!... desperta-nos, Senhor!

Abre o nosso coração para Deus
e que temamos o dilúvio
que há-de vir, um dia,
se no refúgio dos nossos corações
deixarmos de fazer a Velada
em honra do anúncio de que foste arauto.

Que a nossa Fé escondida
desperte, finalmente,
para a claridade da Tua Presença
no dia do Teu Regresso,
onde há-de acontecer, por fim,
o grande Encontro contigo!

Senhor, Jesus:
Ajuda-nos neste tempo do Advento
a esperar por Ti, mais uma vez!

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Ramalho Eanes: o homem de um só rosto!




O homem de um só rosto é todo aquele que projecta na vida a sua imagem, reflectindo-a inteira, sem distorções ou disfarces.
Ramalho Eanes é um desses homens.
Foi Presidente da República entre 1976 e 1986.
Foi o coordenador das operações militares de 25 de Novembro de 1975, que pôs fim à influência da extrema-esquerda que imperava em Portugal desde o 25 de Abril de 1974.
Na prática, pôs fim ao PREC (Processo Revolucionário em Curso).
Ao falar na cerimónia da homenagem que os seus amigos que lhe quiseram tributar no passado dia 25 de Novembro, disse: ser "indispensável", "imperativo" a fruição de um "norteamento ético" da sociedade portuguesa, sobretudo nos actuais "tempos angustiantes de crise de ruptura dramática, como são os que vivemos", esclarecendo que  "não há género nem propósito de qualquer acção política organizada a desenvolver quer no presente, quer no futuro e decorrente da homenagem hoje prestada".
Como ponto fulcral a homenagem teve como um dos motivos a apresentação do "Prémio Ramalho Eanes", destinado a galardoar - a partir de 2014 - bianualmente personalidades ou instituições na área dos valores da cidadania.
Nada mais certo.
Este homem de um só rosto bem merece, neste campo da honra e do dever em que só vingam os homens íntegros, fazendo da cidadania um campo onde a moral e a ética erguem a sua bandeira, em sua honra, que Portugal encontre - contra a corrente que deseja instalar-se - homens que se revejam na atitude de Ramalho Eanes que nunca deixou de ser alguém merecedor de se lhe tirar o chapéu por este motivo bem simples, mas que faz toda a diferença:
É que. olhando a "paisagem humana" os nossos olhos andam cansados de não ver os horizontes largos a que tinham direito - e lhe prometeram - razão que nos leva a ver neste homem a nesga profícua que alimenta o sonho do nosso olhar, em que, um dia - só não sabemos quando - há-de. por fim, romper o horizonte fechado do tempo azedo para a maioria e lauto e  feliz para uma pequena e escolhida parte, que montou tenda, tomando conta de um campo que devia pertencer a todos e, onde, Ramalho Eanes é a excepção que contraria a regra.

E vamos a um facto histórico que atesta a mais valia deste homem.

Corria o ano de 1984.
O Governo, então presidido pelo Dr. Mário Soares através de uma lei, que se o não foi, pareceu, “ad hominem”, impediu que o vencimento de um Presidente da República pudesse acumular “com  quaisquer pensões de reforma ou de sobrevivência que aufiram do Estado».
À época, o Sr. General Ramalho Eanes ocupava o Palácio de Belém e promulgou de imediato a lei que acabaria por vir a prejudicá-lo durante muitos anos.
Desse modo, quando deixou o Palácio de Belém, em 1986, optou pelos 80% do vencimento como PR, nunca tendo recebido a reforma de general de quatro estrelas, a que tinha direito.
O absurdo aconteceu.
Qualquer outro funcionário poderia somar reformas, menos aquele antigo e prestigiado militar a quem o Portugal democrático tanto deve.
Porque era tamanha a injustiça, em Junho de 2008 aquela lei foi rectificada, pelo actual executivo, devido a suposta insistência do Presidente da República Dr. Cavaco Silva nesta matéria e a um parecer do Sr. Provedor de Justiça, como se pode ler na edição do dia 13 de Setembro do semanário “Sol”.
Este facto originou que fossem disponibilizados para pagamento ao Sr. General Eanes retroactivos que somavam 1.300.000 (um milhão e trezentos mil euros!)
Uma pequena fortuna.
Recusou, de imediato, com presteza idêntica à que o levou a promulgar a lei que o atingia directamente.
A atitude, porém, não é nova.
A seguir ao 25 de Novembro de 1975, o General recusou receber o diferencial do vencimento do seu posto efectivo (tenente-coronel) para aquele em que foi graduado (general de 4 estrelas) para as funções de Chefe do Estado-Maior do Exército, doando o  diferencial, a instituições de solidariedade social, o que aconteceu até à eleição para Presidente da República, em Junho de 1976.
Mas voltando à notícia recente, num País, como o nosso, como diz Fernando Dacosta, dobrado à pedincha, ao suborno, ao embuste, à traficância, à ganância, Ramalho Eanes ergueu-se e, altivo, desferiu uma esplendorosa bofetada de luva branca no videirismo, no arranjismo que o imege, nos imergem por todos os lados. (1)
É, efectivamente, neste País que perdeu o sentido da honra e o dever, onde certas reformas raiam o escândalo, onde os gestores de topos multiplicam por trinta o seu ordenado, relativamente aos seus empregados, onde o grau da afronta humana deixou de ter qualquer explicação moral e, onde, os súbitos enriquecimentos são a imagem da degradação social a que chegámos, nesta democracia doente que temos e onde naufragámos, a recusa do General Ramalho Eanes é uma claridade no meio de tantas sombras e, por si só, a sua atitude configura uma aragem fresca no campo da honra.
E neste campo não basta apregoá-la, é preciso tê-la e pô-la em prática.
Que grande é a sua lição!
O que faz confusão e nos deixa a pensar é o quase silêncio como os canais da TV e os jornais ditos de referência trataram este assunto, como se ele, pela sua nobreza, não merecesse honras de abertura e de aparecimento nas primeiras páginas, servindo de exemplo, que o foi, e como tal, merecedor de ser apregoado
É o estado a que chegámos!
Não se cultivam e assinalam, devidamente os actos nobres, porque estes não vendem, dando-se preferência a assuntos vulgares, de um dia a dia sensaborão e cinzento, onde não entra a cultura da elevação cultural, moral, ética, da honra e do dever do homem perante a vida, política ou não.
Depois, o que temos líquido, é um País adormecido pelos muitos futebóis e tele-novelas que o imergem como sedativos, que o não são, de todo.
Somos um País afogado, a caminhar para o fundo.
Razão, porque, não abundando notícias como esta no cenário da honra, é bom e salutar que os Portugueses conheçam o carácter íntegro deste  Homem, de quem, tendo servido a Pátria nos campos nobres do Serviço Militar e da política acidental,  é pelo seu exemplo, alguém merecedor de respeito e a quem devemos tirar o chapéu.


(1)  - in, “TempoLivre” nº 197 – Outubro de 2008

sábado, 23 de novembro de 2013

Uma lembrança de Antero de Quental



No Céu,
se Existe um Céu para quem Chora

No céu, se existe um céu para quem chora.
Céu, para as magoas de quem sofre tanto...
Se é lá do amor o foco, puro e santo,
Chama que brilha, mas que não devora...

No céu, se uma alma n'esse espaço mora.
Que a prece escuta e encherga o nosso pranto...
Se há Pai, que estenda sobre nós o manto
Do amor piedoso... que eu não sinto agora...

No céu, ó virgem! findarão meus males:
Hei-de lá renascer, eu que pareço
Aqui ter só nascido para dores.

Ali, ó lírio dos celestes vales!
Tendo seu fim, terão o seu começo.
Para não mais findar, nossos amores.

Antero de Quental, in 'Sonetos

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Antero de Quental, apelidado de  "Santo Antero" por Eça de Queirós, conotando-o com Santo Antero o décimo nono Papa da Igreja que pontificou entre 235 e 236 e morreu decapitado às ordens do Imperador Maximiano, é um dos Poetas maiores de Portugal e de que é exemplo este expressivo e "misterioso" soneto.
No céu, se existe - é assim começa a sua primeira estrofe - deixa ficar bem expressa  a dúvida que o atormentou toda a vida, mas é para lá, para a imaterialidade desse "espaço" etéreo que ele atira o fim dos seus males e, por fim - num desejo de renascer, como se ele fora o homem novo de que falou Jesus a Nicodemos, numa conversa nocturna que ficou famosa -  declara, convicto, que hão-de ter o começo  para não mais findar os amores com aquela que encheu a sua alma - o lírio dos celestes vales - que pode ser ou não uma imagem poética, porque, em todos as criaturas perpassa sempre, ao longo da vida, algum mistério que fica preso no mais íntimo das suas almas e nem sempre é descoberto.
Quem foi o lírio de que nos fala Antero de Quental?
Mistério.
Mas, sem qualquer mistério o que fica deste soneto é o problema religioso que ele nunca soube resolver até ao dia em que, junto da parede do Convento da Esperança, em Ponta Delgada se suicidou num banco de jardim do Campo de S. Francisco
Por cima do banco, soldada à parede existe uma placa, que já lá estava, e nela em letras gradas está escrito o nome: ESPERANÇA, como se Antero tivesse escolhido aquele lugar na esperança da sua alma encontrar pela misericórdia de Deus o céu e, nele, o lírio dos celestes vales, que ele faz desabrochar, oloroso, nesta composição poética.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Ou vais a pé ... ou és apeado!



Gravura publicada na Revista "Pontos nos ii" de 16 de Julho de 1885

Na época, alguns políticos da oposição queriam depor o Ministro das Obras Públicas, Fontes Pereira de Melo, um gastador que estava a arruinar o País. Com o seu acentuando pendor de crítica mordaz, Rafael Bordalo Pinheiro imaginou o governante apeado aos ombros de dois moços de fretas - uma desonra - saindo deste jeito do Poder, pelo facto de não ter saído pelo seu pé enquanto houve tempo.


Na Aula Magna, no passado dia 21 de Novembro, Mário Soares - em mais um Congresso das Esquerdas - referindo-se à figuras mais gradas do Estado, disse-lhes que é tempo de se demitirem enquanto podem ir para as suas casas pelo seu pé, caso contrário serão os responsáveis pela onda de violência que aí virá e que necessariamente os atingirá. E o orador teve muitas palmas... vindas daqueles, que como Vasco Lourenço defende que ou saem a tempo, ou vão ser corridos à paulada
E tudo isto em nome da Democracia.
E eu que pensava que ela - o melhor de todos os males de governação politica -  se estribava na força do voto, quando, afinal, dá o "direito" à violência física contra aqueles que pela força do voto - no tempo mais difícil que Portugal vive desde a Revolução - conquistaram o direito de governar .
Mas não vai acontecer, nem a "paulada", nem a "profecia" dos actuais governantes saírem do poder quanto antes, para desgosto de ambos, com ênfase para Mário Soares, a quem não ficam bem estas palavras, pelo facto de no tempo em que foi governante - nos ter mandado apertar o cinto - a braços como estava pelo pagamento aos credores do resgate que ele mesmo teve de pedir à banca estrangeira.
Não vai acontecer.
O povo é sereno e os "Velhos do Restelo" que ficaram na História da Literatura Portuguesa pelos piores motivos, não há lugar no tempo que passa para a sua reencarnação e muito menos com a agravante que lhe foi dada na Aula Magna, ou seja, não serem figuras de um qualquer enredo poético mas figuras reais de um qualquer drama  violento destinado a atingir os governantes que não são da cor política deste antigo Chefe do Estado, que não de coibiu de deixar - como legítimo - o corte cerce do cumprimento dum cargo para que aqueles homens de Estado foram eleitos pelo povo, logo sem respeito pela Democracia que ele ajudou a construir...
Não posso estar de acordo, por não poder aceitar, que para alguns próceres a Democracia só é boa quando é exercida por quem pensa como eles, num tempo em que as ideologias ortodoxas morreram.
Guerra, pois - sem violência ou paulada -  às palavras desconexas, venham de onde vierem.
E que Mário Soares e Vasco Lourenço não esqueçam um velho e acertado rifão popular: Quem quer ser respeitado tem de se dar ao respeito.
Lamento dizer isto. Mas é o que sinto.

Os erros dos polícias... e de outros!





Imagem in, "Jornal de Notícias" de 22 de Novembro de 2013


Eis, que, os polícias que ontem se manifestaram, expondo a razão que tinham - e que eu não contesto - ao derrubarem a guarda de segurança que outros colegas seus defendiam, cometeram o erro terem faltado  a uma ordem que ali os tinha posicionado, e um outro, que foi o da invasão de um espaço que não lhes estava destinado.
Em próximas manifestações quem vai deter o povo?
Vivemos, é verdade, um tempo estranho em que se ultrapassam todas as barreiras da ordem e a continuar assim, Portugal arrisca-se a cair num País sem lei nem roque, podendo vir a cair no ridículo e na chalaça de todos aqueles que no concerto das Nações nos perderam o respeito.
Os polícias tiveram razão, mas perderam-na.
Subiram acima - galgando os degraus interditos - mas tendo chegado mais alto, caíram para baixo.
Os polícias são a autoridade, mas quando é a própria autoridade a romper a autoridade, já nada resta, senão a hecatombe, que aliás, foi desejada na Aula Magna, da Cidade Universitária de Lisboa, quase à mesma hora por homens que foram responsáveis e deviam cuidar da consciência pela quota-parte que lhes cabe no exercício do poder -  e até por omissão de não se terem feito ouvir quando o País caminhava alegremente para o desastre - pela glória efémera de um serão alegre em troca de um prato de lentilhas mandaram às malvas o pudor e, parecendo que subiram alto nas palmas que ouviram, quando estas embora vindas de um balcão febril, vieram dos baixios da falta de compostura dos que, no palco, derrubaram - tal como os polícias em S. Bento - as barreiras que não deviam ter sido ultrapassadas por toda a razão que tivessem.


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Cristo Rei do Universo - 34º Domingo do Tempo Comum - Ano "C" - 24 de Novembro de 2013



E o povo estava ali a olhar. E as próprias autoridades zombavam dele, dizendo: Aos outros salvou; salve-se a si mesmo, se é o Cristo, o escolhido de Deus. Os soldados também o escarneciam, chegando-se a ele, oferecendo-lhe vinagre, e dizendo: Se tu és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo.
Por cima dele estava esta inscrição [em letras gregas, romanas e hebraicas:] ESTE É O REI DOS JUDEUS. Então um dos malfeitores que estavam pendurados, blasfemava dele, dizendo: Não és tu o Cristo? salva-te a ti mesmo e a nós. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça; porque recebemos o que os nossos feitos merecem; mas este nenhum mal fez. Então disse: Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso. (Lc 23, 35-43)


Senhor Jesus:
a cena que é relatada, parece,
nada ter a ver com a Tua realeza.
Mas, não é assim, porquanto,
o pedido feito por Dimas,
o Teu companheiro do Calvário ,
demonstra à evidência
o sentido da realeza que reivindicavas
para a Salvação dos homens.

A realeza de que falaste,
humilhado no madeiro da Cruz,
consistiu numa simples palavra de perdão
e aquilo que disseste:
- "Hoje estarás comigo no Paraíso"
anunciou o Teu Reino, Senhor!
Bem longe de um reino de soldados,
de funcionários e embaixadores...
mas, antes, um trono centrado
no interior de cada homem
pelo poder da Fé.

Não anunciaste um reino temporal
e passageiro, mas um Reino
que se projectava na Eternidade
a começar neste mundo
com Paz, Justiça e Amor,
onde deve reinar o perdão a alegria.
Bem sabemos que os homens
importantes, os que se julgam "reis",
não entendem isto.
Olham-Te à distância,
tal como fizeram os soldados
do Calvário.

Mas os pequeninos, os simples,
e os arrependido, entendem perfeitamente
o Reino de que falaste.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A Imagem do Colectivo



Cristiano Ronaldo
após a marcação de um dos três golos no desafio da 2ª mão do "play-off"
contra a Suécia, em Estocolmo, em 19 de Novembro de 2013
Não.
Não vou falar de futebol, até porque não o sei fazer.

Vou falar do que representa a imagem exuberante de Cristiano Ronaldo e partir daqui para falar de Portugal e dizer que este atleta de eleição, de braços abertos e riso estampado no rosto, incarna a imagem do colectivo - não só dos restantes jogadores, como técnicos e agentes federativos - reunindo em si a força que o fez brilhar aos olhos do Mundo, não só desportivo, dando de Portugal o retrato que lhe deviam dar os políticos portugueses, especialmente, neste momento de crise e de dívida internacional.

E vai direito uma crítica ao PS, especialmente, por ser o Partido político que mais tempo tem governado Portugal desde a Revolução de Abril, e muito em particular, por ter sido quem pediu o resgate económico em 2011 e, agora -- enfeudado como anda aos jogos maçónicos do poder encapotado - se preocupar, por demais, com a sua próxima eleição e volta ao Poder, e desse modo, em vez de ajudar Portugal a cerrar fileiras anda a jogar de través em vez de se unir ao colectivo que tem o dever de salvar Portugal e, desse modo, provar aos estrangeiro que em Portugal, quando é preciso, o povo se une.

Eis, porque, a sua atitude política é um embuste e uma falta de patriotismo, a que concorre a amostragem que vamos tendo da sua subida percentual nas intenções de voto, o que se compreende, sendo no entanto incompreensível a não assunção das malfeitorias que o seu último Governo fez a Portugal, endividando-o com o pagamento de obras públicas cujo pagamento, segundo os especialistas, vai durar até ao ano de 2040.

Se o povo - no geral - tivesse consciência disto, provavelmente recuaria na confiança que estão a dar a um Partido rendido a uns certos "velhos do Restelo".
Parece, pois, que ao fugir e não apresentar soluções - mas querendo só discutir a do Governo - o PS dá de si a imagem do menino com medo de falar e ser repreendido, porque a sua vaidade só serve para repreender... e fazer dívidas!
Eis, porque a imagem de que nos fala a força alegre de Cristiano Ronaldo - ao transmitir ao Mundo a rectaguarda unida num mesmo propósito  e lhe fez abrir os braços - devia ser a do colectivo da Nação, se não fosse a "partidarite" dos jogos esquisitos do Poder.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

33º Domingo do Tempo Comum - Ano "C" - 17 de Novembro de 2013


   Naquele tempo, comentavam alguns que o templo estava ornado com belas pedras e piedosas ofertas. Jesus disse-lhes: «Dias virão em que, de tudo o que estais a ver, não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído». Eles perguntaram-Lhe: «Mestre, quando sucederá isto? Que sinal haverá de que está para acontecer?». Jesus respondeu: «Tende cuidado; não vos deixeis enganar, pois muitos virão em meu nome e dirão: ‘Sou eu’; e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não os sigais. Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis: é preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim». Disse-lhes ainda: «Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino. Haverá grandes terramotos e, em diversos lugares, fomes e epidemias. Haverá fenómenos espantosos e grandes sinais no céu. Mas antes de tudo isto, deitar-vos-ão as mãos e hão-de perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e às prisões, conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome. Assim tereis ocasião de dar testemunho. Tende presente em vossos corações que não deveis preparar a vossa defesa. Eu vos darei língua e sabedoria a que nenhum dos vossos adversários poderá resistir ou contradizer. Sereis entregues até pelos vossos pais, irmãos, parentes e amigos. Causarão a morte a alguns de vós e todos vos odiarão por causa do meu nome; mas nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá. Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas». (Lc  21, 5-19)
 
Aconteceu este diálogo
na colina de Betânia,
no decorrer da última viagem
de Jesus a Jerusalém.
Por cima do amontoado
do casario, sobressaía
a cúpula do Templo e Jesus,
solenemente disse, que um dia,
de tudo aquilo que era a vaidade
dos judeus,
não ficaria pedra sobre pedra...
e assim aconteceu!

A exemplo de Jesus
que aproveitou o fim próximo
de Jerusalém, para nos advertir
do fim de todas as coisas,
tiremos partido
de tudo aquilo que temos
e, pensemos no fim particular
de cada um de nós.

E que este fim, não seja
de desânimo, mas antes,
de aplicação diligente
do nosso dever de exaltar Jesus
no tempo de vida
de que, ainda dispomos,
porquanto,
tanto o tempo que passa
como a eternidade têm de caminhar
de mãos dadas
e há-de ser pela nossa perseverança,
como disse Jesus aos discípulos 
à vista da cidade incrédula
que salvaremos as nossas almas!

Mário Beirão (1890-1965)



Memória escultórica de Mário Beirão, em Beja, no Largo Doutor Lima Faleiro,
 tendo na mesma base um fuste em pedra um poema dedicado ao Castelo de Beja


Castelo de Beja,
No plaino sem fim;
Já morto que eu seja,
Lembra-te de mim!


Castelo de Beja,
De nuvens toucado;
A luz que te beija
É sol do Passado!


Castelo de Beja,
Espiando o inimigo;
Te veja ou não veja,
Sempre estou contigo!


Castelo de Beja,
Feito de epopeias;
Um sonho flameja,
Nas tuas ameias!


Castelo de Beja,
Subindo, lá vais...
Tu fazes inveja
Às águias reais!


Castelo de Beja,
Lembra-te de mim:
Saudade que adeja,
No plaino sem fim...
 

  O Poeta, Mário Gomes Pires Beirão bem merecia uma memória escultórica mais condizente com o homem que foi e pelo amor que dedicou a Portugal e à sua querida terra alentejana de Beja, onde nasceu em 1890 e na qual fez os estudos primários e secundários que veio a completar em Lisboa, onde se viria a formar em Direito e onde faleceu em Fevereiro de 1965.
  Nas lides literárias apareceu em 1913 com a publicação de "O Último Lusíada", inspirado na corrente do saudosismo, na linha estética que lhe imprimiu  Teixeira de Pascoaes na revista "A Águia" de que Mário Beirão foi colaborador, entroncando-se assim, nesta corrente literária baseada na saudade - o traço místico definidor da alma portuguesa - em que o homem relacionado com Deus, assim se sente com o mundo, num desejo de união entre  o espiritual e o material imbuído do amor pelo bem social e espiritual do homem.
Foi considerado per Hernâni Cidade "o maior de todos depois de Pascoaes, o grande revelador da alma nostálgica", tendo atingido uma aura inconfundível entre os poetas líricos do seu tempo, transportando para a sua poesia a alma das planuras do Alentejo, sem contudo ter sido apodado de poeta regionalista, dado que o seu campo de produção literária abrangia tudo quando a terra - considerada como Pátria - lhe sugeriu e ele cantou no seu verso ritmado, onde não faltou o mar, o sangue português e a história, temas por vezes exaltados na mística saudosa que embora o tivesse afastado do torrão natal, deixou que lhe ficassem presas na alma as lídimas lembranças da infância ali vivida.
  Foi o cantor dos "malteses" e dos "campaniços".
  No dizer de David Mourão-Ferreira, Mário Beirão foi o cantor dos campos de Beja, das pedras da cidade e das ascéticas planuras do seu termo e da bravia austeridade da sua gente.
  Julião Quintinha fez publicar no nº 2434 do "Diário do Alentejo" de 26 de Março de 1940 este testemunho, dos tempos do Liceu:
 
"Recordo agora, com saudade e encanto, certo momento em que Mário Beirão, ao entardecer de um dia de Agosto, passeando vagarosamente pela cidade de Beja – rua das Ferrarias, Largo de Santiago, arrabalde da Graça – me ia dizendo, baixinho, os seus primeiros versos, já tocados da graça morena das musas alentejanas, melancólicos e tristonhos como o anoitecer na planície, imbuídos dessa toada nostálgica, evocativa das coisas passadas, extintas e sempre amadas.
É deste tempo um maravilhoso soneto que o poeta me leu antes de ser publicado em qualquer livro seu. Tinha este título estranho, "As Corujas", e era inspirado na superstição do povo, modelar e repassado de paixão.
Bons tempos! Mário Beirão teria, então, quinze anos, mais ou menos, e cursava o Liceu.. Eu, poucos mais teria, e cursava ...a oficina"
 
  Na evolução estética da sua arte poética, Mário Beirão, terminou embrenhado numa corrente nacionalista e conservadora, ficando a dever-se-lhe o hino da Mocidade Portuguesa, fazendo jus aos temas nacionais que exaltou com o brilho apenas consentido às almas que sentem palpitar dentro de si o amor pela Pátria, a mais antiga com fronteiras delimitadas no Continente europeu.
  Da sua vasta obra, constam os seguintes livros:

1913  - O Último Lusíada
1915  - Ausente
1917  - Lusitânia
1923  - Pastorais
1928  - A Noite Humana
1940  - Novas Estrelas
1957  - Mar de Cristo
1964  - O Pão da Ceia
 
Eis, o Poeta retratado em algumas das sua poesias:
 
 
Ausência

Nas horas do poente,
Os bronzes sonolentos,
- pastores das ascéticas planuras –
Lançam este pregão ao soluçar dos ventos,
À nuvem erradia,
Às penhas duras:
- Que é dele, o eterno Ausente,
- Cantor da nossa melancolia?

 
Nas tardes duma luz de íntimo fogo,
Rescendentes de tudo o que passou,
Eu próprio me interrogo:
- Onde estou? Onde estou?
E procuro nas sombras enganosas
Os fumos do meu sonho derradeiro!
- Ventos, que novas me trazeis das rosas,
Que acendiam clarões no meu jardim?
 
- Pastores, que é do vosso companheiro?
- Saudades minhas, que sabeis de mim?
 
in, Pastorais
...........................................................................
 
A Epopeia dos Malteses
 
Choros que o pó amassaram,
Ódios, fel, desesperança,
Minha crueza geraram:
Sou a estátua da Vingança!
 
Maltês, meu nome de guerra!
Ver-me é logo pressentir
Que o vento sul se descerra:
Já mirram searas de o ouvir!
................................................
Meu sangue reza nas veias;
Por quem reza? por quem chora?
Pelos que em terras alheias
Foram escravos outrora!
..........................................
Coveiro da própria raça!
Dor de além-dor! Ao que vim!
Grito e o medo me trespassa,
Acordo e fujo de mim!
 
Existo e ausento-me. Há escuro
Na minha memória: - em vão
Me interrogo e me procuro...
Sou realidade ou visão?
................................................
Ascendo ás regiões supremas;
Ao alto, bem ao alto, ao cimo,
Quebro todas as algemas:
Não sou eu; sou Deus, - redimo!
 
Ricos, prostai-vos: é a hora!
Sou Deus, esmago Satã:
Do sangue nasce uma aurora,
Nas almas é já manhã!
 
in, "O Último Lusíada"
........................................................

O Entardecer do Descampado de Beja

A luz do entardecer banha de Ausência
- Enquanto os ecos dizem: nunca mais! -
A planície perdida em sonolência
E no vago das sombras funerais...

A luz do entardecer, febril, demora
O seu adeus; nos ermos se detém...
E parece que vai nascer a Aurora,
Em outra vida, em outro céu, além!
..........................................................
Tarde sem fim, magnífica... vertendo,
No plaino em cisma, dum livor mortuário,
Uma luz que está sempre amanhecendo
Para as bandas dó cerro do Calvário!
.........................................................
Oh, ermos de oiro pálido, na benta
Unção da tarde, ermos de ignoto mundo:
A luz que, em vós, desmaia sonolenta,
Flui do extático olhar dum moribundo!

Ah, fugir deste cárcere! Embriagar-me
Na essência azul da tarde milagrosa,
Na transportada música do carme
Que embala aquela nuvem descuidosa!

Uma ânsia de regresso a Deus, à Origem,
Nossas almas agita... e, de repente,
Soltam o vôo; em bandos se dirigem
Para os jardins suspensos, no ar dormente!
...........................................................
Como que absorta no seu próprio enlevo,
A luz jamais tem fim... Na esparsa, etérea
Fluidez da tarde, molho a pena; escrevo...
E sinto desprender-me da Matéria!

in, Novas Estrelas
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Sintra

(Soneto) II

Oh, Céus! Como eu quisera aqui deter
Os passos vãos desta culposa vida;
No côncavo da fraga, - a mais sentida,
A mais humana angústia padecer:

Para que resgatasse o torvo ser
Da noite que o fascina e o intimida;
Para que, ao soar o instante da Partida
Visse minha alma, súbito, esplender!

Para que, enfim, - raiz da Desventura -
Eu, sorrindo, florisse... e, ledo, anseasse
Remontar-me, ascender à mor altura!

Para que, enfim, já quando repousasse
Ma Morte, - extinto o olhar, velada a face -
Fossem sonhos de Deus os que eu sonhasse!

in, Novas Estrelas
 

domingo, 17 de novembro de 2013

O mesmo fado... ao fim de 142 anos!



 
 
"As Farpas" foram publicações críticas de periodicidade mensal, tendo surgido em 1871 a cargo de dois ilustres homens de Letras: Ramalho Ortigão - a ramalhal figura - e Eça de Queirós, que mantiveram esta parceria literária até 1872.
Sendo cônsul de Portugal em Paris, no ano de 1890 Eça de Queirós publicou o livro: Uma Campanha Alegre, recuando vinte anos para falar do tempo das "Farpas" - que foi uma campanha alegre no tempo que durou - e, solenemente, declarar na "Advertência" que faz aos leitores:
 
(...) hoje releio essas paginas amarelecidas das FARPAS. Que encontro nelas? Um riso tumultuoso, lançado estridentemente através de uma sociedade como seu comentário único e crítica suprema. Encontro um riso desabalado – mas escassamente uma verdade adquirida, uma conclusão de experiência e de saber, algum resultado visível dessa inspiração de Minerva que eu supunha combatendo por trás de mim, invisível e armada de ouro, como nos campos de Plateia.(...)
Aí vão pois as minhas FARPAS, a que eu dou agora o nome único que as define e as páginas deste livro são aquelas com que outrora concorri para as FARPAS, quando Ramalho Ortigão e eu, convencidos, como o Poeta, que a «tolice tem cabeça de touro», decidimos farpear até à morte a alimária pesada e temerosa. (...)

 
Passaram 142 anos e espanta, vista no tempo actual a justeza das palavras destes dois ilustres homens de letras que se fizeram críticos cáusticos da sociedade do seu tempo, eivada dos vícios que estranhamente nos legaram, como se tudo houvesse parado e os homens ao longo das gerações não se tivessem reformado, mentalmente, mas tão só, na forma exterior do viver aperaltado.
Vejamos.
Em Junho de 1871, um pedaço de uma "farpa" diz assim:

O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já se não crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Todo o viver espiritual, intelectual, parado. O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida (...)  A ruína económica cresce, cresce, cresce... O comércio definha, A indústria enfraquece. O salário diminui. A renda diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
 
E mais não digo, mas fico a pensar como é isto possível...