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terça-feira, 30 de abril de 2013

OS FALSOS CAMINHOS LARGOS!


O que a foto nos mostra é uma ilusão perfeita.
São os caminhos que parecem largos, mas depois, indo rio acima com o nosso barquito vimos que ele não passava com o mastro maior por debaixo do arco da ponte. Foi o momento de se fazer marcha atrás para não o danificarmos, porque se na toleima teimássemos em passar podíamos ter caído de borco ou, ate, meter o barquito no fundo.
Isto é uma imagem literária.
Mas pode vir a ter sentido real se uns "marinheiros" teimosos que andam por aí teimarem em passar sem cuidar na altura do mastro - que dá pelo nome de dívida e que estreita a passagem - pelo que se torna urgente que os portugueses acordem e não se deixem embalar pela nova sereia que apareceu com um novo visual - mas que, continua a afinar pelo canto manhoso da velha sereia que arranjou, é certo, um novo canto, sonoro às vezes mas roufenho nas colcheias, com o defeito original de querer que vejamos - como eles -  caminhos largos, onde há, apenas, a estreiteza de uma passagem onde só, com muito valor da marinhagem é que podemos passar com o barquito "Portugal" por debaixo da ponte, onde o rio depois de ter crescido pela atávica mania da grandeza que há muito perdemos e nos diminuiu o espaço.
Fica feito o aviso.
Não se vejam, portanto, caminhos largos porque estes vão continuar a ser estreitos durante muitos anos no desenrolar das gerações que nos vão suceder e nos hão-de perguntar, um dia, o motivo de só verem à sua frente os horizontes estreitos que lhes deixámos como herança que eles não mereciam, nem nós, que acreditámos nas promessas... mas não soubemos encontrar o modo de as cumprirmos.
Que as gerações que nos vão suceder nos perdõem, até porque, não temos respostas convincentes para lhes dar...
É o fado que temos!

segunda-feira, 29 de abril de 2013

A QUEDA NO PRECIPÍCIO

 
Gravura publicada pela Revista infantil "O Foguetão"

Olhando a gravura da Revista infantil que se reproduz, alguém distraído lendo um Tratado de "Viagens Espaciais", está prestes a cair num precipício.
Foi o que se passou em Portugal, recentemente.
Andou um certo poder político antes e depois, com o último governo do PS, a sonhar com a Lua - isto é, com viagens espaciais até à crosta deste satélite natural da Terra - com a agravante de nos querer levar a todos, quando sonharam com TGV'S, algo que ganhou foros de escândalo, quando se quis fazer um novo aeroporto, com o do Figo Maduro tão perto para poder dar mais capacidade ao existente, mais uma autoestrada Lisboa-Porto - a 3ª - mais uma Ponte sobre o Tejo, sem cuidarem que andavam a ler, distraídos, um livro que nos levou até ao precipício, com um pé fora e o outro quase a cair nessas infaustas viagens espaciais, que assim se podem designar os sonhos lunáticos dos nossos políticos, dos que viveram um tempo de sonhos impossíveis de realizar com Portugal de bolsos vazios e com o "monstro" de uma dívida que se agigantava.
Espanta que tenhamos ido tão longe na irresponsabilidade!
A figura que aparece na gravura representa todos esses sonhadores e os seus sonhos que podem ser criadores de situações talentosas - porque "o sonho comanda a vida" como disse António Gedeão, mas, só pode e deve comandar quando a luz é possível existir em todos os sonhos que se tenham e, não, como aconteceu, querendo por entre as sombras que já havia, meter Portugal num labirinto de sombras ainda maiores.
Penso que foi providencial o pé que ainda ficou em terra firme.
Veremos é se o Portugal desses sonhadores, apesar disso, não vai cair de livro aberto, mas sem o ler, no mar de sargaços onde - olhando a gravura - uma nuvem, ao longe se quer agigantar em cima do tempo que passa.


sábado, 27 de abril de 2013

A DÍVIDA EXTERNA

Gravura (parcial) publicada pelo Jornal "A Comédia Portuguesa" de 2 de Junho de 1902 

É breve e ficcional explicação da gravura.
Em 1902, dez anos após a bancarrota a dívida externa de Portugal prefigurada na matrona bolachuda, entrou pela porta de Portugal, bem estreita como se pode ver e exigiu à Política portuguesa - bem magrinha e de barrete enfiado - o pagamento da dívida, enquanto atrás, dois figurões que personificam todo o rol de desleixados que permitiram o vexame de 1892, erguem candidamente as mãos, parecendo dizer: nós não temos nada com isso!
Mas, como sempre acontece, há homens de vergonha na cara que tomam para si as dores que outros causaram, como aconteceu com o empresário António Maria Pereira Carrilho que conseguiu negociar em Paris em 25 de Março de 1902 um acordo com os credores estrangeiros quanto ao pagamento da dívida externa portuguesa.
O que está a acontecer, hoje?
A mesma dívida, quanto à forma mas diferente no conteúdo e a dilatação do prazo, dada a mesma fragilidade económica.
A Troika - a matrona da gravura - vem, agora, de três em três meses verificar o estado em que o Governo está a cumprir o empréstimo de 2011 e entra - portas adentro - com o mesmo à vontade com que entrou em 1902, com a arrogância que costumam ter os donos do dinheiro, exigindo à Política magrinha que temos e que no momento é sustentada pelo acordo PSD-CDS, o cumprimento do acordo que temos negociado pelo PS,  que na gravura - pelos modos que se têm visto -  pode ser representado pelos dois figurões colocados atrás, porque, a pouco e pouco, apresentando as suas razões se tem afastado do acordo, parecendo até, não dizer, mas balbuciar  o mesmo estribilho: nós não temos nada com isso... - já não é o nosso acordo - quando, na realidade, têm culpas, porque foi durante o seu governo que chegámos à pré-bancarrota.
Ou, as palavras do então Ministro das Finanças já foram esquecidas?
Bem sei que deveriam ter tido outro tratamento... mas, às vezes é tão culpado o quezilento como o quezilado, mas colocar-se, agora, atrás das sua responsabilidades num momento em que as dificuldades e, até, alguma fome que se sente em Portugal  - o põem à frente nas eleições de voto do povo, o que é natural - é um modo obcuro de fazer política... mas esse, infelizmente é um mal atávico que tem existido em Portuga, como se fosse um fruto sazonado mas azedo pela falta de cultura ética e moral que urge - só não se sabe quando - pôr a render para bem do velho povo que somos.


sexta-feira, 26 de abril de 2013

ENA, PAI! que poeirada!!

Gravura publicada no Jornal "O António Maria" de 8 de Maio de 1897

Efectivamente, parece grande a poeirenta que tem de ser varrida!
A gravura antiga de Bordalo presta-se com toda a propriedade para ilustrar o que se passa, apresentando dois varredores - que representam, no caso presente, a acção do actual Governo - a varrer o pó com o Zé Povinho de mão na boca a dizer para si mesmo e com algum contentamento: Ena, Pai... que poeirada, vendo-se em posições caricatas os que, com as swap - que em português pressupõe troca de posições quanto e risco e rentabilidade entre dois investidores -  no caso, o Estado e as Empresas financeiras.
Ao que parece, este caso originou que tenham acontecido economias mal prevenidas de algumas das nossas Empresas Públicas, um facto que levou a sair do Governo  dois envolvidos na contratação na empresa Metro do Porto, foram dois gestores que eram até esta semana secretários de Estado. Trata-se de Paulo Braga Lino, até há dias secretário de Estado da Defesa, e Juvenal da Silva Peneda que detinha o cargo de secretário de Estado adjunto do ministro da Administro da Administração Interna.
Segundo parece, a poeirada é grande, admitindo-se que o Governo admita processar os procedimentos de factos  ocorridos antes deste entrar em funções, com o envio dos factos ao Ministério Público a quem compete  analisar e decidir se há ou não matéria passível de apuramento judicial” de responsabilidades.
Na expectativa, o Zé Povinho do nosso tempo, só por aquilo que já viu faz sua a frase que está inclusa na velha e elucidativa gravura de Rafael Bordalo Pinheiro, uma prova evidente, que a poeirada do seu tempo, como a de hoje, tem de ser varrida.
E se o fosse de uma vez para sempre?

quinta-feira, 25 de abril de 2013

CADA UM VÊ À SUA MANEIRA

Gravura publicada no jornal "O António Maria" de 7 de Setembro de 1882
Não há volta a dar.
Cada um vê à sua maneira, mas custa ver os que - por entre as suas toleimas - podiam disfarçar  a "cegueira" usando os binóculos - como mostra a gravura  na posição para que foram criados -  mas ostensivamente alguns colocam-nos ao contrário e por mais que se lhe digam as coisas que estão à vista de todos, afirmam pouco ou nada ver, porque vendo mal, obstinadamente dizem  ver pouco ou, radicalmente, afirmam nada ver.
Ao ouvir, hoje, o discurso do Sr. Presidente da República na comemoração do 25 de Abril e depois de ter ouvido alguns responsáveis políticos conotados com a  esquerda ficou patente e às escâncaras do mundo o célebre pensamento de Rochefoucauld: Raramente conhecemos alguém de bom senso, além daqueles que concordam connosco, porquanto, as palavras ditas não foram gratas àquele pequeno universo de homens, incluindo alguns da esquerda parlamentar - que deviam, efectivamente representar o povo nominalmente e, na realidade, representam, apenas, os partidos que os elegeram - pela simples razão da gratidão que se julga merecer, o que se esconde, muitas vezes, é um desejo de, pelo discurso ou pela acção se poder ascender a um favorecimento que não aconteceu.
Mas só vê  assim quem usa os binóculos ao contrário, quando os devia usar com as lentes viradas para o mundo, não sendo possível por esse motivo, ouvir aquele que tem o dever de aconselhar, porque sem ver - leia-se ouvir - se começa  por fazer letra morta das advertências que são apresentadas por quem, institucionalmente, tem  o dever de as fazer, num tempo em que se foram os dias da euforia revolucionária e os que temos, hoje, são dias de alguma perplexidade de não termos sabido alcançar o que esteve à nossa mão.
Temos assim que no dia em que Portugal festejou a Revolução do  25 de Abril, assiste a Victor Hugo toda a razão por ter dito este pensamento luminoso: As revoluções, como os vulcões, têm os seus dias de chamas e os seus anos de fumaça.
Assim aconteceu connosco.
Tivemos dias de chamas e, hoje, o que temos é fumaça dos dias cinzentos que urge pintar com as cores das chamas que se foram embora, mas só se perderão para sempre se uma parte do todo que somos continuar a usar os binóculos ao contrário, vendo pouco ou nada vendo da realidade que passa e, assim, cada um ver à sua maneira, abjurando os discordantes, mas sem cuidar, que há momentos na vida das Pátrias em que, os que só vêem para trás - opondo-se a tudo - como os que só vêem em frente - vendo tudo bem - têm de remedir as distâncias e focar melhor os modos de ver.
Portugal está primeiro, alguém o disse, mas não pode ser uma tarja para ilustrar um comício, mas um valor a respeitar!


quarta-feira, 24 de abril de 2013


UM NOVO DIA 25 DE ABRIL


Foi bonito de ver!
O povo misturou-se com os soldados da Revolução cantando com eles  a "Grândola Vila Morena" - a autêntica, imortalizada por Zeca Afonso - e não aquela que tem aparecido recentemente, maltratando o grito de liberdade que então se viveu, vaiando com essa letra e música de eleição governantes que têm o "defeito" de não contentar os que  vêem de soslaio o que tem de ser visto de frente, tendo em conta as dificuldades económicas que atravessamos.
Mas, uma coisa fica de pé:  o que aconteceu no dia 25 de Abril de 1974, foi um momento único e quem o viveu jamais o esquecerá.
Portugal vivia, então, às arrecuas do tempo e dos gritos de independência que grassavam a coberto do direito internacional nas colónias do seu vasto Império, mas tinha uma certeza: logo que abrisse mão em manter intactas as possessões ultramarinas os povos autóctones iriam ser subjugados pelos totalitarismos que cobiçavam a situação estratégica e as riquezas das suas colónias, como acontecia com Angola.
Foi o que sucedeu.
Uma esquerda aguerrida substituiu a dominação portuguesa com o beneplácito do povo anónimo e de responsáveis civis e militares.
A Metrópole escapou à onda totalitária que atravessou o tempo entre Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975, porque o Partido Comunista Português - uma mão longa que se estendia desde a Rússia - e outras forças políticas do mesmo cariz foram contidas de imporem uma nova ditadura.
Esta é a verdade histórica.
Lembrar isto no tempo que vai assinalar um marco recente da História Nacional serve para refrescar a memória e lembrar que em 26 de Novembro de 1975 - em complemento do que fora feito no dia anterior - uma força dos Comandos da Amadora ligada aos moderados atacou o Regimento da Polícia Militar, na Ajuda, uma unidade militar próxima das forças da esquerda revolucionária, de que resultou, após a rendição, 3 mortos, uma prova que a "Revolução dos Cravos" como lhe chamam alguns, candidamente, teve as suas vítimas e não foi tudo um mar de rosas.
Neste período - de Abri 74 a Novembro 75 - convém lembrar homens como: no plano militar o general Ramalho Eanes e o coronel Jaime Neves e no civil o Dr. Mário Soares, cujas acções foram definitivas para a defesa da Liberdade. É, por isso, lamentável que no festejo da data se vá notar a ausência desta última personagem que foi uma importante figura da liberdade conquistada, repetindo com o gesto a falta do ano passado.
Terá as suas razões, mas a falta tem, certamente, a leitura de não estar de acordo com o actual Governo e a situação criada, onde também lhe cabem culpas, pelo que não deixa de ser difícil de entender a sua falta, porquanto, em 1977 e 1983, pela sua mão o FMI aterrou em Portugal no tempo que era Primeiro-Ministro.
O governo actual está a cumprir um mandato democrático e não um qualquer totalitarismo, daqueles que o Dr. Mário Soares combateu e contra o qual ganhou uma batalha que não está completamente ganha, porque se ganhamos a liberdade não soubemos ganhar a independência económica, algo que no seu tempo, também aconteceu.
Lembrar isto é um dever de cidadania.
Como é, dar o benefício da dúvida aos actuais governantes e declarar que se a data do 25 de Abril está hoje nublada, as culpas - a havê-las - não lhes cabem de todo porque eram jovens em 74, devendo estas procurar-se nos mais velhos que foram incapazes de criar um Portugal diferente do que temos no tempo que passa.
Digo, portanto, que reprovo a atitude do Dr. Mário Soares por quem não nutro, hoje, a simpatia de outrora.
Mas não posso, nem devo esquecer o seu passado.

terça-feira, 23 de abril de 2013

UMA HISTÓRIA DE PALHAÇOS

Gravura publicada no Jornal "Riso Mundial" de 3 de Julho de 1947
Adaptação livre do sentido histriónico dado pelo caricaturista Bordalo Pinheiro à gravura que se reproduz em homenagem à memória do grande artista. 
Como sempre acontece em histórias de palhaços, um é rico e o outro é pobre.
Na história - que se vai explanar - o rico representa a Alemanha e o pobre um dos quaisquer Países do Sul, apelidados de madraços por alguns "bem pensantes" daquele País.
Pela postura que podemos ler na gravura o palhaço pobre fala para o palhaço rico que leva bem segura debaixo do braço a pasta das suas economias e pede-lhe um empréstimo, ou melhor dizendo, um resgate para solver as dívidas em que se afundou.
O palhaço rico de monco caído e boca franzida, responde-lhe, arrogantemente:
- Não. Vai trabalhar seu madraço... és tal qual a cigarra que não sabe prover o Inverno da sua fome...
O palhaço pobre, após uma pausa - algo envergonhado -  recompõe o gesto e faz-lhe lembrar um acontecimento real recente:
- Mas, então, já te esqueceste que em 1946 foi só com o programa de luta contra "a fome, a pobreza, o desespero e o caos" que tu - então acantonado na  parte Ocidental recebeste o impulso decisivo para iniciar a tua reconstrução? - Esqueceste que eu, hoje pobre, ajudei a erguer-te?
E continuou, com outra pergunta:
- Esqueceste, também, que foi o chamado Plano Marshall que disponibilizou 1,4 bilhão de dólares de 1948 a 1952 para saíres da miséria?
Acaba aqui a história ficcional na efabulação mas real nas palavras que vão correndo no tempo que passa, recordando um acontecimento histórico ocorrido no pós segunda Guerra Mundial, mas a história - com outro cariz mais respeitável e perfeitamente real em todos os seus cambiantes - continua a desenvolver-se na realidade dura dos dias e, nela,  já não existem figuras vestidas de palhaços.
Andam todos compostos e  bem vestidos.
Cumprimentam-se amistosamente sem suspeitarem que, bem no íntimo, a comunidade europeia a que dizem pertencer nunca existiu verdadeiramente e os "palhaços" ricos e pobres vão continuar a existir, embora ricamente aperaltados.
E, como sempre, o mais rico, impante, continua a impor a sua vontade.
É a lei natural, diz-se... mas quanto a mim é a lei da selva onde falta o respeito hodierno que o egoísmo espalha como lepra numa Europa perdida dos valores que deviam merecer a dignidade de todos os povos falaciosamente integrados numa falsa união!

ACORDA, ´"ZÉ!"

Gravura publicada pelo Jornal "A Corja" de 25 de Setembro de 1898
Foi sempre um defeito do "Zé".
Confiar demais, coma ainda hoje acontece, pese embora, o rol imenso de anos que lá vão desde o seu aparecimento no jornal "A Lanterna Mágica" em 1875, numa charge alusiva aos impostos, com o então Ministro da Fazenda (hoje, Ministro das Finanças) a sacar ao "Zé Povinho" três tostões... dizendo que era para os dar ao Santo António...
Desde então  ficou a marcar uma figura identificativa do povo português com a sua postura pachorrenta - mas outras vezes, não tanto - criticando os principais problemas sociais da politica económica de Portugal assinalando com a caricatura a sua revolta e abandono pela classe política.
Apesar de tanto tempo passado não se julgue que a caricatura do "Zé" não faz sentido, sendo certo que mudou, dando à velha caricatura traços diferentes, mas sem alterar no todo o original, porquanto, continua a ser usado - quando é preciso - e, depois, esquecido.
Vamos a caminho do aniversário da Revolução de Abril de 1974 e, por isso, vem a propósito falar da efeméride por ter sido um momento de esperança para o "Zé", onde pareceu que a sua caricatura ia morrer de vez, porque nunca mais seria esquecido.
Mas  tal não aconteceu.
Portugal pelo que se ouvia dizer fez que o "Zé" tomasse uma posição de espera e ao olhar a Revolução que acabou com ditadura - como se fosse uma árvore plantada no cão da Pátria - ficou esperançado, dizendo: Portugal, agora, há-de crescer!... há-de crescer!
Gravura publicada pelo Jornal "O António Maria" e, 7 de Setembro de 1882
Mas, não cresceu tanto como era esperado e o "Zé" ficou a olhar a História.
Viu que em (1882) o seu antepassado "Zé" tivera um palpite que algo ia mudar com o governo regenerador de Rodrigues Sampaio e Fontes Pereira de Melo, até porque havia sido suspenso um imposto sobre o rendimento que havia sido criado em 18 de Junho de 1880, mas foi sol de pouca dura.
E o "Zé" contemporâneo, verificou que em Abril de 1974 nem isso lhe fora dado.
Não tardou que no dia 6 de Outubro de 1974 - cerca de sete meses decorridos - um apelo do então Primeiro-Ministro Vasco Gonçalves levou o "Zé" a trabalhar para ajudar as instituições do Estado, com a pouca vergonha de lhe terem chamado "um dia de trabalho voluntário". E o "Zé" acorreu e trabalhou "a bem da Nação" um "slogan" odiado por aqueles que o mandaram trabalhar de borla.
Olha, querido "Zé": é verdade, que aquilo que aconteceu foi uma excepção e, possivelmente, uma exorbitância política que não voltou a acontecer, mas não deixa de ser verdade, que hoje, acabaram as borlas e, até, em tantos lados - contra tudo o que te disseram - fecharam-se as fábricas e acabaram os trabalhos, razão, porque na gravura que encima este apontamento, estás deitado no chão... não sei se a dormir se a meditar na vida que te criaram e não mereces, fazendo de ti um mandrião, quando és um homem de trabalho.
Acorda, "Zé".
Acorda e faz que acordem todos aqueles que te puseram a dormir, sobretudo, os que, agora, depois do mal feito não aparecem no Parlamento para celebrar o 25 de Abril, lavando as mãos como Pilatos.


segunda-feira, 22 de abril de 2013


A ARCA - EUROPA versus ARCA DE NOÉ

Gravura publicada na Revista "Riso Mundial" de 17 de Julho de 1947
Esta é uma história moderna - que pode vir a concretizar-se numa dura realidade - e que tem origem em factos que se apontam resumida e cronologicamente:
A história, se vier a ter um fim contrário à nobreza do ideal que a fundiu, não o quis ter, valha a verdade e tem de se realçar o gesto e a atitude altruísta do  seu criador.


Tudo começou em 9 de Maio de 1950 pela acção de Robert Schuman a que se seguiu em 1951 o propósito de dar corpo ao seu plano com a adesão da   Alemanha, Bélgica, França, Itália, o Luxemburgo e os Países Baixos, com o estatuto de membros-fundadores.
Em 1957 é assinado o Tratado de Roma, que cria a Comunidade Económica Europeia (CEE), também conhecida pelo "mercado comum" e que em 1993 passou a chamar-se, após o Tratado de Maastricht por União Europeia (UE).
Em 1958, surge a CEEA - Comunidade Europeia da Energia Atómica.
Em 1973 aderem a Dinamarca, a Irlanda e o Reino Unido.
Em 1981 dá-se a adesão da Grécia e  em 1986  Portugal e a Espanha.
Em 1995, a Áustria, Suécia e Finlândia juntaram-se à recém-criada União Europeia.
Em 1999 dá-se o lançamento oficial do euro.
Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos e Portugal adoptam o euro como moeda oficial.
A Eslováquia adere em 2009.
Em 2004 a UE viu o seu maior alargamento; Malta, Chipre, Eslovénia, Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, República Checa, Eslováquia e Hungria.
Em 2007 é assinado o Tratado de Lisboa.
Surgem outros candidatos, como: Antiga Republica Jugoslava da Macedónia; Croácia; Turquia; Islândia; Sérvia.
Á semelhança do antigo patriarca bíblico Noé - seja-me permitida a criação desta imagem literária - a Comunidade Europeia construiu uma Arca e largou, um dia, mas com a diferença do episódio bíblico que meteu todos de uma só vez dentro da Arca chamada de Nóe - o nome do velho Patriarca -  enquanto a Arca-Europa levou atrás de si um bote onde ia metendo os que, depois de aferidos, conferidos e aprovados entravam em primeiro lugar no bote e, só depois, de provas prestadas eram admitidos no bojo da Arca com a promessa de  mundos e fundos, apesar das diferenças étnicas e culturais, com o desejo de bem-estar para todos e, sobretudo, o desejo de criar um mundo mais justo.
A falácia não tardou a acontecer.
Sem ter havido expulsões - por enquanto - o que é notório é que a bombordo da Arca - Europa e bem às claras do mundo, como se vê na gravura, vão hoje, proeminentemente, dois vultos que sugerem dois Países - a Alemanha e a França - que olham o bote salva-vidas onde esperam meter, um dia, todos os que se venham a atrasar na criação de riqueza ou que, tendo-a esbanjado, pediram fiado e não podem pagar o capital e nem, sequer, os juros agiotas que lhe são impostos, tornados esquecidos os princípios do bem-estar prometido e do tal mundo mais justo, ou seja mais solidário.
A história ainda não acabou e não sei como vai terminar.
Mas olhando o bote salva-vidas tão pequeno, receio que muitos dos Países que vão ser jogados fora não caibam todos e se afundem, manchando assim, uma história que se quis de sucesso e - se vier a concretizar-se - não deixará de ser uma cantiga falsa que nos contaram, porque, afinal, ao que parece, a bombordo da Arca-Europa, o grito que parece ecoar, um dia, será o seguinte:
                                                      Apenas nos salvámos nós!
Mas... será, que vão salvar-se?
                           
O LABIRINTO DA JUSTIÇA

Gravura publicada pela Revista Branco e Negro de 29 de Abril de 1899


O juiz de instrução criminal António Costa Gomes não concordou com a acusação de falsidade de testemunho que pendia sobre Mário Lino, decidindo não o pronunciar e arquivando o processo.
Em causa estavam alegadas contradições nas declarações prestadas pelo antigo governante socialista durante as várias fases do processo "Face Oculta": inquérito, instrução e julgamento.
Isto dá que pensar.
Sabe-se que, ao Ministério Público compete representar o Estado e defender os interesses que a lei determinar, bem como, nos termos da lei, participar na execução da política criminal definida pelos órgãos de soberania, exercer a acção penal orientada pelo princípio da legalidade e defender a legalidade democrática.
Pelos visos o Estado perdeu a acção, porquanto, no labirinto em que nos encontramos a "não - culpa" venceu a "sim - culpa".
Fiquei, por isso a olhar a velha gravura do labirinto.
Vê-se que nele há duas portas abertas à luz do sol em ambos os castelos,  mas no da direita, não se sabendo se é uma saída ou  uma entrada, esta possibilidade situa-se debaixo do chão.
Porquê?
Os comentários ficam para melhor altura, que hoje, cansado como estou e de mal com o fantasma da vida que na mesma gravura, também apresenta uma saída ou uma entrada - mas não se sabe para onde -  apetece-me ficar calado, interrogando-me a mim mesmo, onde estará, afinal, a saída airosa de tantos labirintos que temos.

domingo, 21 de abril de 2013

NÃO VAI HAVER MAIS IMPOSTOS!

Gravura publicada pelo Jornal "O António Maria" em 7 de Setembro de 1882
Como então dizia o velho jornal, a gravura que se reproduz com a vénia que merece, representou o último figurino dos contribuintes, que bem pode, passados que vão cerca de uma centena e meia de anos, adaptar-se ao presente que temos, uma prova evidente da recessão - com o nome de espiral, ou não - mas que nunca deixou de acontecer desde a Revolução Liberal, pese  embora o facto histórico de ter conhecido alguma melhoria  no tempo do Partido Regenerador (1881-1886) de Fontes Pereira de Melo, mas não suficiente, a ponto de ter merecido a crítica de mestre Bordalo Pinheiro que a gravura traduz.
Olhando o presente, é sabido que o povo não se revê na velha gravura acima reproduzida, mas há - e disso, tenhamos a certeza -  muita pobreza envergonhada e carências sociais gritantes, pelo que se aplaude a determinação do  Primeiro-Ministro Passos Coelho ao ter anunciado no passado dia 7 de Abril  que não vai aumentar os impostos para compensar os 1300 milhões de euros das medidas que o Tribunal Constitucional chumbou esta semana. A alternativa será a contenção da despesa pública na saúde, segurança social, educação e empresas públicas, cujo estudo será feito “nas próximas semanas.
A ver vamos.
Mas fica de pé a desconfiança.
É que a contenção, tal  como foi dita - ou cortes, melhor dizendo - na saúde, segurança social e educação - será que não escondem aumentos de despesas que se configuram com encapotados impostos?
E por aqui me fico, na esperança dos nossos governantes não virem a merecer uma crítica social semelhante àquela de que, no seu tempo,  "O António Maria" se fez eco.


sábado, 20 de abril de 2013

MÚSICA DOS TEMPOS IDOS

Gravura publicada no Jorna "O Thalassa" de 13 de Março de 1913
  
Diz a legenda da gravura: Chegou a época das desilusões e o Zé verifica, afinal, que o disco - que ele vê à lupa - é falso como Judas.
O Zé Povinho - imagem de um povo bom - que é mesmo bom e confiante demais, parece´, finalmente, que é chegado o tempo de passar a desconfiar dos fala-barato que desde o advento da Carta Constitucional o têm adulado quando é preciso, mas depois, passado o tempo em que pode ser descartado, é massacrado, maltratado e marginalizado, como aconteceu recentemente, em 24 de Abril de 2008 quando a Assembleia da República ratificou o chamado "Tratado de Lisboa", sem ter consultado o povo, embora tal desiderato lhe tivesse sido prometido.
Aconteceu isto, meses antes, quando o PS e o PSD afirmaram a intenção de  o consultar  com o fim de o sentir presente num acto que introduziu profundas alterações a dois documentos europeus anteriores: o Tratado de Roma (1957) e o de Nice (2004) que regularam até àquela data a CEE, em primeiro lugar e, depois, a UE.
Ao que parece fizeram do Zé Povinho uma mole imensa com falta de cultura suficiente para opinar sobre tão magna questão, como se, apenas neles tivesse tomado assento a cultura e o entendimento.
Como se vê, agora, o Tratado de Lisboa nada trouxe de bom para nós, pese embora o gáudio do "porreiro, pá" exclamado pelo anfitreão José Sócrates perante o seu risonho par Durão Barroso.
A música então oferecida até à exaustão falou dos 7 capítulos abrangerem coisas importantes, como: I - Dignidade; II - Liberdade; III - Igualdade; IV - Solidariedade: V - Cidadania; VI - Justiça: VII - Disposições Gerais, e o Zé Povinho, aprovou mesmo sem ter sido consultado no tal Referendo que lhe havia sido prometido ao abrigo da Lei Constitucional.
Foi a música dos tempos idos... mas que não esquecemos.
Mandou-se às malvas o que tinha sido possível nos termos do artigo 115º da Constituição e o Tratado aprovou-se com o beneplácito de todos, incluindo o Sr. Presidente da República que não obrigou os partidos (PS e PSD) a cumprirem a palavra dada e em cima da ofensa cometida ao povo, não teve alternativa.
Claro, que hoje, vê que continuam a ser mentiras a Igualdade, Solidariedade e outras proposições, porquanto, de uma e outras estamos falados desde a grande mentira da Revolução Francesa, verificando-se, tal como a velha gravura ilustra que o disco que o Zé Povinho tem na mão e vê à lupa, é falso como Judas, porque não foi aquela a cantiga que então lhe foi cantada.


OS BOMBOS DA FESTA

 
Gravura publicada pelo Jornal "O Moscardo" de 3 de Junho de 1913
  
Olhando bem a gravura, o que vemos?
Ao contrário do que seria normal, até porque o bombo é um instrumento musical de algum peso e dificuldade de maneio, normalmente é tocado por homens feitos  - e fortes - e o que vemos são dois jovens bumba que bumba a tocar nos bombos maiores que eles, no peso e nos aspecto.
São o retrato perfeito do tempo que temos no que concerne à falta de cuidados que tem merecido dos responsáveis políticos a nossa juventude.
Efectivamente o poder continua a malhar, fazendo dos jovens os bombos da festa, ao ponto de lhes proporcionar cursos académicos sem saída para um mercado de trabalho que o País lhes não dá, ou, havendo-o, encontram as portas fechadas por força de uma economia que não se expande e lhes fecha as portas.
É, evidente, que há outros bombos da festa, como os adultos que perdem os empregos em estádios da vida em que deviam continuar a ser produtivos, constituindo tudo isto a falta de visão de uma Europa cheia de egoísmos nacionais - que chamou "União" - a um processo ínvio que nos conduziu ao estado de empobrecimento a que chegámos, com a agravante, indesculpável de não termos defendido os direitos - e os deveres que têm de estar na mesma medida - dos jovens que são as vítimas dos desvario dos mais velhos, especialmente, dos responsáveis políticos que não podemos deixar de apontar pelas agruras que eles passam ao fazer de bombos da festa, os que, pela idade e pela postura etária perante a vida deviam ser - e não são, verdadeiramente - os heróis da festa da vida que tantos sonharam, com todo o direito, e que nós, os mais velhos lhes matamos o sonho, do qual nunca nos perdoarão.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Os importnos palradores



 
Calem-se os faladores barulhentos deste País, especialmente, os comentadores políticos, como José Sócrates, Manuela Ferreira Leite e todos os seus pares políticos, onde sobressai o Dr. Mário Soares, de língua afiada, por vezes a roçar a indelicadeza e falta de rigor, pela parcialidade com que rendilha as suas opiniões.
Já os não ouço. Se aparecem na TV mudo de canal.
O povo está farto dos suas catilinárias, que mais não são que diatribes de maus perdedores, dos que tiveram poder e não o souberam usar com a ciência que o povo lhes pediu - mas tão só da satisfação que deviam aos seus correligionários -  e, agora, lançam gasolina em cima do fogo, esquecidos, como parecem, de  terem culpas no cartório... e grandes!
Calem-se. É um favor que nos fazem.
Ou, então, falem direito olhando mais o País e menos os seus partidos, cujas cartilhas estão velhas e cheias de teias de aranha das vãs filosofias enchiam a boca no social, mas do social verdadeiro tinham pouco, porque é noutra linha do pensamento que ele existe, verdadeiramente, e não nas teorias dos homens.
Calem-se, ou querem continuar, como diz o povo, a chover no molhado?
Mal ou bem, deixem que os actuais homens do leme - no governo ou na oposição, que em ambas as posturas se serve o País - conduzam Portugal.
A esses, ouço-os e respeito-os, pedindo-lhes o especial favor de, por entre as suas diferenças e ambições pessoais - que são normais e respeitáveis - se encontrem mais e não continuem a pesar  na balança política quem tem mais culpas nos desencontros que têm mantido, porque urge salvar o País da crise gravíssima em que nos encontramos e para a qual contribuíram os tais comentadores, advogando soluções para os problemas que eles não previram, embora avisados.
Motivo porque deixei de os ouvir.
Lamento, porque tive esperança neles, da esquerda à direita, sabendo-se que podiam ser senadores e não passam, hoje, de encenadores.
Razão porque lhes peço - para bem da sua memória - que se calem, sobretudo, neste tempos de vacas magras, em que por culpas - que não considero conscientes - mas por graves omissões, deixaram ficar o povo sem saber em que estábulos estão guardadas as vacas gordas que pastavam em alguns campos férteis que existiram, de quando em vez, nos seus tempos.

A CRISE NÃO É PARA TODOS


Gravura do Jornal "O António Maria" de 7 de Setembro de 1882

Olha-se a gravura e o que vemos?
Um ser estranho, disforme e obeso, satisfeito e de braços abertos, numa atitude que longe de configurar um abraço que nos quisesse dar, o que dá a entender é o seu ar de vitória e de regalo, enquanto alguém de lenço na mão enxuga uma lágrima teimosa e a ave esquálida de bico aberto espera o que lhe não dão, enquanto o Zé Povinho de mãos nas costas não chora nem ri, de habituado que está a ver cenas destas.
Ontem como hoje.
Olha a figura disforme que parece ter comido um cento de "Zés" e espanta-se da gula que anda por aí à solta e não tardou em entrar no desconto das suas magras reformas.
O Zé Povinho é bom, mas está a perder a paciência.
Não acha bem que lhe tirem, não do que lhe sobra - como acontece com tantos, tão anafados como o Estado - mas que lhe vão ao bolso e lhe tirem do que lhe faz falta.
E aqui o Zé Povinho não perdoa.
Está zangado com o Estado que não acha ser o conjunto de todos os cidadãos, mas tão somente, aqueles que o governam.
Que se ponham à defesa todos aqueles que para ele configuram o Estado, porque a inteligência colectiva do Zé Povinho é extraordinária e tem mais acuidade social que o Estado, como ele o vê e sente.


UM PAR DE BURROS

Gravura publicada no Jornal "O António Maria" de 1 de Janeiro de 1880
O  génio de Mestre Bordalo Pinheiro caricaturou alguém que na sua época constituía com o animal que montava "Um Par de Burros".
Não tentemos adivinhar quem era o cavaleiro-burro e, ainda, que o soubéssemos, o decoro manda-nos calar, mas manda a verdade que eu diga olhando o tempo que passa, quem é o burro que vai montado. Se atentarmos bem na gravura, com elegância e educadamente o cavaleiro-burro tira o chapéu num gesto de quem saúda alguém que passa, talvez surpreendido com a cena que pode ser vista aos olhos de um mundo, talvez admirado ao olhar a triste figura da personagem que é humana mas não passa de um consumado burro.
Esse burro sou eu!
Se no gesto tirei o chapéu foi para que todo o mundo que me conhece visse bem a minha fácies e, assim, todos pudessem ver que era eu, admirado de mim mesmo, pelo facto de ter acreditado num mundo melhor que me foi prometido - como penso a Portugal inteiro - por uns senhores que fizeram uma Revolução cheia de cantigas, como aquela cujo estribilho nos dizia: eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada  e, ao que parece, seguiram à risca aquilo que cantavam ao povo que neles acreditou  e de tal jeito, que inebriados pela música que lhe deram cantou com eles o mesmo estribilho.
Foi natural que assim tivesse acontecido.
A música era - e é - muito linda e tinha verdade na sua mensagem.
Mas, estranhamente, é algo que hoje desapareceu dos media,  porque parece mal cantar até à exaustão - como então se fez - uma música que diz, hoje, o que eles disseram que havia acontecido antes.
É por isso - e por outras coisas - que afirmo que o cavaleiro-burro sou eu mesmo, e digo-o sem me envergonhar, fazendo-o num sentido profilático para que os outros se ponham à defesa dos cantos de sereia com que me embalaram.
Mereço, pois, e com toda a propriedade o nome que é dado à minha montada a que se chama burro por aprender mal, tal como eu fui, num certo dia, em que não aprendi a lição que me chegava da História nacional que conhecia, mas esqueci no embalamento de umas auroras que mal romperam e estão, hoje, prisioneiras de um imenso nevoeiro.
Mas como diz o povo: nunca é tarde para aprender e eu aprendi, agora, a custas minhas  - que é sempre a lição melhor - o que nunca devia ter esquecido ao rever-me num passado bem perto, com todo o afinco e asserto, na legenda da velha gravura do jornal " O António Maria",que aqui fica como alerta, no desejo - que não pode morrer - de ver, um dia, romper a manhã radiosa em que eles não comam tudo e deixem para todos o que a todos pertence.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O NOVO BOI ÁPIS

Gravura publicada no Jornal "O António Maria" de 6 de Janeiro de 1881

Merece a pena recordar aos mais distraídos a história resumida do boi Ápis.
Situemo-nos em Mênfis, no antigo Egipto. Numa vereda erguiam-se as ruinas de um templo onde se encontrava embalsamado o boi Ápis, que passava por ser um animal merecedor da maior reverência, por ser o símbolo da força e virilidade, dividindo uma estranha parentela com o poderoso faraó, ostentando uma parte animal e outra de deus, tendo merecido o culto do povo devido ao seu invulgar conjunto de sinais, que em vida lhe mereceram ostentar-se num santuário, espalhando a crença que a sua essência divina era transferida para outro boi, quando morria.
A gravura que reproduzimos deve-se à pena genial de Rafael Bordalo Pinheiro, a quem prestamos o dever de o honrar com carinho e admiração, pedindo licença à sua memória ilustre para o transportar para este pequeno apontamento, ilustrando, porventura com pouca arte o que ele caricaturou.
Não podemos, porém, deixar sem uma crítica que julgamos construtiva, a denúncia do que se passa com a actual Constituição que vai regendo o nosso povo e que, à semelhança do boi Ápis, alguns julgam que, - pesem embora os ajustes que tem tido - não se pode tocar, embalsamando-a, como aconteceu com o velho animal de Mênfis e sendo-lhe, por isso, merecidas todas as honras, como se ela fosse objecto merecedor de um santuário quando se impõe revê-la mais uma vez.
É quase um culto, o que acontece por parte de uns bem pensantes, segundo o seu ângulo de visão dos acontecimentos - que não é o meu -  mas que, parece, não deram pela passagem do tempo, com a agravante dela ser lida, julgada e seguida por homens que não podem fazer outra coisa senão a de seguir a lei dos parlamentares, mas com o defeito, em nosso entender,  de serem escolhidos pelos mesmos que a criaram num tempo bem diferente, chamando por nomes feios aqueles que dizem que ela deve ser revista na hora que passa.
Mas... não senhor.
Ela é um novo boi Ápis, num tempo em que os deuses morreram e o Deus Eterno que devia agir em todas as consciências não merece uns momentos de pausa de alguns no agnosticismo que os conduz, ainda que a sua teimosia os leve a não ver no dia claro a noite em que Portugal se afunda.
Não esqueçamos, porém, olhando a gravura do mestre Bordalo Pinheiro que o Zé Povinho está de joelhos implorando a revisão que tarda aos que conduzem num andor o boi Ápis que foi criado em S. Bento e só lá é que tem de ser revisto à luz de um tempo novo, pois é nele que mora a esperança do Zé Povinho deixar a sua incómoda posição de joelhos em cima do chão duro da vida.

quarta-feira, 17 de abril de 2013


PORTUGAL PERDEU OS PÉS 

Gravura (parcial) publicada pelo Jornal Riso Mundial de 29 de Julho de 1947
Como se vê, a gravura não representa um Zé Povinho qualquer, mas a imagem de alguém da classe média alta, de bengala, fraque e cartola, que na altura (Março de 1947) já tinha perdido os pés, num tempo em que uma das lutas se situava entre republicanos e monárquicos tendente à restauração da Monarquia, onde uma parte perdeu os pés e a outra parte, se os não perdeu, porque ganhou a luta, jamais soube caminhar de cabeça erguida.
Hoje, essa luta - que ninguém duvide - não acabou, porque a República ao criar o Chefe do Estado, fez que este se comporte como os velhos Reis, sobretudo os que lideraram do ponto de vista do Estado a vida nacional no século XIX, em que o Romantismo pediu meças ao Iluminismo para distorcer a moral e os costumes que foram capazes de criar homens bons, que de modo algum mereceram ter perdido os pés.
Mas, não é por isso - ou só por causa disso -  que Portugal está como o vemos.
O que acontece é que, por causa de não termos sabido cuidar das Instituições e de as fazer respeitar na libertinagem em que deixámos transformar a grande riqueza da Liberdade, não há, hoje, respeito por nada e ninguém, um facto que começa na Escola onde se aboliu a Moral - que tal como era dada era obsoleta, convenhamos - mas sem a termos substituído pela Ética e pelo Civismo que devia ser, e não é, o fautor mais válido de um republicanismo que matou o Rei, e um Chefe de Estado - como Sidónio Pais - sem, contudo, ter encontrado caminhos em que, o povo mais simples e o mais letrado pudessem andar de pés no chão, e não como agora acontece, em que Portugal perdeu os pés, sem saber ao certo quando lhe vai ser possível caminhar de costas direitas.
É aqui que bate o ponto, mas tão de leve, que os actores - que somos todos nós - não  conseguimos ouvir as vozes mais concertadas pela barafunda que vai acesa, como acontece na Casa da Democracia como alguns chamam ao Parlamento, onde as vozes dos antigos tribunos há muito se deixaram de ouvir e os novos, porque soam a falso, há muito perderam os modos de pôr Portugal a caminhar com os pés em cima de um caminho que vai faltando, mesmo àqueles que, como representa a gravura, pertencem à classe mais alta de uma sociedade aturdida por aquilo que lhe está a acontecer.
Que não restem dúvidas: Portugal, mais uma vez, perdeu os pés.
Até quando?

A Pátria de burro!




Gravura do Jornal "O Thalassa" de 3 de Abril de 1913



A  Pátria - que na gravura prefigura o colectivo que somos - monta um burro, embora merecesse uma montada mais nobre.
Mas, se atentarmos nos tempos hodiernos, onde, parece, se perderam num nevoeiro selvagem os nobres cavaleiros que sem ademanes ou falsas cortesias eram exemplos para o povo, não se pode levar a mal que um de nós - daqueles que ninguém conhece - apareça montado num burro, exibindo na frente do peito uma tarja com o nome: PÁTRIA para mostrar o seu desprezo pelos que deviam ser garbosos cavaleiros montados como devia ser e, não, como acontece, serem todos parecidos com os burros pelos coices que dão, não dando o exemplo da cortesia por entre as diferenças, como devia acontecer, se fossem cavaleiros exemplares.
E a Pátria que se lixe, se me é permitido este eufemismo.
Basta, para tanto, olhar o que se passa à nossa volta, onde os que se deviam comportar de acordo com o voto recebido do povo que neles confiou, sonhando vê-los montados em puros sangues lusitanos - que são garbosos cavalos de raça -  e, não, vê-los montados nas burrices das suas teimosias,
Por esse motivo que ninguém se espante, se alguém farto de os aturar, monte um burro e venha dizer para quem os quiser ouvir, alto e bom som, que A PÁTRIA se exibe assim montada para demonstrar que eles são teimosos como o animal em que a PÁTRIA se monta neste tempo em que acabaram os cavalos de raça.



terça-feira, 16 de abril de 2013


OS SEMPRE EM PÉ


Gravura de Rafael Bordalo Pinheiro in, Jornal António Maria de 12 de Junho de 1879

Foi sempre assim.
Em 1879 vivia-se uma Monarquia decadente, em que o Governo progressista de Anselmo José Braamcamp (1879-1881) era composto por ministros sem experiência política, assediado pelo grupo dos Regeneradores, tendo à cabeça Hintze Ribeiro a liderar uma oposição feroz a que se juntou em 1880 a contestação republicana.
O Jornal António Maria, surgido naquele ano, numa crítica mordaz, sintetiza a situação do reviralho em que o País vivia, dizendo que eles caem (o povo) mas nós continuamos sempre de pé.
Nada de novo, na época, disse o Jornal, que não fosse o trivial de um tempo em que o velho Portugal ia a pique a caminho do naufrágio económico que se consumaria anos depois, na bancarrota.
Nada de novo, acontece hoje.
A bancarrota espreita, mais uma vez. Os políticos, arribados na partidocracia do poder, de pouco se importam que mergulhemos no fundo, certos como estão que o povo cai de joelhos ou de borco, tal como ilustra a velha gravura de Bordalo Pinheiro, porque eles ficam sempre de pé.
É o destino que temos desde que esquecemos as lições altruístas dos nossos avoengos ilustres que nos legaram um País que não temos sabido honrar, sobretudo, agora, em que perdida a batalha da honra de sermos portugueses de lei, nos vendemos a uma Europa balofa e imoral, rendidos a um sonho de um federalismo que nunca acontecerá, pela mescla que somos de muitas Pátrias que há muito perderam - como nós - a independência moral dos costumes.
Foi uma tragédia em que, a pouco e pouco, foram deixados cair as Pátrias, como se não necessitassem de ser honradas nos princípios básicos onde se formam as consciências impolutas, sem as quais o que fica é um rol de povos desencontradas com os seus próprios ideais, onde a Idade Contemporânea que chamou para si os símbolos da Liberdade, Igualdade e Fraternidade - que tantas moléstias sociais aboliu - parecem esquecer aqueles nobres conceitos, rendidos como estamos à economia dos mercados que nos subjugam, deixando de pé, não os símbolos que aboliu o velho, imoral e injusto sistema feudal, mas aqueles que nascem como abortos dos homens que se vão equilibrando com artes e manhas, sem cuidar que estão a criar nos tempos modernos novos feudos onde impõem a lei do mais forte.
A lei deles. Os tais que ficam sempre em pé.



O PORQUINHO DO ORÇAMENTO

Gravuras  com a devida vénia  copiadas do Jornal "O Thalassa" de 11 de Julho de 1913. Este jornal de cariz monárquico publicou-se em Lisboa entre 6 de Março de 1913 a 7 de Maio de 1915. Em 3 de Setembro de 1914 sofreu a apreensão de todos os seus exemplares, por ordem do Dr. João Eloy, Director da Polícia.
 

Uma gravura, como esta, em que o Zé Povinho assiste ao engordamento do Porquinho do Orçamento, publicada pelo jornal "O Thalassa", bem podia ser uma imagem dos novos republicanos que governam Portugal desde Abril de 1974, onde ilusoriamente o mesmo Zé Povinho viu engordarem outros "Porquinhos" de Orçamentos, sem lhe dizerem que era tudo uma farsa e que as obras megalómanas como as  autoestradas paralelas Lisboa-Porto e outras, que são pagas duas vezes pelos contribuintes actuais e pelos seus filhos e netos - e tudo o que aconteceu noutras obras desnecessárias e na engorda do Estado, que na gravura o caricaturista pós-República retratou num "porquinho" - como nós o podíamos ter feito, hoje, se nos tivessem contado a verdade da suposta riqueza que não tínhamos, certamante, tínhamos ficado de sobreaviso.
Mas nada nos disseram.
Foi tudo uma festa de arromba!
Agora, sabemos o que aconteceu:



O "porquinho" esvaziou-se.
Tivemos de recorrer - a 3ª vez desde Abril de 74 - à ajuda externa.
O Zé Povinho, enganado, humílimo, de chapéu na mão coça a cabeça e o Estado que o conduziu ao estado em que hoje se encontra, tal como a velha gravura, abre a boca de espanto por ver esvaziado o "porquinho" que a sua falácia engordou a ponto de rebentar.
O que espanta é que O Estado - que afinal, devíamos ser todos nós e não somos, de facto - esteja a olhar o cofre vazio, com ar de quem não quer acreditar!
Mas, muito  mais espanta o Zé Povinho, os que durante a festa engordaram e deixaram que outros engordassem e, agora, que era preciso encher - mas sem voltar a engordar o "porquinho" a ponto de rebentar outra vez -  não saibam a fórmula de sair do estiolado orçamento, que por força do endividamento, cada vez fica mais magro, com o pagamento das dívidas que contraímos.
Pobre Zé Povinho" que tão enganado foste e, agora, tens de pagar a festa de uns poucos!

domingo, 14 de abril de 2013

 

VIRA O DISCO E TOCA O MESMO!

A gravura acima reproduzida com a devida vénia veio publicada no Jornal - há muito tempo desaparecido - "A Bomba" e refere-se a uma publicação de 15 de Junho de 1912.
Em fundo, alguns políticos republicanos tocavam instrumentos musicais e a Pátria figurada numa dançarina - pujante e airosa, que continua a ser para todos os homens que a sentem - já um pouco farta de dois anos de má música, dizia aos desafinados instrumentistas: Cuidado com os instrumentos. Já estou a ficar cansada.
Penso que hoje, a Pátria diz o mesmo, falando por todos nós.
Estamos cansados dos instrumentistas, porquanto - salvo a raras execpções, que graças a Deus sempre existem - não são tocadores afinados, ou então, não sabem como afinar os instrumentos republicanos.
É sina nossa.
Razão, porque, nesta nova República que nos deram em 1974, Vira o disco e toca o mesmo
Este pequeno apontamento é, apenas, um comentário de alguém que sem saber tocar nenhum instrumento musical afinado ou desafinado, dos tais que são fornecidos pelas cadeiras do poder, ainda assim, tentou acompanhar os que me pareceram afinados e, afinal, não mereceu a pena o tempo perdido com eles.
Mas continua viva a Esperança, uma virtude cardial da Fé que me anima, na certeza que a Pátria não morre jamais, mas precisa de outros músicos, dos que são capazes de tirar notas vibrantes e afinadas, ainda que sejam velhos e desafinados os instrumentos do amor e da honra, que não podem ser arrumados a um canto, como parece, estão neste momento.
É lamentável que a Pátria, que na gravura, embora cansada, ainda dançava e hoje endividada como está - perdeu a dança - e os músicos, ao que parece, já nem sabem em que canto esconderam os instrumentos.