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sábado, 31 de maio de 2014

"Nós somos o que fazemos"



Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. 
Portanto, só existimos nos dias em que fazemos. 
Nos dias em que não fazemos apenas estamos.

Padre António Vieira



Porque no dizer sábio do grande jesuíta:
Nós somos o que fazemos,
ao olhar as mãos enrugadas desta foto espantosa,
sou levado a pensar,
que mãos assim, não estiveram, apenas,
porque construíram  a vida!

 Existiram  - isto é, viveram efectivamente - todos os dias,
porque não se limitaram a estar, mas a fazer!
Eis, porque, 
ao olhar estas mãos o que apetece é beijá-las agradecidamente
pelo que fizeram, existindo!

sexta-feira, 30 de maio de 2014

A mesma água não corre duas vezes igual debaixo da mesma ponte!




Gravura publicada pelo jornal "A Corja" de 16 de Outubro de 1898


Eu lavo a roupa melhor que tu!
Ou então: o teu sabão é reles e o meu é de superior qualidade!

É o que parece sugerir esta velha gravura de cariz político, o que prova que no ontem já distante, como no tempo de hoje - porque os nossos políticos são, na maioria, uns cábulas - não têm aprendido a fazer da política um acto nobre, mas tão só, aquele que por qualquer preço os guinde de novo ao poder com o estafado dizer que o fazem para bem do País, o que não sendo, de todo, crível lhes deveria causar mais cuidado naquela afirmação inútil.

Este intróito entrosa-se no que se passa, actualmente, no Partido Socialista, em que António Costa com a atitude que tomou deseja desalojar do pelouro António José Seguro, a quem, efectivamente, faltou a manha política que sobra nalguns dos seus pares, o que me conduz a chamar à colação, o seguinte: a mesma água não corre duas igual debaixo da mesma ponte, o que quer dizer - usando uma imagem - não podemos deixar de nos banhar na primeira água que nos é dada, ou oferecida, porque podemos correr o risco de não podermos ter uma segunda oportunidade.

Vem isto a propósito do convite feito pelo Presidente da República no Verão de 2013 a António José Seguro, de lhe proporcionar eleições antecipadas em Junho de 2014, em troca de receber dele um compromisso com o PSD e o CDS.
Na altura António José Seguro, chegou a negociar, mas bem cedo, com Mário Soares a amedrontá-lo com a sisão do Partido, se houvesse acordo com a direita, recuou e abandonou as negociações.

E assim se gorou a proposta do Presidente da República...

Diz um sábio axioma popular, que: "antes cautela que arrependimento", o que bem pode vir a ser este o sentimento que num futuro breve - ou, hoje - se venha a apossar de António José Seguro, por culpa própria, sem ter cuidado da tenaz que tinha sobre si. 

Que lhe fique para a sua futura vida política este episódio como bússola, porque são os mesmos dentro do PS que o acusavam de incompetência por pretender um acordo com o PSD/CDS que vão agora acusá-lo de incompetência por ter sido incapaz de fazer com que o governo caísse até Junho de 2014, o que prova o cinismo da vida política, que devia ser - e não é- um modo altaneiro de enobrecer o homem e deixou de o ser, ha muito em Portugal, enquanto pulularem por aí, homens da estirpe de Mário Soares e seus pares.

Sem uma glória qualquer - tivesse, embora, ganho duas eleições - Seguro vai cair, de nada lhe valendo a "atitude imoral" que lhe é movida, como hoje se expressou o antigo Secretário-Geral da UGT, João Proença, como se a moralidade política existisse...


quarta-feira, 28 de maio de 2014

Sesimbra






Da falésia olho o mar chão
E o areal fino e doirado.
E oiço o lindo pregão
Que vende em primeira mão
Todo o teu lindo pescado!

Sesimbra, deixa que diga,
Olhando assim o teu mar
Que és dele noiva antiga.
Pois como diz a cantiga:
-Quem te vê, tem que te amar...

Em cada escarpa das tuas
Tens uma sereia que canta
Ao baloiço das faluas
Saudades de outras luas
Numa doçura qu’encanta!

  
1991

Trabalho enviado ao antigo
Programa da Antena Um
"O Passeio das Virtudes"


Serra do Marão






Diz-se que p’ra lá do Marão
- Num dito muito engraçado -
Mandam os que lá estão!
Por isso o meu coração
É em ti um pau mandado!

E sou-o com muito empenho
Porque olho o teu horizonte
E sei que em ti venho
Prender-me em cada monte!

Porque cada penedo dos teus
Na hora em que o Sol desmaia
É neles que s' assenta Deus
Para ficar d’atalaia!


1990

Trabalho enviado ao Programa 
"O Passeio das Virtudes" da Antena Um


Santarém





És um lindo miradouro
Onde demoro o meu olhar
Na vista do castelo mouro
Que vê o Tejo passar!

Custou tomar seu terreiro
Por ser alta a barbacã!
Valeu um golpe certeiro...
Não era ainda manhã!

Terra de campos e gados
Da viagem de Garrett...
De campinos afamados
Que bailam batendo o pé!

No fandango, num virote
As jaquetas a voar
Parecem que vão a trote
Num estranho cavalgar!

Ai, se pudesse, também,
Preso à dança entontecida
Ficava em ti, Santarém...
Ou retardava a partida!


1989

Trabalho enviado ao Programa 
"O Passeio das Virtudes" da Antena Um


terça-feira, 27 de maio de 2014

S. Pedro do Sul


Ruinas do balneário de D. Afonso Henriques


Capela junto do balneário de Afonso Henriques

Teu vale do Vouga tão lindo
Parece um sonho e não é...
Passa o combóio dormindo
E eu acompanho-o a pé!

Ai, S. Pedro, quem me dera
Ir até ti e e em ti ficar!
Preso nos musgos e na hera
Que deleitam meu olhar.

Ir até às Covas do Rio
Ao Caudal e a Carvalhais;
Beber tuas águas e ser pio
Ao olhar os teus vitrais!

Ver a água e as torrentes
Caindo mansas, serenas
Das mil e uma nascentes
Regando as terras morenas!

Mas é no teu verde, tão verde
Que atapeta os teus declives
Que o meu olhar se perde
Nessa filigrana de ourives!


1989

Trabalho enviado ao Programa
"Passeio das Virtudes" da Antena Um


Portalegre



Castelo de Portalegre, tendo em fundo as torres da Sé Catedral



Cidade-mãe dos teares
Cujo som dá vida aos dias.
Os teus montes são altares
Onde eu rezo Avé-Marias.

Terra de branco vestida
Noiva de Régio - Poeta
Que na "Toada" deu vida
Á tua beleza secreta.

Deixa que te cante, agora,
Como quem dá um presente.
Sou alguém que te namora
E em ti ama a tua gente.

Portalegre... tens mistério...
Porque ao luar que se côa
Num filtro leve e etéreo
Minh'alma à noite seroa...

Beijo o teu chão. Sou pastor
De um rebanho que imagino
Retouçando por entre a cor
De um monte de que é pintor
O meu amor peregrino.


1994

Trabalho enviado ao Programa
"O Passeio das Virtudes" da Antena Um


Pinhão



Foto capturada do Google Earth, da autoria de Adérito Figueira, 
a quem se agradece, com a devida vénia


Dá-te o nome o Rio Pinhão
Que ao encher o grande Douro
Leva as saudades que vão
Falar do vinho - um tesouro! - 
Que é o teu antigo brasão!

A sucessão dos teus montes
É uma dança tamanha
Que os verdes horizontes
Frescos das águas das fontes
Quebram-se em cada montanha!

Ó Pinhão, meu paraíso...
Há no ar da tua gente
Uma alegria que m'entranha
Por ter tudo o que é preciso:
Um ar sadio e um sol quente
E o silêncio que te banha!

Vejo o anfiteatro fechado
Que a Natureza em ti criou.
E penso que és um achado.
Pois ando por tanto lado
E é p’ra ti que sempre vou,
Sempre na mira de ver
Os barcos rabelos, que vão
Rasgando o Douro, a correr
Com pressa d’ir ao Pinhão!


1º Prémio do Programa da Antena Um:
“Passeio das Virtudes” realizado no dia 3/2/91


Oliveira do Hospital



Igreja Matriz e Câmara Municipal


Tu és florida montanha
De urzes e matagais
Onde o tojo se mistura.
Tens uma beleza tamanha
Que merece madrigais
Toda a tua formosura!

Pena tenho do meu jeito
De te cantar não poder
Dar de ti um esboceto.
Mas dou-te todo o meu peito
Onde o coração sem saber
Anda a compor um soneto!

Ó pátria de Brás Garcia
Como tu vens à distância
Lembrar a sua poesia
E toda a tua fragrância!

Ando pois a voar contigo
E neste tão lindo voar
Eu ando a ver se consigo
Ir aí... e depois, ficar!



1º prémio do programa “Passeio das Virtudes”
da Antena Um – Março - 1989


À derrota histórica, não se opôs uma vitória histórica!



Novo ciclo? - Onde é que está?

Do justo e duro Pedro nasce o brando
- Vede da natureza o desconcerto! -
Remisso e sem cuidado algum Fernando,
Que todo o Reino pôs em muito aperto;
Que vindo o castelhano devastando
As terras sem defesa, esteve perto
De destruir-se o Reino totalmente,
Que um fraco Rei faz fraca a forte gente.

Camões, in, Lusíadas - Canto III. 138





Hoje, António Costa, que se dispõe - finalmente - a liderar o Partido Socialista, disse uma grande verdade ao referir-se às eleições do passado dia 25 de Maio para o Parlamento Europeu: "à derrota histórica que a direita sofreu não correspondeu uma vitória histórica do PS!

Diz o povo: "à terceira é de vez" - e foi, -  porque já em 2011 e 2013, António Costa ponderou a candidatura contra António José Seguro, que se cobriu de ridículo com a proclamação de uma vitória - como se o fosse e não era de todo -  pela magreza dos números já então conhecidos, algo que se poderia desculpar a Francisco Assis, que em cima do fecho das urnas, alto e bom som, chamou de "vitória estrondosa" ao que não se veio a confirmar.

Portugal dispensa, no tempo que passa tontas euforias de vitórias, mesmo, ainda, que elas existissem, porque todos andamos de tal modo derrotados que não há vitórias que cheguem para nos animar, mas tão só, o trabalho sério e aturado dos políticos e do povo em geral, para erguer, paulatinamente a auto-estima que tem de ser construída de baixo para cima - com todos os portugueses - e não com alegrias esfuziantes que cheiram a falso como a que nos foram dadas por alguns socialistas no Domingo passado, como a que quis transmitir o seu secretário-geral, que valha a verdade, na sua bússola política nunca encontrou o norte... julga-se por ter usado a bússola velha de um tempo antigo e que não volta mais, o que é de espantar num jovem como ele é.

Na sala que o aplaudiu, pateticamente, no Domingo passado, havia um cartaz onde se lia a palavra MUDANÇA - julga-se, que a pedir a demissão do actual Governo - só que, a tal mudança, afinal, se era um desejo para fora, vai ter efeito para dentro, como tudo deixa a crer!

Coisas que a vida tece!

António Costa, parece, olhar com bonomia para a esquerda.
Será que o seu olhar recai no Partido Comunista?

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Ó Coimbra, quem me dera!




Vista a partir da Universidade



Ó Coimbra, quem me dera
Ser igual aos teus cantores;
E como eles ficar à espera
Que volte a ser Primavera
Na Fonte dos Teus Amores!

Não te esqueço; era ofensa
Ao livro que tu me lês!
E onde sofro a dor imensa
Do drama que em ti se adensa
De D. Pedro e D. Inês!

Ó Coimbra, quem me dera
Ter vivido noutra idade!
Pois mais cedo conhecera
O fado que alguém já lera
No Penedo da Saudade!

És Coimbra, sonho antigo
Embora breve fosse a hora
Em que foste meu abrigo.
Por isso sonho contigo
Lembrando tempos d’outrora!

Ó Coimbra, quem me dera
Voltar de novo ao Mondego
Que corre manso e se esmera
P’ra deixar envolto em hera
Apenas mais um segredo!

E à Lapa e ao Choupal
Em cujas belezas coubera
Num mundo quase irreal,
Se fossem de novo um fanal...
Ó Coimbra, quem me dera!

1º prémio do Programa 
“Passeio das Virtudes” da Antena  - 11/2/90



Nazaré




“Tá-mar!” Tá-mar!”

E todo o imenso cachão
Da onda que enrola e bate
Fecha a água num montão
Quando prepara o combate.

E o homem da Nazaré,
O pescador altaneiro,
Põe-se na proa de pé...
E o barco fura certeiro!

Só que às vezes acontece
Ser o novelo de tal sorte
Que as malhas onde se tece
Tem fios que enrolam a morte.

Nazaré: se eu pudesse
Dáva-te um mar mais pequeno
Onde a pesca acontecesse
Sob um cachão mais sereno!

E onde tu, por teres passado
Tanto engano e tanta dor
Bailasses um vira mandado
Pela voz do meu amor!



14/2/88


Trabalho enviado ao Programa
"Passeio das Virtudes" da Antena Um



Assim acontecesse em Portugal!



Ainda que contrários e donos de poleiros diferentes estão condenados a entender-se!
Gravura publicada pela Revista
 "Riso Mundial" de 10 de Julho de 1947


Grande coligação entre o Partido Popular Europeu (PPE) e o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) para suceder a Durão Barroso

A chanceler alemã Angela Merkel avisou que não pode decidir sozinha a nomeação de Juncker e apelou a negociações entre os grupos representados no parlamento europeu.
Apesar de o PPE ter sido a força mais votada nas eleições europeias, Merkel esclarece assim que a eleição de Juncker não está garantida e que Martin Schulz - candidato dos socialistas europeus e cabeça-de-lista do SPD às eleições (que, com a CDU de Merkel sustenta o governo de Berlim) - tem hipóteses de suceder a Durão Barroso em Bruxelas.
Contudo, David MacAllister - cabeça-de-lista da CDU às europeias, e que falava ao lado de Angela Merkel - voltou a declarar o seu apoio a Juncker.
Também o próprio Juncker veio entretanto admitir a necessidade de uma "grande coligação" com os socialistas europeus para suportar a sua designação para presidente da Comissão Europeia.
"Não vale a pena fazer grandes conjecturas. A única opção possível é uma grande coligação entre os dois grandes partidos", disse em Bruxelas, citado pela Lusa.
Os dados provisórios indicam que o PPE terá até ao momento 214 eurodeputados (menos 59 que na anterior legislatura), enquanto o grupo socialista conseguirá 189 assentos.
in, Jornal Económico (26-05-2014)


A lição lê-se, inteirinha, em Jean-Claude Juncker.

Apesar do Partido Popular Europeu (PPE) ser  desde 1999, o partido com maior representatividade no Parlamento Europeu e assim, continuar, com os votos da recente consulta popular europeia, o parlamentar luxemburguês fala direito e diz: "Não vale a pena fazer grandes conjecturas. A única opção possível é uma grande coligação entre os dois grandes partidos".

O sublinhado é meu!

Assim acontecesse em Portugal, se os nossos exaltados políticos - do que se chamou "o arco da governação" - levassem a sério a tarefa ingente que temos pela frente e a que devemos acudir urgentemente se não quisermos que os nossos filhos e netos nos chamem, um dia, os nomes que merecemos!

Abrir as portas à alegria!



                                 António Feijó

                          Hino à Alegria

Tenho-a visto passar, cantando, à minha porta,
 E às vezes, bruscamente, invadir o meu lar,
 Sentar-se à minha mesa, e a sorrir, meia morta,
 Deitar-se no meu leito e o meu sono embalar.

 Tumultuosa, nos seus caprichos desenvoltos,
 Quase meiga, apesar do seu riso constante,
 De olhos a arder, lábios em flor, cabelos soltos,
 A um tempo é cortesã, deusa ingénua ou bacante...

 Quando ela passa, a luz dos seus olhos deslumbra;
 Tem como o Sol de Inverno um brilho encantador;
 Mas o brilho é fugaz, — cintila na penumbra,
 Sem que dele irradie um facho criador.

 Quando menos se espera, irrompe de improviso;
 Mas foge-nos também com uma presteza igual;
 E dela apenas fica um pálido sorriso
 Traduzindo o desdém duma ilusão banal.

 Onda mansa que só à superfície corre,
 Toda a alegria é vã; só a Dor é fecunda!
 A Dor é a Inspiração, louro que nunca morre,
 Se em nós crava a raiz exaustiva e profunda!

 No entanto, eu te saúdo e louvo, hora dourada,
 Em que a Alegria vem extinguir, de surpresa,
 Como chuva a cair numa planta abrasada,
 A fornalha em que a Dor se transmuta em Beleza!

 Pensar, é certo, eleva o espírito mais alto;
 Sofrer torna melhor o coração; depura
 Como um crisol: a chispa irrompe do basalto,
 Sai o oiro em fusão da escória mais impura.

 A Alegria é falaz; só quem sofre não erra,
 Se a Dor o eleva a Deus, na palavra que O louve;
 A Alma, na oração, desprende-se da terra;
 Jamais o homem é vão diante de Deus que o ouve!

 E contudo, — ilusão!—basta que ela sorria,
 Basta vê-la de longe, um momento, a acenar,
 Vamos logo em tropel, no capricho do dia,
 Como ébrios, evoé! atrás dela a cantar!

 Mas se ela, de repente, ao nosso olhar se furta,
 Todo o seu brilho é pó que anda no sol disperso;
 A Alegria perfeita é uma aurora tão curta,
 Que mal chega a doirar as cortinas do berço.

 Às vezes, essa luz, de tão frágil encanto,
 Vem ainda banhar certas horas da Vida,
 Como um íris de paz numa névoa de pranto,
 Crepitação, fulgor duma estrela perdida.

 Então, no resplendor dessa aurora bendita,
 Toma corpo a ilusão, e sem ânsias, sem penas,
 O espírito remoça, o coração palpita
 Seja a nossa alma embora uma saudade apenas!

 Mas efémera ou vã, a Alegria... que importa?
 Deusa ingénua ou bacante, o seu riso clemente,
 Quando, mesmo de longe, ecoa à nossa porta,
 Deixa em louco alvoroço o coração da gente!

 Momentânea ou falaz, é sempre um dom divino,
 Sol que um instante vem a nossa alma aquecer...
 Pudesse eu celebrar teu louvor no meu Hino!
 Momentâneo, falaz encanto de viver!

 O teu sorriso enxuga o pranto que choramos,
 E eu não sei traduzir a ventura que exprimes!
 Nesta sentimental língua que nós falamos,
 Só a Dor e a Paixão têm acordes sublimes!

António Feijó, in 'Sol de Inverno'

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Ao ler este belo e profundo texto poético de António Feijó, a sensação imediata que tive foi a de agradecer ao seu espírito a iluminação que me deu, e foi de tal sorte aquilo que senti que tive o desejo - de imediato - de nunca mais, por maior que seja a tristeza de um momento qualquer, deixar de fora da porta a alegria que espreita sempre, mesmos nos momentos mais duros , pois,

Quando, mesmo de longe, ecoa à nossa porta.
Deixa em louco alvoroço o coração da gente!

E foi no desenrolar do meu pensamento que ele trouxe à minha lembrança uma asserção ajuizada de Schopenhauer: Na primeira juventude, abri certa vez um livro velho e lá estava escrito: «Quem muito ri é feliz, e quem muito chora é infeliz» - uma observação bastante ingénua, mas que não pude esquecer devido à sua verdade singela, por mais que fosse o superlativo de uma verdade evidente. Por esse motivo, devemos abrir portas e janelas à jovialidade, sempre que ela aparecer, pois ela nunca chega em má hora, em vez de hesitar, como muitas vezes o fazemos, em permitir a sua entrada, só porque queremos saber primeiro, em todos os sentidos, se temos razão para estar contentes.
 ( in, Aforismos para a Sabedoria de Vida)

E voltei a ler o Hino à Alegria de António Feijó e a alegrar-me com ele e pelo autor que nos diz, como se quisesse deixar para a posteridade este aviso que, muitas vezes fingimos não seguir, porque a alegria de estarmos vivos nos devia levar a sermos gratos ao Mistério que criou o homem - e a quem dou o nome de Deus - e nem sempre agimos com esse sentimento em que, se nas palavras de louvor - a nossa Dor - se eleva a Deus, pedindo, quantas vezes refrigério para ela, é na Alma, quando ora, que todo o homem por não ser um destino vão, devia alegrar-se, na certeza que Deus o ouve na Dor - para o consolar - e na alegria, para se alegrar com ele.

É António Feijó que o diz:

 A Alegria é falaz; só quem sofre não erra,
 Se a Dor o eleva a Deus, na palavra que O louve;
 A Alma, na oração, desprende-se da terra;
 Jamais o homem é vão diante de Deus que o ouve!


António José Seguro de pernas para o ar!


Gravura da Revista "Riso Mundial"
de 29 de Julho de 1947


Aconteceu ontem e dá vontade rir.

O PS que não contabilizou - em votos - o descontentamento popular de três anos de governação difícil do Governo, exigiu ao Presidente da República pela voz inacreditável do seu secretário-geral, António José Seguro - um populista sem raça - que este retire consequências políticas dos resultados das europeias e, depois desta diatribe sem nexo, pediu eleições legislativas antecipadas. 

Até onde chega a falta de vergonha, politicamente falando!

Vejamos os números em que este político se estriba:

Nº de eleitores elegíveis: cerca de 9.680.000 (descontados os eleitores que emigraram)
Abstenção: 66,1%, equivalente a 6.398.480 potenciais eleitores que ficaram em casa.
Diferencial entre as duas realidades: 3.281.520
Brancos e nulos: 7,47%, que corresponde a 247.409 eleitores que deste modo manifestaram - indo às urnas - o seu afastamento político, mas deixando expresso que se os seus votos valessem, podiam ter eleito, pelo menos 1 deputado europeu.
Votantes reais, no que é possível concluir:
3.281.520 - 247.409 corresponde a 3.036.390 eleitores repartidos pelos 16 Partidos concorrentes ao Parlamento Europeu.
Percentagem eleitoral do Partido Socialista: 31,45%
Percentagem eleitoral da Aliança Portugal: 27,71%
Diferencial percentual: 3,74%
Nº de votantes no Partido Socialista: 1.032.038
Nº de votantes na Aliança Portugal: 909.309
Diferencial ente votantes entre (PS e AP): 122.729 -  (dois estádios de futebol)

Ou seja de um universo real de eleitores de 9.680.000, o Partido Socialista convenceu a votar no seu Projecto - mas qual Projecto? - 1.032.038 eleitores e é com este número irrisório que ontem cantaram "vitória, vitória, vitória"... que de facto, existiu - mas uma vitória de Pirro (1) - que o demagogo António José Seguro, pede sem pejo, a intervenção do Presidente da República para que este dissolva a Assembleia da República e provoque eleições antecipadas, quando como acima se vê a diferença percentual entre o PS e a Aliança Portugal (3,74%) não chega para eleger 1 deputado europeu... mas era suficiente para provocar eleições antecipadas!

Espanta a ligeireza do raciocínio de AJS!

Este homem tem de ser apeado, quanto antes e dar o lugar a quem tenha mais senso, porque no momento que passa Portugal precisa de homens diferentes e não de quem se divirta com a falácia de uma vitória que cheira a derrota.
António José Seguro "embebedou-se" com o resultado de ontem e pôs-se a ele mesmo e ao PS de pernas para o ar.

E porque perdeu o sentido da realidade deu em pedir a lua, quando ele - a dirigir um Partido responsável como é o PS - nem sequer uma estrela merece!

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(1) - Pirro (318 a.C. — 272 a.C.) foi rei do Épiro e da Macedónia, tendo ficado famoso por ter sido um dos principais opositores a Roma. O seu nome tornou-se famoso pela expressão "Vitória Pírrica", quando da vitória na Batalha de Ásculo. Quando lhe deram os parabéns pela vitória conseguida a custo, diz-se que respondeu com estas palavras: "Mais uma vitória como esta, e estou perdido."