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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Reflectindo





"Ter" em vez de "ser", ou seja,
possuir para além do necessário ao ser humano,
é querer a riqueza pela riqueza,
o que faz do homem um ser menor.

Assim, se atentarmos,
que todo aquele que só  vê no dia seguinte,
não uma dádiva de Deus, mas um motivo de ter mais,
é agir sem conta e sem medida, não importando,
nem o modo, o lugar ou o tempo.

Foi para estes que o moralista La Rochefoucauld,
zurziu sem peias,
ao ver que os mais lídimos sentimentos humanos
cediam o seu lugar
aos ditames das riquezas de alguns,
que a si mesmos se colocavam no alto dos seus pedestais
desprezando o valor no "ser" humano que havia neles.

Sobre isto escreveu o seguinte:

Ganhar-se-ia uma fortuna a comprar os homens
pelo que eles valem e a vendê-los pelo que  julgam valer.

É uma imagem, apenas,
porque os homens não sendo mercadoria
não têm preço,  pelo que. o "ter" pelo "ter"
jamais os quantificará,  e  apenas o "ser"
é que, lhes dará a valia humana que merecem
na consciência do Mundo!



Parábola do Pai de Família ou do Senhor de Casa Virtuoso





11 – Parábola do Pai de Família
ou do Senhor de Casa Virtuoso

Sobre o uso das coisas antigas à luz da coisas novas,
que sem as abrogar as tornam mais válidas

Texto do Evangelho de S. Mateus 13, 51-52

Entendestes todas estas coisas? Disseram-lhe eles: Entendemos. E disse-lhes: Por isso, todo o escriba que se fez discípulo do reino dos céus é semelhante a um homem, proprietário, que tira da sua despensa coisas novas e velhas.


Este texto é uma conclusão do famoso Sermão em Parábolas que S. Mateus regista no capítulo treze do seu Evangelho, onde cabem as seguintes: a do semeador, a do trigo e o joio, a do grão de mostarda, a do tesouro escondido e a da pérola preciosa e a da rede.

 Existe nele –sendo embora pequeno - algo de doutrinário pelo doseamento que deve ser feito entre as coisas velhas que não podem deitar-se fora, todas elas, e as novas que se traduzem por uma mudança, como aconteceu com a Mensagem de Jesus.
É uma mensagem fundamental.
Assim, antes de terminar O Sermão –    dos mais concorridos de toda a Sua pregação - Jesus que havia falado em sete parábolas, todas elas de tramas diferentes e, necessariamente, de conceitos enquadrados nessas mesmas diferenças, perguntou de um modo directo com o jeito de quem queria obter uma resposta adequada a tudo quanto havia dito desde o barco para onde subira, falando para aquela multidão apinhada nas margens do mar da Galileia.

Entendestes todas estas coisas?

Jesus fazia questão de ser entendido, porque nisso residia a certeza de que a Sua Mensagem estava a atingir os fins propostos.
Ouvindo aquele Entendemos, dito com modos de quem sabia ouvir e discernir, fez questão de acentuar algo que fez muitas vezes durante o seu ministério, para que os que o ouviam, especialmente os seus discípulos entendessem definitivamente o que Ele se propunha fazer.
Concretamente, acentuou o seguinte conceito:
Não viera para abolir a Lei antiga, mas tão só para integrá-la, aperfeiçoando-a na Lei Nova de que era portador, com a missão de a realizar concretamente com a Sua Vida, Paixão, Morte e Ressurreição.

Nele se cumpriam todos os vaticínios dos profetas que ao longo dos séculos haviam predito a vinda do Filho de Deus.

que Ele viria da tribo de Judá (Génesis 49.10).
que Ele descenderia da casa de Davi (Isaías 11.1; Jeremias 33.21).
que Ele nasceria de uma virgem (Isaías 7.14).
que Ele viria ao mundo em uma pequena aldeia chamada Belém (Miquéias 5.1-2)
que Ele morreria em sacrifício (Isaías 53.1-2).
que Ele perderia Sua vida através de crucificação (Salmo 21.1-21).
que Ele ressuscitaria dos mortos (Salmo 16.8-11; Isaías 53.10-12).
que Ele voltaria à terra (Zacarias 14.4).
que Ele apareceria nas nuvens do céu (Daniel 7.13).

Era nisto que residia a Promessa.
Ele era o Messias anunciado e que desde um dado momento, tendo-se apresentado aos homens como tal, fez das parábolas um meio eficaz para dar a conhecer a doutrina do Pai.
Nesta parábola, Jesus utiliza sabiamente a figura patriarcal de um pai de família – ou senhor de casa virtuoso – que, naturalmente, tem nos seus armários e guarda-roupas os mais variados objectos e vestes precisas para poderem ser usados e usadas em tempos julgados convenientes.

E como sempre acontece, tem à sua guarda coisas novas e velhas, que mais não são que as riquezas doutrinais da Velha e da Nova Lei.
Jesus e a Sua doutrina são universais.

Como o pai de família usa o velho quando este se coaduna com uma dada situação, do mesmo modo trata o novo. E com isto queria dizer que os homens durante a vida terrena deveriam utilizar para se comportarem como justos e rectos perante Deus, os preceitos antigos que não tivessem sido abolidos e todos os outros inaugurados pela sua pregação.
Assim, enquanto na parábola de rede – a última do Sermão - estamos já na fase do julgamento com os maus a merecem o castigo adequado, nesta parábola o uso das coisas novas e velhas é algo querido por Deus, tendo em vista a salvação dos homens.

O pai de família, cumprindo isto, é um senhor virtuoso.
É para aqui que aponta a parábola.
É uma chamada de atenção para nós, viventes e para o modo como gerimos a nossa vida

  

Parábola da Rede




Quadro de Jan Luyken na Bíblia de Bowyer


10 – Parábola da Rede

Sobre a liberdade do homem de conhecer, ou não,
a Verdade, e das contas que dará a Deus


Texto do Evangelho de S. Mateus 13, 47-50

Igualmente, o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanhou toda espécie de peixes. E, quando cheia, puxaram-na para a praia; e, sentando-se, puseram os bons em cestos; os ruins, porém, lançaram fora. Assim será no fim do mundo: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos, e lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá choro e ranger de dentes.



Com esta parábola encerra-se o tríduo dedicado à explicação da natureza do Reino do Céu, começado com as duas anteriores: a parábola do Tesouro Escondido e a da Pérola 
Preciosa, fazendo dela a chave importantes com que Jesus quis fechar nos corações dos apóstolos o ensino explicativo da sua missão messiânica.

Mais uma vez a faina piscatória do mar de Tiberíades e a sua realidade entra no ensinamento de Jesus, deixando bem claro aos seus ouvintes e especialmente aos seus discípulos a obra que lhes pedia e que como acção fundamental – sendo eles pescadores de homens – o dever de lançarem as redes sem olhar à qualidade do peixe pescado, pois só no juízo final, seria feita a escolha.
É a última das sete parábolas a que Jesus recorreu junto ao mar de Tiberíades e registada por S. Mateus.

É, pelo contexto, uma parábola intrigante, cheia de sombras escuras.
E se nela existe como que um novo olhar sobre a parábola do trigo e do joio, a diferença não está só em ser mais breve mas ser mais radical quanto ao julgamento.
Constitui uma lição fundamental da doutrina que Jesus que de modo algum podia deixar sem acentuar uma da condições da Humanidade: que no mundo que hão-de continuar a existir os bons e os maus, uns perfeitamente visíveis e, outros, como neste caso, ocultos como acontece com os ruins peixes do mar, mas sobre os quais nunca deixará de estar presente a misericórdia de Deus, dando-lhes tempo de se regenerarem, ou ao invés, serem lançados fora e onde haverá choro e ranger de dentes.
É, de algum modo, um radicalismo que Jesus não omite.
Pai da Verdade não deixou jamais de falar às direitas.

Os homens – nos seus julgamentos, quantas vezes, primários - podem afastar de si aqueles de que não gostam e lançá-los fora como peixes ruins como fizeram os pescadores da parábola, mas é a Deus que espera sempre pela hora da conversão que pertence a derradeira Palavra.
Ele é O Juiz da hora final e como afirma S. Pedro: 

Ora pois, já que Cristo padeceu na carne, armai-vos também vós deste mesmo pensamento; porque aquele que padeceu na carne rompeu com o pecado; a fim de viver durante o tempo que lhe resta de vida na carne, não mais segundo as paixões humanas mas segundo a vontade de Deus. Porque é bastante que no tempo passado tenhais cumprido a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, borrachices, glutonarias, bebedices abomináveis idolatrias. Eles estranham agora que não os acompanheis nos mesmos desregramentos de libertinagem e, por isso, vos cobrem de calúnias. Mas prestarão contas Àquele que está pronto para julgar os vivos e os mortos. (1)

A nós compete lançar a rede e pescar todos os peixes.
E não julgar, sobretudo, de ânimo leve.
Só Deus é que porá a luz final sobre todas as coisas, pondo a claro o que andou envolto em trevas, porque deu a todos os homens a possibilidade de O conhecerem.
S. Paulo, um dia, ao falar ao povo de Corinto foi bem claro neste aspecto:
Graça e paz vos sejam dadas da parte de Deu, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Sempre dou graças a Deus por vós, pela graça de Deus que vos foi dada em Cristo Jesus; porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento. (2)
Na sua plena liberdade o homem recusa ou pode ser dono de todo o conhecimento, sem esquecer aquele de que falou S. Paulo, sabendo-se, e todo o homem sensato não pode deixar de ter isto em consideração, que é só por meio dele que pode ser escolhido o melhor dos caminhos que apontam para Deus.

Assim o que a parábola da rede nos diz é que o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanhou toda espécie de peixes que andaram por bons e maus caminhos, advertindo, no entanto para a diferenciação que há-de existir entre eles no julgamento final.
Sobre isto não deixa saída.





(1) - 1 Pd 4, 1-5
(2) - 1 Cor 1, 3-5

Parábola da Pedra Preciosa



Quadro de Domenico Fetti
Kunsthistorische Musem - Viena
(in, Wikipédia)

9 - Parábola da Pérola Preciosa

Sobre o triunfo da missão messiânica
ao apontar ao homem a entrada na Casa do Pai

Texto do Evangelho de S. Mateus 13, 45-46

O Reino dos Céus é também semelhante a um negociante que busca boas pérolas. Tendo encontrado uma pérola de grande valor, vende tudo quanto possui e compra a pérola.


Prosseguindo a mesma linha de pensamento, Jesus reforçou a anterior parábola com esta, que tem alguns cambiantes bem diferentes, pois não era crível a repetição de uma ideia já assente.
O Mestre nunca se repetiu.

Foi sempre diferente e de um modo que deixava boquiabertos os seus próprios amigos e desconcertados os inimigos que O ouviam sempre na esperança de O embaraçarem, não se coibindo de lançar a confusão nos ouvintes mais atentos e que solidamente se iam aproximando.
Nesta parábola, Jesus antevê o triunfo próximo da Igreja que Ele veio fundar.

É a pérola de grande valor.

Se na parábola do tesouro escondido também isto se pode entender, nesta, a pérola de grande valor ganha outra dimensão por ser, ainda naquele tempo, a peça mais cara de qualquer tesouro, tendo o dom de fascinar os homens, como hoje acontece como o diamante. Havia explicações misteriosas que tendiam a justificar a sua formação, de tal forma, que os mercadores antigos percorriam o mundo na busca das pérolas mais preciosas.

Diz Jesus que o homem tendo encontrado uma pérola de grande valor, vende tudo quanto possui e compra-a, sem que para a sua decisão tenha concorrido qualquer vontade estranha, mas tão só a decisão própria provinda de uma vontade firme de saber que de posse daquele bem, tinha uma fortuna em casa.
Assim terá de ser o Reino do Céu.
Ter uma fortuna em casa.
Uma compra por decisão da vontade de cada homem, que para tanto se deve empenhar em possuir aquele Bem maior.
Jesus não obrigava ninguém.
Exercia o poder do convite, deixando a decisão a cargo daqueles que eram alertados para a Boa Nova que Ele trazia à Humanidade.

Aborrecia-O a desilusão que podia causar, como aconteceu quando ia com os seus a caminho de Jerusalém e alguém abeirando-se d’Ele lhe disse: Seguir-te-ei para onde quer que fores. Respondeu-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. (1)
Jesus não tinha bens pessoais onde pudesse reclinar a cabeça, mas tinha bens para dar de graça a todos os homens de coração puro.

Por isso, a pérola preciosa de que Ele falou é este Bem que está ao alcance de todos e se resume em segui-l’O, especialmente os homens arrependidos, na certeza que Ele deixou, quanto ao preço que é pago para entrar na Casa do Pai não se fundar em coisas palpáveis mas naquele bem muito maior que mora por dentro e na intimidade de cada um.
 A pérola sendo uma imagem, esconde bem dentro a afeição do homem pela escolha que este, livremente faz de Jesus, no momento em que encontra escondida no seu campo – ou seja, na sua vida – a pérola de grande valor que nada custa e tudo dá de graça.



(1) - Lc 9, 57

Parábola do Tesouro Escondido




Quadro de Rembrandt (1630)
Museu das Belas Artes de Budapeste



8 – Parábola do Tesouro Escondido

Sobre a necessidade de deixar o supérfluo 
e guardar o bem precioso que é a Palavra de Deus


Texto do Evangelho de S. Mateus 13, 44

O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido no campo; o homem que o encontrou, esconde-o e, fora de si de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo.

Do Antigo Testamento, Livro dos Provérbios:

Filho meu, se aceitares as minhas palavras, e entesourares contigo os meus mandamentos, para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido, e para inclinares o teu coração ao entendimento; sim, se clamares por discernimento, e por entendimento alçares a tua voz; se o buscares como a prata e o procurares como a tesouros escondidos; então entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus. (1)


A parábola do tesouro escondido é pequena, mas tão profunda no seu ensinamento que prova quanto é maravilhoso alcançar o Reino, comparando-o a um tesouro, que o é – e de tal modo – que todo aquele que o alcança deixa tudo para o não perder.
Estamos a ouvir O Mestre.
Naquele tempo o direito judaico reconhecia como um direito adquirido qualquer tesouro que o proprietário encontrasse escondido no seu terreno. Por esse motivo, se qualquer trabalhador durante as tarefas quotidianas do amanho das terras encontrava qualquer tesouro escondido, fazia tudo para adquirir o campo.
Isto não é de modo algum uma ficção.

Na Palestina, as desordens e as guerras impuseram a alguns homens fugas tão apressadas que estes enterravam os bens que não podiam ou não deviam levar, na esperança de um dia os virem a reencontrar. Aconteceu que muitos dos foragidos nunca mais voltaram, tendo os campos mudado de dono e passado para aqueles que não tinham conhecimento destes factos.
No património comum da sabedoria popular registado no Livro dos Provérbios, a propósito de ser acolhida a palavra sábia, diz-se: se a procurares como a prata e a desenterrares como os tesouros(...) (2) donde, se conclui que a prática do tesouro enterrado era um costume comum.

Jesus, conhecedor desta realidade, serviu-se de uma comparação que ia beber directamente no hábito costumado dos seus conterrâneos onde estava bem patente o amor destes pelas coisas terrenas, hábito que de todo não está erradicado do comportamento humano.
Qual o porquê deste procedimento?
Muito simplesmente, porque a natureza do homem o que procura ao adquirir um tesouro é a conquista da felicidade terrena, em primeiro lugar, acontecendo, muitas vezes, que tendo-se ficado prisioneiro da riqueza, tudo o resto deixa de interessar, ou seja, o bem maior que é a riqueza do Céu passa para um lugar secundário e aqui entra a sabedoria antiga que vinha desde o tempo do Livro dos Provérbios, esse património comum da sabedoria popular que já chamava a atenção para a necessidade de inclinar o coração ao entendimento e então entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus, como um bem precioso.
É por esse motivo que Jesus compara o Reino dos Céus semelhante a um tesouro escondido no campo, devendo todo aquele que tem a felicidade de o achar, fazer deste bem a prioridade entre todos os bens que a vida lhe possa dar.

Deste modo, tal como o felizardo descobridor do tesouro enterrado na terra se o quiser adquirir não pode deixar de entrar na posse do campo onde ele está escondido, assim todo aquele que quiser entrar de posse das riquezas evangélicas, precisa como condição fundamental entrar dentro da Mensagem de Jesus, um tesouro que estava escondido antes d’Ele aparecer no meio do homens.
Jesus nesta breve parábola não deixa, no entanto, de tecer um acção que é em todos os casos necessária ao homem para conseguir alcançar o que pretende.
Referindo-se ao descobridor do tesouro, Jesus, diz: fora de si de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo.

É aqui que reside o ensinamento vital que está implícito na comparação que é feita para ilustrar a alegoria que foi apresentada.
Compete ao homem agir depressa e bem.
Vender tudo, ou seja, deixar tudo aquilo que o torna escravo da conquista de bens – especialmente de todos aqueles que se tornam supérfluos e o não deixam ver claro os bens que hão-de salvar a sua alma – e entrar, definitivamente de posse da grande riqueza que Jesus passou a oferecer a todos os homens desde o momento da sua pregação sobre o Reino dos Céus.
Esta é a primeira das parábolas sobre a natureza desse Reino sobrenatural.



(1)  - Prov  2, 1-5
(2) - Prov  2, 4

Parábola do fermento



Gravura de Jan Luyken, ba Bíblia de Bowyer

(in, Wikipédia)



7 - Parábola do Fermento

Sobre o modo de como é possível
explodir com o poder da graça de Deus


Texto do Evangelho de S. Mateus 13, 33
(concordâncias em Mc 4, 31-32 – Lc 13, 21)


Outra parábola lhes disse: O reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar tudo levedado.




Jesus havia acabado de proferir a parábola do grão de mostarda e, de seguida, compara o Reino do Céu ao fermento que a dona de casa utiliza para levedar a massa.
O significado é em tudo semelhante, tendo no entanto, cambiantes diferentes.
Ao falar da mostarda, Jesus frisou com pertinência o facto dela provir de uma semente pequenina e ter um desenvolvimento constante e consistente, deixando perceber a robustez do seu porte.

Neste caso chamou a atenção para uma diferença de natureza física,  imperceptível, mas real.
O fermento, por seu lado, opera na massa e ao levedá-la produz, como é sabido, uma reacção espontânea e de crescimento rápido.
Os profetas que antecederam Jesus falaram abundantemente do triunfo absoluto do Reino messiânico, a ponto de Isaías ter afirmado que nos tempos futuros, este se ergueria nos cumes do montes e se levantará no alto das colinas o monte do templo do Senhor, ao qual afluirão todas as nações e muitos povos acorrerão e dirão: Vinde, subamos ao monte do Senhor, ao templo do Deus de Jacó; (1)

Daniel, explicando a Nabucodonosor o sonho que ele tivera sobre a estátua de quatro metais disse ao rei babilónico, que existia um Deus que lhe daria a conhecer os tempos vindouros, acrescentando-lhe o facto de quando ele estava a olhar a estátua se ter desprendido uma pedra de uma montanha e ao atingi-la em seus pés de ferro e de argila a ter desfeito.
Então o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro pulverizaram-se num instante e tornaram-se como a palha miúda das eiras no verão; foram arrebatados pelo vento, de sorte que deles não ficou vestígio algum; mas a pedra que tinha atingido a estátua, transformou-se numa grande montanha que encheu a terra inteira. (2)
Esta grande montanha que havia de encher a terra inteira é uma prefiguração do Reino de Deus, que Jesus aflora nesta parábola muito breve, passada a época dos reinos de forças contrárias ao plano de Deus, como o da Babilónia, dos Persas, de Alexandre e o dos Diádocos.

S. Mateus e S. Lucas registam-na com associação imediata à parábola do grão de mostarda, deixando ver, em ambas, o modo como o Reino se expandiria, mas enquanto a primeira é uma força interna (a semente) que cresce para o exterior (arbusto), o fermento é sempre uma força interna que ao expandir-se não perde essa qualidade até ficar tudo levedado, ou seja, assumindo-se como uma força poderosa de natureza espiritual na expansão do Reino, mas invisível aos olhos do mundo.
S. Lucas, a este propósito, refere que Jesus ao ser interrogado pelos fariseus sobre quando chegaria o Reino de Deus, refere que o Mestre respondeu deste modo: O Reino de Deus não vem de maneira ostensiva. Ninguém poderá afirmar: ei-lo aqui ou ali, pois o Reino de Deus está dentro de vós. (3)

Jesus ao falar deste modo queria provocar uma revolução radical no coração humano ao fazer que explodisse por acção do fermento a que Ele alegóricamente comparou o Reino dos Céus, um mundo novo e renovado, de ordem espiritual.
A obra do fermento de que Ele falou era, de facto, uma acção interna e invisível como deve ser toda a obra operada pelo poder da fé.
E o movimento de uma força assim, não deve ser ruidosa, nem clamorosa.
Antes, deve ser firme e determinado, criando por dentro a grande montanha de Deus, onde Ele mesmo se assume como fermento, não só pela divindade da sua condição sobrenatural, como da Pessoa destinada pelo Pai a entrar no coração dos homens de todos os tempos.




(1)- Is 2, 2-3
(2) - Dn 2, 35
(3) - Lc 17, 20-21

domingo, 26 de outubro de 2014

Reflectindo






No fim deste dia, meu irmão,
gostava de te falar contigo
naqueles irmãos que passam, quantas vezes,
ombro a ombro, connosco,
e  só não pedem esmola porque têm vergonha.

É que, passam,
como que, a pedir desculpa de viverem
num Mundo que parece não dar por eles...
dos nossos  irmãos que têm vergonha
de nos estender a mão.

Tal como eu, és mais afortunado.
Por isso -  é um dever que temos - amanhã,
vamos estar atentos aos que nada pedem,
nem a esmola de uma palavra.
Sejamos nós, a ir ter com eles,
a olhar com ternura os seus rostos fechados!

Não é preciso que mudemos de caminho,
porque os vamos encontrar
nos nossos caminhos normais
de olhos em baixo, vagos e distantes!

Vão com Deus,
como nós dizemos que vamos... mas, quem sabe?
se eles não estão melhor com Deus
que nós mesmos!

Parábola do grão de mostarda






6 – Parábola do grão de mostarda
Sobre o modo de como é possível
crescer para a glória de Deus


Texto do Evangelho de S. Mateus 13, 31-32
(concordâncias em Mc 4, 31-32)


Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou, e semeou no seu campo; o qual é realmente a menor de todas as sementes; mas, depois de ter crescido, é a maior das hortaliças, e faz-se árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos.



A mostarda (sinapis nigra) é uma planta arbustiva que existe abundantemente em terras da Palestina, sobretudo nas margens do lago de Tiberíades onde Jesus se encontrava, chegando naquele local a atingir entre três a quatro metros de altura, sendo dotada de uma envergadura lenhosa e de ramagens densas, muito procuradas pelos pássaros em busca de debicarem os grãos escondidos nas folhas.

 Estava na origem uma sementeira de grãos pequeníssimos que serviam na gíria popular de comparação, quando se queria falar de coisas ínfimas ou insignificantes.
Era o grão de semente mais pequeno que era semeado pelos lavradores nos campos da Galileia
Jesus, mais uma vez espanta os seus ouvintes, falando do grão de mostarda e comparando a ele o Reino messiânico nascente e prefigurando-o como uma realidade que em breve haveria de crescer e expandir-se sobre o mundo.
Era a realidade do momento.

No princípio o Reino era modesto, com aparência impotente, o que não deixava de ser motivo de gáudio para muitos que seguiam com escárnio as pregações de Jesus, troçando desta parábola e perguntando a si mesmos, enquanto faziam das afirmações contidas deste ensinamento de Jesus, perguntas carregadas de intenção maldosa, como estas:
O que poderia fazer um grão de mostarda que um homem tomou, e semeou no seu campo? 
Que relação de grandeza poderia ter com o reino dos céus?
Como era possível que fosse assim o reino dos céus que era anunciado daquela maneira?
A arrogância dos chefes das seitas político-religiosas não aceitavam as palavras de Jesus, porque na óptica distorcida das vaidades humanas que ostentavam, qualquer obra, mesmo no princípio deveria apresentar-se com modos de grandeza e não assim, sem importância e desprezível.

Era este o entendimento que havia dos inimigos da Boa Nova.
Estavam longe de perceber a maneira como se apresentava a Obra nascente e que falava de um Reino de Deus que se apresentava sem qualquer ostentação humana.
Desconheciam – porque desprezavam os sinais e as acções que não deixavam de acontecer perante os seus olhos - que os arautos haviam sido enviados como ovelhas para o meio dos lobos (1), com o conselho avisado de terem cuidado, tendo em conta que por aquilo que anunciavam corriam o risco de serem entregues aos tribunais sinedritas, estando no entanto fortalecidos, sabendo que naquela hora o Espírito de Deus falaria por eles. (2)

Eles não sabiam – só mais tarde, quando a Crucifixão já estava consumada viriam a ter consciência disso – que Jesus falava como profeta e para O qual o futuro não tinha qualquer Mistério e cujo desejo maior, era o de incumbido como estava de levar a cabo a Missão, rasgar aos homens caminhos novos, donde esta parábola é um sinal evidente para os que criam n’Ele, e um escândalo para os maldizentes que procuravam desgastar os seus ensinamentos.
A parábola, no entanto, era muito clara e, mais uma vez se situava no domínio dos campos da Palestina e das suas realidades agrícolas.
Por outro lado havia na semente do grão de mostarda uma característica que a diferenciava de todas as outras.
Era a semente que mais depressa crescia em tamanho.

Nem o trigo, a aveia ou a cevada ou outra planta que o lavrador lançava na terra atingia as proporções desta.
O cerne da parábola residia nesta realidade agrícola.
Jesus era um Mestre.
Ensinava, com estes exemplos os seus seguidores, preparando-os para os princípios pouco expressivos do Reino que anunciava, contrariando a vontade de muitos judeus, onde havia alguns que O seguiam que na expectativa de verem erigido um reino rápido e poderoso, molestando-se, vendo-o confrontados com a comparação ao desenvolvimento de uma pequena semente, mas com a capacidade de crescer num processo progressivo, embora lento.

Era uma fala algo extravagante.
Estranha e complexa para aquelas mentalidades práticas e pouco afeitas a este novo tipo de linguagem.
De tal sorte que muitos dos próprios discípulos não a entenderam e foi isto que de modo algum entrou no entendimento dos inimigos que seguiam os passos de Jesus e cuja atenção se virava, não para o que Ele dizia de ensino doutrinal e profético, mas para aquilo que Ele dizia e o pudesse entretecer na teia que maldosamente lhe iam tecendo.




(1)  - Mt 10, 16
(2)  - cf. Mt 17-20

Parábola do Trigo e do Joio




5 – Parábola do Trigo e do Joio
ou da Boa Semente e da Cizânia

Sobre o chamamento do homem à beleza da comunhão humana

Texto do Evangelho de S. Mateus 13, 24-43

Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao homem que semeou boa semente no seu campo; mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo, e retirou-se. Quando, porém, a erva cresceu e começou a espigar, então apareceu também o joio. Chegaram, pois, os servos do proprietário, e disseram-lhe: Senhor, não semeaste no teu campo boa semente? Donde, pois, vem o joio? Respondeu-lhes: Algum inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres, pois, que vamos arrancá-lo? Ele, porém, disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis com ele também o trigo. Deixai crescer ambos juntos até a ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Ajuntai primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; o trigo, porém, recolhei-o no meu celeiro.


Do Antigo Testamento a palavra de Jó:

Se a minha terra clamou contra mim, se juntos choraram os seus sulcos; se comi os seus frutos sem pagar e fiz suspirar a alma dos seus cultivadores, nasça-me joio em vez de trigo, e cizânia em lugar de cevada. (1)


Se no campo - a minha terra - no dizer de Jó, para onde ele dirige o seu lamento, por uma culpa qualquer que lhe fosse imputada e por via dela suspirassem os seus cultivadores, este admirável poeta da Bíblia num acto de contrição pede a Deus que nasça nele joio em vez de trigo, numa tentativa de remediar a sua iniquidade, assumindo contra ele mesmo uma atitude radical de castigo.

Jesus apresentou as coisas de um modo diferente.
Ele trazia o Amor de Deus para distribuir e de uma forma especial por aqueles que o mundo afastava ou por acção deles mesmos estavam colocados à margem.
Num mundo governado por homens com todas as suas qualidades, mas onde não deixam de aflorar todos os seus defeitos, haverá sempre o trigo misturado com o joio, ou seja os justos entre os pecadores.

A lição desta parábola torna-se, deste modo, muito fácil de entender, sem nos espantar o facto de o Reino de Deus não ser perfeito neste mundo, porque Ele mesmo assim o quer até ao momento supremo da separação das águas.
Com efeito se por cada acção mal feita esta fosse erradicada, arrancado pela raiz, ou seja eliminando de vez o prevaricador, este mundo seria um inferno e não teria salvação. Deus que é Pai de todos os homens não teve em mente ao criar o mundo em fazer dele um reino sem que nele houvesse, como um direito, a oposição de alguns. Pelo contrário, estabeleceu-o como um lugar de confronto, fazendo dele campo de experiências – duras, por vezes – e de lutas acesas, tendo sempre na mira que os maus, prefigurados no joio da parábola, são necessários aos bons.

Acabar com eles ficavam sem sentido as vitórias dos que sendo o trigo no meio da seara, existem por vontade de Deus, para corrigir os erros e malquerenças que fazem parte da natureza humana.
O dono do campo, é Deus.
O semeador, é Jesus, que espalha com abundância a boa semente.
Porém, os servos do dono do campo não tinham consciência disso. Duros de ouvido e de coração não O ouviam.
Não admira, portanto, que hajam perguntado ao semeador: Senhor, não semeaste no teu campo boa semente? Donde, pois, vem o joio?
Jesus, falando com a segurança que lhe dava o dom de ser Ele mesmo o juiz supremo, respondeu-lhes: Algum inimigo é quem fez isso.

Jesus assume-se já não como um simples homem, mas como Deus, que em Si era uno e trino.
Ele sabia que era assim que o Pai determinara.
Sabia que a semente do trigo haveria sempre florir no meio do joio, que é uma planta mais rasteira, sendo por isso muito fácil a separação nos tempos do Juízo e a recolha do trigo nos celeiros eternos.
A parábola representa a dicotomia dinâmica que existe entre o bem e o mal.
Ensina ao mundo que quer reflectir sobre ela, que é sempre de combater a pergunta maniqueísta que tiveram os ceifeiros relativamente ao joio:
Queres, pois, que vamos arrancá-lo?
Foi, como sabemos, prudente e, sobretudo, muito sábia a resposta de Jesus, proibindo que fizessem aquela acção porque corriam o risco de cortarem alguns pés de trigo.
Este comportamento ganha no nosso critério uma evidência: é preciso julgar não em cima da refrega, mas deixar amadurecer o tempo, pois se não agirmos assim corremos o risco de nos enganarmos, falível como é o juízo humano.

O mundo actual não mudou.
Continua a ser o palco privilegiado onde convivem o bem e o mal, o trigo e o joio.
Aqueles que não cedem a semear o mal na sociedade estão por todos os lados onde as mais rudes e baixas situações morais degradam os ambientes, com a particularidade de terem uma maior cobertura mediática, seja nos jornais ou nos noticiários da rádio ou da televisão, porque o mal cresce e aparece num mundo que parece estar virado ao contrário.
Mas é neste mesmo mundo que existem as sementes do bem e é por elas que Deus ama todos: os maus e os bons, não cessando de cuidar destes fazendo-lhes sentir os dons da fraternidade e da solidariedade que é preciso manter vivas em ordem à concertação das coisas.

Continua a ter, por isso, todo o sentido esta parábola no mundo actual porque o reino dos céus é semelhante ao homem que semeou boa semente no seu campo; mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo, e retirou-se.
Mas é este inimigo que faz o mal e se afasta que é preciso chamar à razão.
É o papel que cabe ao trigo no grande teatro do mundo.



(1)  - Jo 31, 38-40

Parábola do Semeador



in, Livro "O Drama de Jesus"


4 – Parábola do Semeador
Sobre as sementes de ouro que são as Palavras de Deus


Texto do Evangelho de S. Lucas 8, 4-15
(concordâncias em: Mt 13, 1-9. 18-23 e Mc 4, 3-20)


Como estivesse reunida uma grande multidão e de todas as cidades viessem ter com Ele, disse esta parábola:
"O semeador saiu para semear a sua semente. Enquanto semeava, uma parte caiu à beira do caminho; foi pisada e os passarinhos foram, e comeram tudo.
Outra parte caiu sobre pedras; brotou e secou, porque não havia humidade.
Outra parte caiu no meio de espinhos; os espinhos brotaram junto, e a sufocaram.
Outra parte caiu em terra boa; brotou e deu fruto, cem por um." Dizendo isso, Jesus exclamou: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça."


Do antigo Testamento a palavra de Isaías:

Porque, assim como a chuva e a neve descem dos céus e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir e brotar, para que dê semente ao semeador e pão ao que come, assim será da palavra que sair da minha boca: não voltará a mim vazia. (1)



Com a parábola do semeador Jesus inicia aquilo que ficou conhecido como O Sermão em Parábolas, no Cap. 13, de S. Mateus, onde se perfilam, a começar por esta, a parábola do trigo e do joio, do grão de mostarda, do fermento, do tesouro escondido, da pérola preciosa a da rede, com a particularidade de estar contida na conclusão deste capítulo a parábola do pai de família ou do senhor de casa virtuoso.
O evangelista refere tudo isto com pena de Mestre.

Afirma que os discípulos surpreendidos com aquilo que ouviam, de imediato, perguntaram a Jesus o significado de tão inusitada maneira de falar a que eles mesmos, ainda se não tinham afeiçoado.
Jesus respondeu assim:
 "A vocês foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus. Mas, aos outros ele vem por meio de parábolas, para que olhando não vejam, e ouvindo não compreendam."
 "A parábola quer dizer o seguinte: a semente é a Palavra de Deus.
Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouviram; mas, depois chega o diabo, e tira a Palavra do coração deles, para que não acreditem, nem se salvem.
Os que caíram sobre a pedra são aqueles que, ouvindo, acolheram com alegria a Palavra. Mas eles não têm raiz: por um momento, acreditam; mas na hora da tentação voltam atrás.
O que caiu entre os espinhos são aqueles que ouvem, mas, continuando a caminhar, se afogam nas preocupações, na riqueza e nos prazeres da vida, e não chegam a amadurecer.
O que caiu em terra boa são aqueles que, ouvindo de coração bom e generoso, conservam a Palavra, e dão fruto na perseverança."

A parábola do semeador é das mais representativas da pregação de Jesus.
É a chave que nos abre o entendimento para outros ensinamentos, como o de passarmos a saber algo sobre o Reino do Céu quando Ele diz de forma categórica: o semeador saiu para semear a sua semente, sendo este operário do campo, Ele mesmo, de bornal ao ombro apinhado de sementes para colocar na terra, umas para produzir fruto e outras, nenhum, tudo dependendo da terra onde viesse a cair a semente, configurando esta a Palavra de Deus.
Conta S. Lucas que naquele dia estava reunida uma grande multidão, um facto precioso para Jesus contar esta parábola que acabou por ser devidamente explicada a pedido dos discípulos, apanhando de surpresa todos os presentes – onde, naturalmente havia escribas e fariseus para apontar defeitos - e, outros, menos atentos, como sempre acontecia, escutando e mesmo concordando mas sem darem juízos conclusivos de quem tinha entendido tudo o que fora dito.

Jesus foi um mestre na explicação que deu.
Dirige-se em primeiro lugar a todos os que estavam ali a ouvi-l’O de coração aberto: Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouviram; mas, depois chega o diabo, e tira a Palavra do coração deles, para que não acreditem, nem se salvem, para na mesma frase se dirigir àqueles que estavam presentes sem desejo de ouvir, mas de maldizer.
Explicitamente, esta parábola tem três componentes fundamentais: o semeador, a semente e o solo.
O semeador – e podemos dizer que era Ele mesmo - tem muita prática em deitar a semente na terra e esta é francamente boa, porque as Palavras que dizia eram de primeira qualidade.
Eram sementes de oiro que Ele trazia da parte de Deus.
Outro tanto não se pode dizer do solo que na Palestina era feito de pequenas parcelas de terreno, estreitas e até pedregosas. Isto era sabido e Jesus não deixou escapar este pormenor, para deixar vincada a comparação de ser assim, igualmente, o solo humano, porque o coração deste povo tornou-se duro e duros também os seus ouvidos (2), como refere o Evangelho de S. Mateus, citando o Mestre, precisamente quando expõe esta parábola.
A semente era a melhor que havia. Configurava a Palavra de Deus.
O Semeador obtivera o aproveitamento máximo na Escola de Deus e sabendo muito bem do seu ofício, havia dado conta que muitos daqueles que passavam à beira do caminho haviam tomado conhecimento da semente – Palavra de Deus – mas fracos que eram, deixaram que ela se perdesse.

Dera, igualmente conta, que tinha havido outras sementes caídas sobre a rocha e que haviam sido recebidas alegremente por muitos que naquele momento acreditaram que tudo ia mudar na sua vida, mas vítimas das fraquezas humanas que sempre acontecem e, sobretudo, porque se não estavam bastante arraigadas – por falta de raiz – deram em vacilar e foram vítimas de si mesmos na primeira descaída.
Houve, outras, que pesasse, embora a Sabedoria do Semeador caíram em terreno que jamais fora tido como propício, mas aconteceu. Caíram nos espinheiros, deixando no entanto perceber que apesar daquele terreno agreste iriam frutificar, se não houvesse acontecido o demónio das riquezas que deitou tudo a perder, não chegando sequer à floração, afeitos como estavam às suas mordomias que de modo nenhum queriam perder.
Finalmente, Jesus, o excelso Semeador, não deixou de apontar aquelas sementes que se tornaram verdadeiras Palavras do Pai e que tendo aberto o coração, tendo-o bem enraízado nos terrenos salubres, deram fruto abundante.

É isto que Jesus espera dos homens.
De todos, sem excepção.
Sermos sementes, isto é, Palavras de Deus que O Semeador há-de lançar em todos os campos do mundo.



(1)  - Is 55, 10-11
(2) - Mt – 13, 15