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quinta-feira, 31 de julho de 2014

A máscara da "ideologia do género"




A ideologia do género quer acabar com os símbolos mundialmente aceites de homem e mulher 
e em seu lugar colocar o simbolo (?) marxista da pessoa



Fundamentalmente, o que esta hodierna corrente marxista pretende inculcar como uma nova "práxis" é a redefinição da igualdade, substituindo a palavra "sexo" por "género", advogando em matéria de ordem sexual a "liberdade" e "igualdade", conceitos bem caros a esta corrente ideológica ao usar em proveito do que pregam estes termos com origem na Revolução Francesa, usando a "liberdade" para liberalizar os actos mais impensáveis e a "igualdade" para massificar o ser humano, pretendendo assim, abolir as diferenças naturais que existem por ordem da Criação entre o homem e a mulher.

Como motor ideológico está bem patente a "luta de classes", sendo que a primeira destas lutas se põe - como evidente para os fautores desta abominação - no seio da própria família em que se coloca a primeira divisão do trabalho, situada entre o casal tradicional quanto à criação dos filhos e como antagonismo primário, afirma-se, que este coincide pela opressão exercida pelo sexo masculino sobre o feminino, de que é um sinal evidente a afirmação de Marx e Engels no "Manifesto Comunista" de que, todas as classes que no passado conquistaram o poder trataram de consolidar a situação adquirida submetendo a sociedade às suas condições de apropriação e, é nesta asserção que os advogados da lei iníqua pretendem colocar, opondo-se entre si, o homem e a mulher, esta como vítima indefesa de um feminismo ridículo.

A mascarada da "ideologia do género" quer atingir no seio da família o que ela considera a existência de um outro tipo de opressão materializada pela obediência dos filhos relativamente aos pais biológicos. Dirigindo-se aos burgueses, Marx e Engels perguntam no "Manifesto": acusai-nos de querer abolir a exploração das crianças por seus próprios pais? Confessamos esse crime.
Eis, porque, é na obediência fiel ao marxismo "a ideologia do género" propõe que os pais deixem de ter a suremacia educacional sobre os seus filhos e, portanto, que a  nível escolar não haja o conceito das identidades masculina nem feminina, não sendo os dois sexos complementares, nem com vocação própria, culminando pela permissão sem peias do exercício sexual.

Note-se que o feminismo desbragado entende não só a eliminação do privilégio masculoino, mas a abolição da distinção de sexo, de tal modo que as diferenças genitais deixariam de ter qualquer valor do ponto de vista da cultura geral dos povos, de que é exemplo a opinião de Shulamith Firestone no seu livro: "A Dialética do Sexo", onde, com o desaparecimento da distinção da biologia do sexo, desapareciam as proibições sexuais, como o incesto e a pedofilia, e bem assim, a homossexualismo, culminando todo o relacionamento humano numa atitude física.

Eis, porque, é preciso combater que todos os actos homossexuais são contra natura, porquanto, o sexo entre as várias espécies é caracterizado por: "dualidade" que se caracteriza entre os animais  assexuados por terem necessidade de se ligarem a sexos opostos, "complementaridade" porque cada um procura no outro nos campos fisiológicos e psicológicos o seu complemento natural, "fecundidade" que se traduz na possibilidade da união dos dois sexos, produzirem um novo ser da mesma espécie, resultando de tudo isto, que tal não acontece na união entre dois homens ou mulheres, pelo que a "ideologia do género" é um aprofunda caricatura na união advogada pela lei natural que tem Deus como princípio imutável.

Com este propósito pretende-se que as crianças aceitem o que é aberrante do ponto de vista natural, elegendo  o "género" a um papel que a sociedade atribui, sustentando que o facto da mulher só se casar com um homem e vice-versa, tal facto não se fica a dever à lei da natureza, mas a uma imposição social e que o homossexualismo, não é de todo, uma aberração - ou desorientação - mas, simplesmente uma orientação sexual.

Temos, assim, que a palavra "sexo" foi grosseiramente substituída pela palavra "género" que do ponto de vista biológico, de acordo com uma designação, significa: grupo inferior à família, que inclui espécies que entre si têm certas analogias, o que, não deixa de nos dar, assim interpretado, uma ideia obtusa que o feminismo defende, levando a ser admitido não haver "discriminação de sexo", mas sim, "discriminação de género", o que nos leva a pensar que o seu radicalismo, por não ter tocado na generalidade das mulheres, embrulharam o "presente" com uma nova postura, sem no entanto, deixarem antever a aversão que sentem pelas palavras "mãe" - "pai" - "marido" e "esposa".

Depois de tudo o que é exposto e tendo-se começando por citar Mars e Engels, poder-se-á perguntar qual a afinidade cultural ou ideológica que o marxismo tem de ligação com aquilo que é expendido, algo que nos leva a citar parte de um documento intitulado "A AGENDA DO GÉNERO" Redefinindo a Igualdade, a partir de um texto "condensado da obrade Dale O'Leary - "The Gender Agenda" 1997, Vital Issues Press, Lafayette, Lousiana, a partir do sítio http://www.votopelavida.com/agendagenero.pdf, que nos diz o seguinte:

(...)
Olhando para trás, através dos textos feministas, eu estava espantada com a quantidade dos que citavam Marx e seu confidente Frederick Engels e, em especial, o livro de Engels, “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”. Eu não havia entendido o quanto isto pudesse ser significativo, mesmo quando lia Kate Millett elogiando as teorias de Engels na sua “Política Sexual”:

“O grande valor da contribuição de Engels para a revolução sexual reside na sua análise do casamento patriarcal e da família. Na submissão do feminino ao masculino, Engels, assim como também Marx, compreenderam o protótipo histórico e conceitual de todos os subseqüentes sistemas de poder, de todas as relações econômicas opressoras e o próprio fato da opressão em si mesmo”.

Até então eu tinha considerado o Marxismo como uma teoria econômica já morta. Mas a minha limitada exposição a Marx não havia incluído a sua teoria social.

Mas saber que as feministas seguiam a Marx, com certas revisões, é claro, ainda não explicava a Agenda de Gênero. Felizmente uma boa amiga e ativista pro-família, Michael Schwartz, sugeriu-me que, se eu quisesse entender as feministas, deveria ler o livro de Engels, “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”, e o livro de Shulamith Firestone, “A Dialética do Sexo”. Nestes livros pude entender como a dialética de Marx havia se convertido na dialética do sexo. À medida em que eu lia Engels e Firestone, entendia como a letra casava com a música.

A Agenda de Gênero tentou construir-se sobre a boa vontade gerada para com o feminismo nos anos 60, quando o movimento das mulheres promoveu um “feminismo liberal” ou, nas palavras de Christina Hoff Sommers, um “feminismo de eqüidade”. O feminismo liberal sustenta que as mulheres devem ter na sociedade tanta liberdade quanto os homens e insiste que o indivíduo deveria ser considerado separadamente do grupo. O apoio ao feminismo liberal era tão amplo que quase toda a legislação que exigia colocar fora da lei a discriminação sexual foi aprovada sem nenhuma oposição séria. (...)


Tenhamos atenção e cuidemos desta anomalia comportamental porque está em jogo a família enquanto célula fundamental da sociedade.


terça-feira, 29 de julho de 2014

Letreiro (Um Poema de Miguel Torga)



Retrato a carvão de Isolino Vaz (1961)
in, Miguel Torga - Fotobiografia,  de Clara Rocha


LETREIRO


Porque não sei mentir,
Não vos engano:
Nasci subversivo.
A começar por mim - meu principal motivo
De insatisfação -,
Ajuízo.
Não me sei conformar.
E saio, antes de entrar,
De cada paraíso.

In, Orfeu Rebelde 


Dou comigo, por vezes, a ler e meditar sobre o "LETREIRO" com que Miguel Torga abre o livro "Orfeu Rebelde" e fico a enumerar de quantos paraísos arredei pé. 

Por pensar ser um dever moral não saber mentir tento imitar o Poeta - especialmente, se me revejo a mim mesmo - e ao fazer o filme da vida, olhando todos os paraísos onde entrei e saí, não raro, vejo claramente, os que ao longo da vida não me acolheram, naturalmente por ter pedido demais a uma beleza prometida que não havia ou, porque, não merecia tê-la recebido.


segunda-feira, 28 de julho de 2014

17º Domingo do Tempo Comum - Ano A


O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido no campo, que um homem, ao descobri-lo, esconde; então, movido de gozo, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo. Outrossim, o reino dos céus é semelhante a um negociante que buscava boas pérolas; e encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e a comprou. Igualmente, o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanhou toda espécie de peixes. E, quando cheia, puxaram-na para a praia; e, sentando-se, puseram os bons em cestos; os ruins, porém, lançaram fora. Assim será no fim do mundo: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos, e lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá choro e ranger de dentes. Entendestes todas estas coisas? Disseram-lhe eles: Entendemos. E disse-lhes: Por isso, todo escriba que se fez discípulo do reino dos céus é semelhante a um homem, proprietário, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas. (Mt 13, 44-52)
Fiz uma descoberta imprevista.
Debrucei-me sobre o campo singular da minha fé 
e encontrei o tesouro que Tu és, Senhor!

E outro imprevisto aconteceu.
Nada foi preciso vender, porque nada foi preciso comprar.
Tu, Senhor, deste-me de graça o Teu Campo,
pedindo-me, apenas, que cultivasse nele
todas as sementes do Amor que me deste.

Depois disto, 
para que apreciasse melhor o tesouro
a Tua Palavra pediu-me para cavar mais fundo
por ser preciso descobrir a pérola, 
que é o Reino dos Céus e que, igualmente,
não é preciso comprar, porque o dás de graça!

Vejo, porém, que os peixes ruins
da rede espalhada sobre o areal da praia
 - também, por Ti, comparada ao Reino dos Céus - 
são lançados fora.

Senhor, 
permite que cave fundo e que sempre mergulhe
a minha rede nas profundezas do Teu Infinito,
porque me apraz descobrir a pérola escondida
que só Tu  trazes com a Tua Luz!

E, do mesmo modo, que a rede do meu barquito 
quando chegar, para mim o sol Poente, 
te mostre a pesca de que gostas e tenho o dever de Te dar
por entre as coisas novas e velhas da vida que me deste!


terça-feira, 22 de julho de 2014

"A Ideia é Fogo que Nunca se Extingue"



Gravura do Jornal "O Xuão" de 2 de Fevereiro de 1909



Em 1909, data desta gravura, as ideias republicanas fervilhavam, inundando os espíritos que se haviam revoltado contra a Monarquia. 
É daí que nasceu esta homenagem simbolizada num vulto feminino - A República - empunhando uma bandeira que sendo, na altura indistinta na representação pictórica da ideia que acalentava os revolucionários, nas faixas vermelhas da coroa de louros que é depositada no fuste onde se lê "A Ideia é Fogo que Nunca se Extingue" lá está bem patente o testemunho da homenagem "Da Liberdade aos Seus Defensores" que já dormiam a "Paz dos Justos".

Esta gravura, belíssima, quanto à forma e ao conteúdo que se lê ou se pressente, traduz - ontem como acontecerá sempre - a verdade fundada no conceito que diz, que nada e ninguém é capaz de aprisionar a ideia, porque ela há-de ser sempre a liberdade maior do homem - o Ser - a que, um dia, Antero de Quental, num arroubo poético dos muitos que lhe encheram a vida, entendeu, que o seu passar diante da Vida era um espectáculo divino, porque, dono das suas ideias, por si mesmas elas eram chamas, assemelhando-se a vivos sóis.


N'um céu intemerato e cristalino
Pode habitar talvez um Deus distante,
Vendo passar em sonho cambiante
O Ser, como espectáculo divino.

Mas o homem, na terra onde o destino
O lançou, vive e agita-se incessante:
Enche o ar da terra o seu pulmão possante...
Cá da terra blasfema ou ergue um hino...

A ideia encarna em peitos que palpitam:
O seu pulsar são chamas que crepitam,
Paixões ardentes como vivos sóis!

Combatei pois na terra árida e bruta,
Té que a revolva o remoinhar da luta,
Té que a fecunde o sangue dos heróis!

Antero de Quental, in "Sonetos"


Eis, porque, a gravura que anteviu a implantação da República, sentimo-la inteiramente representada no último terceto que Antero de Quental, que assemelhando-se a um profeta, nos legou como fanal as ideias chamadas a implantar na Vida e em cada um dos seus momentos a luta que é preciso travar "Té que a fecunde o sangue dos heróis" , na certeza que estes são, todos os que no repouso da paz dos justos deixaram sementes, porquanto toda a ideia que traz consigo um "fogo que nunca se extingue" é, de tal modo profícua que as sementes que ela deixou serão sempre para os que ficaram feixes de luz!

Concluindo, diremos, como são infinitos os caminhos filosóficos que expressam a "ideia", mas para a entender não podemos omitir o filósofo que foi Antero de Quental ao chamar-nos espectáculo divino.
Na realidade, cada um de nós o é.

Assim, que todas as nossas ideias sejam postas na construção das coisas e da nossa própria construção humana, pondo em cada intenção o divino que trazemos colado à nossa natureza perecível.
Que o epitáfio da gravura "A Ideia é Fogo que Nunca se Extingue" erga em nós o fogo das "Paixões ardentes como vivos sóis", na certeza que tal como o Sol que nunca se extingue, a nossa ideia é assim, pela simples razão que ela é um espectáculo divino que passa...



segunda-feira, 21 de julho de 2014

Os alçapões!



Gravura do Jornal "O Xuão" de 21 de Junho de 1908
(Publicação semanal de caricaturas)
publicada em Lisboa entre 26 de Fevereiro de 1908 a 7 de Julho de 1910


Naquele tempo um célebre nº 5º do artigo 39º da lei geral em vigor, permita adiantamentos pecuniários à Casa Real, algo que muito enfureceu o tribuno republicano Afonso Costa que num discurso inflamado proferido no dia 20 de Novembro de 1906 - reinando, ainda, uma Monarquia já decadente - num dado passo afirmou: Por muitos menso crimes dos que os cometidos por D. Carlos I, rolou no cadafalso, em França, a cabeça de Luis XVI!.

A gravura é elucidativa.
Sobraçando um saco - onde a palavra ADEANTAMENTOS aparece às claras - alguém, ao abrigo do citado nº 5 do artigo 39º prepara-se para o esconder num alçapão.

E hoje?
Onde estão os alçapões?

Com aquele discurso Afonso Costa assinou a condenação do rei D. Carlos e o seu bárbaro assassinato deu origem a uma República e às seguintes, sem contudo se terem acabado os alçapões, o que prova que não basta mudar de regime se não se cuida em mudar as pessoas, que são muito mais importantes que um qualquer amontoado de leis avulsas, ainda que constitucionais.


Alegoria



Foto capturada de um diaporama recebido
(Peço a benevolência do autor desta bela foto para a eventualidade de alguma ilicitude cometida)


Eis-nos perante uma imagem muito feliz!
Uma ponte ligando o vácuo entre dois rochedos.


Analisando, o que vemos?
O rochedo colocado à direita com todo o aspecto rude da sua natureza inerte, onde não existe qualquer aspecto de vida que não seja o da sua formação granítica.
Ao invés, o da esquerda, tendo a mesma massa quanto à sua formação natural, consentiu que numa das suas frestas - algo que o companheiro também possui - nascesse muito verde e ramudo um arbusto em perfeito contraste com a aridez do outro.



Porque se trata de uma alegoria, é-nos permitido humanizar a imagem.

O rochedo da direita faz lembrar o homem implacável, duro nas suas convicções, de tal sorte que ao pé dele não há espaço para o aparecimento doutro pensar e agir que não seja o seu, presente por cima de tudo e de todos, enquanto o outro se enquadra no homem que sem deixar de ser rígido é tolerante, deixando que ao pé dele possa crescer uma outra ideia e, até, que um outro pensar se intrometa, que no caso - olhando a imagem - é prefigurado pelo nascimento do arbusto.

Resulta daqui - e isto é o que importa reter - que do diálogo que o homem tolerante admite é possível fazer surgir sementes de entendimento como o vizinho de má catadura a ponto de entre os dois surgirem as pontes humanas que se impõe construir.

E, uma vez mais, a imagem que se reproduz, vale por todas as palavras!


sábado, 19 de julho de 2014

Revoluções e Liberdades




Delacroix produziu esta obra em 1830 tendo tido como inspiração o mês de Junho daquele ano, ao tempo em que o povo de Paris açoitado pelas sociedades secretas republicanas, tendo como chefes de fila a burguesia liberal se amotinou contra o rei Carlos X, com o levantamento de barricadas, causa próxima da luta civil que veio a contar - devido ao seu alastramento - com a própria Guarda Nacional, com a ida para o exilio do rei "o último Burbon".

Em seu lugar, temendo o radicalismo das classes da pequena burguesia e do proletariado da urbe, a alta burguesia levou ao poder Luis Filipe de Orleans - primo do rei deposto - o "Rei Burguês", um liberal assumido perante toda a nobreza francesa com o apoio onde avultavam industriais e comerciantes que não pouco haviam lutado para depor Carlos X, acirrados como andavam contra a velha aristocracia que se envolvia na corte.

Deste modo à liberdade conservadora de Carlos X, opôs-se a liberdade libertária do liberalismo do tempo que Luis Filipe aceitava, provando-se que nem uma nem outra corresponderam à liberdade autêntica, que só existe quando o ser humano se torna independente de pressões externas condicionantes do seu comportamento ético-social, onde o fenómeno religioso não deixa de ter o seu quinhão importante e, quiçá, definitivo, quanto à assunção da liberdade como um acto natural e não imposto pelas circunstâncias falíveis de obediência a razões simplesmente humanas.

A Monarquia de Julho instaurada com a Revolução de 1830,  combatendo todo o absolutismo real, não tardaria a expandir para toda a Europa o seu carácter de um novo poder, algo a que Portugal não ficou impune com a queda de D. Miguel e o seu subsequente exílio, instaurando-se, com o Liberalismo que lhe sucedeu, toda a sorte de maus exemplos políticos e civis que degradaram os homens e os tempos.

O quadro desta época, vivida em França - que exalta a "Liberdade Guiando o Povo" - é uma alegoria que teve a glória merecida tendo em conta os tempos que se viveram. 
Da mesma sorte, tal fama se pode atribuir à ilustração surgida em Portugal, aquando da implantação da República, que para se impôr, apeou o rei D. Manuel II, mas tendo começado pelo assassínio do pai e do irmão do rei deposto às mãos sujas da Carbonária armada pela Maçonaria.


Os dois exemplos pictóricos exaltam - como lhes cumpriu  fazer - novos tempos em que a Liberdade se assumia como um valor para a felicidade dos povos, mas não tendo, em França como aconteceu em Portugal instaurado esse valor - que é absoluto na sua essência - mas que nunca o foi, pelo facto indesmentível de se assentar sobre radicalismos mascarados de liberalismos de tal modo racionais que não deixaram - ontem como hoje - espaço para a livre difusão do espírito que, segundo os liberais,  tem de  pensar e agir de acordo com a razão, tida por eles como um valor absoluto que tudo explica, coartando assim, a liberdade espiritual.

Filha dilecta do Iluminismo - que se assumiu contra o absolutismo - arvorou a razão humana como o valor maior, criando assim, à sua maneira um novo absolutismo que continua, ainda hoje, a marcar muitas gerações que acreditam que o progresso da Humanidade só se faz a partir das forças sociais em contraponto às autoridades religiosas ou estatais, o que não deixa de ser um sentimento contraditório com a liberdade que só tem sentido, para os seus seguidores quando agem segundo o seu ideário.

Se quiséssemos fulanizar o que vimos dizendo, temos em Portugal, no século XIX um exemplo radical do liberalismo na pessoa do distinto historiador Alexandre Herculano, dono indefectível da sua razão contra tudo e contra todos, mas devendo-se a ele uma definição de "liberdade" que nos deve merecer a melhor atenção.
No Livro editado pela Editorial Verbo (1965),  "O Padre em Herculano" da autoria de Manuel Trindade e com Prefácio do Prof. Vitorino Nemésio, na pág. 71, o liberalismo assumido e radical do grande escritor, resume assim o seu conceito de liberdade:

Sei que a esfera dos meus actos livres só tem por limites naturais a esfera dos actos livres dos outros, e por limites fictícios restrições a que me convém submeter para a sociedade existir e para eu achar nela a garantia do exercício das minhas outras liberdades.

Ou seja: Herculano é peremptório nas primeiras palavras mas é condicional em todas as que se seguem, deixando bem patente, que o conceito da liberdade genuína coxeia sempre quando a existência da sociedade reclama a sua subalternidade para que o homem possa garantir a si mesmo a continuidade das "outras liberdades", donde se retira a ilação de que nenhum homem, verdadeiramente, é livre.
Não deixa, pois, de ser interrogativa esta opinião preclara do pensamento de um homem que foi beber à Revolução Francesa o seu apego ao Liberalismo, sem contudo, ter aceite que  o exacerbar dos seus radicalismos o hajam impedido de declarar como ele o faz nos "Ópusculos" cap. III, pág. 64, no tema das "Considerações Pacíficas", que a Liberdade é a "filha primogénita do Evangelho" e que esta só se limita por ela mesma.

E isto leva-me a pensar no que um dia esreveu Jules Renard "O homem livre é aquele que não receia ir até ao fim da sua razão" ou, àquele de Saint- Exupéry: "Sei que só há uma liberdade: a do pensamento".

Se as Revoluções acima referidas, com as suas bandeiras de que se dão dois exemplos, fizeram da Liberdade o seu "cavalo de batalha" , temos de concluir que nem sempre o usaram como devia ser, porquanto, a Liberdade por que lutaram, deixou de lado o luzidio cavalo e não tardou que montassem o jumento que lhe estava mais à mão para confundir os incautos.

Por mim só acredito numa liberdade: a que nos dá o axioma brilhante de Saint-Exupéry: "Sei que só há uma liberdade: a do pensamento".


sexta-feira, 18 de julho de 2014

O meu divórcio unilateral




Peço licença para utilizar os sábios conselhos que estão plasmados  na imagem de um diaporama que chegou ao meu correio electrónico através de mão amiga.

Faço isto, na expectativa de haver prosa cuja divulgação deve ser feita, a bem de uma sociedade amarfanhada, cheia de preconceitos e, sobretudo sem ter linhas de rumo como aquelas que nos são dadas pelo feliz autor, que aconselha cada um dos seus iguais a fazerem contra si mesmo o seu próprio divórcio contra tudo aquilo que é maligno nas suas vidas e os põe a andar às arrecuas, quando iodo o destino chama as criaturas a andar com os olhos fitos no horizonte mais ou menos lato das suas vidas.

Que o autor me desculpe a ousadia da utilização de tão belas premissas que, efectivamente, deviam pautar as nossas vidas.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

O velho carro de bois



Gravura publicada pela Revista 
"Occidente" de 1 de Agosto de 1878


Quase até ao fim do século XX - e, hoje, ainda, embora, residualmente - os carros de bois foram utilizados como um meio precioso no transporte de cargas pesadas, de tal sorte que em muitos lados de algumas aldeias de Portugal, os seus rodados ainda são visíveis nas marcas que deixaram nas fragas dos carreiros por onde passaram no recolher das colheitas, embalando os naturais com o seu som bem característico.

Há quem afirme que este transporte existiu durante 12.000 anos, algo que não sei precisar, sabendo, embora, que os conheci, num tempo em que nas aldeia da Beira Baixa de então, todas tinham os seus lavradores que os utilizavam para levar o estrume para as hortas, os matos silvestres para o empalhe das sementeiras e tudo o mais, fazendo os velhos carros a que se atrelavam os pachorrentos animais - depois de domesticados -  o serviço que hoje é feito pelos modernos tractores mecânicos.

Hoje, os velhos carros de bois estão arrumados ou constituem numa praça qualquer um motivo de enfeite público.

Já não há que faça os "estadulhos"; as "engarelas", e "eixo" e as "rodas", bem como as "caniças" a "rabiça" e o "soalho", que obedeciam a medidas rigorosas do desenho costumado que vinha dos tempos avoengos, tendo o "estadulho", a "caniça" 0,90m e a"rabiça" 1,60m, variando o tipo de madeira consoante as partes do carro,  entre o freixo para os"estadulhos", bem como as "rodas", que nalguns lados eram feitas de negrilho.


Leão XIII (Papa entre 1878-1903)



Gravura publicada pela Revista
 "Occidente" de 15 de Março de 1878, no ano da sua eleição pontifícia


De seu nome de baptismo Vincenzo Gioacchino Pecci, (1810-1903) foi eleito Papa numa das das mais difíceis épocas para a Sé de Roma.

Iniciado o pontificado em 20 de Fevereiro de 1878, o papado de Leão XIII teve a virtude de aproximar a Igreja com as realidades que a sociedade enfrentava desde a Revolução Industrial e de todos os avanços científicos e tecnológicos que se apresentavam a uma sociedade ávida de novos desafios e conhecimentos de toda a ordem, sobressaindo de todas a sua vasta publicação a Encíclica "Rerum Novarum" de 15 de Maio de 1891, abordando as questões suscitadas no decorrer da Revolução Industrial  do séc. XIX, apoiando - sem reservas - o direito dos trabalhadores quanto à formação de Sindicatos, mas rejeitando o socialismo e a social democracia, defendendo a propriedade privada.

Na Encíiclica é crítico quanto à falta de princípios éticos e valores morais que se acentuvam numa sociedade laicizada, causa próxima dos graves problemas sociais. 

Aponta alguns princípios que deviam estar presentes na procura da justiça social, económica e industria, como por exemplo, uma melhor distribuição da riqueza, a intervenção do Estado na economia a favor dos mais desprotegidos, bem como o uso caritativo do patronado perante os operários.

Foi de tal modo gratificante para a Igreja este documento, que os sucessores de Leão XIII não hesitaram em denominar como a "Carta Magna" do Magistério Social de Igreja, sendo através dela que se iniciou o pensamento social católico devidamente sistematizado, estando na origem da Doutrina Social da Igreja, a que hoje assistimos, algo que deveria incomodar não só os crentes, como todos os homens afastados da Igreja de Roma que deveriam dar mais atenção aos tempos subsequentes à eleição deste formidável pontífice.

No decorrer do seu pontificado publicou as seguintes Encíclicas, expressas, aqui, por ordem ascendente da sua publicação:


Ad Extremas (24 de junho de 1893)
Adiutricem Populi (5 de setembro de 1895)
Aeterni Patris (4 de agosto de 1879)
Affari Vos (8 de dezembro de 1897)
Annum Sacrum (25 de maio de 1899)
Arcanum Divinae (10 de fevereiro de 1880)
Augustissimae Virginis Mariae (12 de setembro de 1897)
Au Milieu Des Sollicitudes (16 de fevereiro de 1892)
Auspicato Concessum (17 de setembro de 1882)
Caritatis (19 de março de 1894)
Caritatis Studium (25 de julho de 1898)
Catholicae Ecclesiae (20 de novembro de 1890)
Christi Nomen (24 de dezembro de 1894)
Constanti Hungarorum (2 de setembro de 1893)
Cum Multa (8 de dezembro de 1882)
Custodi di quella Fede (8 de dezembro de 1892)
Dall'alto dell'Apostolico Seggio (15 de outubro de 1890)
Depuis le Jour (8 de setembro de 1899)
Diuturni Temporis (5 de setembro de 1898)
Diuturnum (29 de junho de 1881)
Divinum Illud Munus (9 de maio de 1897)
Dum Multa (24 de dezembro de 1902)
Etsi Cunctas (21 de dezembro de 1888)
Etsi Nos (15 de fevereiro de 1882)
Exeunte Iam Anno (25 de dezembro de 1888)
Fidentem Piumque Animum (20 de setembro de 1896)
Fin dal Principio (8 de dezembro de 1902)
Grande Munus (30 de setembro de 1880)
Graves de Communi Re (18 de janeiro de 1901)
Gravissimas (16 de maio de 1901)
Humanum Genus (20 de abril de 1884)
Iampridem (6 de janeiro de 1886)
Immortale Dei (1° de novembro de 1885)
In Amplissimo (15 de abril de 1902)
Inimica Vis (8 de dezembro de 1892)
In Ipso (3 de março de 1891)
In Plurimis (5 de Maio de 1888)
Inscrutabili Dei Consilio (21 de abril de 1878)
Insignes (1 de maio de 1896)
Inter Graves (1 de maio de 1894)
Iucunda Semper Expectatione (8 de setembro de 1894)
Laetitiae Sanctae (8 de setembro de 1893)
Libertas (20 de junho de 1888)
Licet Multa (3 de agosto de 1881)
Litteras a Vobis (2 de julho de 1894)
Longinqua (6 de janeiro de 1895)
Magnae Dei Matris (8 de setembro de 1892)
Magni Nobis (7 de março de 1889)
Militantis Ecclesiae (1 de agosto de 1897)
Mirae Caritatis (28 de maio de 1902)
Nobilissima Gallorum Gens (8 de fevereiro de 1884)
Non Mediocri (25 de outubro de 1893)
Octobri Mense (22 de setembro de 1891)
Officio Sanctissimo (22 de dezembro de 1887)
Omnibus Compertum (21 de julho de 1900)
Pastoralis (25 de julho de 1891)
Pastoralis Officii (12 de setembro de 1891)
Paternae (18 de setembro de 1899)
Paterna Caritas (25 de julho de 1888)
Pergrata (14 de setembro de 1886)
Permoti Nos (10 de julho de 1895)
Providentissimus Deus (18 de novembro de 1893)
Quae Ad Nos (22 de novembro de 1902)
Quam Aerumnosa (10 de dezembro de 1888)
Quamquam Pluries  (15 de agosto de 1889)
Quam Religiosa (16 de agosto de 1898)
Quarto Abeunte Saeculo (16 de julho de 1892)
Quod Anniversarius (1 de abril de 1888)
Quod Apostolici Muneris (28 de dezembro de 1878)
Quod Auctoritate (22 de dezembro de 1885)
Quod Multum (22 de agosto de 1886)
Quod Votis (30 de abril de 1902)
Quum Diuturnum (25 de dezembro de 1898)
Reputantibus (20 de agosto de 1901)
Rerum Novarum (15 de maio de 1891)
Saepe Nos (24 de junho de 1888)
Sancta Dei Civitas (3 de dezembro de 1880)
Sapientiae Christianae (10 de janeiro de 1890)
Satis Cognitum (29 de junho de 1896)
Spectata Fides (27 de novembro de 1885)
Spesse Volte (5 de agosto de 1898)
Superiore Anno (30 de agosto de 1884)
Supremi Apostolatus Officio (1° de setembro de 1883)
Tametsi Futura Prospicientibus (1 de novembro de 1900)
Urbanitatis Veteris (20 de novembro de 1901)


Fábrica do Gás da Matinha (1938)


Fotos do Arquivo Municipal de Lisboa

Descarga de areia para saneamento dos terrenos, provenientes da draga "Final Marina" 
pertencente à frota dos Serviços Hidráulicos do Porto de Lisboa


Os trabalhos de saneamento do terreno onde foi localizada a construção da Fábrica do Gás da Matinha, iniciaram-se entre os anos de 1938 a 1940, ocupando 4 dos 20 hectares conquistados ao rio. (1)

As obras de construção da Fábrica foram iniciadas, em 1939, incluindo uma canalização de cerca de 15 Kilómetros e concluídas em 1940, mas cuja inauguração foi adiada devido à eclosão da II Guerra Mundial, adiamento que só terminou no dia 8 de Janeiro de 1944, tempo em que se consumou a inauguração oficial.



Esta Fábrica veio a fazer parte da então chamada "Zona Industrial do Porto de Lisboa", tendo originado o encerramento em 1949 da Fábrica do Gás de Belém e a sua demolição, em 1950

No ano de 1947 foram iniciadas obras de extensão fabril, materializadas na construção de um segundo gasómetro de maior capacidade, relativamente ao existente, tendo sido construído um terceiro no ano de 1954 e, ainda nesse mesmo ano, o equipamento de um quarto.

Prospecto publicitário da época

A Fábrica entrou em declíneo em 1957 com a fusão da Companhia Reunida de Gás e Electricidade (CRGE) com a Sociedade Anónima de Combustíveis e Óleos Refinados (SACOR), que a partir de então passaram a produzir gás com base nos  subprodutos da refinaria de Cabo Ruivo, dando-se por terminada a produção de gás a partir do carvão em 1958.

(1) - O método utilizado no saneamento deste terreno, foi garantido através de uma draga auto propulsora de sucção de areias - no caso provindas da Cova do Vapor - que transportavam as areias, conjuntamente co água, através de uma canalização tubular como a foto documenta. Em ambas as fotos aparecem, distintamente, tanto a draga como a canalização.
Este mesmo método foi utilizado nos terrenos de Beirolas, em local onde veio a ser construída a EXPO 98.


segunda-feira, 14 de julho de 2014

Almeida Garrett (1799 - 1854)

Gravura publicada pela Revista 
"Occidente" de 15 de Dezembro de 1878


Adeus!

 Adeus! para sempre adeus!
 Vai-te, oh! vai-te, que nesta hora
 Sinto a justiça dos céus
 Esmagar-me a alma que chora.
 Choro porque não te amei,
 Choro o amor que me tiveste;
 O que eu perco, bem no sei,
 Mas tu... tu nada perdeste;
 Que este mau coração meu
 Nos secretos escaninhos
 Tem venenos tão daninhos
 Que o seu poder só sei eu.

 Oh! vai... para sempre adeus!
 Vai, que há justiça nos céus.
 Sinto gerar na peçonha
 Do ulcerado coração
 Essa víbora medonha
 Que por seu fatal condão
 Há-de rasgá-lo ao nascer:
 Há-de sim, serás vingada,
 E o meu castigo há-de ser
 Ciúme de ver-te amada,
 Remorso de te perder.

 Vai-te, oh! vai-te, longe, embora,
 Que sou eu capaz agora
 De te amar - Ai! se eu te amasse!
 Vê se no árido pragal
 Deste peito se ateasse
 De amor o incêndio fatal!
 Mais negro e feio no inferno
 Não chameia o fogo eterno.
 Que sim? Que antes isso? - Ai, triste!
 Não sabes o que pediste.
 Não te bastou suportar
 O cepo-rei; impaciente
 Tu ousas a deus tentar
 Pedindo-lhe o rei-serpente!

 E cuidas amar-me ainda?
 Enganas-te: é morta, é finda,
 Dissipada é a ilusão.
 Do meigo azul de teus olhos
 Tanta lágrima verteste,
 Tanto esse orvalho celeste
 Derramado o viste em vão
 Nesta seara de abrolhos,
 Que a fonte secou. Agora
 Amarás... sim, hás-de amar,
 Amar deves... Muito embora...
 Oh! mas noutro hás-de sonhar
 Os sonhos de oiro encantados
 Que o mundo chamou amores.

 E eu réprobo... eu se o verei?
 Se em meus olhos encovados
 Der a luz de teus ardores...
 Se com ela cegarei?
 Se o nada dessas mentiras
 Me entrar pelo vão da vida...
 Se, ao ver que feliz deliras,
 Também eu sonhar... Perdida,
 Perdida serás - perdida.

 Oh! vai-te, vai, longe embora!
 Que te lembre sempre e agora
 Que não te amei nunca... ai! não;
 E que pude a sangue-frio,
 Covarde, infame, vilão,
 Gozar-te - mentir sem brio,
 Sem alma, sem dó, sem pejo,
 Cometendo em cada beijo
 Um crime... Ai! triste, não chores,
 Não chores, anjo do céu,
 Que o desonrado sou eu.

 Perdoar-me tu?... Não mereço.
 A imundo cerdo voraz
 Essas pérolas de preço
 Não as deites: é capaz
 De as desprezar na torpeza
 De sua bruta natureza.
 Irada, te há-de admirar,
 Despeitosa, respeitar,
 Mas indulgente... Oh! o perdão
 É perdido no vilão,
 Que de ti há-de zombar.

 Vai, vai... para sempre adeus!
 Para sempre aos olhos meus
 Sumido seja o clarão
 De tua divina estrela.
 Faltam-me olhos e razão
 Para a ver, para entendê-la:
 Alta está no firmamento
 Demais, e demais é bela
 Para o baixo pensamento
 Com que em má hora a fitei;
 Falso e vil o encantamento
 Com que a luz lhe fascinei.
 Que volte a sua beleza
 Do azul do céu à pureza,
 E que a mim me deixe aqui
 Nas trevas em que nasci,
 Trevas negras, densas, feias,
 Como é negro este aleijão
 Donde me vem sangrar às veias,
 Este que foi coração,
 Este que amar-te não sabe
 Porque é só terra - e não cabe
 Nele uma ideia dos céus...
 Oh! vai, vai; deixa-me, adeus!

Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'


A quem diz "adeus" o Poeta?
Se as "Folhas Caídas" nasceram sob a inspiração da Viscondessa da Luz, parece, que é para ela esta despedida depois de se ter esgotado o encanto que fez doidejar o grande romântico, no momento em que sentiu que caía sobre aquele enlace a "justiça do céu" que, é ele que o declara lhe estava esmagando "a alma que chora".

Ao contrário de Alexandre Herculano que fez da sua razão o seu cavalo de batalha contra a Igreja, só admitindo o que esta lhe concedia pela explicação racional das coisas que estavam  - e continuam e estar no patamar do Absoluto - Almeida Garrett, muito embora comungasse do Liberalismo da época, fez perante a Igreja um caminho diferente, não lhe opondo o poder de uma razão sem limites.

Este extenso poema é um rebate de consciência que leva o Poeta a falar do seu mau coração, indo ao ponto de declarar, como o faz na primeira estrofe, que ele, Tem venenos tão daninhos/Que o seu poder só eu sei, provando, assim, que foi um homem que por cima dos seus próprios dramas - que ele mesmo armou a si mesmo - e dos quais, enquanto a lucidez o permitiu se despediu, como faz na segunda estrofe, onde mais uma vez impera a justiça do céu.

 Oh! vai... para sempre adeus!
 Vai, que há justiça nos céus.
 Sinto gerar na peçonha
 Do ulcerado coração
 Essa víbora medonha
 Que por seu fatal condão
 Há-de rasgá-lo ao nascer:
 Há-de sim, serás vingada,
 E o meu castigo há-de ser
 Ciúme de ver-te amada,
 Remorso de te perder. 



A sua vida politica é, um testemunho da sua consciência, exercendo-a no espaço que durou sem se descuidar de a manter viva em todas as discussões que manteve na Câmara dos Deputados - hoje Assembleia da República - como aconteceu em 8 de Fevereiro de 1840,  na discussão da "Resposta ao Discurso da Coroa", em resposta a José Estevão. Era, então, deputado pela Ilha Terceira - de onde embarcou até ao Mundelo - e membro do Partido Setembrista, mostrando aos radicais a necessidade do censo eleitoral, bem como a cooperação devida com a ordem vigente.

Num dado passo, falou deste modo:

(...) Do nada saiu este mundo em que vivemos, da imensidão da Sabedoria eterna a ordem que o formou e o rege. O Fiat da Omnipotência foi a ordem que entrou no caos, que dividiu os elementos, que separou a luz das trevas, o dia da noite, e compôs enfim este belo universo, tão belo na ordem regular para que nos criou a Providencia, como era horroroso e feio antes dessa ordem, como será espantoso e medonho quando a ordem se quebrar, quando retirada a mão de Sabedoria moderadora, voltar a anarquia dos elementos para destruir o mundo. (...)

Lapidar quanto ao pensamento vivo e quanto ao que de mais puro havia em Garrrett, de respeito perante as Leis da Providência é este pedaço de prosa parlamentar, o que prova, que nele, a "justiça do céu" de que fala no seu poema não era de todo, uma imagem poética, mas algo que o transcendia e que ele respeitava.