Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Mário Soares sobre António José Seguro: O sim e o seu contrário!



Assim não vamos lá!
Vivemos de tal modo enredados numa teia de fala-baratos que saímos, gloriosos, de uma longa noite de um castelo assombrado e não vemos maneira de chegarmos "vivos" ao outro castelo prometido... de tal modo andamos enredados, lendo ou ouvindo quem neste momento não merece ser lido ou ouvido.
Ora vejamos:
Em 19 de Abril de 2013, o jornal "Correio da Manhã", chamando à liça uma opinião de Mário Soares, publicou esta notícia que se transcreve com a devida vénia: (sic)

“António José Seguro é um bom líder”
Para Mário Soares, não há dúvidas: António José Seguro é um bom líder do Partido Socialista (PS).

O ex-Presidente da República defendeu esta sexta-feira, dia que assinala o 40.º aniversário do PS, que os socialistas continuam a ser fiéis aos valores que estiveram na base da fundação do partido e afirmou que António José Seguro "é um bom" secretário-geral. (...)

O ex-Presidente da República elogiou ainda a prestação da atual liderança do PS, argumentando que o partido "continua, e bem", para acrescentar que António José Seguro "é o meu líder. Foi eleito por todo o partido e é um bom líder evidentemente".


 O jornal online Observador em 24 de Setembro de 2014, sobre a mesma personagem política, publicou o seguinte: (sic)

Mário Soares pede que Seguro se “demita”. (...)

Mário Soares, ex-presidente da República e líder histórico do Partido Socialista (PS), voltou a criticar o atual secretário-geral do partido, António José Seguro, e pediu que este se demita.


Seguro, se quisesse ter um gesto de patriotismo, em vez de dizer asneiras, como está a dizer, demitia-se – porque ainda podia salvar qualquer coisa, mas se o não fizer sai muito mal”, afirmou, numa conferência destinada a debater o futuro da democracia, organizada pela Câmara Municipal de Portimão, conta o jornal Público. Para Mário Soares, apoiante assumido de António Costa nas eleições primárias do partido, o atual secretário-geral do PS foi “durante muito tempo o associado principal da direita, o grande amigo dele era o Presidente da Republica”. Acrescentou ainda que “Seguro é um inseguro. O PS nada tem a ver com esse do Seguro”.

Porque não se cala, este senhor?
Com todo o respeito pela sua idade e pelo seu passado político, penso que ele devia fazer o que sugeriu que Seguro fizesse: se quisesse ter um gesto de patriotismo - até para defender o seu nome - calava-se. em vez de dizer asneiras.

Num breve espaço de tempo (19 de Abril de 2013 - 24 de Setembro de 2014) sobre a mesma personagem disse um "sim" de contentamento e o seu contrário!

Portugal, efectivamente, não tem senadores que valham a pena.
Tem faladores... que ora dizem e se desdizem... de tal modo, que este senhor que devia ser levado a sério, há muito tempo que perdeu todo o capital amealhado!

Mas, atenção: alinham-se com Mário Soares ao redor de António Costa - o vencedor das primárias do PS - muitos homens que podem deitar a perder o seu projecto político.
Ele que se cuide...


domingo, 28 de setembro de 2014

Um novo ciclo, podia ter sido com ele!




Podia, sim senhor!
Mas não vai ser porque António José Seguro o não mereceu.

Ao longo dos três anos em que se distinguiu por um populismo que ultrapassou - e, de longe, os mais atrevidos -  no último debate quinzenal (26 de Setembro) a sua proposta de pretender que o Primeiro-Ministro, Passos Coelho mostrasse às escâncaras a sua conta bancária foi o máximo da pouca vergonha e da irresponsabilidade, como se isso fosse uma atitude possível de ser concretizada, sem que para tanto, uma qualquer decisão do foro jurídico estivesse a fazer valer a força da lei.

Isto prova a falta de sensatez de um político que se arroga o direito de querer ser Primeiro-Ministro de Portugal - a que tem direito, mas não com atitudes destas - pelo que esta proposta insensata não teve o apoio de nenhum parlamentar, salvo o desastrado António José Seguro que levou o seu ódio político à expressão da máxima potência, na mira de captar mais uns votos, que não lhe vão ser dados, para derrotar António Costa - o que é pena, porque se alinham com ele, homens do passado que não deixaram saudades - pelo que, AJS, que teve o pássaro na mão o vai ver fugir para um céu que ele mesmo causou.

Será que ele não pensou, no facto, de um qualquer candidato a político ser levado a pensar que a política assim entendida era, à partida, algo que o levaria a não querer saber de tal empenhamento - que é nobre na sua essência de serviço público - tendo a sua vida privada à mercê de actos populistas e anacrónicos de um outro qualquer mau político do jaez inacreditável de António José Seguro que ultrapassou pela esquerda, o mais radical dos próceres dessa ala política que se sentam no Parlamento, a ponto de ninguém o ter seguido.

Com efeito "O NOVO CICLO" que ele prometeu e se vê estampado na foto, podia ter acontecido com ele na chefia do PS, mas não vai acontecer, porque ele mesmo se derrotou a si mesmo... embora se saiba, que depois - isto é só fogo de vista - o cheiro do Poder vai ser o traço de união e, ainda bem... que parece mal haver irmãos desavindos!

...................................................................................

P.S. - São em Portugal Continental 20h00, quando editei este apontamento.


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Dois burros!


Gravura publicada pelo jornal "O Thalassa" de 3 de Abril de 1913


Vão caminhando dois burros.

Um que o é pela sua própria natureza e o outro que personifica o Poder, arrogantemente chamando-se a si mesmo - PÁTRIA - e que é burro, por permitir que numa Democracia parlamentar como a que temos hoje, felizmente, a denúncia anónima, torpe e vil ganhe e se imponha, como já tem acontecido com outros governantes, em casos até bem recentes, e agora está a acontecer com Pedro Passos Coelho.

Se o Poder não fosse burro já tinha criado uma lei para que o denunciante não se fosse aceite sob a capa do anonimato e fosse dado a conhecer e das duas, uma: ou ele sustentava a denúncia com a veracidade dos factos e o atingido - governante ou não - sofria as consequências da Justiça ou, ao invés, era ele a sofrer pelo desmando da sua atitude.

A denúncia pode ter razão de ser, mas, ou é verdadeira, ou então é um modo vil de usar a liberdade!

Mas pedir esta lei é pedir demais a um Poder que é burro e que não tem da Democracia o verdadeiro sentido.


terça-feira, 23 de setembro de 2014

E se...






Sem Causa a Infância Ri


Sem causa a Infância ri, sem causa chora:
Incauta se despenha a mocidade;
Sacode o jugo, e nela a liberdade,
A caça, o jogo, o amor, tudo a namora.

Das honras o varão se condecora;
Tudo é nele ilusão, tudo vaidade:
Junta Tesouros a avarenta idade;
Diz mal do nosso, e ao tempo andado adora.

Tormento é toda a vida, é toda enganos:
Quando uns afectos vence a novos corre,
E tarde reconhece os próprios danos:

Porque enfim se a prudência nos socorre,
Ditada na lição dos longos anos,
Quando se sabe, então é que se morre.


Abade de Jazente, in 'Antologia Poética' 



O autor deste soneto é um antigo Poeta, mas continua novo e vivo o seu preclaro pensamento sobre a criança do seu tempo e de todos os tempos.

Só por isso - e que é muito! - merece ser lembrado, porquanto, depois de adulto fala dos sonhos perdidos o primeiro dos tercetos, sem rodeios, pondo a nú a realidade em que se cai, quando, mesmo sem causa, a criança ri ou chora, deixando ficar sempre impresso nesses momentos a alma limpa, isenta das paixões do mundo.

E se de vez em quando, sem causa ríssemos ou chorássemos em vez de afivelarmos a máscara que mostramos, esquecendo-nos que é nela que está, ainda que escondida a sete chaves a criança que fomos?

E se nos lembrássemos que tendo perdido o encanto da criança que fomos, adquirimos a malícia do mundo?

E se nos lembrássemos que com esta nova atitude perdemos o direito de rir ou de chorar sem causa aparente?

E se nos lembrássemos que o mundo que nos acolhe, nos assusta, mas continuamos como se fôssemos todos os dias para uma festa?

E se nos lembrássemos que perdemos o direito de dizer tudo o que devíamos dizer e só o não fazemos por parecer mal?

Ao longo da vida, efectivamente, vamos perdendo muita coisa. 

Estamos crescidos e não podemos ser tão sinceros como fomos em criança e, assim, cheios desta sabedoria que o mundo da "etiqueta" não nos deixa pôr em prática, quando se sabe é que se morre, diz o Poeta Abade de Jazente e tem razão, porque ao longo da vida fomos "assassinos" de nós mesmos por termos morto a criança que havia dentro de nós!


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O concreto das coisas!



Capa do Livro


Transcrição ipsis-verbis de parte do livro acima representado pela sua capa de mercado.


Na Primavera de 2010, José Sócrates deu uma entrevista histórica à RTP. Na noite de 18 de Maio, quando o País já vivia há meses em sobressalto por pausa da constante: subida dos juros da divida pública. o então primeiro-ministro afirmou na televisão do Estado: "o mundo mudou em duas semanas e tenho obrigação de conduzir a governação estando atento às mudanças das realidades"

A custo o chefe do Governo reconheceu aquilo que o mais comum dos mortais. especialista ou não em mercados financeiros já havia percebido há muito tempo: a realidade da vida mais tarde ou mais cedo, impõe-se à vontade dos homens. A teimosia de José Sócrates em reconhecer que Portugal necessitava de ajuda financeira externa. como se provou passado menos de um ano encontra paralelo na indiferença com que a classe politica encara a promiscuidade entre o interesse público e as conveniências do sector privado.
Os ingressos de ex-ministros e ex-secretários de Estado em empresas de sectores por eles tutelados enquanto governantes ou as transferências de deputadas para firmas privadas e escritórios de advogados, abandonando o mandato para o qual foram eleitos: representantes do povo, são sinais paradigmáticos de como os interesses pessoais se podem sobrepor ao interesse colectivo do pais. Como sempre que não interessa fazer mudanças. os partidos políticos, naquela velha atitude portuguesa de varrendo o lixo para debaixo do tapete, fingem que nada acontece. (...)

"O assunto mais tenebroso da corrupção portuguesa é que há muitos factos que não são vistos como corrupção", afirmou o sociólogo António Barreto, ex-ministro do Agricultura e actual presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos. numa entrevista ao Jornal de Negócios em 3 de Março de 2011. E precisou a sua ideia: “A promiscuidade polilico-financcira-cconomica não é entendida como tal. As pessoas podem saltitar de uns cargos para outros: da politica para a actividade económica pública. dai para a actividade económica provada e ainda voltam a entrar na política, fazendo favores uns aos outros. (...)


(...) A vida é uma luta entre os seus aspectos revelados e o limbo em que eles se perdem e ampliam até à suprema distância imaginável; uma luta entre a realidade e o sonho, a Carne e o Verbo.
 Entre nós, o Verbo não encarnou inteiramente. Somos corpo e alma, verbo encarnado e verbo não encarnado, a matéria e o limbo, o esqueleto de pedra e um fumo que o enconbre e ondula em volta dele, e dança aos ventos da loucura...
 E aí tendes um pobre tolo sentimental, uma caricatura elegíaca.
 Neste limbo interior, neste infinito espiritual, vive a lembrança de Deus que alimenta a nossa esperança, e transfigura esse bicho do Demónio, que anda por esses boulevards, vestido à moda ou coberto de farrapos.
 Ardemos num incêndio de esperança, para que reste de nós uma lembrança, um fumo que sobe e não se apaga.
 Tudo é memória: um fumo leve, em mil visagens animadas; ou denso, em formas inertes e sombrias; e, ao longe, a grande fogueira invisível que os demónios e os anjos alimentam.
 Vivo, porque espero. Lembro-me, logo existo. (...)

Teixeira de Pascoaes, in 'O Pobre Tolo'




É de todos os portugueses minimamente informados a luta travada - a destempo - por José Sócrates antes de se decidir a pedir ajuda económica internacional para solver a crise económica que o Governo por ele liderado teve de pedir.

Todos nos lembramos disso e, agora, não vale chorar sobre o leite derramado... mas vale - isso sim - relembrar que Portugal está a correr o risco de voltar àquele passado auto-suficiente de José Sócrates que se ouvia a si mesmo se, António Costa, a ganhar as eleições primárias do PS no próximo dia 28 de Setembro, e der ouvidos ao clã do antigo chefe de Governo que levou Portugal à pré-bancarrota e que, decerto, espreita uma nova oportunidade.

Por isso nos parecem importantes os pequenos trechos que reproduzimos e cujos sublinhados nos pertencem.

O primeiro é uma memória e vale por aquilo que representa de aviso, devendo ser dito e com toda a verdade, que a opinião de António Barreto sobre a promiscuidade política  colhe em todos os Partidos que têm governado Portugal, como se se tratasse de uma doença endémica.

Já quanto ao segundo, merece a pena ler Teixeira de Pascoaes sobre o que ele entende da realidade e do sonho, sobretudo, se pensarmos que nem sempre no sonho se podem esconder todas as realidades - porque estas quando se tornam assassinas dos sonhos - deixam de o ser... e são, apenas, impossibilidades reais.

É desta dualidade onde os demónios e os anjos se alimentam de que José Sócrates se serviu a si mesmo - ou deixou que o servissem -  não ouvindo os ventos que se faziam ouvir, pelo que, os que o acompanharam - como António Costa que foi seu Ministro e bem próximo - se ganhar o direito de vir a concorrer às eleições legislativas de 2015 o que se lhe pede é que não venha a dar cobertura aos demónios que não deixam de andar por aí, à solta.

Contudo, não nos esqueçamos que todos nós - políticos ou não - ardemos num incêndio de esperança, para que reste de nós uma lembrança, um fumo que sobe e não se apaga - pelo que, se para tanto temos todo o direito, que fique de nós, como lembrança, esse fumo que sobe e não se apaga.

Pessoalmente, penso , que isto não aconteceu com José Sócrates.


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Palavras certas em cima duma hora certa!



in, notícia da "Rádio Vaticano"


No passado dia 14 de Setembro o Papa Francisco presidiu e abençoou o casamento de 20 casais por ele escolhidos, com a particularidade de nestes haver situações que iam para além da normalidade que habitualmente preside aos casamentos católicos, retomando, assim, um hábito do seu antecessor.

Temos de saudar o Papa e saudar as palavras iniciais da sua homilia.
Disse, assim:



A primeira Leitura fala-nos do caminho do povo no deserto. Pensemos naquele povo em marcha, guiado por Moisés! Era formado sobretudo por famílias: pais, mães, filhos, avós; homens e mulheres de todas as idades, muitas crianças, com idosos que sentiam dificuldade em caminhar... Este povo lembra a Igreja em caminho no deserto do mundo actual; lembra o Povo de Deus que é composto, na sua maioria, por famílias.

Isto faz pensar nas famílias, nas nossas famílias, em caminho pelas estradas da vida, na história de cada dia... É incalculável a força, a carga de humanidade presente numa família: a ajuda mútua, o acompanhamento educativo, as relações que crescem com o crescimento das pessoas, a partilha das alegrias e das dificuldades... As famílias constituem o primeiro lugar onde nos formamos como pessoas e, ao mesmo tempo, são os «tijolos» para a construção da sociedade.

Voltemos à narração bíblica... A certa altura, o povo israelita «não suportou o caminho» (Nm 21, 4): estão cansados, falta a água e comem apenas o «maná», um alimento prodigioso, dado por Deus, mas que, naquele momento de crise, lhes parece demasiado pouco. Então lamentam-se e protestam contra Deus e contra Moisés: «Porque nos fizestes sair do Egipto?» (Nm 21, 5). Sentem a tentação de voltar para trás, de abandonar o caminho.

Isto faz-nos pensar nos casais que «não suportam o caminho» da vida conjugal e familiar. A fadiga do caminho torna-se um cansaço interior; perdem o gosto do Matrimónio, deixam de ir buscar água à fonte do Sacramento. A vida diária torna-se pesada, «nauseante». (...)




Aplaudimos a sabedoria humana do Papa Francisco ao ir buscar um trecho antigo da Bíblia - onde, como ele referiu e é bem conhecido o povo em marcha pelo deserto desanimou e revoltou-se pelo cansaço da jornada - um facto que ele transportou para a actualidade, onde e fez questão de acentuar - há casais, que num dado ponto da jornada "não suportam o caminho".

Deriva daqui, como norma - ou quase, atendendo ao que se passa na nossa frívola socieadade - que o modo mais fácil, não é o repensar dos motivos dos cansaços, mas a separação, quando - como aconteceu que o povo que Moisés conduzia acabou por encontrar a "Terra Prometida" - o mais racional seria mais um esforço reconciliante com a vida, que por vezes, se torna dura e difícil de levar.

Como apontamento, fica aqui estampado o meu apreço por duas coisas: O gesto do Papa e as palavras que foram respigadas da sua homilia, no desejo delas terem no meu modesto trabalho o realce que merecem por serem portadoras de uma humanidade viva, que se torna urgente viver, para que a vida diária não se torne pesada "nauseante", levando ao fundo o alcatruz da nora...



domingo, 14 de setembro de 2014

Oração à Cruz



No dia da Exaltação da Santa Cruz


A ti rezo, ó Cruz antiga, símbolo da minha fé
por ser em ti que reside a palavra maior da sabedoria!
A ri rezo, ó Cruz rejeitada pelos meus irmãos que negam Deus
por ter permitido - dizem - que Jesus morresse nos teus braços!
A ti rezo, ó Cruz, porque em ti é que foi proclamada - para sempre - 
não a morte, mas a continuação da vida de Jesus!

A ri rezo, ó Cruz, porque foi na vitória sobre o poder da morte
que se ergueu o poder da Fé!
A ti rezo, ó Cruz, porque tu representas a ressurreição do Mártir
e a Sua libertação após a morte!
A ti rezo,ó Cruz, porque é em ti que reconheço o único caminho
que dá aos homens a sabedoria de Deus!

A ti rezo, ó Cruz, porque Jesus que conduziu a sua vida
em ordem aos planos do Pai, foi em ti que rezou por mim!
A ti rezo, ó Cruz, porque és alimento e a mesma água-viva
que Jesus deu à samaritana junto ao poço de Jacob!
A ti rezo, ó Cruz, por ser em ti que faz todo o sentido
a Oração do Getsémani e onde a minha vai beber!

A ti rezo, ó Cruz, porque é em ti que vejo a grandeza de Cristo
a ser igual, hoje e para sempre!
A ti rezo, ó Cruz, lembrando as Palavras de Jesus, e como Ele,
pedir que se faça, não o que eu quero, mas o que Deus quer!
A ti rezo, ó Cruz, por sentir que é nesta sábia aceitação
que está presente a Obra da Salvação eterna!

A ti rezo, ó Cruz, por saber que é na força do teu braço vertical
que está, cheio de Luz, todo o caminho do Céu!
A ti rezo, ó Cruz, por saber que é na força do teu braço horizontal
que eu marco encontro com todos os meus irmãos!
A ti rezo, ó Cruz, por saber que é nas Palavras do Crucificado
que se encontra a vida nova do perdão e ressurreição!



Teremos de ser todos doutores e engenheiros?!





Certamente, para quem teve a felicidade de ler "As Pupilas do Senhor Reitor" recordar-se-á do diálogo do lavrador José das Dornas com o Reitor sobre as inquietações quanto ao grau da educação escolar a dar pelo lavrador aos seus filhos Pedro e Daniel, porquanto, o primeiro era forte e sadio e o outro mas franzino e delicado. Na opinião dele, referindo-se-lhe afirmou Aquilo é outra mãe — o Senhor chame lá. Um dia de ceifa é bastante para mo matar.

Instado pelo Reitor para colocar Daniel nos estudos, respondeu:
— Nisso mesmo penava eu. Já me lembrou mandá-lo estudar, mas tinha cá certos escrúpulos.

Não ficou sem resposta, porque o Reitor lhe disse com ternura:

— Escrúpulos! Valha-te não sei que diga! Pois ainda és desses tempos? Que escrúpulos podes ter em mandar ensinar teus filhos? Fazes-me lembrar um tio meu que nunca permitiu que as filhas aprendessem a ler; como se pela leitura se perdesse mais gente do que pela ignorância.

O lavrador coçou a cabeça e respondeu:

— Não é isso, Sr. Padre António, não é isso o que eu quero dizer; mas custa-me dar a meus filhos uma educação desigual. Vê Vossa Senhoria. São irmãos e , mais tarde, o que tomar melhor carreira e se elevar pelo estudo, há de desprezar o que seguir a vida do pai, a ponto de que os filhos dum e doutro quase não se conhecerão: é o que mais vezes se vê. Não é uma injustiça que faço a Pedro a educação que der a Daniel?

Ripostou o Reitor:

— Homem de Deus, não há desigualdade verdadeira, senão a que separa ohomem honrado do criminosos e mau. Essa sim, que é estabelecida porDeus, que, na hora solene, extremará os eleitos dos réprobos. Educa bem os teus filhos em qualquer carreira em que os encaminhes; educa-os segundo os princípios da virtude e da honra, e não os distanciará, acredita; porque, cumprindo cada um com o seu dever, serão ambos dignos um do outro e prontos apertarão as mãos onde quer que se encontrem. E no sentido mundano, julgas tu que fazes mais feliz Daniel, por o elevares a uma classe social acima da tua! Aí, homem, como viver enganado! o quinhão de dores e provações foi indistintamente repartido por todas as classes, sem privilégio de nenhuma. Há infortúnio e misérias que causam o tormento dos grandes e poderosos, e que os pobres e humildes nem experimentam, nem imaginam sequer. Grande nau grande tormenta: hás de ter ouvido dizer. Sabes que mais José? — concluiu o reitor — manda-me o rapaz lá por casa, que eu lhe irei ensinado o pouco que sei do latim, e deixa-te de malucar!

A resposta dada pelo Reitor à aflição do pai dos dois rapazes, faz deste livro singular de Júlio Dinis uma obra, que tendo marcado a sua época, devia marcar a nossa, especialmente, no aspecto educacional contemporâneo, onde parece, que todos os homens e mulheres - para terem êxito na vida - terão de ser doutores ou engenheiros.

O Reitor disse a José das Dornas: Educa bem os teus filhos em qualquer carreira em que os encaminhes; educa-os segundo os princípios da virtude e da honra, e, neste conselho  entrou toda a sabedoria de quem, prudentemente, sabia que dada a diferença que havia entre os dois irmãos - diferenças que hão-de continuar a haver enquanto o mundo for mundo - o mais avisado era conduzir Daniel para os estudos e Pedro para continuar lavrador, seguindo a carreira do pai.

A lição fica aqui, para todos os que pensam, hoje, que todos teremos de ser licenciados, como se as profissões intermédias dos que não atingem os graus superiores da Universidade ficassem diminuídos, o que de todo, não é verdade, porquanto, na vida concreta, todos os homens e mulheres, se o quiserem ser, são mestres em tudo aquilo que fazem e é isto que conta.

Tudo o mais, quantas vezes, serve apenas, para aguçar a vaidade humana, quando ela deve existir e é bom que aconteça - mas sem toleimas - em todos os actos da existência.


Semelhanças... ou não?

Gravura publicada pelo Jornal
 "Jardim Literário" nº 5 do 1º semestre de 1846



Os antigos povos, especialmente os gregos, segundo o seu misterioso sistema de personificarem as mais sublimes ideias, também, e com mais razão, fizeram da justiça uma divindade, simbolizando-a na deusa Themis, filha do Céu e da Terra, amada de Júpiter; empunhando a balança e a espada para denotar a igualdade e rectidão dos seus juízos, coroada de um diadema como rainha de todas as virtudes; mas cujo venturoso império só exerceu sobre a Terra durante a idade de ouro, fugindo desde então para o Céu, espavorida e aterrada pelos vícios e crimes dos homens, os quais por seu mal, cedo profanaram  os devidos cultos a esta divindade, que, se para as novas crenças deixou de ser uma deusa, é, e será sempre um dos principais atributos do Criador, cuja influência no coração humano seria o estimulo para que os homens gozassem a mais perfeita felicidade sobre a Terra, se mil caprichos não os transviassem do exercicio desta sem igual virtude.

Sem ela o estado social seria um sacrifício para o homem, curvado à única lei da vontade do mais forte nenhuns direitos teria que alegar o fraco em sua defeza.... mas, estarão já hoje os direitos e os deveres tão bem definidos, que o justo e o injusto sejam ideias tão positivas que não possam sofrer contestação ? (...)


O velho texto acima transcrito ipsis-verbis que remonta ao tempo das terceiras e últimas eleições do "cabralismo" faz parte do Jornal acima referido e que vem encimado com a gravura que nos serve de apresentação,

Depois da sua leitura - que achámos pródiga de significado e de intenção -  não podemos deixar de apontar que a deusa Themis ali referida foi muito hábil quando  tomou a atitude sensata de ter fugido para o Céu, enfastiada da maldade dos homens, farta dos seus vícios e crimes, servindo, assim a mitologia grega para nos dar motivos de reflexão neste nosso século em que se acabaram os mitos e existem as realidades sociais e políticas, que de sobra nos dão motivos de algum desconforto.

Com efeito, hoje, na parte que cabe às atitudes dos homens, algo se passa de semelhante quando às suas destemperanças  - individuais ou de grupo - porque em cada dia que passa não cessa a comunicação social de nos dar notícias delas, incluindo as que se prendem com o esbulho de bens da colectividade, ficando, por vezes, a impressão, neste casos, que a Justiça parece imitar a deusa Themis, não se deixando ver, como se, por uma arte mágica tivesse voado para um céu qualquer...


sábado, 13 de setembro de 2014

Exaltação da Santa Cruz - Ano A - 14 de Setembro de 2014






Naquele tempo disse Jesus a Nicodemos: "Ninguém subiu ao Céu a não ser Aquele que desceu do Céu, o Filho do Homem. Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja erguido ao alto, a fim de que todo o que nele crê tenha a vida eterna. Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna.De facto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele". (Jo 3 13-17)




Neste passo, segundo o relato de João, 
Jesus declara ser"filho do homem"
ou, seja, um ser humano parecido connosco,
mas divino pela sua natureza
por ter tido a graça de ter descido do Céu.

E que, à semelhança do que fez Moisés
com a serpente, 
Jesus seria levantado, 
para que, nesse sinal - que foi a Cruz - 
todos os que cressem fossem erguidos bem alto,
tendo como prémio a vida eterna,



Senhor Jesus:
neste dia da Exaltação da Santa Cruz,
peço-Te, que aceites toda a minha fidelidade
ao grande Sinal - quem sem o saber - 
os teus algozes ergueram nas rochas do Calvário
e, que Tu,  com a Tua Ressurreição 
ergueste até às alturas do Céu!



Nos "Lusíadas" a aversão à lisonja de Luís de Camões



Luís de Camões
Escultura de Simões de Almeida, in Revista Ocidente nº 59 de Junho 1880




A lisonja daqueles que o povo apelida de "lambe botas" é, possivelmente, dos actos menos nobres que se cometem, porque, para além de falsear a verdade das relações humanas, pretende com a atitude rasteira subverter os princípios que deviam nortear todas as criaturas.

O Padre António Vieira - esse vulto grandioso de Portugal - um dia deixou apontado nas suas "Cartas" quando a sua brilhante pena discorreu sobre este mal social, o seguinte: Em tempo em que só vale a lisonja, não podia parecer bem quem professa só a verdade e esta afirmação assenta por inteiro em Luís de Camões que morreu pobre, podendo ter tido outra sorte se tem lisonjeado os homens importantes do seu tempo e ao invés de seguir pelo respeito da lisura social dos comportamentos humanos, e por isso teve a coragem de se por do lado da virtude, da razão, da justiça e de se erguer como censor dos grandes, quando não via neles o merecimento. 

Dera-lhe Deus um talento poético incomparável.

Fadou-o com o génio, e o grande homem fez o uso mais generoso desses dons celestes, consagrando-os aos Iouvores da terra que o viu nascer, pondo unicamente o fito em granjear renome entre os seus patrícios, e desprezando altivo e sobranceiro as riquezas e as honras, que a adulação dos Príncipes e dos grandes da terra poderia granjear-lhe. 

Camões não foi cortesão, não foi adulador dos grandes, não transigiu com o vicio malsão da lisonja, como avisadamente o demonstra nas seguintes estrofes do seu Poema imorredoiro, que bem poderiam levar por título: 

Louvor somente a quem merece

Pois logo em tantos males é forçado,
Que só vosso favor me não faleça
Principalmente aqui, que sou chegado
Onde feitos diversos engrandeça:
Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado
Que não o empregue em quem o não mereça,
Nem por lisonja louve algum subido,
 Sob pena de não ser agradecido.
 

Nem creiais, Ninfas, não, que a fama desse 
A quem ao bem comum e do seu Rei 
Antepuser seu próprio interesse, 
Inimigo da divina e humana Lei.
Nenhum ambicioso, que quisesse
Subir a grandes cargos, cantarei,
Só por poder com torpes exercícios
Usar mais largamente de seus vícios;
 

Nenhum que use de seu poder bastante,
Para servir a seu desejo feio,
E que, por comprazer ao vulgo errante,
Se muda em mais figuras que Proteio.
Nem, Camenas, também cuideis que canto
Quem, com hábito honesto e grave, veio,
Por contentar ao Rei no ofício novo,
A despir e roubar o pobre povo.

In, Canto 7º estrofes 83 a 87



Estes versos são uma eloquente lição de moral politica, que oxalá estivesse de continuo presente ao espírito dos que exercem os mais altos cargos do Estado, com o nosso épico a estigmatizar os que antepõem o seu próprio interesse ao bem comum: os ambiciosos insaciáveis de poder para satisfazerem todo o género de paixões e vícios.


sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Um poema de Gomes Leal



Caricatura de Gomes Leal 
publicada pelo jornal republicano "Berro" de 23 de Fevereiro de 1896





A Visita


Ontem dormia à noite - e, eis que desperto
Sacudido d'um vento agudo e forte,
Como um homem tocado pela Morte,
Ou varrido d'um vento do deserto.

Acordei - era Deus, que de mim perto,
Me dizia: Alma céptica e sem norte!
É preciso que creias e te importe
Adorar o Deus Uno, Eterno, e Certo!

É preciso que a fé cresça em tua alma
Como no inútil saibro a verde palma,
Verme! filho da Duvida--Eis-me aqui!

Eu sou a Espada o Antigo, o Omnipotente!
Crê barro vil! - Mas eu, descortezmente,
Voltei-me do outro lado e adormeci.

Gomes Leal (António)
in 'Claridades do Sul' (1875)






O "Anjo Rebele" como lhe chamou Júlio Dantas, foi um extraordinário cultor das musas que o levaram a cantar em versos idólatras o seu antagonismo à religião cristã num tempo seguinte à publicação das "Claridades do Sul" (1875), com a redacção do Anti-Cristo (1886) transformando a sua musa em sarcasmos anti-religiosos à guisa de Guerra Junqueiro e Teófilo Braga, dentro do sentimento iconoclasta que então era apanágio da "geração de 70".

Esta acção anticlerical é revista na segunda edição da obra em 1907, onde nas "Notas Explicativas" esclarece: "A tese primacial do poema é esta: - O Homem, e por extensão o Cosmo de que ele é simples molécula, para ser perfeito, eterno, feliz, não carece de muita Ciência, carece de plena Consciência. A aquisição completa desta é que dá direito à Vida." 

Em Gomes Leal, a rondar então, os sessenta anos, a Consciência tomara forma e avisa-os dos destemperos da juventude.
Neste tempo, ultrapassara a crise religiosa deflagrada com a História de Jesus (1883), ao mesmo tempo que a primeira edição do Anti-Cristo fora o testemunho do angustioso imbróglio em que se metera o seu espírito conturbado que se havia de converter ao catolicismo em 1910, um passo em que se vê abandonado pelos seus antigos amigos da estroinice lisboeta.

A "Visita" é um poema escrito quando Gomes Leal tinha 27 anos, assinalando, por isso, a luta íntima que ele vivia consigo mesmo quanto à aceitação de Deus como condutor da sua consciência, em contraponto com um certo desvario que então se vivia, e que o leva, como ele diz, descortezmente, a não dar crédito à idealizada "visita" de Deus ao seu leito, ignorando-O.

Gomes Leal, foi um entre tantos homens do seu tempo - como hoje acontece e assim há-de continuar - a pensar em Deus como um farol para a vida e, ao qual, se tira a luz, para depois, num tempo subsequente, a consciência O voltar a trazer à existência, pela simples razão que Deus é isso mesmo: uma Consciência Universal que vive dentro da própria consciência de cada homem, que tem o livre arbítrio de o pegar ou largar.

Vale a pena ler a biografia deste homem que morreu pobre - a receber como Camões uma tença do Estado -  e que em grande parte da sua vida foi um livre-pensador, tendo morrido respeitando o cristianismo e ouvindo Missa, ainda que depois, alguma demência e o vinho sem regras lhe houvesse enegrecido os últimos dias.

Nunca o saberemos, mas se algum dia, terá recriado em sua mente uma nova "Visita" de Deus, certamente, não se virou de lado - como diz no Poema, porque a sua alma redimida já O havia abraçado.