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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Os desvios da personalidade


Muitas vezes - e aí reside um dos aspectos curiosos deste problema - o indivíduo julga, erradamente, que tem personalidade, quando, de facto, tal não acontece; outras ocasiões a sua personalidade real é, totalmente, diversa daquela que ele julga ter.

Há, no ser humano, uma tendência natural para justificar erros, vícios ou defeitos, atribuindo tudo isso à própria personalidade. É ver, por exemplo, o seguinte caso: Muitas pessoas praticam continuamente, actos de injustiça e acham.nos perfeitamente justos e certos; parece-lhes que aquela injustiça é a mais perfeita das justiças

Um dia, porém, alguém lhes paga na mesma moeda - tratando-os com injustiça - e logo acorda, então, neles, o sentido obscuro da justiça, até ali obliterado e desviado da sua directriz. Essas pessoas estavam iludidas, julgando possuir uma personalidade recta; de facto  serviam as suas paixões. Por isso mesmo, afirma Rassak que "é insistindo sobre a injustiça, que se põe em acção o instinto da justiça".

in, livro "Psicologia do Homem", de Mário Gonçalves Viana


Debruçando-nos sobre este pequeno texto, numa análise à sua leitura, o que fica líquido é uma coisa muito simples: ter personalidade não é, de forma alguma, estar sempre em desacordo, como se se fizesse gáudio de se possuir um complexo de rebeldia contumaz, quanto ter personalidade é agir, imprimindo àquilo que se faz - mesmo sob a ordens emanadas dos seus superiores hierárquicos - um sentimento de ordem, deixando ficar na acção que se faz o sinal da sua presença.

Diz, por isso Mário Gonçalves Viana que a personalidade é uma síntese da pessoa humana, pois modo como se actua é que se pratica a rectidão e a clareza dos sentimentos que se põem em confronto neste joga da vida, pelo que devemos estar precavidos com os que se vangloriam da sua personalidade, porque é nela, muitas vezes que escondem os seus caprichos, paixões e vaidades humanas.

E isto é valido para qualquer acção do homem na sua vivência social em qualquer campo da sua actividade social ou política, não faltando hodiernamente, neste último campo, motivos de quem julga ser justo aquilo que o senso comum vê como injusto, quando, afinal, a rectidão morava, apenas, dentro das suas paixões que viam estar ordenado, aquilo que era uma desordem

Estou a referir-me ao que se passou nas últimas eleições legislativas, que conduziram ao poder quem tudo tendo feito para as ganhar, as perdeu, pelo que o pensamento de Rassak é insistindo na injustiça, que se põe em acção o instinto da justiça me leva a manter viva a esperança, que, um dia , a sociedade farta de ver injustiças, acordará para por a render o instinto da justiça, e pô-la no lugar de onde nunca deve sair.

domingo, 29 de novembro de 2015

O Direito e as Leis


O termo direito provém da palavra latina directum, que significa reto, no sentido rectidão, o certo, o correto, o mais adequado. A definição nominal etimológica de Direito é “qualidade daquilo que é regra”. Da antiguidade chega a famosa e sintética definição de Celso: “Direito é a arte do bom e do equitativo”. Na Idade Média se tem a definição concebida por Dante Alighieri: “Direito é a proporção real e pessoal de homem para homem que, conservada, conserva a sociedade e que, destruída, a destrói”.
http://www.infoescola.com/
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Fica-me das várias designações do Direito, a última das acima expressas, porquanto se a proporção real que ele sustenta, se conservada, conserva a sociedade e que, destruída, a destrói.

E é, meditando no que aconteceu recentemente, pelos deputados da maioria ainda mal tinham aquecido o lugar, abrogando leis só pelo facto de contrariar o Governo anterior, que penso que o Direito foi maltratado pela imposição da "ditadura da maioria" de um modo soez, obtuso e fora de qualquer conceito de conservar a sociedade, porque a destrói.

O Direito, efectivamente, não pode mudar e bem assim a dignidade do ser humano consoante a vontade dos que fazem as leis, sobretudo como as que assistimos, porque sempre que as leis não respeitam o Direito, tais leis só existem pela vontade de uns tantos, contra a vontade do colectivo humano que forma a Nação, pelo que não é admissível a existência de vindictas políticas, o que prova que moram na nóvel Assembleia da República de Portugal, rancores indisfarçaveis que não honram o Direito, mas apenas, vontades pessoais ou de grupo.

E o que é profundamente errado é que as leis aprovadas por abrogação das existentes são uma machadada social que põem em causa a dignidade da família humana, a célula mais importante da ordem social.

Sinceramente, não aceito que o PS tenha estado a favor, o que prova que este partido está refém dos azedumes do BE e do PCP, para se manter à tona de água... mas começou muito mal.

sábado, 28 de novembro de 2015

Sobre um pensamento de Mahatma Gandhi

Pintura de Isabel Guerra

Viva como se fosse morrer amanhã. Aprenda como se fosse viver para sempre. 
(Mahatma Gandhi)
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De um ser humano de excelência não se podia esperar outro pensamento, que não estas duas pequenas centelhas de génio em que o homem é colocado, em primeiro lugar, perante a sua finitude temporal, mas tendo em cada hora - ainda que fosse a do último dia de vida - a sabedoria de continuar a aprender, como se a vida fosse eterna.

Há nisto muito idealismo, dir-se-á.

Mas há, sobretudo, a realidade de alguém que viveu assim e não quis desperdiçar a oportunidade de nos deixar - como herança - este modo como cada homem deve viver, acima de qualquer doutrina, mas fazendo da sua impregnada no humano a doutrina de quem sabe, que é deste modo que Deus quer que vivamos.

Eu gostava de me enganar...


Gravura do Jornal já extinto "O Zé" 
de 1 de Dezembro de 1912


Eu gostava de me enganar porque gosto de ti, povo de Portugal!

Mas, repara, que vais ter um peso a mais, se contares com o alargamento do Conselho de Ministros - 17 ao todo - um dos maiores Governos de sempre num País endividado, pelo que - se contarmos com tudo aquilo de despesa que vão acarretar as secretarias de Estado - e tudo o mais - isto só basta para te acautelares com mais um peso que tens de suportar.

Merecias outro tratamento, povo de Portugal!

Merecias, pelo que tens sofrido, como aconteceu nestes últimos quatro anos em que foste um digo parceiro social sem necessitares de ter tido reuniões como Poder instituído, porque a tua sabedoria falou mais alto a ponto de teres ajudado a levar "a Carta a Garcia".

Mas este peso que te puseram a mais - podes crer - é um peso a menos na credibilidade de quem, por "portas.travessas" se atreveu, para poder subir a escada do poder... aquela, precisamente, que a velha gravura representa para agora fazer, o que era impensável: colocar em cima de ti mais uma carga!

Não merecias isto, eu sei!
Mas que queres?
O mundo está cheio de coisas mal feitas!

A mulher "o mais sublime dos ideais"!


Pintura de Isabel Guera

O coração da mulher aperfeiçoa-se porque dá; o coração do homem desliga-se porque recebe. 
                                 (Vitor Hugo)
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Quer isto dizer - interpretando o pensamento desse homem de génio que foi Victor Hugo - que a mulher, sendo como ele disse "o mais sublime dos ideais" na sua poesia a que chamou O HOMEM E A MULHER, esta sublime criatura é um modo contínuo de aperfeiçoamento humano - e, é-o, se olharmos as nossas mães - enquanto o homem sendo só "cérebro" na poesia já aludida, por ser assim, vive desligado da humanidade que o devia ligar, sobretudo à sua companheira do lar, quando exige dela, apenas o receber.

Isto pode ser duro, dito desta maneira... mas é verdade, pelo que, bom seria para ele dar mais e receber menos, até porque, em muitos casos, o homem recebe o que não merece receber, por dar pouco de si mesmo, como se o seu cérebro estivesse formatado para ser , apenas, uma máquina de calcular somas.

Sobre um pensamento de Che Guevara


Pintura de Isabel Guerra

Os poderosos podem matar uma, duas ou até três rosas, mas jamais poderão deter a primavera. 
                                            (Che Guevara)
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Este é o lenitivo dos homens que não tendo poder, sabem de ciência certa que  o futuro se encarregará de lhe destruir as "rosas" colhidas num certo tempo, por terem sido colhidas fora da estação devida e que, no tempo certo hão-de florir as rosas verdadeiras...

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Mas que grande "amachucadela"!


Gravura do jornal "O Zé" 
de 5 de Março de 1912

Tendo-se em conta a actual formação do Governo socialista.

Em 1912 - ano da gravura -  as "amachucadelas" eram a "ordem do dia"... mas hoje, depois de tanto progresso feito, não se entendem... e por mais que me digam e andem por aí uns certos senhores a dizer que tudo foi feito na legitimidade, eu penso que não... até, porque aquilo a que chamam "acordo" são papéis de ideias dispersas e assinados cada um de per si - e não um a reflectir o pensamento de todos - e firmados quase às escondidas... pelo menos do povo que viu entrar os outorgantes - cada um de per si - para de seguida levar com a "porta na cara"...

Foi o que o povo pode ver!
Mas que grande "amachucadela"!!!

Este povo de onde venho...




Provenho de uma gente
E de um povo
Que para seguir em frente
Do velho moldou o novo...

Provenho do culto antigo
Que entre as alvas penedias
Fazia  crescer o trigo
E até os próprios dias...
Provenho da raça dura
Das gentes da Serra, sadias,
Que matavam  a’margura
Com as poucas alegrias!

Provenho das suas raízes...
Daquelas que iam ao fundo
Beber a força da vida.
Provenho daí, dos matizes
De uma vivência sofrida
Na terra dura de antanho...
Provenho daí, desse mundo!

É desse povo que venho
Que da força que guardou
Fez com amor o presente
Sem matar o que passou!

E é esta viva lembrança
Terna, firme e comovida
Que trago desde criança
E levo ao limite da vida!




Este povo de onde venho, durante, pelo menos cinco séculos arroteou as terras que haviam e ainda há - mas incultas - no fundo do vale e, com a força que foi necessária para agricultar o sustento, aplanou as encostas dos montes, criando aprazíveis socalcos, para os quais num obra rudimentar de engenharia agrícola, conduziu através de levadas, pela lei da gravidade, as águas da ribeira que iam buscar a centenas de metros em cotas mais elevadas, deixando-as depois correr para ao nível do povoado, para ali irrigarem a amplitude farta das terras da várzea.

Este povo de onde venho, iletrado mas sábio, ensinou-me de como é possível viver feliz entre montes a ouvir na Primavera o chilrear dos pássaros e no Inverno o uivo dos ventos.

Este povo de onde venho - onde nunca se constou haver um ladrão ou um assassino - ensinou-me que a honradez é a primeira das virtudes seculares e que todas as outras se honrarem a primeira, permitam que se viva feliz - e até poder sonhar como novos mundos - levando para eles o arreganho bebido nos primeiros ares que chegaram purificados pelo atravessamento das agulhas dos pinheiros.

Este povo de onde venho que pastoreou rebanhos de gado, que teve carros de bois, que se descobria ao toque das Trindades, que cantava "modas" singelas e que aos Domingos, depois de cumpridos os deveres de honrar o Senhor Deus, se juntava ao fim da tardes num dos terreiros para dançar ao toque da "gaita de beiços" ou da concertina, já não existe, mas é destas lembranças que continua a viver, porque é desse influxo - como se fosse um mistério - que os actuais descendentes se irmanam em sentimentos que só a força dos avoengos explicam no tempo que passa.

Este povo de onde venho, não o quero esquecer, e é lá, naquele pequeno espaço ali plasmado entre montes que ainda hoje - já velho - costumo ir para lembrar coisas que passaram, para com elas revigorar, não só lembranças antigas mas para me sentir uma raiz ali fundada e que nunca se deixou transplantar, porque foi no chão sadio da minha casa da aldeia - hoje remodelada - que eu sinto que a árvore humana que sou continua a viver pela seiva que a raiz lhe continua a dar.

Este povo de onde venho não é só uma saudade...
É uma Oração que ficou!

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A Constituição - como está - é a Lei Fundamental de Portugal?



No dia da tomada de posse do XXI Governo Constitucional de Portugal

A actual Constituição da República Portuguesa, chamada enfaticamente pelos sábios que a escreveram e pelos que a têm revisto, como sendo a nossa Lei Fundamental - devia ser assim - mas não é.

E não é - na minha opinião - porque:
  • Um texto que permite que seja eleito Primeiro-Ministro um derrotado em eleições para o Parlamento de Portugal não merece o meu respeito, mas sim uma crítica acerba sem rodeios e sem qualquer contemplação.
  • Lamento que tal tenha sido possível, pelo que se aquela é a Lei Fundamental, ela está profundamente errada, ao permitir que vá para a oposição quem ganhou as eleições e suba ao poder quem as perdeu, pelo que tem de ser revista quanto antes, a menos que queiramos continuar a viver no atoleiro da política evasiva, sem conteúdo moral e cívico que nos pode conduzir a novas matreirices que de nada abona quem as pratica e só afunda a política da verdade.
Tenho pena de Portugal!
  • Só peço um favor: que ninguém mais me diga que uma Constituição que permitiu este descaminho da seriedade política é a Lei Fundamental de Portugal.
E, agora - para minha defesa mental, moral e cívica - vou remeter-se ao silêncio.

A vitória na "secretaria" de António Costa



http://economico.sapo.pt/de 25 de Novembro de 2015
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O "Económico" diz a grande verdade.

António Costa vai ser empossado Primeiro-Ministro amanhã e "nunca poderá dizer na Assembleia que foi o povo que o elegeu" (...) pelo que, este facto indesmentível há-de ter um peso na sua consciência política - razão porque o seu poder "tem pés de barro" - e, por isso, tem de ser ele mesmo a marcar eleições para se legitimar, porquanto esta vitória na "secretaria" não lhe dá o conforto político que qualquer Governo deve ter.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Os ourives da palavra: Sobre a Hipocrisia


Padre Manuel Bernardes

HIPOCRISIA

É hipócrita o mercador que dê esmolas em público e leva usuras em oculto; é hipócrita a viúva que sai mui sisuda no gesto e no hábito, e dentro em casa vive como ela quer e Deus não quer; é hipócrita o sacerdote que, sendo pontual e miúdo nos ritos e cerimônias, é devasso nos costumes; é hipócrita o julgador que onde falta a esperança do interesse é rígido observador do direito; é hipócrita o prelado que diz que faz o seu ofício por zelo da honra e glória de Deus, não sendo senão pela honra e glória própria. 

Hipócrita é o que não emenda em si o que repreende nos outros; o que cala como humilde, não calando senão como ignorante; o que dá como liberal, não dando senão como avarento solicitador das suas pretensões; o que jejua como abstinente, não se abstendo senão como miserável.

Assim é. Porém não cuide alguém que, à conta deste desengano, lhe é lícito contrair a doutrina a pessoas ou ações determinadas, dizendo ou julgando que fulano é hipócrita ou esta esmola deu por vanglória. Estes juízos são reservados a quem vê os corações que é só Deus, onde podemos chegar sem pecado e com prudência. É não nos fiar levemente do que aparece e onde podemos assentar com singeleza e sem prejuízo; é entender que todos são bons, conforme a graça de Deus se lhes comunicar.

in, Nova Floresta


Os ourives da palavra: "Segui em frente. A vida continua"




REFLEXÃO DE SANTO AGOSTINHO SOBRE A MORTE.

SIGUI EM FRENTE. A VIDA CONTINUA.

A morte não é nada.

É somente uma passagem de uma dimensão para outra.

Eu somente passei para o outro lado do caminho. Eu estou, agora noutra vida; não atormenteis essa minha passagem com tristeza e lágrimas.

Eu tenho que ter muita paz para purificar minha alma e andar tranquilo pelos jardins da dimensão em que me encontro.

Vós sois vós. Estais vivos. 
A vida não pode parar porque um membro da família partiu. O que era para vós, continuarei sendo.

Se dei bons exemplos, sigam-nos, se fui bom imitem-me, se deixei em vós saudades, quando se lembrarem de mim façam uma oração, peçam meu descanso, meu repouso e que meu encontro com Deus seja para minha glória.

Dêem-me o nome que sempre me deram, falem comigo como sempre fizeram.
As vossas lágrimas fazem-me um grande mal, cada um de nós tem seu dia marcado, o meu veio agora. Pensem simplesmente que nos encontraremos mais cedo ou mais tarde.

Vós continuais vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.

Que o meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem diferença por eu não estar presente.
Não saí da vossa vida porque quis, mas sim porque Deus determinou; aceitem para que eu não lamente, estar sendo motivo de sofrimento, pois jamais os magoaria por minha vontade.

Não tenham revoltas, não lamentem, apenas tentem compreender. 
Se não se lembrarem de mim com alegria, vou ficar no meio do caminho, sem poder ir para onde tenho que ir, sabendo que nada posso fazer para voltar para vós.

Não quero tristeza, não quero lágrimas. Quero orações.

A vida significa tudo o que ela sempre significou.
O fio não foi cortado.

Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do caminho...

Vós que ficastes, sigui em frente!

A vida continua linda e bela como sempre foi!


Santo Agostinho

domingo, 22 de novembro de 2015

Assim, não!



http://www.jornaldenegocios.pt/ 
20 de Novembro de 2015
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Segundo a notícia do "Jornal de Negócios" ao contrário do que foi anunciado em plena campanha eleitoral de que a sobretaxa do IRS poderia ser devolvida em 201 até 35% e, agora, se admitir poder não haver qualquer devolução, este desenlace não é admissível e cheira a manipulação.

Pode Passos Coelho - como diz a notícia - dizer que não houve... só que ninguém acredita...

Assim, não!

S. Teodoro



Com o nome de “Sínodo do adultério”, entrou para a História da Igreja uma assembleia de bispos que no século IX quis aprovar a prática do segundo casamento após o repúdio da esposa legítima.

São Teodoro Studita (759-826) foi um dos que mais vigorosamente se lhe opuseram, sendo por isso perseguido, preso e exilado três vezes.

Tudo começou em janeiro de 795, quando o imperador romano do Oriente (basileus) Constantino VI (771-797) encerrou sua esposa Maria de Armenia em um convento e iniciou uma união ilícita com Teodota, dama de honra de sua mãe Irene.

Poucos meses depois, o imperador fez proclamar Teodota “augusta”, mas não tendo conseguido convencer o patriarca Tarasius (730-806) a celebrar o novo casamento, encontrou finalmente um ministro complacente no hegúmeno José, abade do mosteiro de Kathara, na ilha de Itaca, que abençoou oficialmente a união adúltera.

Nascido em Constantinopla no ano de 759, São Teodoro era então monge no mosteiro de Sakkudion, na Bitinia, cujo abade era seu tio Platão, também venerado como santo.

O injusto divórcio produziu – informa ele numa carta – uma profunda comoção em todo o povo cristão: concussus est mundus (... Ep II, n 181, PG, 99, coll 1559-1560CD), o que o levou a protestar energicamente com São Platão em nome da indissolubilidade do vínculo.

O imperador deve ser considerado adúltero – escreveu – e, portanto, o hegúmeno José deve ser considerado gravemente culposo, por ter abençoado adúlteros e os ter admitido à Eucaristia. “Coroando o adultério” o hegúmeno José se opôs ao ensinamento de Cristo e violou a Lei de Deus, asseverou (Ep. I, 32, PG 99, coll. 1015 / 1061C).

Para Teodoro, também o patriarca Tarasius deveria ser condenado, pois embora não tivesse endossado o novo casamento, havia se mostrado tolerante, evitando excomungar o imperador e punir o padre José.

Constantino VI e sua mãe Irene. Moeda de ouro, anos 780-790.
Constantino VI e sua mãe Irene. Moeda de ouro, anos 780-790.
Essa atitude era típica de um setor da Igreja do Oriente, que proclamava a indissolubilidade do matrimônio, mas na prática mostrava uma certa submissão em relação ao poder imperial, semeando confusão nas pessoas e provocando o protesto dos católicos mais fervorosos.

Baseando-se nos escritos de São Basílio, Teodoro alegou o direito dos súditos de denunciar os erros do próprio superior (Epist. I, n. 5, PG, 99, coll. 923-924, 925-926D), e os  monges de Sakkudion romperam a comunhão com o patriarca, por sua cumplicidade com o divórcio do imperador.

Estourou assim a chamada “questão moicheiana” (de moicheia = adultério), que colocou Teodoro em conflito não só com o governo imperial, mas com os próprios patriarcas de Constantinopla.

Este é um episódio pouco conhecido, sobre o qual o Prof. Dante Gemmiti levantou o véu alguns anos atrás, numa cuidadosa reconstrução histórica baseada em fontes gregas e latinas (Teodoro Studite e la questioni moicheiana, LER, Marigliano 1993), confirmando como no primeiro milênio a disciplina eclesiástica da Igreja do Oriente ainda respeitava o princípio da indissolubilidade do casamento.

Em setembro de 796, Platão e Teodoro foram presos com certo número de monges do Sakkudion, internados e depois exilados a Tessalônica, aonde chegaram em 25 de março 797.

Em Constantinopla, no entanto, o povo julgava Constantino um pecador que continuava a dar escândalo público e, alentado pelo exemplo de Platão e Teodoro, aumentava sua oposição a cada dia.

O exílio durou pouco porque, na sequência de uma conspiração de palácio, o jovem Constantino foi cegado pela mãe, que assumiu sozinha o governo do império. Irene chamou de volta os exilados, que mudaram para o mosteiro urbano de Studios, juntamente com a maioria da comunidade de monges de Sakkudion.

Teodoro e Platão se reconciliaram com o patriarca Tarasio que, após a chegada de Irene ao poder, havia condenado publicamente Constantino e o hegúmeno José pelo divórcio imperial.

O reinado de Irene foi breve. Em 31 de outubro de 802, um de seus ministros, Nicéforo, depois de uma revolta palaciana, proclamou-se imperador. Pouco depois, quando morreu Tarasio, o novo basileus fez eleger Patriarca de Constantinopla um alto oficial imperial também chamado Nicéforo (758-828).

Em um sínodo convocado e presidido por ele, em meados do ano 806, Nicéforo reintegrou em seu ofício o hegúmeno José, deposto por Tarasio.

Teodoro, que se tornara chefe da comunidade monástica de Studios após Platão se retirar para a vida de recluso, protestou energicamente contra a reabilitação do hegúmeno José, e quando este último recomeçou a exercer o ministério sacerdotal, rompeu a comunhão com o novo patriarca.

A reação não tardou. Studios foi ocupado militarmente, Platão, Teodoro e seu irmão José, Arcebispo de Tessalônica, foram presos, condenados e exilados.

Em 808 o imperador convocou outro sínodo, que se reuniu em janeiro de 809. Foi essa assembléia sinodal que, em uma carta de 809 ao monge Arsênio, Teodoro definiu como “moechosynodus”, ou seja, o “Sínodo do adultério” (Ep. I, . 38, PG 99, coll. 1041-1042c).

O Sínodo dos Bispos reconheceu a legitimidade do segundo casamento de Constantino, confirmou a reabilitação do hegúmeno José e anatematizou Teodoro, Platão e seu irmão José, que foi deposto de seu cargo de Arcebispo de Tessalônica.

Para justificar o divórcio do imperador, o Sínodo utilizava o princípio da “economia dos santos” (tolerância na práxis). Mas para Teodoro nenhum motivo podia justificar a transgressão de uma lei divina.

Baseado nos ensinamentos de São Basílio, de São Gregório Nazianzeno e de São João Crisóstomo, ele declarou privada de fundamento bíblico a disciplina da “economia dos santos”, segundo a qual em algumas circunstâncias se podia fazer o mal em nome da tolerância para um mal menor – como neste caso do casamento adúltero do imperador.

Poucos anos depois, na guerra contra os búlgaros (25 de Julho 811), morreu o imperador Nicéforo, subindo ao trono outro funcionário imperial, Miguel I.

O novo basileus chamou Teodoro de volta do exílio, tornando-o um de seus mais escutados conselheiros. Mas a paz durou pouco.

No verão de 813, os búlgaros infligiram uma gravíssima derrota a Miguel I em Adrianópolis, e o exército proclamou imperador o chefe dos anatólios, Leão V, conhecido como “o Armênio” (775-820).

Quando Leão depôs o patriarca Nicéforo e condenou o culto às imagens, Teodoro assumiu a liderança da resistência contra a iconoclastia.

Teodoro de fato se destacou na História da Igreja não somente como adversário do “Sínodo do adultério”, mas também como um dos grandes defensores das imagens sagradas durante a segunda fase da crise iconoclasta.

Assim, no Domingo de Ramos de 815, foi possível assistir a uma procissão dos mil monges de Studios dentro de seu mosteiro, mas bem visíveis, portando os ícones sagrados e cantando solenes aclamações em sua honra.

A procissão, contudo, provocou a reação da polícia. Entre 815 e 821, Teodoro foi açoitado, preso e exilado em vários lugares da Ásia Menor.

Finalmente pôde voltar a Constantinopla, mas não ao seu próprio mosteiro. Então ele se estabeleceu com seus monges no outro lado do Bósforo, em Prinkipo, onde morreu em 11 de novembro 826.

O “non licet” (Mt 14, 3-11) que São João Batista opôs ao tetrarca Herodes pelo seu adultério, soou várias vezes na História da Igreja.

São Teodoro Studita, um simples religioso que ousou desafiar o poder imperial e as hierarquias eclesiásticas da época, pode ser considerado um dos patronos celestes daqueles que, ainda hoje, em face das ameaças de mudança da prática católica sobre o casamento, têm a coragem de repetir um inflexível non licet.


(Fonte: Corrispondenza Romana, 26 de agosto 2015)

Os ourives da palavra - "Sinais dos Tempos"



Da Carta Encíclica "Pacem in Terris" 
- A paz de todos os povos na base da Verdade, Justiça, Caridade e Liberdade -  
do Papa S. João XXIII
11 de Abril de 1963

Sinais dos Tempos

39. Três fenômenos caracterizam a nossa época. Primeiro, a gradual ascensão econômico-social das classes trabalhadoras.

40. Nas primeiras fases do seu movimento de ascensão, os trabalhadores concentravam sua acção na reivindicação de seus direitos, especialmente de natureza económico-social, avançaram em seguida os trabalhadores às reivindicações políticas e, malmente, se empenharam na conquista de bens culturais e morais. Hoje, em toda parte, os trabalhadores exigem ardorosamente não serem tratados à maneira de meros objectos, sem entendimento nem liberdade, à mercê do arbítrio alheio, mas como pessoas, em todos os sectores da vida social, tanto no económico-social como no da política e da cultura.

41. Em segundo lugar, o facto por demais conhecido, isto é, o ingresso da mulher na vida pública: mais acentuado talvez em povos de civilização cristã; mais tardio, mas já em escala considerável, em povos de outras tradições e cultura. Torna-se a mulher cada vez mais conscia da própria dignidade humana, não sofre mais ser tratada como um objecto ou um instrumento, reivindica direitos e deveres consentâneos com sua dignidade de pessoa, tanto na vida familiar como na vida social.

42. Notamos finalmente que, em nossos dias, evoluiu a sociedade humana para um padrão social e político completamente novo. Uma vez que todos os povos já proclamaram ou estão para proclamar a sua independência, acontecerá dentro em breve que já não existirão povos dominadores e povos dominados.

43. As pessoas de qualquer parte do mundo são hoje cidadãos de um Estado autónomo ou estão para o ser. Hoje comunidade nenhuma de nenhuma raça quer estar sujeita ao domínio de outrem. Porquanto, em nosso tempo, estão superadas seculares opiniões que admitiam classes inferiores de homens e classes superiores, derivadas de situação económico-social, sexo ou posição política.

44. Ao invés, universalmente prevalece hoje a opinião de que todos os seres humanos são iguais entre si por dignidade de natureza. As discriminações raciais não encontram nenhuma justificação, pelo menos no plano doutrinal. E isto é de um alcance e importância imensa para a estruturação do convívio humano segundo os princípios que acima recordamos. Pois, quando numa pessoa surge a consciência dos próprios direitos, nela nascerá forçosamente a consciência do dever: no titular de direitos, o dever de reclamar esses direitos, como expressão de sua dignidade, nos demais, o dever de reconhecer e respeitar tais direitos.

45. E quando as relações de convivência se colocam em termos de direito e dever, os homens abrem-se ao mundo dos valores culturais e espirituais, quais os de verdade, justiça, caridade, liberdade, tornando-se cônscios de pertencerem àquele mundo. Ademais são levados por essa estrada a conhecer melhor o verdadeiro Deus transcendente e pessoal e a colocar então as relações entre eles e Deus como fundamento de sua vida: da vida que vivem no próprio íntimo e da vida em relação com os outros homens. 

Duas verdades!


Um pensamento que parece mais que evidente 
de Almada Negriros
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Miguel Torga in, "Diário 1948"
Humanidade às Cegas

Tanto jornal, tanta rádio, tanta agência de informações, e nunca a humanidade viveu tão às cegas. Cada hora que passa é um enigma camuflado por mil explicações. A verdade, agora, é uma espécie de sombra da mentira. E como qualquer de nós procura quase sempre apenas o concreto, cada coisa que toca deixa-lhe nas mãos o simples negativo da sua realidade.
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Lê-se Almada Negreiros e Miguel Torga e a estranha sensação que fica é que, se como diz o primeiro dos autores citados, no tempo do seu nascimento já tudo estava escrito - tim, tim por tim, tim - de como se podia salvar a Humanidade, Miguel Torga no seu positivismo transmontano vem dizer que apesar de tudo estar escrito, nunca vivemos tão às cegas, pelo que a verdade de Almada Negreiros parece entroncar-se no que diz Miguel Torga, porquanto a verdade do primeiro é no segundo uma espécie de sombra de mentira, como se fosse, também, uma verdade mas camuflada por mil explicações.

Em que ficamos, afinal?

Penso que na verdade que Almada Negreiros deixou: Salvar a Humanidade, porque ela continua a debater-se entre o luminosos e o tenebroso, o positivo e o negativo, o bem e o mal, o ser e o não ser, ou seja, somos parecidos em muitas das nossas acções com o antigo deus romano - Jano - que tinha duas caras, uma a olhar em frente e a outra a olhar para trás, e em vez de, existir em cada um de nós a virtude de nos vermos a caminhar em cima da Verdade, continuamos a usar as duas faces de Jano e, por isso, ao usarmos o negativo da realidade o que deixamos por fazer é Salvação da Humanidade.

Podíamos, sem corrermos riscos, ter a atitude de Jano - e olhar em ambas as direcções até se chama prudência - mas devíamos para nos salvarmos do atoleiro em que estamos a cair tirar a bissectriz dos dois olhares e fazer dela o caminho mais prudente.



A lição bifronte do velho deus romano, efectivamente bem podia ser a sábia prudência da Humanidade para ser usada - em nome de todos nós - o pudor intelectual da consciência inibitória que devia seguir o caminho qualificador dos seres con-viventes que somos, pelo que é de toda a justiça entender-se o que diz Miguel Torga de apesar de tanta informação, vivermos às cegas - porque vinda de tantos lados se torna difícil fazer a "bissectriz"-  e, em consequência, termos a certeza que estando tudo escrito - quando nascemos - falta-nos saber como Salvar a Humanidade e dar toda a razão a Almada Negreiros.

sábado, 21 de novembro de 2015

Os ourives da palavra: Saudade

De um diaporama recebido

Nota: reflexão de Camilo Castelo Branco a uma poesia - A Minha Crença - 
do seu amigo e confidente de Viana do Castelo, José Barbosa e Silva.


A saudade!... Que sentimento e que palavra! Que doçura e que fel exprime! Que suave melancolia e que pungente desesperação revela! Não haverá, talvez, na língua humana palavra que melhor exprima as últimas gotas de seiva que nutrem o coração arado pelos desenganos e descrida da esperança em venturas deste desterro! Nem para o desgraçado há outra seiva que lhe faça abrolhar no coração a cândida flor da fé, pálido reflexo do formoso jardim de fores esperançosas, esfolhadas pelos ventos tempestuosos das paixões.

É então a saudade sublime de mágoa; e, se a sua doce irmã, a carinhosa esperança, não enxugasse as lágrimas do homem, a vida seria um lento agonizar, e a morte a consolação do ateu.

Há, porém, uma saudade, estremecida filha do céu, e embalada connosco no nosso berço de infância. Brincámos com ela no colo de nossas mães, ouvimos-lhe melodias que os anjos lhe emprestaram, beijámo-la em nossos sonhos, tememo-la em nossos temores infantis, viemos abraçados com ela até às portas do mundo, e ai... perdemo-la, chamamo-la em vão e lamentamo-la para sempre perdida.

Essa saudade é a crença religiosa que nos desceu ao coração filtrada pelos lábios maternaIs. Dessa crença o que ficou foi a cruel certeza de estar quebrado o santo prisma por onde a víamos; o que se perdeu foi o ideal da singela fé com que nossa mãe nos dourava as santas aspirações a um mundo, que não era, que não podia ser este.

E o coração do mancebo, que se sentou fatigado do mundo no longo caminho da sua peregrinação, tem instantes de enlevo que o transportam ao túmulo de sua mãe, pedindo-lhe palavras de conforto, hálito de vida para a fé em Cristo que sente morrer-lhe no espírito.
Os lábios do cadáver respondem-lhe pela voz da saudade; e o mancebo a quem Deus confiara uma lira tão cedo enlutada pelo véu do desalento, faz que o seu canto gema, faz que o seu estro se alevante do pó da terra e procure no céu o espírito de sua mãe.

Foi assim que eu compreendi a dorida poesia do meu amigo José Barbosa e Silva.

É o talento protestando contra a ignorância audaciosa dos que passam no mundo, vermes dum dia escarnecendo cinicamente a fé e amor dos que adoram a Cruz, farol divino da morada imortal dos justos.
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Do cap. XIII - "Bibliografias" do Livro "Horas de Paz" , 1º volume

Os ourives da palavra: Uma imagem de Jesus

De  um diaporama recebido 

Camilo Castelo Branco


À borda do lago de Tiberíades, um homem vestido com a túnica do povo, sentado nas ribas da montanha, alonga a vista pelas orlas do mar da Galeleia, e contempla as ondas espessas das multidões, que se lhe avizinham bradando clamores de vassalagem, como se a montanha fora um trono, e o homem do povo, o rei das multidões.

Este homem, saudado pelas turbas, fugira ao alarido que reclamava a coroa de David para aquela fronte real, onde a mão do Senhor escrevera os gloriosos destinos da Judeia.

Entre os que lhe apregoavam a majestade, estavam uns que juravam a grandeza daquele homem pela formosa luz, que a sua vontade omnipotente lhes abrira os olhos, cerrados desde o ventre materno. Outros, há pouco levantados do estrado da agonia, juravam a presença do Messias naquele homem, que os mandara erguer e caminhar, como se a sua voz tivesse o império da que se ouvira entre os relâmpagos do Sinai.

O filho da viúva de Nahim, invocando as regiões da morte pela voz daquele homem, jurava em nome de Deus, a divindade do que fora sentar-se no cimo da montanha, para dominar o universo como rei e autor da criação. As irmãs de Lázaro, rodeadas de povo, contavam a ressurreição do seu irmão; e Maria de Magdala rompia, veemente de amor, por entre as turbas, para derramar n ovas lágrimas aos pés daquele homem de Nazareth (...)

Do cap. VI - As Sete Palavras de N.S. Jesus Cristo" do Livro "Horas de Paz" , 1º volume