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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A devassa não passou!

http://www.sapo.pt/ de 30 de Setembro de 2016
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A devassa não passou!

E não passou porque o governo de António Costa - empurrado - foi para além das disposições europeias, querendo ter acesso no seu afã devassador às contas bancárias dos cidadãos portugueses acima de 50 mil euros... como se isto fosse uma fortuna!

A devassa não passou!

E não passou porque quando se passa das marcas e se perde o sentido - ou seja, a vergonha como António Costa foi chamado a perder - algo não está bem no senso comum e este governo, penso, tem de meter a viola no saco e pedir desculpa aos portugueses, ou então, tem de pedir desculpa a si mesmo e emendar-se, porque o veto do Presidente da República é uma bofetada sem mão que o governo estava a pedir pela sua teimosia em afrontar aquele que tem o poder por si mesmo conquistado - e com brilhantismo - e não como fez António Costa que o "conquistou" em cima das sombras de uma noite política que para bem da Democracia portuguesa nunca devia ter existido.

Povo que lavas no rio...



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Esta poesia de Pedro Homem de Melo que ele intitulou - POVO - é a imagem perfeita de um homem que amou o povo de Portugal no seu folclore genuíno de que ele foi um grande estudioso e divulgador, tendo sido por amor a essa causa que foi um criador e patrocinador de vários ranchos folclóricos minhotos, tendo-lhe cabido a honra de ter sido o feliz autor e apresentador de um programa na então Rádio Televisão Portuguesa (RTP) no decorrer dos anos 1960 a 70, onde deixou a sua marca, ainda hoje lembrada pelos telespectadores daquele período temporal.

Fiel ao seu lar paterno, nunca desmereceu na sua índole os ideais bebidos na infância que o acompanharam em todo o percurso da vida, finda em 1984, tendo deixado nos seus poemas muito do lirismo que foi buscar ao povo que o estimava, sentindo-se estimado por ele, tendo deixado nas suas poesias esse reflexo.

A sua obra, por este facto, não devia merecer o esquecimento a que foi votada por uma elite da cultura portuguesa que só vê génios nos que alinham pela sua cartilha, como se o facto de ter pertencido como membro aos Júris dos prémios do Secretariado da Propaganda Nacional e subdelegado do Procurador Geral da República, tivessem sido ferretes que não podiam ser entendidos à luz dos novos tempos, sem cuidar que ele foi, para além da advocacia que exerceu, professor de português nas Escolas Técnicas, hoje abolidas, porque os novos tempos só querem formar licenciados...

Esquece-se, assim, culturalmente, este exímio Poeta portuense que fez de Afife a sua terra de eleição, colaborador de revistas já extintas como a "Presença" e "Altura" e do semanário "Mundo Literário", por onde espraiou a sua arte poética de que se deixam aqui, três breves apontamentos.

 Pátria

 A Pátria não é apenas
 Um corpo de bailador.
 Não são duas mãos morenas
 Nem mesmo um beijo de amor
 Mais do que os livros que lemos,
 Mais que os amigos que temos,
 Mais até que a mocidade,
 A Pátria, realidade,
 Vive em nós, porque vivemos.

 in "Eu Hei-de Voltar um Dia"


 Cisne

 Amei-te? Sim. Doidamente!
 Amei-te com esse amor
 Que traz vida e foi doente...

 À beira de ti, as horas
 Não eram horas: paravam.
 E, longe de ti, o tempo
 Era tempo, infelizmente...

 Ai! esse amor que traz vida,
 Cor, saúde... e foi doente!

 Porém, voltavas e, então,
 Os cardos davam camélias,
 Os alecrins, açucenas,
 As aves, brancos lilases,
 E as ruas, todas morenas,
 Eram tapetes de flores
 Onde havia musgo, apenas...

 E, enquanto subia a Lua,
 Nas asas do vento brando,
 O meu sangue ia passando
 Da minha mão para a tua!

 Por que te amei?
- Ninguém sabe                        
 A causa daquele amor
 Que traz vida e foi doente.

 Talvez viesse da terra,
 Quando a terra lembra a carne.
 Talvez viesse da carne
 Quando a carne lembra a alma!
 Talvez viesse da noite
 Quando a noite lembra o dia.

— Talvez viesse de mim.
 E da minha poesia...

in "Adeus"


Fado

Porque é que Adeus me disseste
Ontem e não noutro dia,
Se os beijos que, ontem, me deste
Deixaram a noite fria?

Para quê voltar atrás
A uma esperança perdida?
As horas boas são más
Quando chega a despedida.

Meu coração já não sente.
Sei lá bem se já te vi!
Lembro-me de tanta gente
Que nem me lembro de ti.

Quem és tu que mal existes?
Entre nós, tudo acabou.
Mas pelos meus olhos tristes
Poderás saber quem sou!

in, Fandangueiro
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Como acontece, tantas vezes, os homens deixam marcas materiais e espirituais nos locais que lhe serviram de encanto e de abrigo à vida que lhes foi dada viver.
Pedro Homem de Melo não fugiu a isto e, por isso, na terra que muito amou e onde viveu - Afife - lá está este azulejo onde a sua quadra - ETERNIDADE . faz lembrar que é para aí que caminham todos os homens.


Só as fragas se não mudam... mas vão no pensamento, como aconteceu com Pedro Homem de Melo que levou no trânsito da morte o que viu e amou, tendo disso deixado para os vivos a mensagem que a morte não apaga, jamais, aquilo que ficou pregado à alma...

Falando de absolutismo...


O absolutismo que fazia do rei - ilusoriamente - um receptador privilegiado  da lei divina e, como tal, um cumpridor entre os homens dessa vontade de um céu inventado, efectivamente acabou com o advento da Revolução Francesa, que no entanto, não tardou em criar ideias absolutas se consideramos que o lema: LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE dos revolucionários foi subvertido em 1791 com a "lei de Le Chapelier" que proibiu os sindicatos dos trabalhadores e as greves.

E com a vigência da "Convenção Nacional" que esteve activa entre Setembro de 1792 a Outubro de 1795, dominada absolutamente pelos jacobinos e pelo seu chefe Robespierre deu-se início ao reino do "Terror" que levou à guilhotina o rei deposto Luis XVI em 1793, a que sucedeu o "Directório", um golpe de Estado que marca o fim de qualquer participação popular no movimento revolucionário, com o exército autoritariamente a impor a sua vontade até ao golpe do "Brumário" de 1799 que pôs fim ao "Directório" e dá início ao consulado de Napoleão que instalou, como se sabe, na Europa a força ditatorial das suas tropas até à derrota em Waterloo em 1815.

Esta "pincelada" breve mostra à saciedade que o "rei absoluto" morreu em França como noutras partes do Mundo - como aconteceu  em Portugal - mas o absolutismo com novos cambiantes mascarados, quer fosse os do Liberalismo ou mais modernamente da Democracia, continua a ter os seus chefes absolutos.

Não nos iludamos.

Há no homem uma tendência para o absolutismo das suas ideias ou das suas crenças, pelo que, ao invés do pensamento de Locke que defendeu os direitos naturais do homem - direito à vida, à liberdade e à propriedade - e que para os defender se criaram os governos, defendendo o direito da revolta dos povos contra eles, o que está a acontecer tem sido, exactamente isto e esse é o grande contributo do tempo democrático quando este gera nos governos as prepotências dos eleitos, ou seja, as suas tendências absolutistas como não raro, tem acontecido ente nós.

Todos já assistimos no nosso Parlamento à votação de leis em que os deputados se vêem amarrados à disciplina de voto, que mais não é que a obediência ao chefe partidário que sobre eles exerce um poder que se assemelha ao absoluto da razão que ele diz ter sobre determinado assunto, donde se infere que o absolutismo não morreu, mesmo em tempos democráticos, o que não deixam de ser resquícios que ficaram latentes desde os princípios mais fundos da existência do homem sobre a face da Terra.

Os ourives da palavra: Bossuet (Jacques)


A grande desgraça da vida humana é que ninguém se contenta em ser insensato só para si, mas quer transmitir a sua loucura aos outros; de modo que o que nos seria indiferente, muitas vezes, dada a nossa fraqueza, excita a nossa imprudente curiosidade, pelo ruído que disso se faz em torno de nós. Nessa estranha pressa em comunicarmos uns aos outros os nossos erros e loucuras, corrompe-se completamente o espírito.
in, Sermon pour la troisiéme dimanche de l'Advent
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Podemos, à luz do tempo que passa não estar de acordo com o radicalismo absolutista que foi defendido por Bossuet, mas isso não obsta que do ponto de vista da análise dos princípios sócio-culturais do homem, esta sua afirmação não seja exemplar, porque o é, se tivermos em conta que existe em certos homens e em determinados momentos da sua existência, um prazer perverso na contribuição que dão em espalhar desconforto nos seus iguais, a começar pelos que lhe estão mais próximos, como se a insensatez de um devesse ser propagada ao seu semelhante.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Leitura de uma imagem

No friso escultórico do Padrão dos Descobrimentos 
o Infante D. Henrique segura entre mãos uma nau das descobertas
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Eis o Infante D. Henrique, postado pela arte escultórica como se fosse na proa de uma das muitas naus que ele viu partir do Promontório de Sagres, e que o Poeta Fernando Pessoa, também colocou a abrir a Segunda Parte do Poema Mensagem - a que chamou: Mar Português -  à frente do sonho da aventura das Descobertas a desvendar a espuma com ele diz:
I. O INFANTE 

Deus quere, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

É por isso que ao admirar o gesto garboso do Infante D. Henrique que aparece no friso do Padrão das Descobertas, de cuja imagem se capturou o vulto do Navegador segurando entre mãos a prefiguração em pedra de uma das naus, nada melhor o podia representar que não fosse aquela nau, por ter sido com ela e outras semelhantes que o Mapa da Terra se foi abrindo, porque, de repente, surgiu - como diz Fernando Pessoa - redonda, do azul profundo.

Pena só, que pela força destemida daquela nau que ele segura se tivesse cumprido o Mar, sem que, no entanto, este feito - o maior do seu tempo - tivesse evitado que o Império se desfizesse - e que o devir dos tempos veio a impor, mas pela lástima como o perdemos - e o que é bem pior, que não se tenha cumprido Portugal, hoje, uma Nação que da força que teve, bem pouca lhe resta.

Valha-nos ao menos a lembrança dos homens que tivemos, como este da ínclita geração, que ali, no Padrão das Descobertas, mostra aos homens de hoje, um dos heróis que tivemos e em cujas mãos mostra o seu tesouro maior.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

As palavras ditas baixinho...



Por falar de tempo...


DECÁLOGO DO TEMPO

1 – Lembra-te de que prestarás contas das horas que passam.
2 – Aproveita a hora presente, pois ela representa o trabalho, o cumprimento do dever, o mérito.
3 – Não esqueças que o tempo perdido não se recupera mais.
4 – Tem em alta consideração o valor do tempo.
5 – Não percas tempo em bebidas, jogos e conversas ociosas.
6 – Um bom método economiza muito tempo.
7 – Não faças ninguém perder tempo esperando por ti.
8 – Emprega bem o tempo seguindo um programa.
9 – Luta contra os inimigos do tempo: preguiça, falta de ideal.
10 – Aproveita o tempo enquanto é tempo.

in, "O Astrolábio" (nº 77)
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Li este Decálogo na folha informativa da Igreja Paroquial sediada no meu antigo Concelho serrano e dos dez avisos que contém, todos preciosos para gerirmos o tempo que temos - e não vamos ter outro - fixei com mais atenção o nº 3 - Não esqueças que o tempo perdido não se recupera mais - e, quase instantaneamente, veio-me à lembrança o conhecido aforismo que diz: a água que passou debaixo da ponte só passa uma vez.

E é verdade, muito embora, a que volta a passar nos pareça igual...

E, depois, nesta lucubração, voltando ao nº 3, o meu pensamento voou célere para esse soneto intemporal de Frei António das Chagas que reproduzo a seguir, para depois agradecer ao redactor de "O Astrolábio" o facto de me ter presenteado com aquele "Decálogo" e àquele velho católico consagrado, porque li e meditei em todos os versos da sua admirável poesia, para concluir que, ou aproveitamos a hora que passa e a vivemos em nosso proveito mas com reflexo para a sociedade, ou se o não fazemos, o tempo perdido foi mesmo perdido, porque podemos - e devemos emendar aquilo que não fizemos na hora exacta - mas o que acontece é que o prazer de a ter perdido não se recupera jamais... porque o tempo passado... é mesmo tempo passado.

Leiamos a Conta e Tempo de Frei António das chagas:

 Conta e Tempo

 Deus pede estrita conta de meu tempo.
 E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta.
 Mas, como dar, sem tempo, tanta conta
 Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

 Para dar minha conta feita a tempo,
 O tempo me foi dado, e não fiz conta,
 Não quis, sobrando tempo, fazer conta,
 Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.

 Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
 Não gasteis vosso tempo em passatempo.
 Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!

 Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
 Quando o tempo chegar, de prestar conta
 Chorarão, como eu, o não ter tempo...

Frei António das Chagas, in 'Antologia Poética'
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Foi, por isso, que lendo o Decálogo e relendo a Conta e Tempo, podendo não ter outro tempo, sentei-me e escrevi aquilo que deixo para quem me queira ler, atrevendo-me a pedir aos meus eventuais leitores que prestem atenção a cada um dos momentos do tempo que têm, porque ele é um bem precioso - e de tal modo - que é do momento vivido, por mais ínfimo que seja, que é dele que podem partir os grandes momentos da vida.


O exemplo nem sempre vem de cima...

 

E eu que pensava que o exemplo vinha de cima... porque desde "menino e moço" aprendi  que esta devia ser a norma.

Afinal, não é assim - confesso a minha ingenuidade - pois, só agora é que soube que os Partidos Políticos estão isentos do pagamento do Imposto Municipal sobre o Imobiliário, quando é destes, que pela suas funções políticas dimanam todas as leis?

Que pouca vergonha é esta?
IMI para os Partidos políticos, já...
Portem-se bem.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Diálogos...


- Já te disse, diz o pássaro que parece viver solto quando está amarrado à ideologia que lhe ensinaram: este governo tem uma melhoria no défice de 81 milhões de euros relativamente ao mesmo período do ano passado.
- Não acredites - volve o que só mostra o bico, amedrontado com o futuro - Isso são cantigas... truques.
- Podes crer que não são...
- São, sim senhor. Se o governo tivesse pago o que tem em atraso, o défice não tinha esse valor. Era até negativo.
- Negativo és tu, que não queres acreditar.
- Pois não. Olha para o investimento púbico que não segue na linha que foi orçamentada. Onde é que está o investimento público? Onde é que estão as obras para relançar a economia?
- ?
- É como te digo... e vê a receita que não está a crescer. Pensa nisto: se eu te devesse dinheiro e não te pagasse, tinha o bolso mais cheio, não seria assim? É o que está a fazer o governo!
-?

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

É preciso acordar!

http://expresso.sapo.pt de 22 de Setembro de 2016

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É preciso acordar!

Finalmente, O Presidente da República que como lhe competia andou de "braço dado" com António Costa e os companheiros que lhe asseguram o poder que não conquistou, disse, agora, possivelmente necessitado de ver Portugal a caminhar para outra saída, uma frase importante: "A realidade é mais forte do que a ideologia"... e é, todos os sabemos.

É preciso acordar!

Hoje, os "amanhãs que cantam" existem,apenas, na musas dos baladeiros, porque os amanhãs que Portugal tem de construir para olhar pelos seus naturais, especialmente, os mais jovens, são realidade que temos de construir por cima das ideologias que não pagam as dívidas que contraímos embalados naquelas melodias que deixaram de fazer sentido prático e, por isso, é preciso "um novo Estado", como disse o Presidente da República.

É preciso acordar!

domingo, 25 de setembro de 2016

XXVI Domingo de Tempo Comum - Ano C - 25 de Setembro de 2016


Parábola do rico e de Lázaro

«Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e fazia todos os dias esplêndidos banquetes. Um pobre, chamado Lázaro, jazia ao seu portão, coberto de chagas. Bem desejava ele saciar-se com o que caía da mesa do rico; mas eram os cães que vinham lamber-lhe as chagas. Ora, o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão.

Morreu também o rico e foi sepultado. Na morada dos mortos, achando-se em tormentos, ergueu os olhos e viu, de longe, Abraão e também Lázaro no seu seio. Então, ergueu a voz e disse: ‘Pai Abraão, tem misericórdia de mim e envia Lázaro para molhar em água a ponta de um dedo e refrescar-me a língua, porque estou atormentado nestas chamas.’ Abraão respondeu-lhe: ‘Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és atormentado. Além disso, entre nós e vós há um grande abismo, de modo que, se alguém pretendesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo, nem tão-pouco vir daí para junto de nós.’

O rico insistiu: ‘Peço-te, pai Abraão, que envies Lázaro à casa do meu pai, pois tenho cinco irmãos; que os previna, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.’ Disse-lhe Abraão: ‘Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam!’ Replicou-lhe ele: ‘Não, pai Abraão; se algum dos mortos for ter com eles, hão-de arrepender-se.’ Abraão respondeu-lhe: ‘Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos.’» (Lc 16, 19-31)

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O autor deste "blog" é, simplesmente, um leigo que voluntariamente aderiu à Igreja Apostólica Romana e, desde muito cedo entendeu que era na Bíblia - o Sagrado Diário de Deus - que se encontrava todo o ensinamento fundamental, porque está imbuído do divino se for vivido na essência do sobrenatural da existência humana, pelo facto de se encontrar acima de todas as filosofias dos homens.

Hoje, ouvi a leitura do texto do Apóstolo S. Lucas, que narra a Parábola dita por Jesus Cristo sobre duas personagens: Uma a de um rico - que ficou sem nome - e outra, a de um pobre, identificado com o nome de Lázaro, provando-se que o rico que viveu cheio de mordomias ficou ignorado e o pobre andrajoso e rejeitado pela sociedade do seu tempo gravou para todo o sempre o seu nome no Grande Livro da Vida.

Ouvi, depois, o que sobre esta Parábola foi dito pelo Ministro Sagrado e ressaltou ante a minha atenção a ilação de que - tendo morrido os dois - o rico, desesperado com os tormentos que sofria pediu que Lázaro lhe viesse com água refrescar a língua, pedido que lhe foi recusado por ter recebido em vida todos os bens e Lázaro todos os males, algo que o meu entendimento me levou a concluir que na vida concreta que nos é dado viver o sentimento da solidariedade devia ser uma norma social.

Esta norma - infelizmente tão esquecida -  foi o que de mais profundo me foi dado aquilatar.

É por isso, que a Bíblia Sagrada é o Grande Livro, aquele que mais edições tem tido, porque é nele que tudo se encontra, porque o seu Autor - o Pai Eterno - não tendo suscitado aos que o escreveram filosofias sem sentido ou para agradar a estratos sociais bem determinados, deixou impresso para todo o sempre o Saber que não escolhe o modo de agradar às assembleias determinadas pelos homens, mas o modo de agradar a todas as Assembleias que em nome de Deus se reúnem para levar para a Vida os ensinamentos necessários para a viver mais com a Palavra de Deus e menos com a palavra dos homens.

sábado, 24 de setembro de 2016

Martinho Lutero e a sua reabilitação



Em palavras breves a Reforma chamada protestante, de cariz cristão, ficou a dever-se ao monge alemão em 31 de Outubro de 1517 com a publicação à porta da Igreja do Castelo de Wittenberg das suas 95 teses de oposição à doutrina da Igreja romana, propondo uma reforma do catolicismo defendido em Roma pelo Papa, tendo obtido a adesão individual de vários religiosos e governantes europeus, de onde eclodiu uma revolução religiosa que tendo-se iniciado - como era previsível - na Alemanha, se estendeu por países, como: Suiça, França, Reino Unidos, Países Baixos, toda a Escandinávia e com ramificações a Leste, como aconteceu na Hungria


Como resultado a Reforma protestante assinalou a divisão - ainda hoje sentida - da Igreja do Ocidente, entre os católicos romanos e os aderentes reformados ou protestantes.

Quem foi Martinho Lutero?

Na sua ascendência encontramos no seu lar pessoas humildes bem parecidas com os primeiros arautos do Evangelho, dedicando-se os pais ao cultivo da terra e com o pai empregado na árdua tarefa de mineiro, com o fito de fazer do filho Lutero um advogado, sem cuidar que nos seus altos desígnios, Deus lhe destinava o ministério de construtor do grande Templo que vinha erigindo através dos milénios, tendo-se desgostado quando viu o filho com tendências religiosas da vida monástica, cuja organização não lhe merecia grandes simpatias.

Não obstante, cedeu e Martinho Lutero sedento de saber deu aso a que este desiderato que lhe atraía a alma levou-o a desejar alcançar o que para ele era prático e não o que era vistoso socialmente, mas superficial, tendência acentuada aos 18 anos com a sua entrada para a Universidade da cidade de Erfurt que havia de mudar a sua vida, revelando um acentuado amor ao estudo, onde sob ressaiu em relação aos companheiros, tendo com a sua disciplina intelectual amadurecido o entendimento em que a agudeza do espírito o preparou para os embates da vida, aguçando nele o amor a Deus que lhe enchia o coração, sentindo-se dependente do auxílio divino.

Foi a descoberta na Biblioteca da Universidade de uma Bíblia Latina - tradução de S. Jerónimo - que ele desconhecia e onde ele descobriu por inteiro a Palavra de Deus, que passou a desfolhar com reverência  e admiração, julgando-se que foi a partir desta descoberta que se deu a sua entrada na vida monástica.
Ordenado sacerdote foi chamado do claustro para leccionar na Universidade de Wittenber, onde se aplicou ao estudo das Escrituras na línguas originais de onde resultaram as suas primeiras conferências sobre a Bíblia, com ênfase para os Salmos, os Evangelhos e as Epístolas, acções que lhe deram a notoriedade das pessoas que se deleitavam com a sua pregação.

Era então, um filho da Igreja papal e foi nessa qualidade que visitou Roma numa viagem a pé, hospedando-se nos mosteiros do caminho até vir a encontrar na cidade em que pontificava Leão X, desregramentos clericais que ele catalogou de pouca santidade, a ponto de ter emitido esta opinião: Ninguém pode imaginar que pecados e infames acções se cometem em Roma.
Tinham-se-lhe aberto os olhos e ao que parece nunca mais se fecharam aos enganos que observou e ao retirar-se de Roma, retirou daquela cidade o coração, começando aí o seu afastamento, ao tomar conhecimento do que se passava na Igreja com as indulgências cujo destino material era consumido - na parte que respeitava - às obras da construção da Basílica de S. Pedro, obra iniciada em 1506.

Regressado à sua Universidade onde obteve o grau de doutor em Teologia, distinção que lhe deu, como nunca, mais tempo para se dedicar ao estudo aprofundado das Escrituras Sacras que tanto o fascinavam, exaltando nele o dever de pastor para alimentar o rebanho de Deus, ansioso de que tudo quanto recebia de ensinamento se fundasse nos sagrados Livros e não outras doutrinas que não se baseassem neles.

Marinho Lutero havia interiorizado que a Igreja mercadejava com a graça de Deus, tendo as mesas dos cambistas sido colocadas ao lado dos altares dos seus Santos, com a alegação da angariação de fundos para a obra da Basílica de S. Pedro, em Roma, vendendo-se publicamente as indulgências com a autorização do Papa, ou seja com o dinheiro da extorsão estava-se a erguer um Tempo para o culto de Deus, tendo como seu principal dinamizador Tetzel que dirigia a venda das indulgências e cujo tráfico dentro das próprias Igrejas lhe causaram a maior das repulsas.


Foi daqui que nasceram em 1517 a publicação das suas 95 teses, que dizem assim:

Por amor à verdade e no empenho de elucidá-la, discutir-se-á o seguinte em Wittenberg, sob a presidência do reverendo padre Martinho Lutero, mestre de Artes e de Santa Teologia e professor catedrático desta última, naquela localidade. Por esta razão, ele solicita que os que não puderem estar presentes e debater conosco oralmente o façam por escrito, mesmo que ausentes. Em nome do nosso Senhor Jesus Cristo. Amém. 

1. Ao dizer: "Fazei penitência", etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.

2. Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes).

3. No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; sim, a penitência interior seria nula se, externamente, não produzisse toda sorte de mortificação da carne.

4. Por consequência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus.

5. O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones.

6. O papa não tem o poder de perdoar culpa a não ser declarando ou confirmando que ela foi perdoada por Deus; ou, certamente, perdoados os casos que lhe são reservados. Se ele deixasse de observar essas limitações, a culpa permaneceria.

7. Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.

8. Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.

9. Por isso, o Espírito Santo nos beneficia através do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade.

10. Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório.

11. Essa cizânia de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.

12. Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da absolvição, como verificação da verdadeira contrição.

13. Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas.

14. Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais quanto menor for o amor.

15. Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras coisas) para produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do horror do desespero.

16. Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o semidesespero e a segurança.

17. Parece necessário, para as almas no purgatório, que o horror devesse diminuir à medida que o amor crescesse.

18. Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da Escritura, que elas se encontrem fora do estado de mérito ou de crescimento no amor.

19. Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena certeza disso.

20. Portanto, por remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs.

21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.

22. Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.

23. Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.

24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena.

25. O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular.

26. O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele não tem), mas por meio de intercessão.

27. Pregam doutrina mundana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].

28. Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, pode aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.

29. E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resgatadas, como na história contada a respeito de São Severino e São Pascoal?

30. Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão.

31. Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo.

32. Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.

33. Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Ele.

34. Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.

35. Os que ensinam que a contrição não é necessária para obter redenção ou indulgência, estão pregando doutrinas incompatíveis com o cristão.

36. Qualquer cristão que está verdadeiramente contrito tem remissão plena tanto da pena como da culpa, que são suas dívidas, mesmo sem uma carta de indulgência.

37. Qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, participa de todos os benefícios de Cristo e da Igreja, que são dons de Deus, mesmo sem carta de indulgência.

38. Contudo, o perdão distribuído pelo papa não deve ser desprezado, pois – como disse – é uma declaração da remissão divina.

39. Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar simultaneamente perante o povo a liberalidade de indulgências e a verdadeira contrição.

40. A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abundância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, ou pelo menos dá ocasião para tanto.

41. Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor.

42. Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.

43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.[6]

44. Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena.

45. Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus.

46. Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência.

47. Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui obrigação.

48. Deve ensinar-se aos cristãos que, ao conceder perdões, o papa tem mais desejo (assim como tem mais necessidade) de oração devota em seu favor do que do dinheiro que se está pronto a pagar.

49. Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por causa delas.

50. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.

51. Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto – como é seu dever – a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extorquem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.

52. Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.

53. São inimigos de Cristo e do Papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas.

54. Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela.

55. A atitude do Papa necessariamente é: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões e cerimônias.

56. Os tesouros da Igreja, a partir dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo.

57. É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos pregadores não os distribuem tão facilmente, mas apenas os ajuntam.

58. Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior.

59. S. Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época.

60. É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem estes tesouros.

61. Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos especiais, o poder do papa por si só é suficiente.

62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.

63. Mas este tesouro é certamente o mais odiado, pois faz com que os primeiros sejam os últimos.

64. Em contrapartida, o tesouro das indulgências é certamente o mais benquisto, pois faz dos últimos os primeiros.

65. Portanto, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas.

66. Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens.

67. As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendidas como tais, na medida em que dão boa renda.

68. Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em comparação com a graça de Deus e a piedade da cruz.

69. Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários de indulgências apostólicas.

70. Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbidos pelo papa.

71. Seja excomungado e amaldiçoado quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas.

72. Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências.

73. Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma, procuram defraudar o comércio de indulgências,

74. muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, procuram fraudar a santa caridade e verdade.

75. A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes a ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.

76. Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados venais no que se refere à sua culpa.

77. A afirmação de que nem mesmo São Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o Papa.

78. Dizemos contra isto que qualquer papa, mesmo São Pedro, tem maiores graças que essas, a saber, o Evangelho, as virtudes, as graças da administração (ou da cura), etc., como está escrito em I.Coríntios XII.

79. É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insigneamente erguida, equivale à cruz de Cristo.

80. Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que semelhantes sermões sejam difundidos entre o povo.

81. Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil nem para os homens doutos defender a dignidade do papa contra calúnias ou questões, sem dúvida argutas, dos leigos.

82. Por exemplo: Por que o papa não esvazia o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas – o que seria a mais justa de todas as causas –, se redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica – que é uma causa tão insignificante?

83. Do mesmo modo: Por que se mantêm as exéquias e os aniversários dos falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos?

84. Do mesmo modo: Que nova piedade de Deus e do papa é essa que, por causa do dinheiro, permite ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, mas não a redime por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta por amor gratuito?

85. Do mesmo modo: Por que os cânones penitenciais – de fato e por desuso já há muito revogados e mortos – ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?

86. Do mesmo modo: Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos ricos mais Crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma Basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos próprios fiéis?

87. Do mesmo modo: O que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição perfeita, têm direito à plena remissão e participação?

88. Do mesmo modo: Que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e participações cem vezes ao dia a qualquer dos fiéis?

89. Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que suspende as cartas e indulgências, outrora já concedidas, se são igualmente eficazes?

90. Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e fazer os cristãos infelizes.

91. Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido.

92. Portanto, fora com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo "Paz, paz!" sem que haja paz!

93. Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo "Cruz! Cruz!" sem que haja cruz!

94. Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, sua cabeça, através das penas, da morte e do inferno.

95. E que confiem entrar no céu antes passando por muitas tribulações do que por meio da confiança da paz.



Martinho Lutero - um homem só - opusera-se à força da Igreja e ao poder que ela tinha sobre os povos, que não tardou a chamá-lo à razão o que não conseguiu, tendo por isso originado a publicação da Bula papal que o excomungou e da qual disse: Desprezo-a e ataco-a como ímpia, falsa... regozijo-me por ter de suportar tais males pela melhor das causas. Sinto já maior liberdade no meu coração; pois finalmente sei que o Papa é o anti-cristo..., palavras duras que até hoje têm endurecido o coração da Igreja de Roma, mas que - na minha opinião - dado a razão que assistia a Lutero e ele explanou como lhe foi dado e, porque, naturalmente, aquilo que ele viu em Roma lhe marcou o espírito, agora que em 31 de Outubro de 2017 se vão perfazer 500 anos sobre o conflito, vai sendo tempo de se dar um abraço de Paz.

Este abraço de Paz começou com o discurso do Papa emérito Bento XVI na sua viagem apostólica à Alemanha entre os dias 22 a 25 de Setembro de 2011 e cujas palavras se transcrevem - com a devida vénia - sublinhando-se as que se referem a Martinho Lutero


ENCONTRO COM OS REPRESENTANTES DO CONSELHO
  DA «IGREJA EVANGÉLICA NA ALEMANHA» 

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI

Sala do Capítulo do ex-Convento dos Agostinianos de Erfurt
 Sexta-feira, 23 de Setembro de 2011


Ilustres Senhoras e Senhores!

Ao tomar a palavra, quero antes de mais nada agradecer cordialmente esta oportunidade de nos encontrarmos aqui. A minha particular gratidão vai para Vossa Excelência, amado Irmão Presidente Schneider, que me deu as boas-vindas e, com suas palavras, me acolheu no vosso meio. Com toda a franqueza do seu coração, Vossa Excelência exprimiu abertamente a fé verdadeiramente comum, o desejo de unidade. E nós sentimo-nos felizes ainda porque considero que esta assembleia e os nossos encontros são celebrados também como a festa da fé que temos em comum. Além disso quero agradecer a todos pelo vosso dom de podermos conversar juntos como cristãos aqui, neste lugar histórico.

Para mim, como Bispo de Roma, é um momento de profunda emoção encontrar-vos aqui, no antigo convento agostiniano de Erfurt. Como acabámos de ouvir, Lutero estudou teologia aqui. Aqui celebrou a sua primeira missa. Contra a vontade do pai, abandonou os estudos de jurisprudência para estudar teologia e encaminhar-se para o sacerdócio na Ordem de Santo Agostinho. E a incentivá-lo neste caminho não era um pormenor ou outro; o que não lhe dava paz era a questão sobre Deus, que constituiu a paixão profunda e a mola da sua vida e de todo o seu itinerário. «Como posso ter um Deus misericordioso?»: tal era a pergunta que lhe atravessava o coração e estava por detrás de cada pesquisa teológica e de cada luta interior. Para Lutero, a teologia não era mera questão académica, mas a luta interior consigo mesmo, que, no fim de contas, era uma luta a propósito de Deus e com Deus.

«Como posso ter um Deus misericordioso?» O facto que esta pergunta tenha sido a força motriz de todo o seu caminho, não cessa de maravilhar o meu coração. Com efeito, hoje quem se preocupa ainda com isto, mesmo entre os cristãos? Que significa a questão de Deus na nossa vida, no nosso anúncio? Hoje a maioria das pessoas, mesmo cristãs, dá por suposto que Deus, em última análise, não se interessa dos nossos pecados e das nossas virtudes. Ele bem sabe que todos nós não passamos de carne. Se se acredita ainda num além e num juízo de Deus, praticamente quase todos pressupõem que Deus terá de ser generoso e, no fim de contas, na sua misericórdia ignorar as nossas pequenas faltas. A questão já não nos preocupa. Mas, verdadeiramente são assim pequenas as nossas faltas? Porventura não está o mundo a ser devastado pela corrupção dos grandes, mas também dos pequenos, que pensam apenas na própria vantagem? Porventura não é ele devastado por causa do poder da droga, que vive, por um lado, da ambição de vida e de dinheiro e, por outro, da avidez de prazer das pessoas que a ela se abandonam? Não está ele porventura ameaçado por uma crescente predisposição à violência que não raro se dissimula sob a aparência de religiosidade? Poderiam a fome e a pobreza devastar assim regiões inteiras do mundo, se estivesse mais vivo em nós o amor de Deus e, derivado dele, o amor ao próximo, às criaturas de Deus que são os homens? E poderiam continuar as perguntas nesta linha. Não, o mal não é uma ridicularia. Mas não seria forte, se verdadeiramente colocássemos Deus no centro da nossa vida. Esta pergunta que desinquietava Lutero – Qual é a posição de Deus a meu respeito, como apareço a seus olhos? – deve tornar-se de novo, certamente numa forma diversa, também a nossa pergunta, não académica mas concreta. Penso que este constitui o primeiro apelo que deveremos escutar no encontro com Martinho Lutero.

 Depois é importante também isto: Deus, o único Deus, o Criador do céu e da terra, é algo de diverso duma hipótese filosófica sobre a origem do universo. Este Deus tem um rosto e falou-nos. No homem Jesus Cristo, Ele tornou-Se um de nós: verdadeiro Deus e, simultaneamente, verdadeiro homem. O pensamento de Lutero, a sua espiritualidade inteira era totalmente cristocêntrica. Para Lutero, o critério hermenêutico decisivo na interpretação da Sagrada Escritura era «aquilo que promove Cristo». Mas isto pressupõe que Cristo seja o centro da nossa espiritualidade e que o amor por Ele, o viver juntamente com Ele, oriente a nossa vida.

Ora poder-se-ia talvez dizer: Está bem, mas o que é que tudo isto tem a ver com a nossa situação ecuménica? Porventura não será tudo isto apenas uma tentativa de iludir, com uma inundação de palavras, os problemas urgentes onde se esperam progressos práticos, resultados concretos? A respeito disto, respondo: a coisa mais necessária para o ecumenismo é primariamente que, sob a pressão da secularização, não percamos, quase sem dar por isso, as grandes coisas que temos em comum, que por si mesmas nos tornam cristãos e que nos ficaram como dom e tarefa. O erro do período confessional foi ter visto, na maior parte das coisas, apenas aquilo que separa, e não ter percebido de modo existencial o que temos em comum nas grandes directrizes da Sagrada Escritura e nas profissões de fé do cristianismo antigo. Para mim, isto constitui o grande progresso ecuménico dos últimos decénios: termo-nos dado conta desta comunhão e, no rezar e cantar juntos, no compromisso comum em prol da ética cristã face ao mundo, no testemunho comum do Deus de Jesus Cristo neste mundo, reconhecermos tal comunhão como o nosso comum e imorredouro alicerce.

É certo que o perigo de a perder não é irreal. Queria brevemente fazer notar dois aspectos. Nos últimos tempos, a geografia do cristianismo mudou profundamente e continua a mudar. Perante uma forma nova de cristianismo, que se difunde com um dinamismo missionário imenso, por vezes preocupante nas suas formas, as Igrejas confessionais históricas ficam muitas vezes perplexas. Trata-se de um cristianismo de escassa densidade institucional, com pouca bagagem racional, sendo ainda menor a bagagem dogmática, e também com pouca estabilidade. Este fenómeno mundial – que me é continuamente descrito pelos bispos de todo o mundo – põe-nos a todos perante esta questão: Que tem a dizer-nos de positivo e de negativo esta nova forma de cristianismo? Em todo o caso, coloca-nos novamente perante a pergunta sobre o que permanece sempre válido e o que pode ou deve ser mudado, perante a questão relativa à nossa opção fundamental na fé.

Mais profundo e, no nosso país, mais inquietante é o segundo desafio para toda a cristandade; dele quero agora falar-vos: trata-se do contexto do mundo secularizado, em que temos hoje de viver e testemunhar a nossa fé. A ausência de Deus na nossa sociedade faz-se mais pesada; a história da sua revelação, de que nos fala a Escritura, parece colocada num passado que se distancia sempre mais. Porventura será preciso ceder à pressão da secularização, tornar-se moderno através duma mitigação da fé? Naturalmente, a fé deve ser repensada e sobretudo vivida hoje de um modo novo, para se tornar uma realidade que pertença ao presente. Para isso ajuda não a mitigação da fé, mas somente o vivê-la integralmente no nosso hoje. Esta constitui uma tarefa ecuménica central, na qual nos devemos ajudar mutuamente: a crer de modo mais profundo e vivo. Não serão as tácticas a salvar-nos, a salvar o cristianismo, mas uma fé repensada e vivida de modo novo, através da qual Cristo, e  com Ele o Deus vivo, entre neste nosso mundo. Tal como os mártires do período nazista nos aproximaram uns dos outros e suscitaram a primeira grande abertura ecuménica, assim também hoje a fé, vivida a partir do íntimo de nós mesmos, num mundo secularizado, é a força ecuménica mais poderosa que nos reúne, guiando-nos para a unidade no único Senhor. E por isso Lhe pedimos a graça de aprender de novo viver a fé, para assim nos podermos tornar um só.


Ficam, pois, aqui, estas palavras que têm o peso de quem as proferiu a que se seguiram as palavras do Papa Francisco no avião que o transportou para Roma da sua recente viagem à Arménia.

ROMA, 01 Jul. 16 / 08:00 am (ACI).- Durante a coletiva de imprensa na viagem da Armênia para Roma, o Papa Francisco respondeu a uma pergunta sobre a possibilidade de levantar a excomunhão a Martinho Lutero, por ocasião da próxima viagem do Santo Padre à Suécia pelos 500 anos da Reforma protestante.

As palavras do Santo Padre foram manipuladas por alguns meios de comunicação. Confira a seguir a resposta completa do Papa Francisco na coletiva de imprensa do domingo, 26 de junho:

“Creio que as intenções de Martinho Lutero não estivessem erradas: era um reformador. Talvez alguns métodos não fossem certos, mas naquele tempo, se lermos a história do Pastor, por exemplo, um alemão luterano que depois se converteu quando viu a realidade daquele tempo e se tomou católico.

Nesse então, a Igreja não era propriamente um modelo a imitar: havia corrupção na Igreja, havia mundanidade, havia apego ao dinheiro e ao poder. E por isso ele protestou.

Ele era inteligente e deu um passo avante justificando o porquê fazia isso. E hoje luteranos e católicos, protestantes e todos, estamos de acordo sobre a doutrina da justificação: sobre este ponto tão importante ele não errou.



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