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terça-feira, 30 de maio de 2017

Não entreguemos a César "corpo e alma"!



Se o camponês não plantar trigo não ficará estéril o seu campo no outono. Cobri-lo-ão as ervas daninhas.
Deixai o homem crescer sem cuidar que a sua alma tanto faz pertencer a Deus como a César, e antes que ele o saiba, César o possuirá de corpo e alma.

Fulton Sheen

Há - o que não admira em Futon Sheen - sinais evidentes daquela pergunta capciosa que num certo dia os fariseus fizeram a Jesus sobre "o tributo a César", um facto que vem relatado no Evangelho de S. Lucas (20, 20-25) e que diz assim: 

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Então, puseram-se à espreita e mandaram-lhe espiões, que se fingiam justos com o fim de o surpreender em alguma palavra, para o entregarem ao poder e à jurisdição do governador. Fizeram-lhe a seguinte pergunta: «Mestre, sabemos que falas e ensinas com rectidão e não fazes acepção de pessoas, mas ensinas o caminho de Deus segundo a verdade. Devemos pagar tributo a César, ou não?»
Conhecendo a sua astúcia, Ele respondeu-lhes: «Mostrai-me um denário. De quem é a efígie e a inscrição?» Eles disseram: «De César.» Disse-lhes, então: «Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.»


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Fulton Sheen pôs "o dedo na ferida" com a sabedoria que lhe é reconhecida, pois se não nos acautelamos, esquecendo a resposta de Jesus aos que o quiseram ludibriar, o que pode acontece é que no campo da vida onde não semeamos trigo - ou sejam as nossas atencões com a Palavra de Jesus - possam surgir nele as "ervas daninhas" - os males do mundo - que podem dar a impressão de termos o campo semeado pelo verde que apresenta, mas com a diferença que o verde que nasceu tem por único  dono "César", que naturalmente deve conter o que lhe pertence - a parte secular do mundo onde vivemos - mas o nosso campo - o Campo da Lavra do Deus Eterno - tem de apresentar o verde do trigo - o pão da vida - que sendo Obra Divina não podemos deixar  esquecida a parte importantíssima que pertence ao Autor da Vida e Ele reclama como sua pertença e à qual todos pertencemos.

Não deixemos, por isso que, sub-repticiamente, mercê das nossas desatenções, esqueçamos Deus e entreguemos a César "corpo e alma".

Que caminho escolher?


Podemos encarar um erro como um tropeço e esquecê-lo, ou como um resultado que aponta uma nova direcção. 

Steve Jobs
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A pergunta - "Que caminho escolher"?, que vai como título deste "post"-  pode parecer tola, porque manda a evidência que se deva a partir de um tropeço seguir um novo caminho que aponte menos entraves, só que muitas vezes é de tropeço em tropeço que tropeçamos de vez... bastando, apenas, que  nos falte a humildade de reconhecer o motivo que nos levou a cair e ter a coragem de nos erguermos e seguir uma nova direcção.

Por isso fica a pergunta:

  • Que caminho escolher?

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Por pensar, mais uma vez, em Miguel Torga...


Se atendesse às suas exortações e solicitações, deixaria de ser quem sou. Onde um quer o sucesso, o outro quer a liberdade. A liberdade solitária a que se condena um mortal responsável mas descomprometido. Não foi para triunfar que vim ao mundo; foi para ter a consciência de inanidade  de todos os triunfos,

in, "Diário XIV"
Coimbra, 14 de Dezembro de 1984 - Sim, fui um infeliz porque tive a sina de ser autêntico.




Dei, hoje, com este pedaço belíssimo de uma prosa como poucas tem havido em Portugal, de um senhor que trouxe para qualquer parte do mundo onde viveu os ares balsâmicos de sua terra transmontana e, como se já não me bastasse o texto, sobretudo a sua parte final - onde, penso, Deus não quis fazer a vontade ao Poeta - para lhe dar depois de finado aquilo que ele conquistou, fazendo que o seu nome mereça a vaidade de um povo que se honra de ter tido no seu seio um doa mais brilhantes expoentes da Literatura Portuguesa do século XX.

Comove-me a frase que vem exposta a seguir à data da redacção desta sua reflexão cheia de uma verdade que ele nunca soube iludir na sua vida, considerando-se "infeliz" por ter tido a "sina de ser autêntico", mas foi à luz desta constatação sincera que a minha mente se debruçou sobre o problema da VAIDADE humana e me levou até ao Livro bíblico do Eclesiastes que logo a abrir nos chama a atenção para a vaidade - INANIDADE como Torga lhe chamou .- das glórias humanas, quando, afinal, a vida passa e a terra permanece sempre... o Sol nasce e põe-se... e todos os rios continuam a correr para o mar... e apenas o homem com todas as suas vaidades morre e não volta mais.

Atentemos no que diz no Cap, 1 do Livro do Eclesiastes:


Ilusão das ilusões: tudo é ilusão.
Que proveito pode tirar o homem de todo o esforço que faz debaixo do Sol?
Uma geração passa, outra vem; e a terra permanece sempre.

O Sol nasce e o Sol põe-se e visa o ponto donde volta a despontar.
O vento vai em direcção ao sul, depois ruma ao norte;
e gira, torna a girar e passa,
e recomeça as suas idas e vindas.
Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche.

Para onde sempre correram, continuam os rios a correr.
Todas as palavras estão gastas, o homem não consegue já dizê-las.
A vista não se sacia com o que vê, nem o ouvido se contenta com o que ouve.
Aquilo que foi é aquilo que será;
aquilo que foi feito, há-de voltar a fazer-se:
e nada há de novo debaixo do Sol!

Se de alguma coisa alguém diz: «Eis aí algo de novo!»,
ela já existia nas eras que nos precederam.
Não há memória das coisas antigas;
e também não haverá memória do que há-de suceder depois;
nem ficará disso memória entre aqueles que hão-de vir mais tarde.


Miguel Torga, fisicamente, não volta mais, mas porque levou a bom porto a Palavra do Livro do Eclesiastes, tendo sido um modelo de virtudes humanas onde a VAIDADE nunca teve lugar - podendo-o ter tido - porque ele foi um gigante . e embora modestamente tenha escrito - não foi para triunfar que vim ao mundo - talvez, por isso, Deus, cuja ideia lhe encheu a sua procura durante a vida terrena - deu-lhe o merecido prémio de o lembramos na pureza mais nobre dos seus ideais humanos, que foi a liberdade solitária a que se condenou, como ele mesmo no-lo diz no pequeno, belo e autêntico texto que nos deixou desde Coimbra onde teve o seu consultório de médico.

domingo, 28 de maio de 2017

"RESGUARDO" - Um poema de Miguel Torga



RESGUARDO

Quero-te num poema.
Viva e transfigurada,
Sentada
No banco dum jardim
De versos outonais,
A ver nos horizontes irreais
Sumir-se o tempo, o burlador
Do amor,
Que diz que volta, mas não volta mais.

(Chaves,  12 de Setembro  de 1983)


Este poema "RESGUARDO" que Miguel Torga nos legou desde Chaves, num daqueles dias, dos muitos em que calcorreou as cidades e vilas de Portugal com o fim de conhecer o povo nos seus diversos cambiantes naturais, é uma bela imagem literária.

Na sua imaginação e liberdade poética o artista da palavra desejava ver a sua poesia longe dos olhares da multidão, mas "viva e transfigurada"  e desejou vê-la "sentada"  num banco de jardim em que, os "versos outonais" - tendo voado as folhas do arvoredo por força da estação natural -  deixassem ver  melhor os horizontes na largura do seu olhar...

E para quê?

Simplesmente para ver sumir-se naquele horizonte outoniço - lembremos que a poesia tem a data de 12 de Setembro -  o tempo do amor que ele via passar e que, ao contrário do tempo natural que na próxima Primavera havia de voltar a cobrir de folhas as árvores do jardim, o tempo do amor é um "burlador" porque diz que volta... "mas não volta mais".

10 de Junho de 1944 - Uma data no percurso da minha vida


O jogo de futebol a realizar hoje no Estádio Nacional entre o Sport Lisboa e Benfica e o Vitória Sport Clube (de Guimarães), onde disputam a final da Taça de Portugal, fez-me vir à lembrança o dia 10 de Junho de 1944, dia que assinala a inauguração oficial daquele magnífico Estádio, obra do Estado Novo, nascido sob a égide de António de Oliveira Salazar e que teve no seu malogrado Ministro das Obras Públicas, Eng. Duarte Pacheco o impulsionador da ideia.


Naquele dia - eu, um ingénuo "lusito" da Mocidade Portuguesa - por força da lei que me obrigava e à minha velha Escola Primária, então existente na Rua do Vale Formoso de Baixo, em Lisboa, entrei garboso pela Porta da Maratona na companhia de 3.600 rapazes, começando por encher em rodeio a pista de atletismo, um equipamento desportivo que os modernos Estádios de futebol deixaram de ter, porque o rei é esta modalidade...

Coisas de um tempo padrasto em que se dá mais valor ao pontapé na  bola que ao desporto físico autêntico que é o atletismo que vem dos tempos da velha cidade grega de Maratona.

Foi um dia grande para a minha ingenuidade.

Só mais tarde tive consciência de ter sido usado pelo Estado Novo para ajudar àquela festa e do modo como fui aliciado, mas apesar de tudo isso, não posso esquecer aquele dia em que me senti uma pessoa "importante", ouvindo as ovações que vinham das bancadas repletas de gente alinhada com Salazar e a sua política, estando ali - só Deus sabe - quantas pessoas contrariadas temendo pelas represálias, tanto como eu, que no recreio da minha Escola Primária nunca faltei quando havia lições da MP.

Depois deste reflexão, veio-me ao pensamento o seguinte:

Porque razão o Estado Novo começava por fazer por imposição seus lacaios os rapazes da minha idade e, porque razão, apenas com a diferença de não haver imposição e só na adolescência, quase a raiar a idade adulta, os Partidos Políticos gostam de alinhar ao seu ideário as chamadas "juventudes partidárias"?

Eu sei que a similitude é um absurdo defendê-la, mas sei que existe, hoje, nos Partidos políticos um desejo de alinhar a juventude a ideias concebidas por uma cartilha que respeite o seu ideário, tal como no Estado Novo existiu o desejo de chamar à sua cartilha, os "lusitos, (7 aos 10 anos) os  "infantes" (10 aos 14 anos) os "Vanguardistas (14 aos 17 anos) e os  "cadetes" (17 aos 25 anos).

Será que os Partidos políticos que temos em Democracia foram beber aos ditames da Mocidade Portuguesa?

"A vida é apenas"...



A vida é apenas a soma das forças que resistem à morte, e uma vez terminada a resistência a essas forças contrárias começa o desaparecimento.

Fulton Sheen
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O nobre e militar francês Jacques de La Palice a quem se ficou a dever a frase "uma verdade de La Palice" mercê da popularidade dos seus ditos que em face de uma forte evidência dispensavam considerações mais que óbvias, parece coadunar-se com as palavras acima transcritas de Fultom Sheen, dada a evidência que "a vida é apenas a soma das forças que resistem à morte", mas é esta "verdade de La Palice" que nem sempre atendemos e à qual não rendemos o respeito que a vida nos devia merecer pelo modo desprendido como vivemos, quando gastamos inutilmente as forças sem cuidarmos que abatemos resistências que um dia nos vão fazer falta, num tempo em que já não é possível refazer o que ficou para trás, tentas vezes "sem honra e sem proveito".


sábado, 27 de maio de 2017

O tempo...


O tempo é a imagem móvel da eternidade.
Platão
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No tempo em que Platão escreveu este conceito estava longe de pensar que o tal tempo a que ele se referiu como um objecto móvel - que é, apenas, uma liberdade de linguagem filosófica - viesse a reflectir-se em si mesmo que vão passados cerca de 2,500 anos e a sua lembrança por aquilo que legou à Humanidade é, a todos os títulos, "a imagem móvel da eternidade", porque ele continua "vivo" na obra que  legou à sua Pátria de origem e a todos os povos.

Este conceito quer dizer que a todo o homem é dado por Deus o dom de se imortalizar, bastando-lhe, apenas, cumprir em conformidade e pelo respeito que deve ter pelo tempo que lhe foi dado de graça e que ele não pode - nem deve - encarece de tal jeito que não encontre quem lho queira "comprar", imitando-o.

O Liberalismo e a Religião


Porque há homens cujas palavras são intemporais vale a pena ler Fulton Sheen, o famoso Bispo americano que foi, para além das suas funções clericais um pensador social cuja obra literária é um monumento humano de valor incalculável e que, infelizmente, a própria Igreja Romana não faz dela o devido realce, como se já não bastasse a burguesia dos modernos liberais, bem longe dos verdadeiros liberais que imergiram dos ideais do Iluminismo..


Fulton Sheen
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A época do liberalismo julgou ser possível servir a um tempo a Deus e a Mammon. A religião era tida como uma espécie de luxo sentimental a que o homem se podia apegar se assim o quisesse, mas que devia ser mantida num compartimento separado da ordem económica e política. Seis dias da semana eram dados ao homem para ganhar a vida; um dia por semana devia ser concedido ao repouso. Se, em vez de repousar, um homem desejasse “Ir à igreja”, isso só era de sua conta; mas sob condição alguma devia ele levar consigo sua “igreja” para o trabalho na segunda-feira pela manhã. A religião era considerada um assunto “particular”; os negócios eram “públicos”: 

Daí não ser considerado de bom tom trazer o assunto de religião a um jantar, embora se pudessem discutir à vontade as ideias políticas do vizinho ou mesmo sua consciência. A política e a economia eram terrenos em que cada qual devia decidir por si, tivesse ou não razão, e qualquer tentativa da parte da Igreja de sugerir princípios morais que governassem esses domínios era encarada como injustificável intromissão. A religião era qualquer coisa que se traz consigo, que se veste, como um terno de roupa, mas não uma parte integrante da vida, tal como ver ou ouvir.

Criou-se assim uma atitude mental em que se supunha que o grande ato redentor do Calvário não tinha significação alguma para a ordem social. A alma convertia-se num insignificante subúrbio da cidade chamada Negócio. Se a política e a economia não interferiam na religião, argumentava-se, por que deveria a religião interferir na política e na economia? A liberdade religiosa era assim adquirida na suposição de que devia abster-se da ordem secular. Tornava-se a religião uma área delimitada da vida, isolada de qualquer contacto com o temporal e qualquer tentativa da parte da religião de introduzir considerações éticas ou morais nos negócios era considerada abusiva, como se a virtude da justiça fosse qualquer coisa que se pregasse do púlpito num domingo, mas que não devesse ser praticada numa fábrica a segunda feira.


O mundo admitia de bom gado que a religião pudesse revelar ao homem seu Deus estava para com a astronomia de Newton. Como Newton pôs o universo debaixo da lei, presumiram os newtonianos que Deus não era mais necessário para explicar a ordem e a harmonia das esferas, como se a descoberta de uma lei abolisse a necessidade de um Legislador. Newton trouxe Deus até seu universo para explicar duas irregularidades que não se podiam ajustar  em sua lei, a saber: Por que certas estrelas fixas não caem e por que certos astros, girando em diferentes órbitas não colidem. Tornava-se assim Deus um meio cômodo de explicar irregularidades que a ciência não podia ainda esclarece, um remendão cósmico qualificado andando de um lado para outro a tapar os rombos do universo newtoniano. 

De modo semelhante permitia-se que Deus cuidasse das irregularidades do universo político e económico, isto é, Ele e Seus crentes podiam fazer o serviço de ambulância para os pobres, os indigentes e os aleijados, que a ordem política e económica não tinha ainda meios de atender. Mais tarde, com o progresso e a ciência, mesmo essas irregularidades desapareceriam e não se necessitaria mais da religião. Desse modo era a religião relegada para um lugar retirado do mundo; uma catacumba onde os homens podiam ir repousar; mas só depois de terem lavado as mãos dos negócios. Chegava-se quase a pensar que o homem que ia à igreja era diferente do homem que ia ao trabalho, ou que o homem, como criatura política e económica, tinha escapado de algum modo miraculoso à queda do homem. O resultado dessa separação entre a religião e os negócios públicos era impedir a religião para uma posição de crescente alheamento dos negócios públicos. “Eu não incomodo a Igreja, por que razão haveria ela de me incomodar?” tornou-se o falacioso refrão para justificar o divórcio de duas coisas destinadas a serem tão inseparáveis como a cabeça e o corpo. 

 Essa atitude mental de afastamento da religião dos negócios públicos levou ao segundo período mais contemporâneo, no qual a religião é considerada inimiga dos negócios públicos. A transição é algum tanto natural, pois dizer que a religião é impertinente à ordem social vale o mesmo que conceder à irreligião predomínio na ordem social. Deixar a religião fora dos negócios públicos não é como deixar o azul fora de uma colcha de retalhos; é como arrancar os olhos fora da cabeça. A cegueira é a consequência da doutrina de que os olhos são desnecessários à vida; a desavença é a consequência da doutrina de que o mútuo amor é desnecessário às relações entre marido e mulher; a violência, a desordem, o derramamento de sangue são a consequência da doutrina de que a justiça é estranha à ordem económica. 

De modo semelhante, deixar a religião fora da ordem social não é a negação de alguma coisa indiferente; é a privação de alguma coisa indispensável. Deixar fora da ordem secular a justiça, o amor, a caridade, os direitos humanos, os deveres, todos os quais pertencem. à religião, é como deixar a alma fora do corpo. Deixar a alma fora do corpo não é ficar com o corpo sem alma, é a morte; deixar a religião fora da sociedade não é ficar com uma civilização secular, é o caos. Demonstra a história que, se uma sociedade ignora a religião, nunca se transforma exatamente em uma sociedade irreligiosa; torna-se anti-religiosa.

in, DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA
O PROBLEMA DA LIBERDADE (1)
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O liberalismo de que nos fala Fulton  Sheen surgiu de um grupo de pensadores da Europa do decorrer dos séculos XVII e XVIII, nos tempos em vigorava a teoria do absolutismo em que o Rei tinha a primazia sobre todos os assuntos das Nações, tendo surgido a partir do Iluminismo que se opunha à excessiva intervenção do Estado, tendo sido auxiliado pelo espírito empreendedor e autónomo da burguesia, abrindo espaço para outras possibilidades na relação entre os homens e o mundo. 

O burguês, que se lançava ao mundo para o comércio e usava a somente a própria iniciativa para alcançar seus objetivos, destoava de todo um período anterior onde os homens se colocavam subservientes ao pensamento religioso.

É, ainda o que temos hoje.

O Liberalismo continua actuante, mas com a diferença cobarde de, quando é preciso, fingir que aceita a religião, mas tendo presente que ele á um meio e não um fim, para como diz o povo "estar de bem com Deus e com o Diabo".

quinta-feira, 25 de maio de 2017

"O orgulho não quer dever"...


O orgulho não quer dever e o amor próprio não quer pagar.

Françóis de La Rochefoucauld
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O génio do pensador reside no modo como lê a atitude do homem perante os seus iguais, a quem deve por um dever natural o entendimento deles serem seus semelhantes e, como tal, sujeitos de atenções que têm de ir beber à génese que o Amor Divino criou com uma marca indelével.

Esta sentença de La Rochefoucauld é, por isso, uma síntese que devemos ter em conta, pois se o orgulho não cede e o amor próprio se recusa a pagar ao outro aquilo que lhe deve, que é, quase sempre, um pedido de compreensão ou de desculpa o que acontece é o amuo, o corte de relações, quando não a guerra.

Essa é a razão que me leva a ler esta palavra sábia deste moralista francês do século XVII, o que prova que a cultura humana do homem é de todos os tempos porque ele é desde todos os tempos um ser que Deus tem procurado aperfeiçoar. 

Podíamos ser melhores se não fora a toleima de vivermos por demais esquecidos das suas Leis imutáveis.

domingo, 21 de maio de 2017

"Aquilo que guia o mundo"...


Aquilo que guia o mundo não são as máquinas, mas as ideias.

Victor Hugo
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Leio e penso neste conceito de Victor Hugo e o que vejo plasmado nele é aquilo que está escondido nestas poucas palavras, e dou comigo a pensar numa ideia moderna: "a máquina domina o homem", como se o homem se tivesse rendido e deixasse de reflectir que a máquina só existe pela força das suas ideias e têm de continuar a ser estas a comandar o caminho das coisas e não as coisas  a guiar "o mundo".

É preocupante continuarmos a ouvir o que, não raro, ouvimos - e Victor Hugo já ouviu no seu tempo - dando a primazia a uma engrenagem que é o fruto do poder espiritual do homem que recebeu de Deus o mandato de a poder criar e dominar, pelo que se entende, hoje mais que nunca, que o homem pense na maravilhosa máquina que é a sua mente e o seu corpo que reage e actua sob o impulso da mente, e não se deixar submeter a impulsos descristianizados que estão a desvirtuar aquilo que ele é perante a Obra da Criação e o Mundo que lhe cabe conduzir, criando, mas sem se deixar subjugar pela obra que sai das suas mãos por Obra e Graça do poder de Deus.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

V Domingo da Páscoa - 14 de Maio de 2017



A proclamação da Segunda Leitura inserida na Liturgia da Palavra deste V Domingo da Páscoa, no cumprimento das minhas funções paroquiais de Leitor da Palavra de Deus que cabe  aos leigos dentro da Celebração  da Eucaristia, coube ao autor deste "blog", que por um motivo íntimo - onde avulta o peso da idade e alguma falta de saúde - ao caminhar para o ambão, sentiu que era chegado o momento de deixar uma função de serviço paroquial que durava há cerca de 40 anos.

E de tal modo senti o que me ia no pensamento que acabada a Eucaristia, pelo caminho de regresso a casa dei graças a Deus pelos longos anos em que Ele teve a infinita bondade de me ter dado saúde e uma voz que aprendeu que a leitura dos textos Sagrados tem de ser uma proclamação respeitosa em que o ênfase dado à Leitura e que cumpre ser dado pela voz do Leitor tem de ser ouvido por toda a Assembleia, levando-lhe, distinto, todo o sentido da Palavra milenar inspirada por Deus.

Falhei, certamente, mas nunca, em momento nenhum esqueci este propósito.
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Cristo, pedra angular 

Aproximando-vos dele, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus, também vós - como pedras vivas - entrais na construção de um edifício espiritual, em função de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo. Por isso se diz na Escritura:
Eis que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida, preciosa; quem crer nela não será confundido.
A honra é, então, para vós, os crentes; mas, para os incrédulos, a pedra que os construtores rejeitaram, esta mesma tornou-se a pedra angular, e também uma pedra que faz tropeçar, uma pedra de escândalo.
Tropeçam nela porque não creram na palavra; para isso estavam destinados.
Vós, porém, sois linhagem escolhida, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido em propriedade, a fim de proclamardes as maravilhas daquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável.
(1 Pd 2, 4-9)

Esta Palavra que a Liturgia do anterior Domingo escolheu para ser proclamada em todas as Igrejas apostólicas romanas tem uma singularidade que não pode passar despercebida, sobretudo pela sua mensagem simples, provando deste modo aos sábios deste tempo - mesmo os que dento da Igreja têm lugares de relevo, desde o Papa, passando pelos seus Cardeais, Bispos, Padres e Diáconos, usam, por vezes, uma linguagem compacta, complexa e prolixa que poucos entendem, pelo que o exemplo de Jesus quando falou da "pedra angular" - falando de Si mesmo - para nos dizer que, em qualquer construção as pedras que fecha os cunhais, são as mais importantes por manterem a solidez da construção.

A sua doutrina era isso mesmo: Uma "pedra angular" sobre a qual devia assentar toda a construção espiritual, alertando os homens, sem excepção, que todos o deviam ser com o fim de manterem firmes as sociedades em que vivem.
Mas aquela pedra se não for utilizada para aquilo que se pretende pode ser, com Ele disse, "uma pedra que faz tropeçar" por não terem acreditando nela.

Vou guardar no baú das minhas memórias onde ficam, enquanto viver, as lembranças dos tempos  e são já, pela graça de Deus muito longos os que hei dado e assim vou continuar a dar na minha qualidade de leigo interessado nas coisas de Deus, à Igreja Romana, no meu espaço paroquial, tendo-me este "V Domingo da Páscoa de 2017" deixado a pensar que "pedra angular" tenho sido no edifício espiritual onde habita não o meu corpo finito e material, mas a minha alma incorpórea mas animada de uma vida singular, como é, aliás, a que existe em todos os viventes.

sábado, 13 de maio de 2017

"Penso que é indispensável"...



Penso  que é  indispensável fazer um grande mal  momentâneo para que  venha  a ser possível um grande bem duradouro.

Denis Diderot
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Sei de um rifão popular que diz assim: "O arrependimento é o remorso aceite" e é nele que vejo um retrato da alma humana, em que de um mal que se faz, mesmo que não seja momentâneo - como diz Diderot - se ele operar um arrependimento sincero, o que vem a seguir é a quietude da paz e o viver de bem consigo e com o outro.

É. por isso, que eu penso - porque acções mal feira todos fazemos - o que falta fazer para um melhor concerto do Mundo, é serem precisos actos de introspecção moral desses momentos menos bons e concluir deles a necessidade de emenda para se conseguirem "os bens duradouros" que nos aquietem e nos tornem melhores e mais sociáveis.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Uma data para lembrar!


Uma data para lembrar: A chegada do Papa Francisco a Portugal, nao em visita de Estado, mas em visita de peregrino, o que faz toda a diferença!


Deslocação do Papa em Monte Real para a Capela da Senhora do Ar
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Eu vi lágrimas de alegria nos olhos de jovens portugueses e senti que ao verem aquele homem vestido de branco - que está a dar um novo rosto à Igreja Romana, prosseguindo um caminho que vem desde Leão XIII e se acentuou a partir de João XXIII - aqueles jovens eram sinceros naquelas lágrimas, na espera confiante de um Mundo melhor, que é, afinal, uma das grandes Mensagens da Nova Igreja e do Papa Francisco, cujo lema é mandar os seus Bispos e Sacerdotes para os lugares mais periféricos das cidades, onde o vício e a droga marginalizam os seus residentes e chamá-los à realidade de um Mundo que não pode ser feito com eles marginalizados.


Eu vi lágrimas de alegria que foram sinais de esperança e o meu pensamento voltou-se para o nº 53 da Exortação Apostólica do Papa Francisco "Evangelii Gaudium" (A Alegria do Evangelho), onde ele proclama:

Não a uma economia da exclusão

Assim como o mandamento «não matar» põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer «não a uma economia da exclusão e da desigualdade social». 

Esta economia mata. 

Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o facto de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social. Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. 

Em consequência desta situação, grandes massas da população vêem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve início a cultura do «descartável», que aliás chega a ser promovida. 

Já não se trata simplesmente do fenómeno de exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são «explorados», mas resíduos, «sobras».


Retenhamos um frase do Papa: 

Esta economia mata.

E é que mata mesmo!
Que a voz do Papa Francisco que hoje se fez ouvir em Portugal, continue assim a falar direito a esta economia que é matriz dos deserdados da sorte, seja, individualmente, seja colectivamente.

Esta economia mata.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Uma carta para Jesus!


Esta carta invulgar, bem o sei, tem um destinatário bem conhecido, mas também sei não há carteiro humano que a faça chegar aonde eu quero que não seja este carteiro invulgar que é o meu coração, lembrando-se que está prestes a chegar a Portugal o Papa Francisco, cuja missão - entre tantas que não têm conto - é fazer lembrar a cada criatura que cada uma devia ser, se não é, "SAL DA TERRA", que assim o disse Jesus e o Papa Francisco sendo pela sua alta missão o seu fiel representante, tem sido isso: SAL DA TERRA.

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Aqui vai o teor da minha carta.

Senhor Jesus: 

Seguindo a sabedoria que usavas para que compreendessem tudo o que dizias e porque sabias que era costume na Palestina do Teu tempo, apanhar-se sal nas margens do Mar Morto... muito dele sem préstimo, por ser impuro.

Tu, Senhor, sabendo que tudo quando dizias era são e era bom para todos, num certo dia, no meio de uma reunião com  os Teus apóstolos disseste-lhes, esta coisa aparentemente estranha: Vós sois o sal da terra.

E nesta alegoria, o sal de que falaste, ao invés do outro, impuro e sem sabor que era deitado no monturo, tinha, no modo singular como costumavas falar das coisa santas de Teu Pai, toda a pureza, pois era assim que devia ser  preservada a Tua Palavra.

Senhor Jesus: 

Faz que sejamos hoje, neste tempo magro  e amarguradamente ensosso como foram os teus apóstolos - sal da terra.
Faz que à nossa volta, o mundo que passa, tão necessitado de um novo sabor que dê à vida um outro encanto e um outro modo mais puro de a viver, aprenda, que só o sal de que falaste é que pode renovar a vida interior, pois só ele é que tem um sabor eterno e pode purificar todos os caminhos.

É preciso - e Tu bem  sabes - que os homens ponham um colorido mais vivo em todos os seus passos... ajuda-nos, por isso, Senhor, a pôr os nossos pés em cima dos Teus sinais!
Ajuda-nos a estar do Teu lado... a ser Contigo um sal precioso neste mundo. Faz, Senhor, que o nosso gesto seja sempre o de dar gosto à vida.

Para tanto, faz que a nossa fé se leia, muito mais que nas nossas faces, em cada um dos nossos comportamentos... mesmo nos mais vulgares!
Faz, que sejamos, com a Tua Palavra um alimento sempre temperado, pois, de que nos serve andarmos por aí, comendo fartos manjares se neles está ausente o sal que Tu quiseste, fossem os Teus apóstolos?

De que nos servem os momentos de alegria... se no fim o gosto que fica é um sentimento de culpa, de não Te termos levado connosco para a vida?

Faz, Senhor, que a diferença entre um crente e aquele que não crê em Ti, seja precisamente o sal da terra... aquilo que dá sentido à nossa fé.

Faz, Senhor, que este mundo que é, em tantos lugares, um Mar Morto, com margens corrompidas e onde flui o sal impuro que a nada dá sabor, refresque as águas paradas e das suas margens renasçam os homens novos que sejam sal da terra!

Faz, Senhor, que eu seja, embora indigno da grandeza dos Teus apóstolos um punhado de sal... pequenino... mas que possa, com ele,  dar um renovado sabor dentro do meu lar, no meu emprego, na bicha do autocarro que tarda sempre ao fim da tarde e seja assim, também,  dentro da Igreja onde costumo ouvir a Tua Palavra.

Seja o cortador...



Seja o cortador  da sua própria lenha. Assim, ela aquecê-lo-à duas vezes.

Henry Ford
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Porque fixei a minha atenção neste conceito do bem sucedido empresário estadunidence, a quem coube a honra de ter sido o fundador da Ford Motor Company e autor de livros famosos no âmbito do seu afã industrial, como "Minha Vida e Minha Obra" e "Minha Filosofia de Indústria"?

Resposta simples que me levou até à leitura do Génesis, quando nos relata uma conversa entre Jacob e seu tio Labão, cuja casa servira como pastor,

Num dado momento Jacob disse a Labão que o deixasse partir, dizendo-lhe:

«Tu sabes como te servi e o que ganhaste comigo. Porque o que tinhas, antes da minha chegada, era pouco, e tudo aumentou muitíssimo: (Gn 30, 29-30) e a que Labão respondeu: «Que te hei-de dar?» Jacob respondeu: «Não me darás nada, mas, se acatares a minha proposta, tornarei a apascentar e a guardar o teu rebanho. (Gn 30, 31.32), tendo, por fim, como diz o relato bíblico, com a sua pertinácia empreendedora juntado "rebanhos para si que não reuniu ao gado de Labão" (Gn 30, 40).

Infere-se daqui que Jacob quis ganhar a sua independência - trabalhando para ele com o seu trabalho - e é, esta circunstância de raiz bíblica que fez voltar o meu pensamento para Henry Ford, nascido numa fazenda rural e iniciando a sua emancipação com a reparação das máquinas agrícolas de seu pai depois de ter observado o seu funcionamento mecânico, o que o levou a ser, como foi um dos industriais mais famosos do Universo.

Eis, porque, emancipando-se, como fez Jacob, foi  o "cortador da sua própria lenha", tendo feito com o seu acto um hino ao trabalho que é, por sua própria natureza, um afã que Deus aprovou desde a primeira aurora dos tempos.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Oração do Peregrino




ORAÇÃO DO PEREGRINO

Eu sou, Senhor,
Um peregrino
Sempre de viagem.
E em Ti,
Desde que me conheço
Penso e aconteço.

Mas, às vezes, 
Não sei como trepar
Sobre o muro que aparece!

Por isso, Senhor,
Dai-me sempre
A coragem serena
Para aceitar
Aquilo que Tu queres,
Como se cada dia
Contigo, 
Fosse um novo começo.
Ajuda-me a receber
e a amar  o que me dás.
E não aquilo que às vezes
Erradamente,
Julgo que mereço!


(De um livro a publicar sob o título
VELA AO VENTO)