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domingo, 31 de dezembro de 2017

Uma quadra de Augusto Gil que se deseja presente no ano de 2018



Neste fim de ano e a pensar no Ano de 2018 sirvo-me de uma quadra desse Poeta famoso  e um dos líricos maiores da Poesia portuguesa, que se chamou Augusto Gil, para desejar que em todos os lares de qualquer latitude geográfica reine a paz de Deus todo o ano, porque ela é a maior prenda que nos pode trazer o ano que vamos receber em Portugal dentro de uma hora.

Por este tempo dizem-se muitos lugares comuns, ou seja, palavras feitas e socialmente agradáveis de pronunciar e ouvir, mas em cada um dos versos da quadra do Poeta, nem um só é lugar comum, por espelharem na profundidade do seu espírito o que de melhor lhe ia na alma, razão suficiente que me levou a endereçar a todos os meus amigos e leitores deste "blog" este sentimento genuíno da alma portuguesa, que é no mais puro de si mesma um meio de desejar, fraternalmente, um bom Ano com Paz e Saúde e com Deus dentro dos corações de cada criatura.

É meu desejo profundo que no decurso de todo o Ano de 2018 esta oração feita de quatro versos singelos de Augusto Gil, expresse o meu sentir.

"Receita de Ano Novo" de Carlos Drummond de Andrade

2018



RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade 


Um sentido para a Fé


Fé é um pássaro que canta em plena noite, porque acredita que vai nascer um novo dia.
(Rabindranath Tagore)
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Vista estritamente do ponto de vista teológico a fé tem merecido desde o Apóstolo S. Paulo as mais variadas conjecturas e explicações, tendo merecido muitos milhares de livros, e entre eles, um que foi publicado no século XX e a que o autor – Leo Trese – chamou: "A Fé Explicada", que nos fala num ilustrado compêndio começado com “O Fim da Existência do Homem” e acabado com um capítulo destinado à “Bíblia”.

Tagore é mais simples e menos complicado que Leo Trese.

Compara a fé a um simples pássaro – que simboliza no seu místico pensamento todo o homem -  levado a cantar em plena noite, sensibilizado, porque no mais fundo de si mesmo  ele sabe que vai nascer um novo dia, assumindo assim uma crença que passa por cima das sombras da noite, por muito escura que seja.

Contudo, ter fé não é uma assunção simples pelo facto dela ter de nascer associada à razão e vir de dentro para fora do homem e, assim, informar todas as suas acções, donde se pode inferir da justeza do célebre conceito de André Maurois, quando nos diz que a razão de ser de qualquer fé é trazer-nos uma certeza, e esta só se conquista no interior do homem pela aceitação que este faz – num dia qualquer – de uma crença que a sua razão aceite.

Sendo, por isso, lícito concluir que a certeza de que nos fala o ilustre académico pode ter o sentido da fé que nos é dado pela Fonte credível da Bíblia, mas também, o de uma outra fé qualquer, desde que o poder da razão a veja como uma possibilidade de trazer uma certeza naquilo que se procura ou se deseja aceitar como conduta da honra e da moral que deve orientar o homem de bem.

Dir-se-á, por isso, que a fé supõe: acreditar na dignificação da existência, que é dever cumprir de peito aberto aos olhos do mundo e poder fazer isto em plena noite – seja a que é marcada pelo calendário ou a que se funda dentro do espírito do homem em busca da luz – pois é por aqui que passa a grande conquista que é preciso fazer, porquanto, é sempre em qualquer destas noites que é belo acreditar que se vai fazer dia, ou se quisermos, luz.

Sobre o que vimos dizendo, alinha-se por cima de todas as modernas concepções a Encíclica “Fé e Razão” (Setembro-1998) de Sao João Paulo II, que a abrir diz estas palavras admiráveis: A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-o e amando-o, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio.

De sublinhar que João Paulo II antes de apontar ao homem, como uma condição, o conhecimento de Deus, coloca o assunto ao contrário, ou seja, dá-lhe a primazia para este se conhecer a si mesmo, e, em última análise, aparece o conhecimento que este deve fazer de Deus, ou seja, a razão é colocada antes da fé.

Isto é significativo, porque é a resposta do tempo actual onde navega a Barca de Pedro que  não quer molestar – e muito menos violentar -  a consciência do homem, dando-lhe toda a liberdade na escolha do caminho, como se ele fosse, o pássaro de Tagore, que canta em plena noite, porque acredita que vai nascer um novo dia, e para que o exame que é precisos fazer com as armas profícuas da razão, sejam, como diz o texto pontifício,  as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade, que é, por fim, onde se encontra a fé, no cumprimento de um princípio que ao ser atingido pela razão natural, pressupõe que ela transporta em si mesmo o mistério da existência do homem como um ser religioso, ainda que o não queira reconhecer.

sábado, 30 de dezembro de 2017

O necessário sonho seguinte!

O Sonho, pintura de Pierre Pluvis de Chavannes 
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O que é bonito neste mundo, e anima, é ver que na vindima de cada sonho 
fica a cepa a sonhar outra aventura.
(Miguel Torga)

Torga foi um génio de criação artística no domínio do estro que costuma marcar como “marca d’água” o verbo que reflecte a fina sensibilidade do seu criador, como aconteceu com muitas das palavras de recorte telúrico com as quais este transmontano de gema, não raro, brindou os seus leitores ao longo de uma produção literária valiosíssima.

Muitas das suas palavras brotaram a partir do miradouro de São Leonardo da Galafura onde costumava admirar o Douro que corria aos seus pés – não rendido, mas dominador - enchendo a sua alma que se comprazia nos socalcos dos montes, quando ao olhar as cepas dos vinhedos alinhados numa geometria artística a emoldurar a terra úbere, eram um regalo para os olhos deslumbrados do grande Poeta e profundos motivos de meditação.
Não sabemos se a frase que vai em epígrafe nasceu ali, mas que foi ali buscar alimento espiritual, parece não haver dúvidas.

Ao dizer-nos que nos deve animar o facto de sabermos que na vindima de cada sonho fica a cepa a sonhar outra aventura, o Poeta transmite-nos não o dom daquela esperança que o homem costuma pedir de empréstimo ao seu desejo natural de felicidade, mas a adesão voluntária, firme e absoluta do espírito à certeza que ele sentia ao olhar as cepas das videiras que enchiam o seu olhar, porque depois da vindima e da quedas das folhas, nas raízes que as prendiam à terra ou às fráguas continuavam vivas na sua morte aparente, as vindimas do ano seguinte.

A vida do homem prende-se a este conceito.

Na certeza que é preciso alimentar como um sonho que tem de sobreviver à morte de um outro sonho qualquer, devendo estar isto latente na vida de todos os que,  prosseguem ao longo da sua caminhada terrena o aviso sensato do romancista francês, Henry Céard, que nos diz: o desprendimento de tudo nunca é tão completo que não sobreviva ainda um sonho à morte dos sonhos, ou seja, por cima de todas as catástrofes – que nos desalentados costuma ser a morte de todos os sonhostem de continuar a existir o arreganho de se continuar a sonhar como uma nova etapa, ou outra aventura, como diz Miguel Torga.

Desistir, é por isso, um verbo que deve ser vedado à linguagem e à acção do homem, porquanto o conduz à condição de servo que não pensa por si e não ao dono que ele é do seu próprio destino, do qual deve dar contas, não ao outro, mas a si mesmo a quem deve por um dever de dignidade humana o respeito e o amor-próprio que o ajuda a encontrar pela rota dos sonhos, aquele que ainda lhe falta realizar.

E, quantas vezes, acontece, ser precisamente no sonho que ainda não foi vivido que se encontra a felicidade que em vão se procurou nos sonhos passados.
Assim, é preciso que na vindima de cada sonho se deixe ficar incólume a vontade de seguir adiante, porque é na cepa – que é a vida de cada homem -  que tem de se continuar sonhar outra aventura, sem o que deixamos ficar para trás não só o que se perdemos como aquilo que é possível ganhar.

Não nos esqueçamos que só existe, verdadeiramente, o desprendimento de tudo no último feixe de vida e que, enquanto esta durar, temos de fazer sobreviver a todos os sonhos perdidos o que ainda não foi vivido.

Esta é a senha.Não há outra.

Jesus convida-me para mais um ano!


Não esqueço
que neste Novo Ano que se avizinha
tenho pela frente a nova montanha que aguarda
a minha força física e espiritual.

Sei que lá no cimo dos meus problemas
 - a tal montanha que tenho de vencer –
está a Cruz que me guia em todas as dificuldades
e por detrás dela – diáfano – mas visível e presente,
está Jesus, de braços abertos,num convite franco, 
a desejar ser meu condutor
na nova caminhada de mais um ano.

É por isso que neste fim de ano,
tenho de olhar para trás
- porque é preciso olhar o tempo que lá vai –
para corrigir algo mal feito nesta  caminhada
que fiz  em mais um ano e pedir,  humildemente, 
que Deus me dê:

- o dom da introspecção
- e o dom do silêncio.

O primeiro 
para entrar dentro de mim
no poço fundo da minha consciência
e poder deitar fora o lastro cheio de bolor 
das coisas sem valor
que se foram amontoando
ao longo deste ano que vai findar...
e tantas delas,
contra minha própria vontade.

E o segundo, 
porque é preciso haver silêncio,
neste dia em que já se vislumbra
o ocaso deste ano,
para que possa entender melhor
muitos dos barulhos inúteis em que vivi,
por demais.na grande Roda do Tempo!

Neste dia, que Jesus de Nazaré
que formou com seus pais
uma comunidade de amor e de entreajuda
me dê o modo de ser, 
no Ano Novo que aí vem
com os meus familiares
uma comunidade assim, para meu bem
e da sociedade que espera de mim
menos barulho e mais silêncio,
para que eu possa entender melhor
este Mistério em que tenho vivido
até este dia!

Uma vergonha, meus senhores!

http://rr.sapo.pt
http://www.sapo.pt/ de 30 de Dezembro de 2017
    http://rr.sapo.pt de 30 de Dezembro de 2017
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A "golpada" - como é chamada - é uma falta de pudor, só possível porque o Partido Socialista (PS) o Partido Social Democrata (PSD) o Partido Comunista Português (PCP) e o Bloco de Esquerda (BE) se conluiaram às escondidas do povo - de que nos enchem a boca - para o presentear como uma lei iníqua e desqualificadora dos seus subcritores, tomando o povo como se este fosse uma mole imensa de mentecaptos que apenas serve para votar e escolher os deputados, que depois fazem o que lhes convém com desprezo total para aqueles que os elegeram.

A esta "golpada" ficaram imunes o Centro Democrático Social (CDS) e o partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) que embora se tenham  reunido com os que assinaram esta lei obtusa, na hora exacta se desligaram dela, mas cometendo a falta imperdoável de nunca a ter denunciado senão na hora em que lhes foi pedida a assinatura.

Dizem, hoje, as notícias escritas (jornais Expresso e Sol) que o Presidente da República a cumprir um breve internamento hospitalar se prepara para vetar a lei na próxima semana,  sobre a qual António Costa disse, à saída do hospital onde foi visitar o PR: "Não me recordo de uma alteração com consenso tão amplo", o que é verdade... mas uma daquelas verdades que esconde o embuste que andaram durante meses a omitir do debate público, ou seja, das suas reuniões secretas e, aqui, cabem todos os partidos do Parlamento.

Ficamos assim a saber que nem todas as leis são para discutir publicamente, porque há leis que são para a República cumprir no seu todo e outras - como esta infeliz lei - que era apenas para cumprir por aqueles que nós elegemos, e que levou António Costa a cometer este desaforo: "Não me recordo de uma alteração com consenso tão amplo" - sem pensar que com esta frase disse o que estava encoberto... porque quando a lei, como aquela, os unia para proveito próprio o consenso foi amplo. 

O contrário é que era de estranhar!

Este passo dos senhores deputados merece uma acérrima censura por denotar uma total ausência de respeito pelo povo contribuinte que paga tudo o que compra com a taxa adicional do IVA, enquanto os partidos que eles representam - e mal pelo atropelo que fizeram - ficavam livres desta taxa nos momentos em que, por razões partidárias ou em tempos eleitorais realizam as suas festas ou comícios, onde o povo que assistem àqueles eventos pagam o IVA nas suas aquisições e os partidos ficavam livres de pagar o IVA nas aquisições que fazem para levar a cabo tais realizações!

Uma vergonha, meus senhores!

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

A verdade...


De vez em quando os homens tropeçam na verdade, mas a maioria deles levanta-se rapidamente e continua o seu caminho como se nada tivesse acontecido.
 (Winston Churchill)
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O que é a verdade?

Eis uma pergunta que tem acompanhado os homens de todos os tempos sem que para ela – pesem embora todos os estudos e ciências – se haja encontrado uma resposta comum e que pelo facto da evidência real da sua natureza, o homem se tenha deixado ficar de tal modo preso à verdade indefectível que existe em qualquer dos campos da realização humana, que tenha passado a segui-la para sempre, quando o que acontece, como avisadamente nos diz o grande homem que foi o antigo Primeiro Ministro britânico é que, a maioria, esquece-a e rapidamente e continua o seu caminho como se nada tivesse acontecido.

É a tragédia que temos presente por cima da nossa fragilidade desde os primórdios da sabedoria humana, tal como nos diz – para citar um exemplo –  Samuel, o derradeiro juiz de Israel:  Na verdade, em vão tenho guardado tudo quanto este tem no deserto, e nada lhe faltou de tudo quanto tem, e ele me pagou mal por bem. (1Sa 25, 21) – apresentando assim o queixume do rei David sobre Nabal - um insensato como a Bíblia refere - que esqueceu a verdade que havia no sentimento da amizade e passou adiante pagando mal por bem.

Diz a cultura da velha Grécia – no tempo actual tão maltratada pela hodierna economia selvagem que esquece os créditos de tão velha Nação – que na sua sabedoria a verdade se chama aletheia, significando: nada escondido ou dissimulado, porquanto o verdadeiro é o que se manifesta aos olhos do corpo e do espírito, sendo a verdade a manifestação daquilo que é ou existe tal como é, opondo-se o verdadeiro ao falso, ao encoberto, ao escondido ou dissimulado, àquilo que parece ser e não é como parece.

O verdadeiro é o evidente ou o plenamente visível para a razão.

Na cultura latina, onde se enraíza a língua portuguesa a verdade diz-se veritas, referindo-se à precisão, ao rigor e à exactidão onde é dito com detalhes, pormenores e fidelidade aquilo que aconteceu. Verdadeiro, refere-se, portanto, à linguagem enquanto narrativa de factos acontecidos, dizendo fielmente as coisas tal como aconteceram.
Temos assim, que o relato de Samuel apresenta a verdade de um acto acontecido sem as distorções que, quantas vezes fazemos das coisas que acontecem, que não só se apresentam como falhas à realidade, como se deixam ficar na sombra do disfarce.

Se voltarmos ao brilhante axioma de Winston Churchill, constamos que ele usa o verbo “tropeçar” para nos dizer, que  – de vez em quando – o homem tropeça na verdade, ou seja, por não fazer dela uma conduta, cai ao que parece com algum espanto, porque logo que dá conta do “tropeção” levanta-se, sacode a vergonha de ter caído na verdade – como se fosse uma armadilha – olha em redor e com medo de ter sido visto segue o caminho como se nada tivesse acontecido.

Na leitura bíblica de que falamos, Nabal fez o mesmo.

Esquecido da verdade que devia assumir perante o rei David passou adiante deixando para a esposa Abigail o pedido de desculpa que era preciso fazer em face do mau procedimento do marido que havia mandado a verdade para o lixo da esterqueira moral dos seus sentimentos.

Nabal caiu um dia, por acaso, em cima da verdade.
Não raro é o que fazemos, pois desde o mais fundo da História temos passado séculos à sua procura… e, no entanto, há dois milénios, já nos foi dito o que é a Verdade.
Fonte inexaurível que é o cadinho onde se formam as verdades correctas para todos os actos que praticamos… mas muitos de nós não acreditamos!

"Sê tu mesmo"...


A ÁGUA É MAIS FORTE QUE A ROCHA

Sê tu mesmo, e o mundo será mais rico e mais belo. Mas se não fores capaz disso, se fores mentiroso e cobarde, o mundo será pobre, e então necessitará de uma melhoria. (Hermann Hesse)
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Desafio os leitores deste "blog" a debruçarem-se sobre o perfil do homem que foi Hermann Hesse, prémio Nobel da Literatura de 1946, porque há-de ser sempre o pensamento dos mestres que nos ajudam a construir um mundo melhor e este autor alemão com a sua escrita procurou que ele o fosse, para bem da colectividade.

Sê tu mesmo - diz ele a abrir o pensamento que se publica -  o quer dizer que devemos ser íntegros no cumprimento dos bens naturais que recebemos à partida nesta aventura de viver a que fomos chamados, na certeza que esses bens são pródigos de rendimentos profícuos quanto á condução da vida, se não formos mentirosos e cobardes.

Sê tu mesmo, quer ainda dizer que nem sempre estamos obrigados e viver dentro das normas comportamentais de benevolência para com uma parte do mundo nem sempre correcta – sobretudo, quando esta se posiciona influente mercê do seu domínio sobre o dinheiro, em obediência a um comportamento espúrio – tomando, desse modo, uma atitude mentirosa quanto aos meios que usa e cobarde perante a força que desencadeia contra os mais fracos.

Sem me fazer acusador de ninguém – porque a tal me obriga a contenção da ortodoxia moral  - penso que nos cumpre no tempo que passa, de tanto génio exaltado e tanta violência de palavras, chamar a atenção para outro conceito de Hermann Hesse, quando nos diz que a água é mais forte que a rocha e ser, por isso,  importante para o colectivo chamar à colação o sentido espiritual que deve unir a frágil água dos fracos contra a rocha que os poderosos dizem ser e fazendo gáudio disso mesmo.

Portugal não é um País violento mas está desperto – e muito bem – para as injustiças de um mundo em que é a regra passou a ser o domínio do dinheiro que em grande parte justifica que: Certamente há situações, cuja injustiça brada aos céus. Quando populações inteiras, desprovidas do necessário, vivem numa dependência que lhes corta toda a iniciativa e responsabilidade, e também toda a possibilidade de formação cultural e de acesso à carreira social e política, é grande a tentação de repelir pela violência tais injúrias à dignidade humana. (Populorum Progressio n º 30.)

Eis, porque, em determinadas situações no pensamento da própria Igreja romana, pode ser grande a tentação de repelir pela violência os maus tratos, mas sem esquecer que devemos uns aos outros o respeito que a nossa condição humana nos pede sem abdicarmos de fazer sentir a razão que temos: Sê tu mesmo, e o mundo será mais rico e mais belo, ou seja, sejamos nós mesmos, reagindo, mas não insultando ou violentando, porque a insurreição dos espíritos não conduz à paz, pois nunca se pode combater um mal real à custa de uma desgraça maior (Populorum Progressio nº 31)

A água é mais forte que a rocha, diz Hermann Hesse, uma razão suficiente que pode e deve levar os mais fracos a fazerem sentir, na linha do que propõe o documento da Igreja romana nº 30, acima referido, a sua determinação em combater dependências materiais ou morais, que são de todo inadmissíveis à luz do tempo que passa.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Que o Presidente da República nos valha!


http://rr.sapo.pt
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Fim do teto na angariação de fundos

Até agora, os partidos só poderiam ter receitas de angariação de fundos até 1.500 vezes o Indexante de Apoios Sociais (IAS). Ou seja, cerca de 632 mil euros este ano. O novo diploma acaba com este teto, permitindo aos partidos angariar fundos sem limites. Segundo a lei atual, “considera-se produto de angariação de fundos o montante que resulta da diferença entre receitas e despesas em cada atividade de angariação”.

Texto captado com a devida vénia do Jornal online ECO de 27 de Dezembro de 2017

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O que aconteceu é mau demais.

Às escondidas do povo os deputados que este elegeu durante um tempo que não sabemos, reuniram-se entre eles, ao que parece sem registo das conversas - como refere o jornal online ECO - para que a três dias do Natal, a maioria se tivesse entendido para aprovarem a lei que altera o financiamento dos partidos políticos, que a partir de agora podem receber donativos  "à vara larga" incluindo a devolução do IVA, culminando assim - só para eles - o que devia ter sido um debate público, mas que era uma opção contrária às suas intenções, porque o povo não devia perceber o que se estava a passar nas suas costas.

Ou, seja, comportaram-se como "meninos" que a todo o custo querem esconder dos pais as asneiras que fazem. Uma vergonha!

E, no entanto, o que se passou foi muito sério. Os partidos, como já vimos na notícia acima deixam de ter qualquer limite para os fundos que venham a ser angariados, tendo concordado com esta obtusidade o PSD, PS; BE, PCP e PEV e discordado o CDS-PP e o PAN, o que não deixa de lhes garantir a usufruição da lei.

Por que se fez esta lei sem ser discutida publicamnete?
Não há mistério. 
Há, sim, a conjuração inadmissível dos partidos políticos que aprovaram a lei deles e  que se esqueceram de ser os pilares da Democracia

Portaram-se mal, quanto à transparência democrática e ao decoro que deviam ter tido e não tiveram, porquanto se portaram como uns maus representantes do povo na casa da Democracia, atendendo a que o financiamento partidário devia obedecer o que estava acordado para evitar as tentações destes - sobretudo os que alcançam o poder - se verem coagidos pelos mecenas.

Espera-se que esta lei não passe em Belém, e que os representantes do povo - que este elege - passem a ter outra compostura, a menos que queiram derrubar a seriedade que deve haver num regime democrático, que a continuar assim, leva-nos a pensar que os debates - às vezes acesos na Assembleia da República - são um "teatro", porque quando chega a hora de olharem para as finanças partidárias, batem palmas uns aos outros, neste caso com as excepções já referidas.

in, capa do jornal "Público" de 27 de Dezembro 

Sou dos que entendem que a Democracia tem um preço para os contribuintes e para os que, voluntariamente, se filiam nos respectivos partidos políticos, mas não posso concordar que estes se tornem agentes de angariação de fundos, sobretudo, usando processos como este.

Que o Presidente da República nos valha!

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Uma lembrança de João de Deus


Mensagem de Natal do Papa Francisco

O Papa Francisco durante a leitura da sua Mensagem de Natal 
a que se seguiu a bênção solene"urbi et orbi"
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Francisco recordou crises na Terra Santa, Iraque, Síria, Iémen, Coreia do Norte e Venezuela, entre outras
Cidade do Vaticano, 25 dez 2017 (Ecclesia) – O Papa denunciou hoje no Vaticano os sofrimentos das crianças de todo o mundo que são vítimas da guerra e da violência.
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“Vemos Jesus nas crianças do Médio Oriente, que continuam a sofrer pelo agravamento das tensões entre israelitas e palestinos. Neste dia de festa, imploramos do Senhor a paz para Jerusalém e para toda a Terra Santa”, declarou Francisco, na sua Mensagem de Natal, proferida desde a varanda da Basílica de São Pedro e transmitida em direto para dezenas de países, incluindo Portugal.

A tradicional intervenção de 25 de dezembro, que antecede a bênção solene ‘urbi et orbi’ [à cidade (de Roma) e ao mundo], deixou votos de que as duas partes retomem o diálogo e cheguem “a uma solução negociada que permita a coexistência pacífica de dois Estados dentro de fronteiras mutuamente concordadas e internacionalmente reconhecidas”.


Francisco recordou ainda as crianças sírias, “feridas pela guerra que ensanguentou o país nestes anos”, com apelo ao respeito por todos, independentemente da pertença étnica e religiosa.

O Papa falou das crianças do Iraque e do Iémen, “onde perdura um conflito em grande parte esquecido, mas com profundas implicações humanitárias sobre a população que padece a fome e a propagação de doenças”.

“Vemos Jesus nas crianças de todo o mundo, onde a paz e a segurança se encontram ameaçadas pelo perigo de tensões e novos conflitos. Rezamos para que se possam superar, na península coreana, as contraposições e aumentar a confiança mútua, no interesse do mundo inteiro”, referiu.

“Ao Deus Menino, confiamos a Venezuela, para que possa retomar um debate sereno entre os diversos componentes sociais em benefício de todo o amado povo venezuelano”, prosseguiu.

A mensagem de Natal evocou as crianças com que o Papa se encontrou na recente viagem ao Mianmar e Bangladesh, no centro de uma crise humana ligada aos refugiados da minoria ‘rohingya’.

O Natal lembra-nos o sinal do Menino convidando-nos a reconhecê-lo no rosto das crianças
“Espero que a Comunidade Internacional não cesse de trabalhar para que seja adequadamente tutelada a dignidade das minorias presentes na região”, apelou.

Sudão do Sul, Somália, República Democrática do Congo, República Centro-Africana, Nigéria e o leste da Ucrânia, Venezuela foram outros países elencados, com apelos à reconciliação e à estabilidade política.

“Hoje, enquanto sopram no mundo ventos de guerra e um modelo de progresso já ultrapassado continua a produzir degradação humana, social e ambiental, o Natal lembra-nos o sinal do Menino convidando-nos a reconhecê-lo no rosto das crianças”, declarou o Papa.

Francisco lembrou as crianças cujos pais não têm emprego, as que são empregadas desde tenra idade ou alistadas como soldados “por mercenários sem escrúpulos”.

“Vemos Jesus nas inúmeras crianças constrangidas a deixar o seu país, viajando sozinhas em condições desumanas, presa fácil dos traficantes de seres humanos. Através dos seus olhos, vemos o drama de tantos migrantes forçados que chegam a pôr a vida em risco, enfrentando viagens extenuantes que por vezes acabam em tragédia”, acrescentou.

Milhares de pessoas marcaram presença na Praça de São Pedro, para um encontro que começou com votos de “Bom Natal”.

Texto captado da Agência Ecclesia
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Sem tibiezas o Papa Francisco, ao referir-se à recente decisão do Presidente americano de declarar Jerusalém como capital de Israel - que é uma acha para incendiar a fogueira do Médio Oriente - declarou para que todo o Mundo ouvisse que seria asisado que as duas partes retomem o diálogo e cheguem “a uma solução negociada que permita a coexistência pacífica de dois Estados, porque a paz jamais acontecerá enquanto este facto não acontecer.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Dia de Natal - Um poema de António Gedeão


Dia de Natal 

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.

Glória a Deus nas Alturas.

António Gedeão
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Hoje é dia de ser bom. - diz o Poeta a abrir a sua mensagem!

Assim devia ser, efectivamente, se se tivesse deste dia único na História da Humanidade o que ele significa, não só no aspecto espiritual, como no social, porque a vida de Jesus Cristo ao mundo tocou nessas duas vertentes de todos os caminhos por onde passam os homens, porque ele foi espiritual - por ser igual a Deus - e foi humano como um qualquer de nós.

E é isto que nos devia levar a dizer como nos recomenda António Gedeão: Hoje é dia de ser bom, fazendo deste sentimento um motivo do mesmo se repetir com a bondade possível em todos os dias que se seguem ao Dia de Natal, porque Jesus Cristo, como dizem as Escrituras passou fazendo o bem, não apenas num dia, mas em todos os dias em que viveu e conviveu com os homens, algo que no poema pouco ou nada está patente.

Neste poema, o Poeta, começa por se dirigir aos homens sob dois aspectos:  em primeiro lugar, àqueles que se revêem como cristãos católicos - ou não - no Dia de Natal e o vivem centrados com a Mensagem que ele encerra, mas é cáustico ao dizer que sendo para eles dia de pensar nos outros— coitadinhos— usam uma falsa caridade que não é evangélica, acrescentando com o mesmo sentido crítico que é um tempo de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria.

E isto é contrário à verdadeira caridade que tem de estar actuante em todos os dias, mas com especial relevo em Dia de Natal.

António Gedeão, segue depois por outro caminho, ao fazer voar para outro lado o pensamento em muitas partes do seu poema. Continua irónico e, por vezes, é contudente com a disvirtualização do Dia de Natal transformado pelos homens como se fosse um dia seu, mercantilizado, na luxúria das montras e dos escaparates, e como e isto não bastasse de um atropelo à divindade do Dia, existe o "guerrilheiro" Pedrinho e a sua metralhadora que "mata" as criadas que para o alegrar se deixam cair no chão, e até mesmo a mamã e o sisudo papá entram no mesmo teatro, e que não contentes com aquele disparate se erguem, para voltar  a cair crivados de balas...

Querido Menino Jesus, Tu que nasceste neste Dia e que viveste para pregar a paz entre os homens, vê bem o estado deplorável em que os homens - sem juízo - estão a transformar a Tua pregação de Amor, simplesmente, porque não leram nada - ou se leram não perceberam - o motivo principal por que vieste a este Mundo que se deixou perverter, vivendo fora de Ti e da Tua Mensagem.

Por fim, dir-se-á, que vale a pena meditar neste poema de António Gedeão, que a par da parte séria e respeitosa dos Evangelhos, coloca com argúcia o anti-Natal criado por uma sociedade doente e amorfa, a precisar de reler os velhos e sempre novos Catecismos do Amor de Deus por todos os homens de boa vontade, precisados de serem chamados à razão, ou seja ao entendimento dos seus falsos conceitos dos seus dias de natal, esquecendo a Verdade que existe no Dia de Natal deste Menino-Deus, cujo nascimento constitui o Grande Mistério de onde partem todos os Sinais que o Mundo no seu todo ainda não entendeu.