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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

31 de Janeiro de 1891


 Revolta republicana no Porto.
 Foi a primeira tentativa de derrube da monarquia e implantação de um regime republicano.
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Manda a História dizer que  que este acto revolucionário falhado teve por cabeça Alves da Veiga, advogado e um orador eloquente, tido como um "profeta" de um tempo novo que muitos desejavam, tendo o "31 de Janeiro de 1891" como causa próxima o Ultimato Britânico de 1890, agindo os revolucionários contra a cedência do governo de então ao problema causado pelo "Mapa Cor-de-Rosa" que pretendia. como se sabe, ligar por terra Angola a Moçambique.


Fervoroso adepto da Maçonaria, coube a Alves da Veiga ter sido o primeiro arauto da República com a sua proclamação, que ele mesmo fez com o anúncio de um novo governo numa das janelas do antigo edifício da Câmara Municipal do Porto, na então Praça de D. Pedro, hoje Praça da Liberdade.

Lembro a data, porque a História nunca se deve apagar da memória do povo, mas não a enalteço, nem lhe rendo uma vénia, porque a República, bem ao contrário do que foi anunciado, tendo nascido num berço maçónico não trouxe a Portugal o bem apregoado pelos inflamados oradores que foram buscar aos ideais do tempo, aquilo que o tempo, até hoje tem desmentido: a felicidade do nosso povo, por lhe terem faltado as bases sólidas dos aspectos morais de uma sociedade que ficou órfã de conhecimentos e de cultura política, um mal de que ainda hoje sofremos.

A maçonaria esteve na origem do 31 de Janeiro de 1891 e continua, hoje, escondida, a minar por dentro, a puxar os "cordelinhos" sem que o povo se aperceba das suas manobras, o que é, convenhamos, no tempo que passa - que tudo quer às claras - um facto insólito.

domingo, 29 de janeiro de 2017

O Sermão da Montanha - 4º Domingo do Tempo Comum - 29 de Janeiro de 2017


As Bem-aventuranças

Ao ver a multidão, Jesus subiu a um monte. Depois de se ter sentado, os discípulos aproximaram-se dele.  Então tomou a palavra e começou a ensiná-los, dizendo:

Felizes os pobres em espírito,
porque deles é o Reino do Céu.

Felizes os que choram,
porque serão consolados.

Felizes os mansos,
porque possuirão a terra.

Felizes os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados.

Felizes os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia.
Felizes os puros de coração,
porque verão a Deus.

Felizes os pacificadores,
porque serão chamados filhos de Deus.

Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça,
porque deles é o Reino do Céu.

Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa.Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu; pois também assim perseguiram os profetas que vos precederam.

(Mt 5, 1-12)
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O Sermão da Montanha está considerado entre os maiores discursos da História, atendendo  àquilo que nele se encontra para além do aspecto religioso, pois cada bem-aventurança é uma bofetada à nossa sociedade acomodada, esquecida que devia viver embrenhada no espírito em que cada uma delas é uma chamada de atenção à crise de valores em que a Humanidade continua a viver.

Quem são, afinal, os felizes?
Quem são, afinal, os homens que a sociedade considera os felizes?
Os fortes pela riqueza?
Os poderosos pelo poder dos cargos que ocupam?
Os bem instalados... sabe Deus à custa de quem?
Os que fazem o seu caminho em cima dos caminhos de outros?
Os que a si mesmo se julgam acima de todos?

No Sermão da Montanha tudo está centrado no impulso divino que o concebeu para que cada pessoa compreenda em plenitude as regras sociais que lhe cabem cumprir, constituindo, por isso, uma sabedoria que ninguém devia ignorar, a começar pelo entendimento da primeira regra - Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu - da qual dependem todas as regras ou bem-aventuranças seguintes.

Os pobres em espírito - ao invés dos que vivem desalinhados com a Igreja e tomam esta regra por "pouco inteligentes", "papalvos", e outros epítetos semelhantes, estão profundamente enganados e precisam de rever esta atitude, porque são os pobres em espírito os mais ricos perante a sociedade, porque são eles que afirmam eloquentemente a sua humildade perante o Saber de Deus, porque se sentem pobres ante o Ser Supremo.
São os que, perante a sociedade, num simples gesto de humildade e humanidade - porque todos os homens têm direito à felicidade - fazem lembrar, que:

  • Cabe a cada um enxugar as lágrimas do companheiro que foi vitima dum infortúnio.
  • Cabe a cada um ser manso, no sentido de ser cordial, afável, amoroso, compreensivo.
  • Cabe a cada um,  tendo fome e sede de justiça, saber que pode contar com uma sociedade justa.
Por isso:
  • Felizes os que misericordiosos, por saberem que que a alcançarão dos outros e de Deus que se faz presente os que a usam para bem do próximo.
  • Felizes os puros de coração, porque no cumprimento de regras básicas do comportamento humano estão e vivem face a face com Deus que lhe inspira boas acções.
  • Felizes os pacificadores, porque vivendo centrados com o bem estar dos outros - conforme Deus quer - podem ser chamados com todo o direito filhos de Deus.~
  • Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque sofrendo-a por amor dos seus irmãos são herdeiros de Deus.

E, finamente, o Orador do Sermão da Montanha - que era Deus que falava - sabendo o que lhe a acontecer, num certo dia, pela ingratidão dos homens, rematou: Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa.Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu; pois também assim perseguiram os profetas que vos precederam.

Tudo isto dá que pensar.
Jesus veio e falou desta maneira... e, no entanto, como está o nosso Mundo?

Continuamos a assistir aos mais fortes, no poder, podendo não ser os mais sábios, donde se conclui que algo está errado na nossa sociedade e, no entanto, as Bem-Aventuranças não foi um discurso para se continuar a proteger a iniquidade, e muito menos, foi uma promessa para continuar a proteger - acima dos outros - o meu direito à  felicidade egoísta, pelo que nunca é demais que a sociedade em geral as tomem a sério, para que os homens - todos eles - sejam pobres de espírito perante Deus e olhem com mais brandura e justiça para os seus companheiros, tendo um coração de pobres e não de soberbos.

sábado, 28 de janeiro de 2017

E bem pensado!


António Costa num dado momento do último de bate quinzenal, a propósito da queda da Taxa Social Única (TSU) que ele, do alto da sua vaidade ao ignorar - ou a fingir que ignorou - aqueles que podiam viabilizar o acordo com que fez a Concertação Social, e em resposta a Pedro Passos Coelho - com aquele meio sorriso que costuma ter - explodiu, assim:
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«nem a concertação foi minada, nem esta maioria saiu fragilizada. Mas não foi sem consequências que isto aconteceu: se havia parceiros sociais que tinham alguma ilusão relativamente ao PSD, souberam que ignora a concertação social e só quer um ganho político de circunstância. O PSD não conta para a aprovação do que quer que seja nesta casa».
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O PSD não conta... mas contou durante 4 anos para salvar Portugal da bancarrota iminente em que o Partido Socialista de António Costa deixou o País em 2011.

É por isso que a ingratidão é dos piores malefícios que se podem sofrer e António Costa atirou esta seta sem qualquer pudor!
Não foi bonito... até porque aquilo que aconteceu, estava pensado...
E bem pensado!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Minha viola de pinho...


"À Lisboa das Naus Cheias de Glória" - Um poema de António Nobre



À LISBOA DAS NAUS CHEIAS DE GLORIA

I

Lisboa à beira-mar, cheia de vistas
Ó Lisboa das meigas Procissões
Ó Lisboa de Irmãs e de fadistas!
Ó Lisboa dos líricos pregões...
Lisboa com o Tejo das Conquistas,
Mais os ossos prováveis de Camões!
Ó Lisboa de mármore, Lisboa!
Quem nunca te viu, não viu coisa boa.

                                              II

És tu a mesma de que fala a História?
Eu quero ver-te, aonde é que estes, aonde?
Não sei quem és, perdi-te de memoria,
Diz-me, aonde é que o teu perfil se esconde?
Ó Lisboa das Naus, cheias de gloria,
O Lisboa das Crónicas, responde!
E carregadas vinham almadias
Com noz, pimenta e mais especiarias.

III

Ai canta, canta ao luar, minha guitarra,
A Lisboa dos Poetas Cavaleiros!
Galeras doidas por soltar a amarra,
Cidade dc morenos marinheiros,
Com prôa para países cstrangciros! _
Uns p'ra França, acenando Adeus! Adeus!
Outros pr'ás Índias, outros... sabe-o Deus!

IV

Ó Lisboa das ruas misteriosas!
Da Triste Feia, de João de Deus, ‘
Beco da Índia, Rua das Formosas,
Beco do Fala-Sò (os versos meus...)
E outra rua que eu si de Duas Rosas,
Beco do Imaginário, dos Judeus,
Travessa (julgo eu) das Isabeis,
E outras mais que eu ignoro e vós sabeis!

V

Meiga Lisboa, mística cidade!
(Ao longe o sonho desse Mar sem fim.)
Que pena faz morrer na mocidade!
Teus sinos, breve, dobrarão por mim.
Mandai meu corpo em grande velocidade,
Mandai meu corpo p'ra Lisboa, sim?
Quando eu morrer (porque isto pouco dura)
Meus Irmãos dai-me ali a sepultura!

VI

Luar de Lisboa! Aonde o há igual no Mundo?
Lembra leite a escorrer de tetas nuas!
Luar assim tão meigo, tão profundo,
Como a cair d’um céu cheio de luas!
Não deixo de o beber nem um segundo,
Mal o vejo apontar por essas ruas.
Pregoeiro gentil lá grita a espaços:
"Vai alta a lua!" de Soares de Passos.

VII

Formosa Sintra, onde, alto, as águias pairam,
Sintra das solidões! Beijo da Terra!
Sintra dos noivos, que ao luar desvairam,
Que vão fazer o seu ninho na serra;
Sintra do Mar! Sintra de Lorde Byron,
Meu nobre camarada de Inglaterra!
Sintra dos Moiros com os seus adarves,
E, ao longe, em frente, o Reino dos Algarves

VIII

Romântica Lisboa de Garrett!
O Garrett adorado das mulheres,
Hei-de ir deixar-te, em breve, o meu bilhete
À tua linda casa dos Prazeres.
Mas qual seria a melhor hora, às sete,
Garrett, para tu me receberes?
O teu porteiro disse-me, a sorrir,
Que tu passas os dias a dormir.

IX

Pois tenho pena, amigo, tenho pena;
Levanta-te dai, meu dorminhoco!
Que falta faz à Lisboa amena!
Anda ver Portugal! Parece louco.
Que pátria grande! Como está pequena!
E tu dormindo sempre aí no "choco».
Ah! Como tu, dorme também a Arte.
Pois vou-me aos toiros, que o comboio parte!

X

Ó Lisboa vermelha das toiradas!
Nadam no Ar amores e alegrias.
Vede os Capinhas, os gentis Espadas,
Cavaleiros, fazendo cortesias.
Que graça ingénua! Farpas enfeitadas!
O Povo, ao Sol, cheirando às maresias!
Vede a alegria que lhe vai nas almas!
Vede a branca Rainha, dando palmas!

XI

Ó suaves mulheres do meu desejo,
Com mãos tão brancas feitas p'ra caricias!
Ondinas dos Galeões! Ninfas do Tejo!
Animaezinhos cheios de delícias.
Vosso passado que longínquo o vejo!
Vos sois Árabes, Celtas e Fenícias!
Lisboa das Varinas e Marquesas.
Que bonitas que são as Portuguesas!

XII

Senhoras! Ainda sou menino e moo,
Mas amores não têm nem carinhos!
Vida tão triste suportar não posso:
Vês que ides à novena, aos Inglesinhos.
Senhoras, rezai por mim um Padre-nosso,
Nessa voz que tem beijos e é de arminhos.
Rezai por mim, vereis,- vossos pecados,
(Se acaso os tendes), vos serão perdoados.

XIII

Rezai, rezai, Senhoras por aquele
Que no Mundo sofreu todas as dores!
Ódios, traições, torturas, - que sabe ele!
Perigos de agora, e ferro e fogo, horrores!
E que, hoje, aqui está, só osso e pele,
A espera que o enterrem entre as flores....
Ouvi: estão os sinos a tocar:

Senhoras de Lisboa! Ide rezar!


António Nobre viveu pouco e sofreu muito.


Este poema faz parte do seu livro DESPEDIDAS escrito entre os anos de 1895 a 1899, tendo o Poeta falecido em 1900, um ano depois de o ter acabado de escrever e o livro publicado postumamente.

A "Revista Municipal" da edildade de Lisboa, no seu nº 3 - I Ano - 1940, na secção dedicada ao "Cancioneiro de Lisboa" fez publicar na íntegra esta poesia de António Nobre dedicada "À LISBOA DAS NAUS CHEIAS DE GLÓRIA" que é, segundo alguns olissiponenses uma das mais belas composições poéticas sobre a cidade de Lisboa, pese, embora, a parte final em que nalgumas estrofes, António Nobre no fim da doença dos pulmões que tão cedo o vitimou, não tivesse fugido a falar do mal que o consumia.

Mas é emocionante que tenha pedido às Senhoras de Lisboa - onde não faltaram as Varinas,  para rezarem Padres-Nossos por ele, nessa voz que tem beijos e é de arminhos, àquele que estava ali - osso e pele - à espera de o enterrarem entre as flores, que podiam ser de Lisboa onde desejou ser enterrado, porque a morte não escolhe a terra onde o arcaboiço do corpo se torna em pó... em nada.

Meiga Lisboa, mística cidade!
(Ao longe o sonho desse Mar sem fim.)
Que pena faz morrer na mocidade!
Teus sinos, breve, dobrarão por mim.
Mandai meu corpo em grande velocidade,
Mandai meu corpo p'ra Lisboa, sim?
Quando eu morrer (porque isto pouco dura)
Meus Irmãos dai-me ali a sepultura!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

O pão físico e o pão espiritual que comemos!


Há na Obra poética de Guerra Junqueiro um poema que sempre me emocionou de todas as vezes que o leio, e a que ele chamou - ORAÇÃO AO PÃO - porque o seu lirismo profundo de raiz eclesial não nos passa desapercebido.

Tendo sido escrito quando o grande Poeta tinha 43 anos e já havia passado muito do fulgor retumbante anti-clerical da sua juventude - de cujo cariz, muitos pensam, como eu, ter tido peso político no derrube da Monarquia - na ORAÇÃO AO PÃO quando Guerra Junqueiro nos fala do sofrimento do trigo, a começar no eirado sob o impulso dos malhos até ser triturado pelas mós do moinho - Ó pedras do moinho, mal sabeis / O que fazeis - há neste sofrimento do trigo para se transformar no pão que comemos, similitudes com o sofrimento de Cristo, que como é sabido, com a sua Morte nos deixou o Pão eucarístico como alimento para a fé dos seus seguidores.

O poema é longo, mas ao bendizer o trigo morto para nos dar o pão que comemos no fim da primeira parte, Guerra Junqueiro acaba-a da seguinte maneira:

Bendito sejas,
Trigo morto, cadáver fecundante,
Ressuscitado e nós a cada instante!

Bendito sejas,
Bendito sejas,
Bendito sejas,
Trigo! corpo de Deus – Pureza e Dor –
Nossa vítima e nosso redentor.

O último retrato do Poeta
in, "Obras de Guerra Junqueiro" 
1972 - Lello & Irmão - Editores 


Oração ao Pão

Num grão de trigo habita
Alma infinita.

Alma latente, incerta, obscura,
Mas que geme, que ri, que sonha, que murmura...

Quando a seara é ceifada, acaso o grão
Terá dor? Por que não?!

Um grão de trigo,
Mil anos morto num jazigo,

Dêem-lhe terra e luz,
E ei-lo, germina e cresce e floresce e produz.

Vêde lá, vede lá,
Quanto no eirado o trigo sofrerá!

Pelo malho batido num terreiro,
Um dia inteiro!
E um dia inteiro, sem piedade,
Coitadinho! rodado pela grade!

Depois a tulha celular,
A escuridão sem ar!

Depois, depois, ó negra sorte!
Entre rochedos triturado até à morte!

Ó pedras dos moinhos, mal sabeis
O mal que fazeis!

Quantos milhões de crimes por minuto,
Pedras de coração ferrenho e bruto!

E as águas da levada vão cantando,
Enquanto as pedras duras vão matando!

E a moleirinha alegre também canta,
E ri a água, e ri o sol, e ri a planta!...

Enfarinhada, branca moleirinha,
É pó de cemitério essa farinha!...

Loiro trigo a expirar por nosso bem,
Sem um ai de ninguém!

Loiro trigo inocente,
Cuja morte horrorosa ninguém sente!

E é por isso que ao fim do teu martírio
És cor de Lua, és cor de neve, és cor de lírio...

Bendito sejas!

Simples por nós viveste,
Puro por nós sofreste,
Mártir por nós morreste!

Bendito sejas!

Bendito sejas,
Trigo morto, cadáver fecundante,
Ressuscitado e nós a cada instante!

Bendito sejas,
Bendito sejas,
Bendito sejas,
Trigo! corpo de Deus – Pureza e Dor –
Nossa vítima e nosso redentor.

Gravura de Álvaro Franco
in, um Livro do autor do "blog"

Depois do que fica dito, sobretudo, do que se infere entre o sacrifício do grão de trigo e do sofrido por Jesus Cristo - se do sofrimento do primeiro resulta um alimento físico e do segundo um alimento espiritual, ambos diferentes mas sob o nome de pão - se o nosso pensamento se embrenhar na História bíblica, podemos ler e meditar que no Antigo Testamento o pão se era tido como matéria de sacrifício pelo trabalho que dava, já o era de louvor e bênção e, por isso, a exclamação de Guerra Junqueiro ganha todo o sentido eclesial que o Poeta lhe quis dar:

                                               Bendito sejas,
Bendito sejas,
Bendito sejas,
Trigo! corpo de Deus – Pureza e Dor –
Nossa vítima e nosso redentor.

Efectivamente, lendo o Antigo Testamento, mesmo antes da lei mosaica, encontramos um relato do rei de Salém, Melquisedec (Gn 14,18-19)  que nos diz que este trouxe pão e vinho e, como era sacerdote do Deus Altíssimo, abençoou Abraão, dizendo: «Bendito seja Abraão pelo Deus Altíssimo que criou os céus e a Terra!

O pão servido a Abraão significou duas coisas: o sacrifício corporal por ser dele que se obtinha o alimento principal e a vida espiritual por vir a ser num dia, que só o Deus Altíssimo sabia, o alimento recebido pela hóstia eucarística e que já morava - pelo sofrimento de Jesus Cristo - nos desígnios insondáveis ao homem, mas presentes no Mistério que a razão jamais descobrirá, porque a sua descoberta só  a faz o poder da fé que levou, um dia o Apóstolo S. Mateus a sentenciar a frase - de que o partir do pão físico da imagem e acima reproduzida pode servir de exemplo - Bem aventurados os construtores da paz, porque serão chamados filhos de Deus.

Esta frase fica aqui, de propósito, porque tenho a certeza que Guerra Junqueiro na ORAÇÃO AO PÃO estava, no mínimo, reconciliado consigo mesmo, gozando de alguma paz e, possivelmente - como assevera João Grave - repeso de algumas setas envenenadas que na sua juventude lançou contra Deus, o que prova que na vida dos homens há sempre, num dia qualquer, um momento de paz e de encontro com o Mistério do
Loiro trigo a expirar por nosso bem,
Sem um ai de ninguém!

Loiro trigo inocente,
Cuja morte horrorosa ninguém sente!

E é por isso que ao fim do teu martírio
És cor de Lua, és cor de neve, és cor de lírio...

Bendito sejas!

É uma imagem poética.
Mas diz muito para quem a queira entender em toda a sua profundidade mística.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Liberdade - Um poema de Miguel Torga


LIBERDADE

- Liberdade, que estais no céu…
Rezava o padre nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pão de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

- Liberdade, que estais na terra…
 E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um siêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
- Liberdade que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

Miguel Torga
in, “Diário XII” (1977)

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Leio sempre com emoção -mas também com alguma perplexidade - este poema de Miguel Torga, e leio-o assim, porque ressuma em todo ele a luta íntima que ele travou com a aceitação de um Deus revelado aos homens e que viveu já passa de dois milénios.

É na última estrofe que recai toda a minha atenção e emoção, por me parecer que o Poeta interrogador do Mistério, tendo olhado noutro sentido, e esse sentido foi o de, ao ver-se por dentro ter sentido como era bom o pão da sua fome, dando a entender que a LIBERDADE procurada, antes de a achar num Deus que não lhe respondeu, achou-a no mais íntimo que havia em si, e quando diz: Santificado seja  vosso nome, o que ele nos deixa não é um vazio de sentimentos, mas o encontro com o santificado que morava dentro dele tal como mora dentro de qualquer homem, porque nenhum homem é um estranho para Deus, ainda que assim se julgue perante Ele.

Dou voltas à cabeça... e vou passar adiante!


A votação acabou no Paramento com a não aprovação da descida de 1,25% na taxa a pagar à Segurança Social pelas entidades empregadoras e que António Costa havia negociado, sabendo de antemão que a mesma não tinha a aprovação dos parceiros políticos PCP + BE, mas com o desejo inconfessado de entalar o PSD, sempre na mira de abater Passos Coelho.

São os jogos políticos no seu máximo despudor, mas o que mais custou ver foi o Presidente da República ter embarcado nesta manobra, promulgando - em 15 horas - um decreto com a "morte anunciada"... afirmando, até alguns constitucionalistas que o documento era inconstitucional e assim parece, até ao português comum - como eu - porque é imoral que se retire verbas à Segurança Social que paga aos actuais reformados e mais tarde vai pagar as reformas aos que, agora são aumentados, mas com o benefício dado pelo Estado  aos seus patrões.

Não se entende... embora se possa entender-se a atitude de António Costa... mas não é entendível a do Senhor Presidente da República!
Dou voltas à cabeça... e porque me recuso a entender vou passar adiante!

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Sabedoria do Mundo!


Disse Daniel Rops: «Nos nossos sonhos é fácil ser um mártir ou um herói; mas é difícil ser-se homem na nossa vida quotidiana».

Diz um provérbio indiano: «Em cada cem homens, nasce um valoroso;em cada mil, um sábio; em cada cem mil, um orador; e ainda mais raramente, nasce um que seja generoso».

O filósofo Vignot aconselhava: «Procura construir uma vida, tal como na hora da morte gostarias de ter vivido».

Malcom Forbes dizia: «Sede como um rio quando dais: ele lança-se ao mar, sem nada receber de retribuição».

Eschenbach pensava assim: «O erro não se torna verdade só porquese difunde e se multiplica facilmente. E a verdade não se torna erro só porque ninguém a vê...».

Raul Follerau, o apóstolo dos leprosos, ensinava: «A maior desgraça que vos pode acontecer é não serdes útil a alguém, e a de a vossa vida não servir para nada».

in, "Cavaleiro da Imaculada" (Junho 2004)

Penso que...


Quem viu a recente entrevista do Senhor Presidente da República à SIC, sentiu ter sido evidente o alinhamento do inquilino do Palácio de Belém ao governo, que é um "arranjo" coxo por lhe faltar a legitimidade assente num  bloco eleitoral devidamente anunciado e sufragado pelo povo.

Penso que o Senhor Presidente da República deu por demais a entender a "palmadinha nas costas"... mas eu, que fui seu votante nas eleições presidenciais por admirar o homem no seu todo, sendo como sou um velho cidadão do nosso estremecido Portugal - só alinharei com António Costa quando ele - ou o seu partido ganharem de per si ou em bloco político pré-anunciado aos eleitores - o respeito que deve merecer o cidadão que tem sob a sua mão, num dado tempo, o leme da velha nau onde todos estamos embarcados.

Passos Coelho - eu sei - está a ser acossado, mas é a ele que Portugal deve o facto de ter sobrevivido a uma crise provocada por outros, especialmente, pelo partido que agora está no governo.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Canta o fulgor da tua mocidade...


Não tenha tantas certezas...

https;//www.eco.pt
20 de Janeiro de 2017

Como eu sou mais velho e parecendo que não - para jovens como Pedro Nuno Santos - eu aconselho que afirmações destas, no comum geral onde se move a vida dos homens, mas especialmente, na política, são afirmações, no mínimo, imprudentes, apenas desculpadas pela hora que este político vive, embevecido, declaradamente - animus jocandi - logo, devendo ser julgado como alguém que teve a intenção de gracejar e se pôs a brincar com as palavras que soam bem, sendo palavras ocas e, como tal, o sino onde elas batem dão o som de estar rachado, a precisar de ser arranjado.

O peso dos meus anos ensinam isto.
Não tenha tantas certezas, Senhor Pedro Nuno Santos?

Indemnização à Força Aérea?


http://expresso.sapo.pt/ de 20 de Janeiro de 2017 - Expresso Economia

in, "O Astrolábio"
  • Mas... o que é isto?
  • Indemnização à Força Aérea?

O governo quer, como é sabido - alegando a saturação próxima do aeroporto Humberto Delgado - criar um outro complementar no Montijo, na Base Aérea nº 6 da Força Aérea Portuguesa.

Segundo a notícia, falta fixar a indemnização à dar Força Aérea.

Fiquei a saber - a gente aprende até morrer - que a Força Aérea Portuguesa é uma entidade estranha ao Estado Português pelo facto de ter de ser indemnizada, pois só assim é que me parece entendível a indemnização que falta fixar.
Mas os terrenos não foram dados pelo Estado e não é o Orçamento do Estado que comporta as despesas com a sua manutenção, estando esta Base dependente do Chefe do Estado Maior da Força Aérea?

Se estou a exorbitar, peço desculpa da minha ignorância!