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sábado, 31 de março de 2018

Sábado Santo. Jesus repousa no túmulo.



Num dia, como o de hoje,
há 2018 anos, Jesus estava morto.

Havia sido piedosamente sepultado
por José de Arimateia,um homem rico de Judá
que exercia funções de magistratura 
no Sinédrio judaico,
e era um seguidor de Jesus às ocultas,
como já havia acontecido com Nicodemos,
porque a figura de Jesus impunha, naturalmente,
a realeza divina que trazia e fazia acontecer,
como o fez no drama do Calvário.

Naquele dia, porém, José de Arimateia
não temeu, naquela hora de trevas!
Resoluto, foi pedir a Pilatos o Corpo de Jesus,
mas sem suspeitar
que na noite que se ia seguir àquele dia,
conforme Jesus dissera, rressuscitaria!

Grande é este Mistério, e foi talvez, por isso,
que Gustav Thibon em obediência à metafísica
que fazia mergulhar a sua mente superior
no Ser Supremo, dentro da hierarquia dos seres, 
escreveu assim:

O mistério
não é um muro onde a inteligência esbarra,
mas um oceano onde ela mergulha.

Muitas vezes, dou comigo a pensar nesta frase
que no seu contexto mais fundo, se não for vista à luz
da sua raiz, pode parecer uma perplexidade,
mas não é, 
porque o homem não esbarra no mistério,
pela simples razão de viver mergulhado nele,
por ser ele mesmo causa e fim
desse mesmo mistério, 
que é a sua vida!

Senhor Jesus, neste dia, 
mas sobretudo, por aquilo
que fizeste acontecer, na noite do próximo dia,

 - o terceiro da Tua sepultura -

deixa que vá até ao fim,
mergulhado, bem dentro do meu próprio mistério.

E continue em cada dia a dar -Te graças
por não encontrar resposta,
senão a de saber, que Tu és em mim
a chave de tudo isto.

Não, Senhor,
eu não esbarro na Tua Providência
e não me pergunto por que vivo assim,
tão rente ao mundo, mas sentindo
que Tu vives mergulhado em mim.
e eu em Ti!

sexta-feira, 30 de março de 2018

Sexta-Feira Santa: Jesus morre na Cruz do Calvário


A XII Estação da Via Sacra recorda-nos a morte de Jesus na Cruz do Calvário 
acontecida num dia, como o de hoje, há 2018 anos.

Eram 3 horas da tarde.


Desde a noite radiosa de Belém,
todos os anos que viveste na
haviam sido vividos no influxo da Graça
enquanto esperavas pela hora do início da Missão
que havias de cumprir.

Os últimos três anos haviam sido vividos
com a Tua cabeça a prémio, cilada após cilada!
E agora tudo estava a chegar ao fim.

Na Cruz dos condenados,
como se foras um ladrão dos caminhos,
a Tua respiração era um estertor e o teu peito dilatava-se
mais e mais, na ânsia de receber o ar que lhe faltava.

O Teu coração batia apressado
e a febre queimava o Teu Corpo,
E cada estremecimento rasgava sempre um pouco mais
as tuas santas mãos, de onde corriam fios de sangue.

A Tua cabeça tombara já para um dos lados
e os Teus olhos vítreos, que haviam olhado o mundo
e haviam chorado pelos amigos
e se haviam compadecido
dos mais pobres,
das viúvas,
da mulher adúltera,
e da samaritana,
afogavam-se já numa agonia funda.

Num dado momento
o teu lado humano, ressentido e dorido,
exclamou:

 - Tenho sede…

e um dos soldados, maldosamente,
chegou-te aos lábios ressequidos um pouco de vinagre.

Foi quando viste aos pés da Cruz
a Tua Santa Mãe
e perto dela o discípulo predilecto.
E então disseste
as Palavras eternas que nos haviam de tornar
filhos adoptivos de Tua Santa Mãe
e irmãos espirituais de todos os homens:

- Mulher, eis o teu filho.

e depois, com os olhos fixos em João:

- Eis a tua Mãe.

A seguir, rendido ao sofrimento atroz
ergueste a voz ao Céu plúmbeo da tarde
e disseste as palavras mal compreendidas
por todos aqueles que passam ao largo
do Mistério que aconteceu, num dia como o de hoje,
no Monte do Calvário onde ergueste para todo o sempre
a Glória Eterna do Teu Nome.

- Eli, Eli, lemá sabactáni. Meu Deus, meu Deus,
porque me abandonaste?

Ao contrário do que pensam os que não crêem em Ti
Não disseste palavras de desespero ou de queixa.
Mas tão só, naquela hora final, apenas lembraste
as teus verdugos,
as palavras antigas do Salmo 21, que bem conhecias
das leituras que fazias do Livro dos Salmos.

Eram três horas da tarde
quando a Tua cabeça pendeu de vez.

A terra inteira tremeu.
As rochas fenderam-se...
o dia de repente escureceu...
e houve coisas de tal modo extraordinárias
que o Centurião, rendido à Tua realeza
não pode conter-se sem dizer:

 - Realmente este homem era justo.

Tarde demais, Senhor!
Tarde demais,
aquele homem que havia comandado a tropa,
então compreendeu
que havias trazido um novo sentido à vida
e em troca Te haviam dado uma morte cruel...
a mais aviltante de todas as mortes!

                                  

Olha, Senhor:
Há ainda hoje, centuriões como aquele
que só muito tarde é que compreendem
quem Tu és!

Ajuda-me, hoje e sempre
a ter por Ti e pela Tua vida exemplar
um profundo amor.

Ajuda-me a ter a sabedoria
de todos aqueles que não precisam de grandes sinais
como aconteceu na hora da Tua morte,
para acreditar na Mensagem que deixaste
de braços abertos ao mundo
desde o alto da Cruz!

quinta-feira, 29 de março de 2018

Um anúncio com 700 de antecedência

"O Cordeiro de Deus"


Cap. 53, versículos 1-12 do Livro de Isaías

Quem poderia acreditar nisso que ouvimos? A quem foi revelado o braço do Senhor? Cresceu diante dele como um pobre rebento enraizado numa terra árida; não tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e seu aspecto não podia seduzir-nos. Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele. Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. (Ele não abriu a boca.) Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo? Foi-lhe dada sepultura ao lado de fascínoras e ao morrer achava-se entre malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça alguma, e em sua boca nunca tenha havido mentira. Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo pelo sofrimento; se ele oferecer sua vida em sacrifício expiatório, terá uma posteridade duradoura, prolongará seus dias, e a vontade do Senhor será por ele realizada. Após suportar em sua pessoa os tormentos, alegrar-se-á de conhecê-lo até o enlevo. O Justo, meu Servo, justificará muitos homens, e tomará sobre si suas iniqüidades. Eis por que lhe darei parte com os grandes, e ele dividirá a presa com os poderosos: porque ele próprio deu sua vida, e deixou-se colocar entre os criminosos, tomando sobre si os pecados de muitos homens, e intercedendo pelos culpados.
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O profeta Isaías viveu cerca de 700 anos antes do nascimento de Jesus Cristo, mas no cap. 53 do Livro que tem o seu nome e faz parte dos Livros Preféticos do Antigo Testamento traça este retrato como se fosse de um facto acontecido quando ele estava escondido na penumbra dos tempos para os homens vulgares, mas não para ele que recebeu esta mensagem do Deus Eterno de um facto que iria ocorrer sete séculos depois.

Nesta quinta - feira Santo do dia 29 de Março do ano da Graça de 2018, em que depois de comer a Última Ceia, após ter sido cumprida a traição de Judas, Jesus e os onze apóstolos saíram da casa em que haviam comido, passaram pelas portas da cidade, atravessaram a ravina do regato e penetraram num jardim de oliveiras conhecido como Getsêmani,na encosta do Monte das Oliveiras, para ali receber o beijo da tramóia de Judas com os soldados do cônsul romano e ser preso.

Como diz a profecia, Ele era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele. Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado, para mais adiante do seu relato admirável e incompreensível para os que se esquecem que em tudo isto se adensou o Grande Mistério de Deus, Isaías dizer: Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador (...)  e ao morrer achava-se entre malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça alguma, e em sua boca nunca tenha havido mentira. para rematar, dizendo esta coisa singular: O Justo, meu Servo, justificará muitos homens, e tomará sobre si suas iniqüidades. 

Eis, porque, este texto de Isaías bem merece ser lido e meditado nesta quinta-feira Santa como um dos textos mais belos e profundos do Antigo Testamento em que parece que o profeta Isaías - como o vidente que foi - fez o relato de um facto como se ele se houvesse desenrolado diante dos seus olhos.

Prova isto que só Deus é o Dono do Tempo e da História dos homens que acreditam que Ele é, desde a primeira madrugada O incognoscível que tudo prefigura e faz que tudo aconteça de acordo com a Soberana vontade que veda a todos os homens o domínio das Suas determinações, como aconteceu com Jesus Cristo que nesta noite deu início à grande e sublime Morte do Calvário, onde a Cruz da ignomínia como era então considerada, se tornou no Facho da Luz de Deus que espalhou por todo o Mundo o seu clarão de Amor por todos os homens, crentes ou não neste Grande Mistério.

"O mundo dos homens"...



Páscoa 2018


A Páscoa com o seu Domingo tradicional, é desde o tempo de Moisés uma celebração solene que tinha como causa a comemoração da passagem do povo hebreu a pé enxuto o Mar Vermelho na sua fuga do Egipto, tendo as águas aberto alas para o povo passar e livrar-se dos soldados do Faraó,  tendo conseguido com esse passo a libertação da escravidão e ter alcançado a Terra "onde jorrava leite  e mel" que Deus prometida por Deus a Abraão.

Como judeu que era Jesus Cristo celebrava a Páscoa e assim aconteceu, naquele ano em que morreu fisicamente na Cruz do Calvário, tendo-a celebrado com os seus Apóstolos no evento que conhecemos como a "Ultima Ceia", onde quis deixar para todo o sempre como  memorial do seu sofrimento, a Eucaristia.

Pode afirmar-se, em consequência que a Páscoa cristã foi buscar ao costume do povo judeu a sua realização anual ao celebrar a Morte, Sepultura e Ressurreição de Jesus Cristo que neste passo nos lembra a vitória da Vida sobre a Morte, o triunfo do Poder da Graça sobre as trevas do Mundo, resumindo-se aqui a alegria da esperança cristã que nunca se dá por vencido, porque da sua própria morte sai vitorioso para os braços do Deus Eterno.

Por este tempo o Tríduo Pascal aproxima-se como uma realidade da Páscoa que é celebrada em três grandes dias especiais: sexta-feira santa, sábado santo e Domingo de Páscoa; Porém, o tríduo nos aspectos litúrgicos começa na quinta à noite.


5ª feira Santa 
1 - Celebração da ultima Ceia de Jesus com os apóstolos, instituição da Eucaristia e da comunhão
2 – Traição de Judas.
2 – Cerimónia do lava-pés. um sinal de serviço que devemos dar uns aos outros.
4 – Prisão de Jesus, após o beijo de Judas para o identificar ante os soldados romanos.
5 – Durante a noite Jesus é interrogado por Anás e pelo sumo-sacerdote Caifás

Nos últimos séculos, o chamado Tríduo pascal era  formado por Quinta-Feira, Sexta-Feira e Sábado Santos. Agora, o Tríduo Pascal entende-se como Sexta-Feira, Sábado e Domingo.

1º dia  - 6ª feira Santa ou da Paixão (Jesus morre)
1- Na manhã desse dia Jesus é levado a Pôncio Pilatos o cônsul de Roma na Judeia ocupada
2 – Jesus é condenado à morte.
3 – Jesus é crucificado e morre na Cruz.


4 – José de Arimateia – membro do Senado, mas seguidor de Jesus, pede o corpo de Jesus e dá-lhe sepultura.

2º Dia - Sábado Santo ou Sábado de Aleluia (Jesus jaz na sepultura)
1 –Este dia celebra o último dia que o corpo morto de Jesus esteve na Terra, no meio dos homens.
2 – Durante a noite Jesus ressuscitou.


3º Dia – Domingo da Ressurreição (Jesus ressuscitou)
1 – Neste dos (Domingo de Páscoa) a Igreja celebra Jesus Cristo ressuscitado, dando fim ao Tríduo Pascal com a chamada “Oração de Vésperas”.


Para todos os que em que em qualquer lugar do Mundo lerem, ou simplesmente, tenham tomado conhecimento deste "post" ficam aqui, os meus desejos de uma Santa Páscoa com saúde e paz e todas as bênçãos de Jesus, o Irmão mais velho que todos temos.

domingo, 25 de março de 2018

Domingo de Ramos - Ano B - 25 de Março de 2018

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Leitura dialogada (forma longa) do Evangelho de S- Marcos 14,1 - 15 - 47
J - Jesus ; N - Narrador ; R - Restantes personagens

 N Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

N Faltavam dois dias para a festa da Páscoa e dos Ázimos
 e os príncipes dos sacerdotes e os escribas
 procuravam maneira de se apoderarem de Jesus à traição
 para Lhe darem a morte.
 Mas diziam:
 R «Durante a festa, não,
 para que não haja algum tumulto entre o povo».
N Jesus encontrava-Se em Betânia,
 em casa de Simão o Leproso,
 e, estando à mesa,
 veio uma mulher que trazia um vaso de alabastro
 com perfume de nardo puro de alto preço.
 Partiu o vaso de alabastro
 e derramou-o sobre a cabeça de Jesus.
 Alguns indignaram-se e diziam entre si:
 R «Para que foi esse desperdício de perfume?
 Podia vender-se por mais de duzentos denários
 e dar o dinheiro aos pobres».
N E censuravam a mulher com aspereza.
 Mas Jesus disse:
 J «Deixai-a. Porque estais a importuná-la?
 Ela fez uma boa acção para comigo.
 Na verdade, sempre tereis os pobres convosco
 e, quando quiserdes, podereis fazer-lhes bem;
 Mas a Mim, nem sempre Me tereis.
 Ela fez o que estava ao seu alcance:
 ungiu de antemão o meu corpo para a sepultura.
 Em verdade vos digo:
 Onde quer que se proclamar o Evangelho, pelo mundo inteiro,
 dir-se-á também em sua memória, o que ela fez».
N Então, Judas Iscariotes, um dos Doze,
 foi ter com os príncipes dos sacerdotes
 para lhes entregar Jesus.
 Quando o ouviram, alegraram-se
 e prometeram dar-lhe dinheiro.
 E ele procurava uma oportunidade para entregar Jesus.
N No primeiro dia dos Ázimos,
 em que se imolava o cordeiro pascal,
 os discípulos perguntaram a Jesus:
 R «Onde queres que façamos os preparativos
 para comer a Páscoa?»
N Jesus enviou dois discípulos e disse-lhes:
 J «Ide à cidade.
 Virá ao vosso encontro um homem com uma bilha de água.
 Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa:
‘O Mestre pergunta: Onde está a sala,
 em que hei-de comer a Páscoa com os meus discípulos?’
Ele vos mostrará uma grande sala no andar superior,
 alcatifada e pronta.
 Preparai-nos lá o que é preciso».
N Os discípulos partiram e foram à cidade.
 Encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito
 e prepararam a Páscoa.
 Ao cair da tarde, chegou Jesus com os Doze.
 Enquanto estavam à mesa e comiam,
 Jesus disse:
 J «Em verdade vos digo:
 Um de vós, que está comigo à mesa, há-de entregar-Me».
N Eles começaram a entristecer-se e a dizer um após outro:
 R «Serei eu?»
N Jesus respondeu-lhes:
 J «É um dos Doze, que mete comigo a mão no prato.
 O Filho do homem vai partir,
 como está escrito a seu respeito,
 mas ai daquele por quem o Filho do homem vai ser traído!
 Teria sido melhor para esse homem não ter nascido».
N Enquanto comiam, Jesus tomou o pão,
 recitou a bênção e partiu-o,
 deu-o aos discípulos e disse:
 J «Tomai: isto é o meu Corpo».
N Depois tomou um cálice, deu graças e entregou-lho.
 E todos beberam dele.
 Disse Jesus:
 J «Este é o meu Sangue, o Sangue da nova aliança,
 derramado pela multidão dos homens.
 Em verdade vos digo:
 Não voltarei a beber do fruto da videira,
 até ao dia em que beberei do vinho novo no reino de Deus».
N Cantaram os salmos e saíram para o Monte das Oliveiras.
N Disse-lhes Jesus:
 J «Todos vós Me abandonareis, como está escrito:
‘Ferirei o pastor e dispersar-se-ão as ovelhas’.
Mas depois de ressuscitar,
 irei à vossa frente para a Galileia».
N Disse-Lhe Pedro:
 R «Embora todos te abandonem, eu não».
N Jesus respondeu-lhe:
 J «Em verdade te digo:
 Hoje, esta mesma noite, antes do galo cantar duas vezes,
 três vezes Me negarás».
N Mas Pedro continuava a insistir:
 R «Ainda que tenha de morrer contigo, não Te negarei».
N E todos afirmaram o mesmo.
 Entretanto, chegaram a uma propriedade chamada Getsémani
 e Jesus disse aos seus discípulos:
 J «Ficai aqui, enquanto Eu vou orar».
N Tomou consigo Pedro, Tiago e João
 e começou a sentir pavor e angústia.
 Disse-lhes então:
 J «A minha alma está numa tristeza de morte.
 Ficai aqui e vigiai».
N Adiantando-Se um pouco, caiu por terra
 e orou para que, se fosse possível,
 se afastasse d’Ele aquela hora.
 Jesus dizia:
 J «Abba, Pai, tudo Te é possível:
 afasta de Mim este cálice.
 Contudo, não se faça o que Eu quero,
 mas o que Tu queres».

                                    

N Depois, foi ter com os discípulos, encontrando-os dormindo
 e disse a Pedro:
 J «Simão, estás a dormir? Não pudeste vigiar uma hora?
 Vigiai e orai, para não entrardes em tentação.
 O espírito está pronto, mas a carne é fraca».
N Afastou-Se de novo e orou, dizendo as mesmas palavras.
 Voltou novamente e encontrou-os dormindo,
 porque tinham os olhos pesados
 e não sabiam que responder.
 Jesus voltou pela terceira vez e disse-lhes:
 J «Dormi agora e descansai…
Chegou a hora:
 o Filho do homem vai ser entregue às mãos dos pecadores.
 Levantai-vos. Vamos.
 Já se aproxima aquele que Me vai entregar».
N Ainda Jesus estava a falar,
 quando apareceu Judas, um dos Doze,
 e com ele uma grande multidão, com espadas e varapaus,
 enviada pelos príncipes dos sacerdotes,
 pelos escribas e os anciãos.
 O traidor tinha-lhes dado este sinal:
«Aquele que eu beijar, é esse mesmo.

                                              

 Prendei-O e levai-O bem seguro».
Logo que chegou, aproximou-se de Jesus e beijou-O, dizendo:
 R «Mestre».
N Então deitaram-Lhe as mãos e prenderam-n’O.
 Um dos presentes puxou da espada
 e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha.
 Jesus tomou a palavra e disse-lhes:
 J «Vós saístes com espadas e varapaus para Me prender,
 como se fosse um salteador.
 Todos os dias Eu estava no meio de vós,
 a ensinar no templo,
 e não Me prendestes!
 Mas é para se cumprirem as Escrituras».
N Então os discípulos deixaram-n’O e fugiram todos.
 Seguiu-O um jovem, envolto apenas num lençol.
 Agarraram-no, mas ele, largando o lençol, fugiu nu.
N Levaram então Jesus à presença do sumo sacerdote,
 onde se reuniram todos os príncipes dos sacerdotes,
 os anciãos e os escribas.
 Pedro, que O seguira de longe,
 até ao interior do palácio do sumo sacerdote,
 estava sentado com os guardas, a aquecer-se ao lume.
 Entretanto, os príncipes dos sacerdotes e todo o Sinédrio
 procuravam um testemunho contra Jesus
 para Lhe dar a morte,
 mas não o encontravam.
 Muitos testemunhavam falsamente contra Ele,
 mas os seus depoimentos não eram concordes.
 Levantaram-se então alguns,
 para proferir contra Ele este falso testemunho:
 R «Ouvimo-l’O dizer:
‘Destruirei este templo feito pelos homens
 e em três dias construirei outro
 que não será feito pelos homens’».
N Mas nem assim o depoimento deles era concorde.
 Então o sumo sacerdote levantou-se no meio de todos
 e perguntou a Jesus:
 R «Não respondes nada ao que eles depõem contra Ti?»
N Mas Jesus continuava calado e nada respondeu.
 O sumo sacerdote voltou a interrogá-l’O:
 R «És Tu o Messias, Filho do Deus Bendito?»
N Jesus respondeu:
 J «Eu Sou. E vós vereis o Filho do homem
 sentado à direita do Todo-poderoso
 vir sobre as nuvens do céu».
N O sumo sacerdote rasgou as vestes e disse:
 R «Que necessidade temos ainda de testemunhas?
 Ouvistes a blasfémia. Que vos parece?»
N Todos sentenciaram que Jesus era réu de morte.
 Depois, alguns começaram a cuspir-Lhe,
 a tapar-Lhe o rosto com um véu
 e a dar-Lhe punhadas, dizendo:
 R «Adivinha».
N E os guardas davam-Lhe bofetadas.
N Pedro estava em baixo, no pátio,
 quando chegou uma das criadas do sumo sacerdote.
 Ao vê-lo a aquecer-se, olhou-o de frente e disse-lhe:
 R «Tu também estavas com Jesus, o Nazareno».
N Mas ele negou:
 R «Não sei nem entendo o que dizes».
N Depois saiu para o vestíbulo e o galo cantou.
 A criada, vendo-o de novo, começou a dizer aos presentes:
 R «Este é um deles».
N Mas ele negou segunda vez.
 Pouco depois, os presentes diziam também a Pedro:
 R «Na verdade, tu és deles, pois também és galileu».
N Mas ele começou a dizer imprecações e a jurar:
 R «Não conheço esse homem de quem falais».
N E logo o galo cantou pela segunda vez.
 Então Pedro lembrou-se do que Jesus lhe tinha dito:
«Antes do galo cantar duas vezes,
 três vezes Me negarás».
E desatou a chorar.

                                     

N Logo de manhã,
 os príncipes dos sacerdotes reuniram-se em conselho,
 com os anciãos e os escribas e todo o Sinédrio.
 Depois de terem manietado Jesus,
 foram entregá-l’O a Pilatos.
 Pilatos perguntou-Lhe:
 R «Tu és o Rei dos judeus?»
N Jesus respondeu:
 J «É como dizes».
N E os príncipes dos sacerdotes
 faziam muitas acusações contra Ele.
 Pilatos interrogou-O de novo:
 R «Não respondes nada? Vê de quantas coisas Te acusam».
N Mas Jesus nada respondeu,
 de modo que Pilatos estava admirado.
N Pela festa da Páscoa,
 Pilatos costumava soltar-lhes um preso à sua escolha.
 Havia um, chamado Barrabás, preso com os insurrectos,
 que numa revolta tinham cometido um assassínio.
 A multidão, subindo,
 começou a pedir o que era costume conceder-lhes.
 Pilatos respondeu:
 R «Quereis que vos solte o Rei dos judeus?»
N Ele sabia que os príncipes dos sacerdotes
 O tinham entregado por inveja.
 Entretanto, os príncipes dos sacerdotes incitaram a multidão
 a pedir que lhes soltasse antes Barrabás.
 Pilatos, tomando de novo a palavra, perguntou-lhes:
 R «Então, que hei-de fazer d’Aquele
 que chamais o Rei dos judeus?»
N Eles gritaram de novo:
 R «Crucifica-O!».
N Pilatos insistiu:
 R «Que mal fez Ele?»
N Mas eles gritaram ainda mais:
 R «Crucifica-O!».
N Então Pilatos, querendo contentar a multidão,
 soltou-lhes Barrabás
 e, depois de ter mandado açoitar Jesus,
 entregou-O para ser crucificado.
 Os soldados levaram-n’O para dentro do palácio,
 que era o pretório,
 e convocaram toda a coorte.
 Revestiram-n’O com um mando de púrpura
 e puseram-Lhe na cabeça uma coroa de espinhos
 que haviam tecido.
 Depois começaram a saudá-l’O:
 R «Salvé, Rei dos judeus!»
N Batiam-lhe na cabeça com uma cana, cuspiam-Lhe
 e, dobrando os joelhos, prostravam-se diante d’Ele.
 Depois de O terem escarnecido,
 tiraram-Lhe o manto de púrpura
 e vestiram-Lhe as suas roupas.
 Em seguida levaram-n’O dali para O crucificarem.
N Requisitaram, para Lhe levar a cruz,
 um homem que passava, vindo do campo,
 Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo.
 E levaram Jesus ao lugar do Gólgota,
 quer dizer, lugar do Calvário.
 Queriam dar-Lhe vinho misturado com mirra,
 mas Ele não o quis beber.
 Depois crucificaram-n’O.
 E repartiram entre si as suas vestes,
 tirando-as à sorte, para verem o que levaria cada um.
 Eram nove horas da manhã quando O crucificaram.
 O letreiro que indicava a causa da condenação tinha escrito:
«Rei dos Judeus».
Crucificaram com Ele dois salteadores,
 um à direita e outro à esquerda.
 Os que passavam insultavam-n’O
 e abanavam a cabeça, dizendo:
 R «Tu que destruías o templo e o reedificavas em três dias,
 salva-Te a Ti mesmo e desce da cruz».
N Os príncipes dos sacerdotes e os escribas
 troçavam uns com os outros, dizendo:
 R «Salvou os outros e não pode salvar-se a Si mesmo!
 Esse Messias, o Rei de Israel, desça agora da cruz,
 para nós vermos e acreditarmos».
N Até os que estavam crucificados com ele o injuriavam.
 Quando chegou o meio-dia,
 as trevas envolveram toda a terra até às três horas da tarde.
 E às três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte:
 J «Eloí, Eloí, lamá sabachtháni?»
N que quer dizer:
«Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?»
N Alguns dos presentes, ouvindo isto, disseram:
 R «Está a chamar por Elias».
N Alguém correu a embeber uma esponja em vinagre
 e, pondo-a na ponta duma cana, deu-Lhe a beber e disse:
 R «Deixa ver se Elias vem tirá-l’O dali».
N Então Jesus, soltando um grande brado, expirou.

                                       

N O véu do templo rasgou-se em duas partes de alto a baixo.
 O centurião que estava em frente de Jesus,
 ao vê-l’O expirar daquela maneira, exclamou:
 R «Na verdade, este homem era Filho de Deus».
N Estavam também ali umas mulheres a observar de longe,
 entre elas Maria Madalena,
 Maria, mãe de Tiago e de José, e Salomé,
 que acompanhavam e serviam Jesus,
 quando estava na Galileia,
 e muitas outras que tinham subido com ele a Jerusalém.
 Ao cair da tarde
– visto ser a Preparação, isto é, a véspera do sábado –
José de Arimateia, ilustre membro do Sinédrio,
 que também esperava o reino de Deus,
 foi corajosamente à presença de Pilatos
 e pediu-lhe o corpo de Jesus.
 Pilatos ficou admirado de Ele já estar morto
 e, mandando chamar o centurião,
 ordenou que o corpo fosse entregue e José.
 José comprou um lençol,
 desceu o corpo de Jesus e envolveu-O no lençol;
 depois depositou-O num sepulcro escavado na rocha
 e rolou uma pedra para a entrada do sepulcro.
 Entretanto, Maria Madalena e Maria, mãe de José,
observavam  onde Jesus tinha sido depositado.

                                                        

Há quem veja nesta descrição da prisão, condenação e execução de Jesus, tal como o  Apóstolo S. Marcos no-la apresenta dividida em duas partes distintas: na primeira retracta Jesus como o enviado de Deus aos homens para lhes anunciar o Reino de que ele era o Rei - e como tal mereceu a pergunta de Pilatos - e na segunda parte para o apresentar como Filho de Deus.

O relato, bem longe de ser uma peça jornalística, é na sua frieza factual o desenvolvimento de cenas vividas no concreto de um drama que desenvolve a catequese de quem aceita cumprir até às últimas consequências físicas que levou Jesus a ser condenado pelos homens e a glorificar-se na Cruz, podendo concluir-se que S. Marcos tinha como meta do seu relato, destiná-lo a todos os homens para que estes concluam como o centurião romano que testemunhou a paixão e morte de Jesus: "na verdade, este homem era Filho de Deus".

É, verdadeiramente, um relato impressionante da Paixão de Jesus que estando bem perto de Jerusalém - em Betânia - naquele Domingo que hoje chamamos - de Ramos - pela festa jubilosa que recebeu do povo com a sua entrada na Cidade, sem hesitar, subiu a ladeira do Monte das Oliveiras para se apresentar e ser  traído por Judas, um amigo do peito que lhe fizera companhia nos três anos da sua pregação, e a ver-se sujeito ao ódio de um povo vendido aos esbirros de Roma - que sem o saber - cumpriam com a sua sanha assassina uma velha profecia de alguns séculos - para que ela se cumprisse no madeiro da Cruz.