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domingo, 29 de abril de 2018

"À NATUREZA"


Fac-símile da "Revista Nova" de 31 de Janeiro de 1902

"O teu amor"


Fac-símile do Jornal "A Canção de Portugal - o Fado"
25 de Março de 1917

"Cantares" - Alvorada

Fac-símile do Jornal "A Canção de Portugal - O Fado"
de 29 de Outubro de 1916

"As pombas"

Fac-símile da Revista "Azulejos" - Ano I nº 5
21 de Outubro de 1907

"Savonarola"

Fac-símile da Revista Científica e Literária 
dirigida por António Feijó e Luís de Magalhães
nº 3 - Fevereiro de 1881

"O que eu vi"

Fac-símile de "A Renascença" fascículos 2 a 3 - pág. 30

V Domingo da Páscoa - Ano B - 29 de Abril de 2018


Evangelho de São João 15, 1-8

Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim, ele o cortará e podará todo o que der fruto, para que produza mais fruto. Vós já estais puros pela palavra que vos tenho anunciado. Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não permanecer em mim será lançado fora, como o ramo. Ele secará e hão de ajuntá-lo e lançá-lo ao fogo, e queimar-se-á. Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai, para que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos.


Deus é tudo.
E como tudo que é, também é agricultor.

Foi isto que São João ouviu da boca de Jesus dizer  que - meu Pai é o agricultor - e como bom ouvinte e bom "repórter" que foi não deixou escapar este título dado por Jesus a Deus, naquele da em que ao fazer a alegoria da videira - que em  recuados tempos havia sido o povo escolhido e naquele tempo, era Ele mesmo - e os ramos - os seus discípulos e por acréscimo espiritual todos os homens que produzam bons frutos - esta simbologia que tinha por fim a criação duma unidade vital de comunhão de sentimentos que não podemos ignorar no tempo que passa.

Eis, porque, Deus - o agricultor - age no Mundo através desta imagem criada pelo próprio Jesus e que nos permite que O comparemos ao agricultor dos nossos campos que ao fazer a poda purifica a videira, dando-lhe nova vida com o fim de ter abundantes colheitas.

É o que Jesus pretende,

Quando será que nós, homens, por vezes distraídos, andamos a precisar de um dia e de vez meditarmos nesta simbologia que nos é dada pela videira e seus ramos, em que os infrutíferos deixam de contar porque se se ausentam da videira, ou seja, do Deus Eterno que inspirou Jesus quando disse: "Eu sou a videira; vós os ramos", uma alegoria com que Ele quis unir-se e nós e nós a Ele.

Esta é, na minha modesta opinião de leigo interessado no dom da Palavra deste Domingo, o cerne da Mensagem que vamos ouvir e devíamos viver no todo que somos, crentes ou não, porque o concerto do Mundo que temos não pode dispensar este sentido de união entre o divino e o quotidiano que se deixa prender à secularidade vazia dos conceitos que desde Jesus impregnaram de um modo mais humano a vida que passa... e que, melhor seria passasse com o influxo do AMOR que Ele espalhou, desejando que todos os homens fossem ramos da videira única que Ele representa.

sábado, 28 de abril de 2018

"O Mistério do EU"

Capa do Livro (adaptada)


Pela graça de Deus conheço o autor deste Livro de reflexões de um cristianismo apostólico romano fundado na Verdade que os Apóstolos de Jesus testemunharam, tendo-nos deixado como acervo espiritual as suas vivências com Jesus pelos caminhos da Judeia e que a Bíblia recolheu para ensino e Glória do Deus Eterno.

Quis o meu amigo ofertar-me este Livro, ao qual, significativamente, deu o título: ENCONTRO NO CAMINHO DA VIDA, deixando-me a pensar que ele traz "escondido" em todos os caminhos que são propostos ao longo das suas páginas, modos diversos de como é possível ao homem, num dia qualquer marcar um ENCONTRO com Jesus que o espreita, sobretudo, quando nos seus caminhos surgem as silvas e os cardos para o ajudar a mudar de vida, centrando-se n'Ele que de Si mesmo disse: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida".

Na página 148 aparece um tema a que o autor chamou: "O mistério do EU", como parte subordinada ao cap. "A VIDA ONDE DEUS SE SABOREIA" e do qual transcrevo o seguinte trecho: 

"É recorrente fazer.se um juízo apriorista (consequentemente precipitado), sobre as filosofias do tempo que, qual borboleta, saltitam de novidade em novidade, qual delas a mais absoluta, radical e conclusiva, (na ênfase que lhe dão os seus palradores), e esquecer-se de fazer uma sapiente reflexão analisando os princípios enformadores e dinamizadores dessas mesmas filosofias.
Se alguma vez enveredássemos por esse processo de análise, veríamos quão ilógicas e fúteis são as conclusões que nos propõem como "verdades", tão indiscutíveis (no conceito de quem as articula)  que - dizem - só um néscio ousaria pô-las em questão.
O problema real não deverá, por consequência, pôr-se quanto às conclusões, discernidas com linear clareza, mas quanto aos princípios ou, melhor dito, ao princípio a partir do qual se formulam.
Se recuarmos à origem da formulação, concluiremos que tudo o que nos vem sendo proposto pelo tempo e a modernidade, terá que ser visto como redundante mentira, porque emerge de uma falsidade que vicia todo o edifício retórico em que se organiza a reflexão. A lógica perde-se porque não radica na verdade.
Tudo se joga, ao fim e ao cabo, na oposição entre temporalidade ou eternidade, acaso ou projecto, finitude ou linear  viabilização do MAIS, numa palavra, o nada ou Deus.

Lendo este tema com a profundidade analítica que ele sugere -  foi para isso que o autor o escreveu - o homem não pode, de modo algum, para salvar a sua apelidada e sustentada coerência do raciocínio, esquecer-se da sua finitude temporal e inconsequente do ponto de vista metafísico, concluindo as suas teses e impondo-as à revelia de Deus.

Fiquei a pensar maduramente nisto, para concluir que o homem quando arroga para si o direito de julgar a vida e as suas multifacetadas facetas que abarcam todos os campos do social e do religioso que o devia informar - como um dever moral e ético - está a colocar-se fora de um campo fundamental. aquele, precisamente, que o assinala no Mundo como um agente transformador - como Deus quer, aliás - para sem O ouvir na exegese bíblica que formula os conceitos inalteráveis, pondo-os em causa, sem ponderar que eles pertencem à parte incogniscível - pertença da divindade - e onde esbarra o seu conhecimento por muito profundo que ele seja.

Foi neste momento em que ante mim, depois desta leitura e de ter voltado atrás para a reler, voltei a dar comigo sobre aqueles homens, que diz o autor saltitam de "novidade em novidade, qual delas a mais absoluta, radical e conclusiva", para cair dentro de mim e no meu Mistério até a um tempo que não conheci - mas onde ocorreu a minha génese e, nela, eu já existia como um projecto acalentado por Deus para ser hoje a pessoas que sou - que o meu pensamento como e fosse um pardal voou de mim e foi pousar-se num texto de Pablo Neruda, que não sendo um crente na linha cristã de Jesus, disse esta coisa admirável:

Somos o Mistério

No fim desta época, como se toda a longa viagem tivesse sido inútil, volto a ficar sozinho nos territórios recém-descobertos. Como na crise do nascimento, como no começo alarmante e alarmado do terror metafísico donde brota o manancial dos meus primeiros versos, como num novo crepúsculo que a minha própria criação provocou, entro numa nova agonia e na segunda solidão. Para onde ir? Para onde regressar, conduzir, calar ou palpitar? Olho para todos os pontos da claridade e da obscuridade e não encontro senão o vazio que as minhas próprias mãos elaboraram com persistência fatal.
Mas o mais próximo, o mais fundamental, o mais extenso, o mais incalculável, não apareceria, afinal, senão neste momento no meu caminho. Tinha pensado em todos os mundos, mas não no homem. Tinha explorado com crueldade e agonia o coração do homem. Sem pensar nos homens, tinha visto cidades, mas cidades vazias.

É para que não hajam mais "cidades vazias" que aponta o Livro deste meu amigo, para que não andemos a pensar "em todos os mundos" - como Pablo Neruda - mas esquecidos que neles vivem homens à procura de Deus e para os quais as nossas opiniões têm de obedecer aos princípios da génese de onde todos nascemos, e sem saltitarmos de "novidade em novidade"  sentirmos que temos o dever de não apresentarmos ao Mundo as nossas filosofias, qual delas a mais absoluta, radical e conclusiva, como se elas, colocadas à revelia de Deus valessem a prosápia que lhe imprimimos.

Olhemos com atenção a capa deste LIvro.

À nossa frente - Jesus nunca vem atrás - ou caminha ao nosso lado ou vai à frente se nos vê a hesitar no caminho, leva a GRANDE CRUZ, que é assim para nos mostrar, como acontece que o homem que caminha atrás d'Ele,  levando uma cruz mais pequena é essa que Ele destinou a todos nós, na certeza que o ENCONTRO NO CAMINHO DA VIDA se faz assim, ou seja, "no mistério do Eu" com Aquele que nos deixou motivos de encontro em qualquer tempo ou lugar, pensando no homem, para que ele deixe de habitar "cidades vazias"  e as preencha com o estímulo do AMOR daquele Homem que era Deus e que levou - e continua a levar a GRANDE CRUZ -  para que a vejamos ao longe e sejamos dignos de alcançar e viver os princípios que ela advoga e, por isso, jamais deixemos que a nossa lógica se perca por não radicar na verdade, como argutamente diz o autor deste Livro, tendo em conta que "Tudo se joga, ao fim e ao cabo, na oposição entre temporalidade ou eternidade, acaso ou projecto, finitude ou linear  viabilização do MAIS, numa palavra, o nada ou Deus".

O nada ou Deus.

Sublinho isto, porque do nada, nada vem, e só de Deus é que tudo vem!

"Cantares"


Fac-símile do Jornal "A Canção de Portugal - O Fado"
de 24 de Dezembro de 2016



"Anima Mea"


Fac-símile de "A Renascença" fascículos 8 a 10 - pág. 125

quinta-feira, 26 de abril de 2018

quarta-feira, 25 de abril de 2018

"Meu Coração é uma Aldeia em Festa" ...


Fac-símile, in, "Coimbra-Jornal dos Estudantes da Universidade"
28 de Novembro de 1933
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"Meu Coração é uma Aldeia em Festa!

Este antigo estudante de Coimbra - Luís Carlos - autor deste soneto em que mistura a ruralidade  de um lugar de Portugal que andava pendurado no seu peito com o seu sentimento de jovem, bem merece ser recordado pela composição àlacre dos versos em que, no acto daquela Procissão que ele descreve como uma nota cristã da sua veia poética, acaba o soneto por falar das mãos do seu derriço que em oração - enquanto lembram "uma amizade velha" - a sua oração caía dentro da sua alma - "Na linda Aldeia em Festa do meu peito!" - e é aqui, nesta "Aldeia em Festa"  que ele trazia no seu próprio peito que na beleza desta imagem está inteira a alma do poeta estudante que em boa hora,  o Jornal dos Estudantes da Universidade de Coimbra, publicou.

Santa e feliz juventude que todos  - como eu - um dia tiveram, e em que, de um modo qualquer,  algum dia sentimos que trazíamos nos nossos peitos uma Aldeia em Festa que nos parecia ir durar toda a vida!
Dou graças a Deus por ter descoberto este belo soneto e com ele, na cadência dos seus versos, ter recuado uns anos largos na minha vida!

Obrigado, poeta Luís Carlos.

O Arco das "Portas do Mar"

O Arco das Portas do Mar
in, "CANTOS DE LISBOA" Festas da Cidade de 1935
Quadras de Castelo de Morais
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Naquele já longínquo ano a publicação "CANTOS DE LISBOA" brilhou pelo seu oportunismo e beleza, quer dos versos dedicados a cada um dos "Cantos de Lisboa" que nela figuram como da beleza das gravuras.

Estas "Portas do Mar" em Alfama, junto ao Terreiro do Trigo, fizeram parte das 46 portas da denominada "cerca nova" mandada construir pelo rei D. Fernando entre 1373 a 1375, constituindo aberturas por onde se penetrava nesta vetusta localidade de Lisboa, e cujo primeiro nome foi: "Portas Novas do Mar".

O poeta não esqueceu estas portas nas quadras que lhe dedicou, deixando na primeira quadra todo o desejo da mulher amada, antevendo a saudade que iria sofrer com a partida do marinheiro depois de passar aquelas Portas "Sempre abertas para a barra", desejando ter, se tal fosse possível, a possibilidade humana de as fechar!

Meu amor é marinheiro.
Falo-lhe às Portas do Mar…
Quem me dera ter uns braços
Com força para as fechar.

Sempre abertas para a barra,
Abertas para os meus ais.
E os meus braços sem  poderem
Fechá-las para nunca mais… 


http://geo.cmlisboa.pt/ (parte da cerca moura)
(as "Portas do Mar" estão identificadas pelo nº 2)

A "Pátria Lacrimosa"... ainda não encontrou a maneira de poder sorrir!

in, "A Paródia"(Folha independente feita para toda a gente) nº2-Vol.1-12 Janeiro 1923

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Esta publicação herdou o título de "A Paródia" de Rafael Bordalo Pinheiro e surgiu nas bancas em 10 de Janeiro de 1923, tendo a Redacção desta "Folha independente" homenageado o grande caricaturista, jornalista e ceramista na capa do primeiro número.

Esta gravura da "PÁTRIA LACRIMOSA" foi o reflexo da desorientação em que o Estado se vinha degradando às mãos dos republicanos, com a ala jacobina em Janeiro de 1923 em colisão intelectual e política contra Leonardo Coimbra, uma das raras e gradas figuras públicas - filósofo e professor, criador da "Renascença Portuguesa"- de nada lhe valendo o apoio de intelectuais brilhantes como Raul Brandão, Guerra Junqueiro e Teixeira de Pascoaes.

O ano de 1922, estará na origem desta gravura.

Na continuação de outros semelhantes, havia sido de desnorte total, tendo começado com o adiamento das eleições de 3 para 29 de Janeiro com o desmantelamento do acordo entre democráticos, liberais e reconstituintes do Partido Republicano da Reconstituição Nacional, com Cunha Leal a apelar para "as forças vivas" de economia, seguindo-se-lhe um conflito com Gomes da Costa, a tentar usar o exército contra a Guarda Nacional Republicana e que o leva a decidir que as forças do exército cerquem Lisboa, transferindo o governo para Caxias, sem contudo nomear Gomes da Costa chefe das forças sitiantes de Lisboa e que o levou a declarar "os partidos hoje açambarcam a Nação e os próprios homens de valor que se encontram nos partidos não podem fazer a defesa da colectividade porque têm de obedecer a interesses partidários", uma opinião livre que lhe valeu a sua prisão.

Ainda, naquele mesmo mês surgiu em  Lisboa um agrupamento de liberais, reconstituintes, socialistas reformistas, sidonistas e independentes com firme determinação de enfrentar os democráticos, que viriam a ser derrotados nas eleições do dia 29 de Janeiro e que nesse mesmo dia vivem a ameaça de um "lock-out" da Carris, sendo anda Presidente do Ministério Cunha Leal, que em resultado das eleições ganhas pelo Partido Democrático, no dia seguinte se demite.

E seguiu-se um ano vivido entre golpes, escaramuças, com o exército contra a GNR, com Afonso Costa, em  Fevereiro a recusar-se formar governo por não estarem resolvidos problemas que tinha a ver com a ordem pública, de que resultou que a Polícia de Segurança do Estado se tenha passado a chamar Polícia de Defesa Social e com a formação do governo a 6 de Fevereiro presidido por António Maria da Silva, com as forças do exército,  ainda, a cercar Lisboa, até que em  Março a GNR é diminuída de efectivos em Lisboa e é dispersa pela Província.

O Estado, entretanto, com todas estas convulsões sociais, esquece a agricultura e Portugal começa  a sofrer um acréscimo de preços dos bens mais necessários que atingem valores incomportáveis, a que se junta a desordem na marinha com Agatão Lança a denunciar na Câmara dos Deputados que dos anteriores Ministros daquele ramo das forças armadas, muitos não eram militares e tinham as suas clientelas que deviam ser atendidas, uma acha a mais para a fogueira em que ardia a República.

Salvou-se do atoleiro da vida nacional que então se vivia a partida de Gago Coutinho e Sacadura Cabral no dia 30 de Março na sua aventura aérea que os levou até ao Rio de Janeiro.

Mas a saga social continuou com o ministério da tutela a suspender as obras da construção dos chamados "bairros Sociais" e com a prisão em  Abril de operários que tinham aderido a uma greve geral, a que se veio juntar a luta dos católicos contra os monárquicos, o que leva em Abril, Augusto de Castro, um afamado escritor a considerar numa carta enviada a João Chagas que fora o primeiro Presidente do Ministério no advento da República, dizendo que Portugal "precisava de ser governado".

O surgimento em 29 e 30 de Abril de 1922 do II Congresso do Centro Católico muito se ficou a dever ao desmando do governo, levando à aparição de António de Oliveira Salazar, admitindo que os católicos tomem parte na coisa pública, dando assim, um novo fôlego ao Centro Católico Português, (CCP).

Em contramão dos ideais do CCP, o governo autoriza no dia 1 de Maio (Dia do Trabalhador) um peditório a favor dos russos, numa afronta descarada e inútil, a que se segue, meritoriamente, o lançamento do primeiro plano rodoviário da República e o inquérito às aparições de Fátima de 1917 mandado fazer pelo Bispo de Leiria D José Alves Correia da Silva e, mais um a vez, em Julho um novo confronto com Gomes da Costa, até que surge um manifesto de Bernardino Machado intitulado "A Crise", eclosão de novas greves (Covilhã) e em Agosto uma agitação popular com a mobilização dos Sindicatos contra os "novos tipos de pão", com tumultos em Lisboa, Santarém, Coimbra e Porto de que resultaram  alguns mortos, levando o governo a ceder, sem contudo evitar a deflagração de bombas na cidade do Porto no mês imediato, com mas greves na construção civil, na metarlurgia.

Como remate destas convulsões sociais é assassinado o líder da Confederação Patronal Portuguesa, Sérgio Joaquim Príncipe, apunhalado no dia 8 de Setembro na Rua de Santo António da Sé, por ter contribuído para o insucesso de várias greves e o ano viria a ter em  Novembro mais tumultos em Lisboa com mortos e feridos, de nada tendo valido os esforços de remodelação governamental.

Foi de tudo isto que logo no início do ano de 1923 o aparecimento da gravura PÁTRIA LACRIMOSA" fez todo o sentido, porque os republicanos desde 1910 e as dezenas de governos que já se haviam formado, paulatinamente, foram cavando a ruína da I República, dando azo ao aparecimento da Ditadura Militar em 1926.

Vale a pena consultar a lista:

in, Wikipedia

A "PÁTRIA LACRIMOSA", hoje, que se comemora o quadragésimo quarto ano da "Revolução de Abril", por mais que nos queiram dizer que ela já não tem  esse nome - e valha a verdade não tem  - apesar de tudo podia estar melhor, porque os homens que na altura devida tomaram conta do primeiro Governo Constitucional, em  23 de julho de 1976, têm vindo a perder a chama dos primeiros tempos e a Pátria - não o esqueçamos - já teve de pedir ajuda financeira ao Fundo Monetário Internacional (FMI) por 3 vezes, em 1977, com a inflacção a alcançar os 20%. e forte conflitualidade política. em 1983 num governo do chamado "bloco central" que tinha tudo para dar certo e não deu e,  finalmente, em 2011 numa altura em que as finanças públicas estavam de novo à beira da rutura.

Eis. porque, a que acresce, a grande dívida pública - de que mal se fala - a "PÁRIA LACRIMOSA" - muito diferente da de 1922, apesar disso, ainda não encontrou a maneira de poder sorrir e ser a MÃE de todos.

Este é o meu lamento no dia 25 de Abril de 2018.

domingo, 22 de abril de 2018

Uma saudade de Mons. Moreira das Neves



"Ressurreição" - Um soneto de António Carneiro

Soneto captado de "A Revista Nova" - 20 de Maio de 1901
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A  "Revista Nova" publicou-se, segundo as fontes que tenho, apenas entre os anos de 1901 e 1902 e contou com colaboradores de "primeira água" como Afonso Gayo, António Patrício - António Carneiro, o autor deste soneto - Ernesto da Silva, João de Barros, João de Deus Ramos, João Grave, João Lúcio, Manuel Laranjeira, Mayer Garção, Miguel de Unamuno, e Tomás da Fonseca, e ainda que fosse efémera a sua publicação, teve o condão de guardar páginas brilhantes, como esta onde do soneto - Ressurreição - é um título a condizer com a substância literária que ele encerra.

Ao ter a data do mês de Maio, sou levado a crer que António Carneiro, foi um autor sensível ao florir da Primavera, quando diz a abrir o soneto - "Pelos campos ideais da fantasia" - associou a sua mente à ressurreição da Natureza no seu acordar anual e do mesmo modo associou a esse facto a ressurreição da sua própria mocidade "que fugia" e que ele queria de novo agarrar, apelando para uns certos olhos - os da Natureza que se abria ante si mesmo para lhe trazer "a felicidade" - e a quem pede, num murmúrio íntimo, dirigindo-se-lhe: "Não me roubeis, por Deus, mais esta esperança!", utilizando neste verso a liberdade poética que lhe permitiu falar com aquela Natureza ressurgida.

Penso - seja qual seja a nossa idade - temos o dever de pedir por este tempo, à Natureza, agora aberta na sua Primavera - que tal como ela, haja ressurreição nas nossas vidas para mais um ciclo, e com ele possamos subir mais um degrau com alegria e dizer como António Carneiro: "Não reste da Ventura uma Saudade", porque onde há saudade há ausência e o desejo que nos deve levar até ao fim tem de se a nossa presença em tudo aquilo que ao nosso redor, neste florir da Primavera vai tingindo de cores o Mundo que temos e devemos sentir e viver, vendo-o ressurgido em nós mesmos.

A Verdade nua e a verdade vestida!


                                               A VERDADE E A PARÁBOLA

Um dia, a verdade decidiu visitar os homens, sem roupas e sem adornos, tão nua como o seu próprio nome. Todos os que a viam lhe viravam as costas, por vergonha ou medo, e ninguém lhe dava as boas-vindas. Assim, a verdade percorria os confins da terra, criticada, rejeitada e desprezada. 

Uma tarde, muito desconsolada e triste, a verdade encontrou a parábola, que passeava alegremente, trajando um belo vestido e muito elegante.

— Verdade, porque estás tão abatida? — perguntou a parábola.
— Porque devo ser muito feia e antipática, já que as pessoas me evitam tanto! — respondeu, amargurada, a verdade.
— Que disparate! — disse a parábola sorrindo — Não é por isso que as pessoas te evitam... Toma: veste algumas das minhas roupas e vê o que acontece...

Então, a verdade vestiu algumas das lindas vestes da parábola e, de repente, a verdade passou a ser bem acolhida e festejada por toda a parte.

Captado de "O Astrolábio" de 22 de Abril de 2018
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A Verdade, efectivamente, quando se apresenta como é, nua de artifícios e a dizer coisas irrefutáveis não é bem recebida por aqueles que usam modos e linguagem que sob a capa da atracção, tem manhas desfigurativas do que devia constituir a moral que sabe discernir sobre o que é próprio e o seu contrário e a ética que ao abordar a moral a subordina ao carácter, respeitando assim uma e outra, profundamente, a acção comportamental do homem perante a sociedade de que faz parte, pelo que a Verdade da moral e da ética se têm  de apresentar nuas de artimanhas.

Foram, precisamente, estas artimanhas, as roupas artificiosas com que a Parábola quis demonstrar à Verdade - que ao usá-las - era bem acolhida pelo mundo.

E é isto que acontece!

A Verdade em vez de se apresentar despida de roupagens bonitas e atraentes, faz precisamente o contrário: anda por aí, embonecada a enganar os desprevenidos e os que usam a "boa fé", um atributo valioso, mas a necessitar, muitas vezes de ser mais prvenido contra certas roupas com que se veste a verdade enganadora que está a tomar conta de uma sociedade frívola e adormecida para o grande valor da Verdade nua, uma razão que me leva a ter na devida conta o conceito de George Orwell, quando disse, "que num tempo de engano universal, dizer a Verdade é um acto revolucionário".

E é. 
Não tenho dúvidas, porque, como alguém disse: "Eu prefiro que me digam a verdade. Eu que decido se dói ou não".

sábado, 21 de abril de 2018

"Saudade é uma névoa imensa"...



"Espiritualismo" - Dois sonetos de Antero de Quental




Fac-símile de "A Renascença" - fascículos 8 a 10
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"A Renascença" foi um dos mais importantes periódicos literários que se publicaram no último quartel do século XIX e teve como fanal ser um meio da divulgação como órgão de trabalho intelectual da "geração nova" que teve em Antero de Quental uma das suas maiores figuras.

O grande Poeta, incompreendido em largas faixas dos homens do seu tempo onde abundam, por demais, figuras gradas de seguidores da Igreja e de um Deus de que ele nunca se afastou, nestes dois sonetos, mas com mais preponderância no primeiro, tece com a arte poética do soneto - que ele "burilou" como poucos o fizeram -  um facto, comum no seu tempo, como no de hoje, sobre a desatenção de muitos homens e mulheres para o Mistério que, se queira ou não, envolve as vidas de todos os mortais, deixando que sopre "ao Deus dará" "Um veneno subtil, vago, disperso" - e sem rodriguinhos falazes, afirma ele -  esta falta  humana "Empeçonhou a criação divina".

Eis aqui, plasmado por este homem de génio o grande problema a que Antero de Quental, magistralmente, convida todas as criaturas a pôr a mão na consciência, tendo um maior recato quando falam a esmo sobre um poder que se lhe escapa, como ele é, como se fosse a areia fina que escapa entre os dedos.

Leiamos, o último terceto de Antero de Quental na continuação directa do pensamento que informa o terceto anterior e sem rebuço rendamo-nos à memória deste ilustre filho dos Açores:
Só uma flor humilde, misteriosa,
Como um vago protesto da existência.
Desabrocha no fundo da consciência.

Bom seria que assim fosse: que bem lá no fundo de cada criatura - a "flor humilde" que cada um de nós é, ao menos, uma vez na vida desabrochasse e tomasse na devida conta o barro de que somos feitos...

quinta-feira, 19 de abril de 2018

"Quando vier a Primavera"

CANÇÕES DE PRIMAVERA
Quadro de W. Bouguereau - in, Revista "Serões" - Março de 1906
                             
Quando Vier a Primavera

 Quando vier a Primavera,
 Se eu já estiver morto,
 As flores florirão da mesma maneira
 E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
 A realidade não precisa de mim.

 Sinto uma alegria enorme
 Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

 Se soubesse que amanhã morria
 E a Primavera era depois de amanhã,
 Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
 Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
 Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
 E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
 Por isso, se morrer agora, morro contente,
 Porque tudo é real e tudo está certo.

 Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
 Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
 Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
 O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
 Heterónimo de Fernando Pessoa
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A Primavera está aí e este poema lembra-nos que "está connosco" a lembrança Fernando Pessoa com os seus heterónimos inventados pelo seu génio, para nos darem na beleza da poesia, momentos como este, em que numa canção que parece ser triste, sem o ser, porque ela é um reflexo da verdade existencial de cada homem e da sua finitude temporal e, por isso, depois da vida ceifada "tudo está certo", e à volta da sua lembrança - porque já não há "preferências" - tudo continuará igual, porque a vida na sua canção eterna jamais deixará de cantar a melodia da sua existência e da sua morte.

E é, por isso, que "o que for, quando for, é que será o que é" e as "flores florirão da mesma maneira", assim acaba e começa este poema para dizer a todos os mortais que no usufruto da vida devem  compor o canteiro das flores mais olorosas...

Depois, elas continuarão a florir em cada Primavera no fruir constante e inexorável da Grande Roda da Vida...